Resumo
O destaque internacional desta semana foi o simpósio de Jackson Hole, com sinais mais claros da aproximação do tapering. Na Europa, se aproximam as eleições alemãs, porém não devem ocorrer grandes mudanças na condução da política econômica.
No Brasil, tivemos dados fiscais, de atividade e de inflação, com o IPCA-15 tendo acelerado 0,89% no mês, e a crise hídrica permanece como grande fonte de risco inflacionário. No cenário político econômico emergiram discussões a respeito de uma reforma tributária voltada para o consumo e permanece em pauta a questão dos precatórios.
Para semana que vem, o destaque internacional será a divulgação de dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos. Na Europa e na China também serão divulgados diversos indicadores de atividade. Já no cenário doméstico, o foco segue na discussão fiscal, mas teremos também a divulgação do PIB do segundo trimestre, e a inflação medida pelo IGP-M.
Expert
Nesta semana aconteceu o maior evento de investimentos do mundo, a Expert XP. A edição de 2021 foi recheada de conteúdos de diversos temas, incluindo economia e política, com convidados de peso, como o ex-presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, o notório economista Mohamed El-Erian, os ministros Paulo Guedes, da economia e Tarcísio de Freitas, da infraestrutura, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, entre muitos outros. Nossa equipe participou dos painéis e da cobertura, que pode ser acessada na íntegra aqui.
Atualizações Covid-19
No Brasil, a média móvel semanal de óbitos voltou a recuar para o menor patamar de 2021, chegando a 703 por dia, igualando a marca de 1º de janeiro. A média de novos casos está em 26,1 mil, renovando a mínima do ano. Já quanto em relação à vacinação, 127,3 milhões de brasileiros receberam a primeira dose, enquanto 58,8 milhões (27,8% da população) estão com o esquema vacinal completo.
Não obstante a melhora gradual do quadro geral, diante do avanço da variante Delta, o Ministério da Saúde anunciou que será aplicada uma terceira dose de vacina contra a covid-19 em idosos acima de 70 anos e pessoas imunossuprimidas. A data de início da campanha nacional será o dia 15 de setembro.
Cenário Internacional
Nesta semana, dados de atividade econômica em todo o mundo demonstraram que a variante delta ainda não teve efeitos severos sobre a recuperação das economias globais. Indicadores de confiança empresarial e do consumidor, no entanto, estão diminuindo em todo o mundo desenvolvido, o que mostra que o efeito da variante delta ainda pode aparecer mais adiante.
Outro destaque na cena global, foi a decisão da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) de exigir que as mais de 250 empresas chinesas listadas nas bolsas americanas forneçam divulgações mais detalhadas aos investidores sobre riscos políticos e regulatórios, ampliando exigências anteriormente aplicadas apenas a ofertas públicas iniciais.
Estados Unidos
Os desgastes políticos resultantes da crise no Afeganistão para ao presidente Joe Biden tendem a se acentuar nos próximos dias após a morte de doze americanos em Cabul. A conta política da retirada das tropas pode interferir no avanço da agenda do governo, incluindo a pauta econômica.
Pacotes fiscais
Nesta semana, com a volta do recesso do Congresso, as propostas de pacotes de estímulo enviadas pelo governo retornaram ao centro do debate político e fiscal americano. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, enfrenta dificuldades para avançar o primeiro item na agenda, a resolução orçamentária de USD 3,5 trilhões. Devemos ver intensas negociações nos próximos dias para garantir os votos necessários.
Jackson Hole
A atenção de todo o mundo se concentrou no simpósio de Jackson Hole, o evento anual em que se reúnem dirigentes de bancos centrais para discussões sobre os rumos da política econômica em todo o mundo. As falas dos membros do FED foram o grande destaque, uma vez que deram indícios dos próximos passos da condução da política monetária nos EUA.
A fala do presidente do FED, Jerome Powell sinalizou que o início da retirada dos estímulos via tapering (redução no ritmo de compra de ativos) pode ocorrer ainda este ano. A justificativa é a melhora no mercado de trabalho e o ‘progresso substancial adicional’ na inflação.
Esperamos que o anúncio oficial do tapering ocorra em setembro, e que o processo comece efetivamente em dezembro, com redução de ao menos USD 10 bi por mês.
Indicadores
Na seara dos indicadores, o destaque ficou para o resultado de julho da inflação medida pelo deflator do consumo – o PCE deflator. O núcleo do deflator PCE, medida de inflação preferida do Fed, registrou alta de 0,34% em julho, um pouco acima de nossa expectativa (de 0,28%). No ano contra ano, a variação foi de 3,62%. Para o final de 2021, nossa expectativa é de 3,45% e para 2022, 1,85%.
Em atividade, as vendas de novas moradias tiveram desempenho bastante sólido em julho, totalizando 708 mil unidades (consenso: 697 mil); além disso, as vendas de junho foram revisadas para cima, de 676 para 701 mil. Esses números sugerem que a demanda das famílias americanas segue firme, embora seja esperada alguma desaceleração no crescimento econômico local ao longo dos próximos meses.
Por fim, a pesquisa Markit PMI Composta (serviços e manufaturas) dos EUA caiu para 55,4 em Augusto de 59,9 em julho, mostrando alguma desaceleração, porém ainda confortavelmente acima de 50 (nível que indica expansão).
Europa
Em política monetária, o economista-chefe do Banco Central Europeu, Phillip Lane, defendeu que o impacto da variante Delta na Zona do Euro deverá ser limitado e que o bloco segue trajetória de crescimento robusta neste e no próximo ano.
Já em atividade, os indicadores da pesquisa PMIs de agosto da Zona do Euro ficaram em linha com as expectativas, sugerindo que a expansão continua. O Eurozone Composite PMI (manufatura e serviços), por exemplo, ficou em 59,5 um pouco abaixo do valor de julho (60,2).
Na Alemanha, o PIB do segundo trimestre registrou aumento de 1,6% em relação ao primeiro trimestre (consenso:1,5%). Por outro lado, dados mais recentes de confiança registram queda. O Índice de Clima de Negócios IFO recuou de 100,7 pontos em julho para 99,4 pontos em agosto, enquanto o índice de confiança do consumidor do instituto GfK caiu para -1,2 pontos em setembro.
O ânimo entre os consumidores alemães piorou à medida que a aceleração da inflação e o aumento dos casos da COVID-19 os tornavam mais hesitantes em comprar. Além disso, gargalos de oferta e preocupações acerca da disseminação da variante Delta do coronavírus também parecem ser refletidos nesses indicadores. Não obstante, não revertem nossa expectativa de crescimento (a um ritmo moderado) da economia alemã no curto prazo.
Finalmente, no Reino Unido, o índice de varejo saltou de 23 em julho para 60 em agosto, o nível mais alto desde 2014 (leituras acima de zero indicam expansão).
Eleições na Alemanha
Vão se aproximando as eleições alemãs, e a primeira disputa no país sem Angela Merkel em 16 anos ganha novos contornos. O partido da atual chanceler ainda lidera as pesquisas, no entanto, registra queda contínua. Por sua vez, o tradicional partido de centro-esquerda, SPD, registra tendência positiva e chegou a ultrapassar o Partido Verde no fim de semana, conquistando a segunda colocação na disputa. Os Verdes, que brevemente chegaram até a ultrapassar o CDU/CSU, enfrentam polêmicas envolvendo o partido e registram declínio em sua popularidade. Um pouco mais para trás, o liberal FDP ganha espaço na disputa, consolidando a quarta colocação na corrida.
Vale destacar que, apesar de representarem visões distintas, os quatro são partidos centristas não devem levar a grandes mudanças na política ou visão econômica do país. A depender das coalizões, a principal novidade seria a chegada dos Verdes ao governo pela primeira vez, o que implicaria uma tendência levemente mais expansionista na seara fiscal e de consolidação da integração econômica e política com a Europa, além de maior peso para a agenda ambiental na região.
Ásia
Nesta semana, o Banco da Coreia elevou a taxa básica de juros do país de 0,50% para 0,75% ao ano, após mantê-la nas mínimas históricas por 15 meses. A decisão saiu conforme esperado pela maioria dos economistas ouvidos pelo mercado. Desta forma, o banco central sul coreano é o primeiro dentre os principais asiáticos a retirar os estímulos dados em virtude da pandemia.
Enquanto isso, no Brasil...
Cenário político econômico
No Brasil, a discussão continua focada na proposta orçamentária para 2022, especialmente diante do impasse sobre o pagamento de precatórios e a criação do novo programa de transferência de renda, Auxílio Brasil.
Precatórios
Conforme destacado pelo Secretário do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, na Expert XP 2021, a proposta de Lei Orçamentária Anual (PLOA) deve ser enviada na semana que vem ao Congresso incluindo o gasto total com precatórios (de R$ 89,1 bilhões), sem estimativas para gastos com o novo programa de transferência de renda. O governo espera que logo que uma solução seja adotada pelo parlamento, possa enviar uma mensagem modificativa, e consequentemente ampliando o espaço orçamentário dentro do teto de gastos.
Também na Expert XP, o Ministro e Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, apresentou um caminho alternativo para solucionar a crise, a partir de uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que determine que os gastos devem respeitar o limite da despesa de 2016, ano da promulgação do teto de gastos, mais correção pelo IPCA. O montante extra seria realocado no orçamento subsequente.
Segundo estimativas iniciais, o limite para 2022 ficaria em R$ 39,9 bilhões -- contra R$ 89,1 bilhões previstos inicialmente. Fux afirmou que a proposta está em estágio embrionário e dependeria de apoio do Legislativo e do Supremo. A proposta recebeu sinalização positiva de Rodrigo Pacheco e do ministro Paulo Guedes, que avalia abandonar a PEC enviada para tratar do tema.
Além disso, sem consenso sobre a aprovação da proposta de reforma da tributação da renda (detalhes abaixo), o governo busca um plano alternativo para financiar o programa “Auxílio Brasil”, que consistiria na reavaliação de subsídios tributários, tendo em vista respeita a LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal. Também na Expert XP, a Ministra Flávia Arruda (Secretaria de Governo) afirmou que o programa de transferências não está atrelado ao sucesso da reforma do Imposto de Renda, e que o governo segue buscando alternativas.
Reforma Tributária
Após adiação da votação da reforma tributária do imposto de renda na semana passada, o governo retomou negociações e antigas ideias para a pauta tributária. O ministro da economia, Paulo Guedes, afirmou que apoiaria a medida do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual (tributo que substituiria o ICMS, considerado mais complexo), caso os municípios aderissem à proposta. No entanto, a Frente Nacional de Prefeitos se mostrou surpresa com a declaração e, temendo perder arrecadação com o fim do Imposto Sobre Serviços (ISS), defende uma reforma por etapas.
A mudança de foco para impostos sobre consumo endereça críticas à proposta de mudança no imposto de renda, que não atacaria nenhum dos dois principais problemas do sistema tributário brasileiro: a complexibilidade tributária (uma das mais altas do mundo) e a regressividade do sistema – que recai proporcionalmente mais sobre a população mais pobre.
Crise hídrica
Também foi destaque essa semana o agravamento da crise hídrica. Mais uma vez, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, negou necessidade de racionamento de energia. Sem dar detalhes de financiamento e de metas definidas, o ministro disse que o governo passará a dar bonificações aos clientes residenciais e empresariais que se dispuserem a economizar voluntariamente energia elétrica, diante do crítico nível de reservatórios.
Em relação ao impacto na inflação, o governo sinalizou que irá elevar mais uma vez a taxa da bandeira tarifária vermelha patamar 2. Caso a taxa extra cobrada seja elevada de R$ 9,49 para R$ 14, o impacto no IPCA seria de 30 bps. Caso a bandeira suba para R$ 24 o impacto seria de 97 bps.
Indicadores
IPCA-15
O IPCA-15 de agosto registrou alta de 0,89% no mês e continua mostrando inflação bastante pressionada tanto do lado da oferta (alta dos custos), quanto pela demanda - no contexto da normalização da economia. A inflação no ano deve continuar elevada no segundo semestre e encerrar o ano acima de 7%, rompendo do limite superior da meta do Banco Central (5,25%).
Arrecadação Federal
A arrecadação federal voltou a surpreender positivamente, alcançando R$ 170,3 bilhões, cerca de R$ 10 bilhões acima do consenso de mercado. A alta (e crescente) inflação, especialmente dos preços ao produtor, continua respondendo por parte substancial da melhora. No entanto, a recuperação econômica em curso não deve ser desconsiderada como propulsor da performance positiva.
Mercado de Trabalho
Os dados referentes ao mercado de trabalho forma, medidos pelo Caged, apresentaram resultados robustos no mês de julho. Foram criadas 316,6 mil vagas (consenso e expectativa XP: 300 mil), levando as contratações a uma elevação mensal de 2,9% em julho (de 1,65 mi para 1,69 mi), ante 1,0% em junho. Em contrapartida, o número de desligamentos se elevou 6,2% no mês passado (1,29 mi para 1,37 mi).
Todos os principais setores econômicos apresentaram criação líquida de vagas, se destacando o de “Serviços de Alojamento e Alimentação” na esteira da reabertura da economia e dos avanços da vacinação e do programa de manutenção de empregos formais ainda vigente, o BEm.
Setor Externo
No mês de julho, a Conta Corrente registrou déficit de US$ 1,3 bi, abaixo das expectativas de mercado (déficit de US$ 0,5 bi) e do próprio Banco Central (superávit de US$ 1,3 bi). A principal contribuição para o déficit veio da Renda Primária, diante de um efeito sazonal associado ao balanço das empresas. Em doze meses, o déficit acumulado em conta corrente atingiu US$ 20,3 bi (1,3% do PIB).
Por outro lado, destaque para a retomada dos Investimentos Diretos no País, que haviam frustrado as expectativas nos últimos meses, cobrindo com facilidade o déficit em conta corrente.
Como reiteramos há meses, a indicação é de apreciação do Real, mas como é de conhecimento geral, ruídos políticos e fiscais impedem a moeda de caminhar nessa trajetória. Ao fim de 2021, tendo em vista a manutenção de nosso arcabouço fiscal, esperamos que o real aprecie para uma taxa 4,90 por dólar.
O que esperar?
O destaque internacional da próxima semana será divulgação de dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos na sexta feira. Na Europa, ficamos atentos para dados de inflação e atividade. Na China, também serão divulgados diversos indicadores de atividade.
No Brasil, o foco segue na discussão fiscal, com o envio de proposta orçamentária para 2022, com prazo até o dia 31 de agosto. Teremos também a divulgação do PIB do segundo trimestre, além do resultado da produção industrial de julho e inflação medida pelo IGP-M.

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!