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Primeiro dia da Expert ESG levanta bandeira da ‘agenda verde’; veja destaques

Maior evento de investimentos do mundo estreia versão focada em Meio Ambiente, Sociedade e Governança

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A Expert, maior evento de investimentos do mundo, estreou nesta terça-feira (2), de maneira online e gratuita, sua versão ESG dando sequência à liderança dos debates focados em Meio Ambiente, Sociedade e Governança.

Grandes nomes participaram do dia de abertura, entre eles John Elkington, autor do livro “Cisnes Verdes” e considerado o ‘pai da sustentabilidade’, Yuval Noah Harari, historiador e autor do best-seller “Sapiens”, Liz Davidson, embaixadora britânica em exercício no Brasil, entre outros.

O evento acontece até sexta-feira, e este primeiro dia, focado em “meio ambiente”, contou com mais de 30 mil inscritos para assistir às lives.

Dentre os grandes destaques abordados pelos especialistas, é possível considerar que há uma unanimidade em torno do cenário global: de que ele é crítico, que há desafios, mas o ponto positivo é que ainda dá tempo de revertermos, pois se trata de uma jornada, seja por parte dos investidores ou empresas.

Não será do dia para noite, mas o importante é avançarmos e a cooperação é uma questão chave. Unir esforços, seja entre países, pessoas, empresas, governos, iniciativa privada e poder público só traz benefícios.

Na palestra inaugural, o professor Carlos Nobre deu uma verdadeira aula sobre o tema da emergência climática, abordando tópicos como os impactos da mudança climática que já afetam a economia global, perspectivas e alternativas para o futuro, a importância da exploração sustentável e moderna da Amazônia e o papel do setor privado.

A começar com um diagnóstico preocupante, o professor destacou que a temperatura do planeta pode alcançar níveis de 3 a 4 graus do que temos atualmente. O fenômeno teria consequências desastrosas tanto para a produção econômica e alimentícia no mundo, quanto para a própria existência humana. Segundo Carlos, “(o superaquecimento) pode deixar o nosso planeta inabitável no século XXII”.

São desafios que podemos vencer, mas precisamos fazer uma mudança radical, e enterrar os combustíveis fósseis.

Professor Carlos Nobre

Brasil: a primeira potência global da sociobiodiversidade?
Carlos Nobre abre a Expert ESG em tom reflexivo

Amazônia, o novo pré-sal

No segundo painel do dia, recebemos Denise Hills, diretora global de sustentabilidade da Natura, Mariano Colini, fundador e diretor do IDESAM e Marina Grossi, presidente do CEBDS, para discutir sobre os problemas que a Amazônia enfrenta e o que eles têm feito para que a floresta seja um hub de oportunidades de geração de valor para todos.

Grossi trouxe um dado impressionante que ilustra a potência desse ativo brasileiro: “A Amazônia produz 20% de toda água doce do planeta. A Usina de Itaipu precisaria operar 145 anos na capacidade máxima para dar vazão à mesma quantidade de água que a Amazônia evapora em apenas 24h.”

Isso contrasta com um dado assustador trazido por Mariano Colini de que em 2020 houve o maior desmatamento dos últimos 12 anos na região, sendo uma área equivalente a 7x o tamanho da cidade de São Paulo.

Com esses dois dados em mente, o painel mostrou a importância e urgência de atuar na reversão dessa tendência de desmatamento, enquanto há inclusive uma oportunidade de destrave de valor ao mudar essa direção.

A Amazônia concentra 20% de toda água doce do planeta. A Usina de Itaipu precisaria operar em plena carga durante 140 anos para dar vazão à mesma quantidade de água que a Amazônia evapora em apenas 24h.

Marina Grossi, presidente do CEBDS

‘Amazônia é o novo pré-sal’: entenda por que a região pode ser um problema
ou uma grande solução para o país e o mundo

Os reguladores no avanço da agenda verde

Este primeiro dia de Expert ESG também guardou espaço para um importante debate sobre o papel dos reguladores no avanço da agenda verde, com a participação de José Alexandre Vasco (Superintendente da CVM), Liz Davidson (Embaixadora britânica em exercício no Brasil) e Otávio Ribeiro Damaso (Diretor do BACEN).

De acordo com Liz Davidson, o Reino Unido tem buscado liderar as discussões ESG pelo exemplo. No ano passado, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou o plano para fomentar uma revolução industrial verde no Reino Unido. E já são mais de 12 milhões de libras em investimentos na criação e apoio de 250 mil empregos verdes.

Segundo Otávio Ribeiro Damaso (diretor do Banco Central do Brasil), a pauta ESG é super importante tanto para a estabilidade de preços quanto do ponto de vista de estabilidade financeira. Segundo ele, no campo da estabilidade financeira, o BC é pioneiro e lançou há vários anos uma política de responsabilidade ambiental que foi implementada em 2014 e que, já naquela época, foi um marco.

Já para a CVM, a temática da agenda verde tem impacto em diferentes mandatos. A Comissão intensificou a atuação na agenda sustentável ampliando o diálogo com o mercado e participando de diversos fóruns para avançar nessa temática. O Laboratório de Inovação Financeira (LAB), por exemplo, é um fórum de interação multisetorial criado pela CVM em parceria com outras instituições para reunir representantes do governo e da sociedade para promover as finanças sustentáveis no país.

O papel dos reguladores no avanço da agenda verde

Sustentabilidade que começa no topo

Oskar Metsavaht, Fundador da Osklen e Embaixador UNESCO para Sustentabilidade, Pedro Wickbold, Diretor-Geral da Wickbold, e Emily Ewell, Presidente e Co-fundadora da Pantys, se reuniram nesta tarde para discutir sobre os problemas que a Amazônia enfrenta e como a floresta pode ser um hub de oportunidades e de geração de valor para todos que estão em seu entorno.

Um tema que foi bastante debatido pelos palestrantes durante o painel foi a importância da sustentabilidade estar permeada dentro da cultura da empresa. Na Pantys, por exemplo, a mesma pessoa responsável pela área de sustentabilidade também cuida de cultura.

Dois pontos nos chamaram atenção como necessários para a escalabilidade de um modelo mais sustentável:

O primeiro, trazido por Pedro Wickbold, foi o fato de que “a verdadeira contribuição para problemas complexos é colaborativa”, ou seja, é necessário que vários agentes da sociedade atuem em conjunto para que eles consigam de fato realizar uma transformação local.

O segundo ponto, abordado pelos três apresentantes, foi a necessidade de uma atuação mais forte do governo para incentivar a produção sustentável através de benefícios fiscais.

“Sustentabilidade não faz parte da formação acadêmica das pessoas e ela é tão importante quanto os outros temas do dia a dia de uma empresa. Envolver, transformar a empresa dentro da cultura de design thinking sustentável é primordial.”

Oskar Metsavaht, Fundador da Osklen e Embaixador UNESCO para Sustentabilidade

Sustentabilidade é tão importante quanto os indicadores
financeiros das empresas, afirmam especialistas

Cisne verde: o boom do capitalismo regenerativo?

No penúltimo painel do primeiro dia, o chamado “pai da sustentabilidade” explorou sua visão sobre o ponto de inflexão no qual nos encontramos e a possibilidade de efetivamente fazermos transição para um capitalismo mais sustentável e inclusivo.

John Elkington chamou atenção à maneira como o ser humano não consegue enxergar mudanças exponenciais até que elas, de fato, apareçam para mudar completamente o cenário.

Para ele, mudanças exponenciais serão cada vez mais presentes em nosso dia-a-dia, e uma delas deverá ser a maneira como as pessoas e empresas lidam com a natureza. Se nada for feito, a escala dos problemas que iremos enfrentar será enorme e acontecerá de repente.

O livro escrito por John – Cisnes Verdes – aborda meios de como governos, empresas e organizações da sociedade estão inovando (ou como diz Elkington, “desencadeando aspirais positivas ascendentes”) para enfrentar a emergência das mudanças climáticas e a consecução dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Ele explica que “cisne verde” (em contraste ao conceito de “cisne negro” criado por Nassim Nicholas Taleb) é uma mudança profunda no mercado, geralmente catalisada por mudanças de paradigmas, valores, mentalidades, tecnologias, modelos de negócios e outros fatores-chave. O “cisne verde” proporciona um progresso exponencial na forma de criação de riqueza econômica, social e ambiental, tendo como objetivo um avanço integrado em nas três dimensões.

“O mundo muda gradualmente até o de repente chegar”

A nossa espécie tende a fazer um trabalho criativo quando necessário. Chegou o momento em que nós precisamos ser mais inovadores do que nunca.”

John Elkington

Lições para o mundo pós-coronavírus

O primeiro grande dia da Expert ESG, que focou em “meio ambiente”, foi fechado com chave de ouro por Yuval Harari, autor do best-seller “Sapiens”.

O historiador abordou o momento em que estamos atualmente, que coloca em evidência múltiplos dilemas da humanidade – disputas ideológicas, novas tecnologias de monitoramento da população, entre outros. Nesse contexto, trouxe sua visão para o mundo pós-coronavírus.

Ele não acredita, por exemplo, que a globalização causou a pandemia. “Epidemias existem desde que o homem começou a cultivar plantas e criar animais, criando vilas e convivendo em grandes grupos”, afirmou. “Hoje, a globalização pode ser uma ferramenta de cooperação”, completou.

Olhando para a “era da desinformação”, Yuval enxerga um papel importante do sistema educacional com a missão de deixar de despejar informação excessiva nas crianças (pois o mundo atual já traz muita informação) e estimular o pensamento crítico dos alunos a julgarem o que é de fato é confiável.

Lições para o mundo pós-coronavírus

É muito mais fácil aceitar uma informação falsa e simples do que uma verdade dura e complexa.”

Yuval Harari
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