Após dedicar um dia às discussões em torno da “agenda verde” e outro a ricos debates sobre “impactos sociais”, a Expert ESG mergulhou nesta quinta-feira (4) na vastidão de caminhos, ideias e soluções promovidos pelo “G” do acrônimo, a Governança, para fechar o entendimento de um ciclo sustentável para os investimentos.
Mais uma vez, grandes nomes globais protagonizaram verdadeiras aulas para ajudar a sociedade a compreender de forma mais clara os novos rumos dos mercados, sobretudo diante dos imensos impactos causados pela pandemia da covid-19.
Dentre as “lições”, destaca-se:
– Empresas e lideranças devem se questionar sobre suas intenções e metas, orientando-se por propósito (uma missão, além do lucro), stakeholders (no sentido amplo, tendo-os como sociedade), liderança (com a função de servir) e cultura (que permita desenvolvimento de pessoas).
– Diversidade nos negócios é importante e ações estratégicas nessa frente compõem melhores times, que, por consequência, são capazes de gerar maior valor para a empresa.
– ESG não pode ser um processo de “checking the boxes”, mas sim de medir e demonstrar o real impacto das ações evoluindo para o mais alto patamar de transparência frente à sociedade.
– Não se pode esquecer de medir o valor dos recursos naturais no dia a dia. Juntos, empresas e sociedade civil precisam se pronunciar e promover a mudança. Cada um de nós pode fazer a diferença e mudar o mundo.
Capitalismo consciente: criando valor para os stakeholders
Raj Sisodia, conhecido por ser o pioneiro do termo e dos ideais do ‘capitalismo consciente’, explorou e atualizou suas visões sobre essa prática da condução de negócios que procura o equilíbrio entre a o lucro e a geração de valor para todos os envolvidos no processo de desenvolvimento corporativo.
Em sua visão, o mundo corporativo procura ignorar uma qualidade básica do ser humano: a necessidade de se relacionar e ser emotivo. No entanto, ao fazer isso acaba perdendo um dos principais motivadores do trabalhador.
Destaca ainda que é essencial a responsabilidade social. Apesar do lucro ser importante, o método por qual ele é produzido é também muito relevante. Em sua análise, é relevante lembrarmos que esses não são mutuamente exclusivos, mas o contrário, são interligados.
Segundo Sisodia, a pandemia evidenciou a vulnerabilidade do ser humano e ressaltou uma “revolução copérnica”, na qual o bem estar das pessoas foi colocado no centro dos negócios, papel anteriormente ocupado pela busca por lucro.
“Devemos operar por inspiração, não por obrigação”
Raj Sisodia
Pandemia revolucionou o corporativismo no mundo,
diz pioneiro do ‘capitalismo consciente’
Como superar a crise de conformismo na liderança?
Ex-candidata à Presidência da Islândia e CEO do B Team, Halla Tomasdóttir trouxe para o centro do debate a crise de conformismo com as lideranças e propôs formas de superá-la.
Tomasdóttir ressaltou a importância da diversidade nos negócios, e como ações estratégicas nessa frente compões melhores times, que, por consequência, são capazes de gerar maior valor para a empresa. De acordo com ela, a pauta não avançou na velocidade necessária porque pessoas permanecem com a mesma abordagem de liderança por muitos anos, o que sustenta sua tese da crise de conformismo no alto escalão.
A Islândia, por exemplo, mantém a posição de menor disparidade salarial entre gêneros por 12 anos, contexto bom para economia, negócios e dinâmica de trabalho.
Para Halla, a liderança está dentro de cada um de nós e não pode ser sobre nosso próprio ego. A pandemia jogou os holofotes na questão da desigualdade, que hoje é insustentável. As próximas lideranças precisarão ser ainda mais ousadas e humildes, dado que nenhum país conseguirá encontrar as soluções para esses problemas sozinho.
“Precisamos de líderes humanos, líderes com empatia, líderes que tenham compaixão.”
Halla Tomasdóttir
Halla Tomasdóttir é categórica contra conformismo nas empresas:
‘Precisamos ser os líderes que o mundo precisa’
Sustentabilidade integrada à governança: estratégia e transparência
Paula Kovarsky, Diretora de ESG e Relações com Investidores da Cosan, Selma Moreira, Diretora do Fundo Baobá para Equidade Social, e Marcelo Furtado, Fundador da BLOCKc, Comitê de Sustentabilidade da Duratex e da Marfrig, protagonizaram um ótimo debate sobre estratégia e transparência.
A principal mensagem dos palestrantes foi de que é importante que a abordagem do tema ESG e sua implementação prática se deem além das práticas mínimas, integrando na governança das instituições de forma estratégica e transparente.
A adoção de práticas ESG, de acordo com os participantes, não pode ser um processo de “checking the boxes”, mas sim de medir e demonstrar o real impacto das ações evoluindo para o mais alto patamar de transparência frente à sociedade.
ESG, como conclusão do painel, é questão de sobrevivência. Cria-se um consenso de que empresas que não adotarem práticas ESG de forma holística em toda a cadeia não terão condições de sobreviver no longo prazo. O tema passou de um “nice to have” para uma licença social de operação, e acredita-se que, à frente, será o determinante do sucesso.
“A pergunta chave que as empresas devem se fazer é: “o que eu não sei e deveria saber?”.
Marcelo Furtado
O caminho para lidar com responsabilidade
No penúltimo painel do dia, Gilson Finkelsztain, CEO da B3, Renato Franklin, CEO da Movida, e Karin Baumgart, Membro do Comitê de Sustentabilidade do Grupo Baumgart, exploraram o tema do impacto gerado nas companhias por lideranças empresariais alinhadas à priorização das melhores práticas ESG e como integrá-las em diferentes níveis da organização.
A principal mensagem passada pelos panelistas para colocar em prática uma agenda ESG em suas companhias foi a necessidade de estimular os colaboradores internos para de fato gerar um resultado na sociedade.
De acordo com Karin, os retornos futuros de investimentos em ESG não ocorrem do dia para noite, geralmente seguem o chamado “espectro do investimento”, no qual é dividido em etapas.
Para Renato Franklin, o reconhecimento pela execução de práticas ESG também traz retornos. A exemplo da Movida, onde os selos de reconhecimento abriram portas de novos relacionamentos, novos clientes e parcerias.
E na visão de Gilson Finkelsztain, ESG é uma agenda que veio para ficar, dada a sua importância para trazer mais clientes e mais acionistas e, desta forma, gerar mais valor e resultado.
“O papel da liderança é unir a companhia e buscar recursos para gerar valor na empresa com ESG”.
Karin Baumgart
Os caminhos para liderar com responsabilidade pela ótica de grandes executivos
Redefinindo o impacto dos negócios
Para fechar o 3º dia da Expert ESG, tivemos um painel com ninguém menos que Paul Polman, ex-CEO global da Unilever e fundador da IMAGINE, e Guilherme Leal, cofundador da Natura, moderado por Jose Berenguer, CEO do Banco XP.
Os palestrantes discutiram sobre a necessidade de acontecerem mudanças no mundo a fim de alterar o impacto negativo no clima e no meio ambiente que a sociedade vem causando.
Polman mencionou que temos pelo menos 10 anos para que mudanças estruturais aconteçam, caso contrário, pode ser tarde demais. Leal disse ainda que a mudança precisa começar com todos, e cada um de nós pode fazer a diferença e liderar essa mudança.
Tanto Leal, quanto Polman falaram sobre como é importante, desde a sociedade civil às corporações privadas, que todos nós abracemos a causa de negócios regenerativos e restauradores. Para Leal, já avançamos muito na agenda de destruir a natureza, bens e recursos naturais que o mundo possui, mas ainda temos tempo de fazer a diferença e reconstruir a natureza, gerando impactos muito positivos para o mundo.
“Se você tem um propósito maior em sua vida pessoal, por que não fazer isso também em seu negócio? Tenho certeza que podemos nos tornar maiores do que isso e estar em um ponto onde temos a capacidade de unir o que gostamos com o que promove o bem para o mundo (…). Se você está em uma posição privilegiada, você tem a obrigação e o dever de servir aos outros”.
Paul Polman
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