A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,56% em março de 2025. O resultado elevou a métrica acumulada em doze meses para 5,58%, acelerando frente aos 5,06% registrados até fevereiro, e atingindo o maior patamar desde fevereiro de 2023.
Assim, a inflação se afasta ainda mais da meta do Banco Central (de 3,00%), superando o limite superior de 4,50%. O resultado reforça preocupações sobre o ritmo de alta de preços e seus impactos na economia adiante, e a continuidade do processo de elevação da taxa Selic pelo Banco Central.
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.
O resultado de março veio um pouco acima do esperado por analistas, mas não trouxe reações significativas no curto prazo. A reação observada no mercado de renda fixa após a divulgação foi limitada, com certa estabilidade nas expectativas de juros no futuro – ou seja, na “curva DI futuro” (composta por taxas de títulos soberanos de diferentes vencimentos).
Não obstante, a inflação segue um tema (cada vez mais) preocupante. E os detalhes da divulgação mensal ilustram essa realidade.
Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
Normalização de energia ajuda, mas não compensa alta da alimentação no resultado mensal
Um dos principais “vilões” do mês foram os preços de alimentos no domicílio, ou seja, aquilo que comemos em casa. A categoria subiu 1,31% entre fevereiro e março e, mesmo dentro do esperado, chama atenção para sua métrica acumulada em 12 meses - que atingiu 7,85% no terceiro mês do ano.
Dentre os alimentos, vale destacar aqueles “in natura”, cujo preço segue pressionado por questões climática. A categoria composta por alimentos como legumes, verduras e frutas registrou alta de 4,91% na variação mensal, influenciada por eventos climáticos como chuvas excessivas em determinas regiões do país. Para ilustrar, frutas como morango e manga subiram perto de 20% no mês, enquanto o tomate registrou alta de 22,5%.
Café foi outro item da cesta de alimentação de grande parte da população que registrou forte alta no primeiro mês do ano. Refletindo duas quebras de safra seguidas – também fruto de eventos climáticos como períodos de seca ou chuva em excesso – o “café moído” registrou alta de 8,14% em março, acumulando elevação de mais de 75% nos últimos doze meses.
Vale destacar que, além de fatores que vem impactando a oferta de alimentos no país – em particular, eventos climáticos – a demanda aquecida observada na economia também contribui para a elevação dos preços.


Já os preços de energia trouxeram certa estabilidade, refletindo a normalização da questão do bônus de Itaipu. A categoria registrou leve alta de 0,1% em março. Lembrando que as contas de luz passaram por forte queda em janeiro, seguida de alta expressiva em fevereiro, por conta da dinâmica do excedente de lucro registrado na usina de Itaipu no período. Esse “vai e vem” dos preços seguem definição legislativa, segundo a qual qualquer excedente deve ser refletido diretamente como desconto para consumidores no mês de referência – desconto esse que é revertido no mês subsequente.
Por fim, vale destacar a elevação acima do esperado dos preços de bens industrializados. Atingindo a marca de 5,3% nos últimos três meses (considerando ajuste sazonal) os preços de bens industrializados, como roupas e máquinas, seguem refletindo tanto a demanda aquecida, quanto a desvalorização da nossa moeda observada no fim do ano passado.
O patamar da taxa de câmbio influencia diretamente e indiretamente a variação dos preços de bens e alimentos consumidos domesticamente, em maior ou menor intensidade. Afinal, grande parte do que consumimos é negociado internacionalmente (como cacau e proteínas) ou mesmo importado – como o trigo, e matérias primas para roupas e eletrônicos.
Assim, apesar da relativa apreciação do Real nos últimos meses, podemos observar os efeitos da forte desvalorização que marcou o fim de 2024 no início desse ano – uma vez que tais repasses ocorrem de maneira gradual e variam entre diferentes categorias (sendo sentidos mais rapidamente em alimentos, por exemplo).

Inflação de serviços: o vilão latente
Embora preços de bens como alimentos, roupas e eletrodomésticos tendam a ser sentidos de maneira mais aparente por consumidores, a inflação de serviços segue como um dos principais fatores de preocupação no contexto atual.
Como podemos ver no gráfico abaixo, a inflação do setor segue muito acima da meta do Banco Central, com a categoria “subjacentes” – que exclui itens mais voláteis, como passagens aéreas – registrando alta de 7,7%, conforme a média dos últimos três meses.
Nesse sentido, vale destacar a categoria de serviços intensivos em mão de obra, que inclui serviços como manicures, dentistas e psicólogos, e também segue em patamar alto, próximo a 7%.

Vale lembrar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação prospectiva no país. Em outras palavras, o que apontam preços como de cabelereiros, médicos e cinemas pode sinalizar mais sobre o que esperar da inflação do que se imagina.
Isso porque a inflação do setor de serviços é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); refletindo mais a dinâmica de salários e do nível de demanda na economia – em um processo que se retroalimenta.
Afinal, quanto mais aquecida a economia, maior tende a ser o nível de emprego e, consequentemente, a pressão sobre salários. E esse movimento se torna ainda mais relevante em economias nas quais serviços tem maior peso, como no Brasil, onde o setor responde por cerca de 70% do PIB e a maioria dos empregos do país.
Assim, como destacado adiante, a inflação de serviços deve seguir como um dos principais motivos de cautela ao longo de 2025.
O que esperar? Inflação seguirá alta em 2025, mas cenário externo pode trazer certo alívio
Como vimos, o resultado do IPCA de março reforça preocupações com o cenário de inflação adiante. Ao longo de 2025, devemos seguir convivendo com preços pressionados tanto por conta de fatores domésticos quanto globais - com maior protagonismo para o primeiro.
Demanda aquecida, apesar de desaceleração gradual
No cenário doméstico, a economia aquecida, com destaque para o mercado de trabalho ainda apertado, segue pressionando os preços – mesmo que em menor magnitude do que em 2024.
Como mencionado, o efeito é visto especialmente no setor de serviços, mas também em bens industriais, alimentos e bens de consumo de uma maneira geral. Afinal, com maior renda disponível, famílias tendem a elevar o consumo para além de bens essenciais.

Nesse sentido, vale destacar as recém anunciadas iniciativas do governo em impulsionar a atividade econômica que devem contribuir para manter a demanda aquecida. Dentre as quais: liberação de parcela do FGTS; ampliação do escopo do crédito consignado; ampliação do programa social Minha Casa Minha Vida; e projeto para ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física.
Em resumo: o ambiente de economia aquecida, com desemprego baixo, salários em alta e crédito abundante impulsionou a demanda das famílias e pressionou os preços em 2024.
Essa dinâmica deve enfraquecer gradualmente, conforme os efeitos da alta de juros são sentidos na economia. Os estímulos adicionais do governo, entretanto, podem reduzir esse efeito. Preços de serviços: discretamente perigosos
O fiscal como risco inflacionário
Ainda no cenário doméstico, vale destacar a elevada percepção de risco fiscal como um dos principais riscos ao controle dos preços.
Isso porque o aumento dos gastos públicos não somente contribui para elevar a demanda por bens e serviços na economia, como também impacta as expectativas de inflação e a precificação dos ativos por aqui – incluindo a nossa moeda
Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).
Na mesma linha, com receios de que a inflação possa corroer os ganhos a frente, investidores “colocam no preço” dos ativos brasileiros esse risco maior – e nossa moeda perde valor.
Nesse contexto, definições relacionadas a sustentabilidade e manutenção das regras fiscais vigentes (em especial o arcabouço fiscal), incluindo o impacto de potenciais elevações de despesas para o orçamento desse e do próximo ano, seguirão centrais – e um fator de risco – para o rumo dos preços adiante.
Cenário externo: um potencial alívio?
Apesar do elevado nível de incerteza e imprevisibilidade que tem marcado o cenário global em 2025, especialmente desde a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, parte da dinâmica observada pode acabar contribuindo para o controle inflacionário por aqui.
Em particular, vale destacar:
A desvalorização do dólar: especialmente desde o anúncio da elevação de tarifas no dia que ficou conhecido como “Liberation Day”, a moeda americana vem perdendo força contra pares desenvolvidos e emergentes, diante da crescente expectativa de uma desaceleração mais forte da maior economia do mundo.
Assim, o desempenho recente do dólar mais fraco introduz um viés de baixa na nossa projeção para 2025 (4,2%), especialmente na segunda metade do ano. Ressaltamos que nosso cenário considera a taxa de câmbio em R$6,00 ao final deste ano.
Afinal, assim como a desvalorização do real pressiona os preços, um dólar mais fraco contribui para conter a inflação.

A queda no preço de commodities: também como reflexo de crescentes receios de uma recessão nos Estados Unidos – e consequente desaceleração no crescimento global – o preço de commodities mostrou relevante queda nos últimos meses, especialmente após o início de abril.
A queda nos preços do petróleo, por exemplo, ilustra essa dinâmica (também sendo influenciado por decisões da OPEP). E, como é de se esperar, menores preços de insumos básicos tendem a ajudar no controle da inflação.

Selic deve atingir 15,50% para trazer inflação de volta à meta
Observando seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa elevar ainda mais a nossa taxa básica de juros, a Selic.
Vale lembrar: gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.
Projetamos que a Selic atinja 15,50% até junho de 2025 – apenas no começo de 2026 vemos um potencial espaço para o início de um novo ciclo de quedas. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.

Como se proteger da alta de preços?
Como vimos, o ano de 2025 se inicia com a inflação como um dos principais motivos de cautela e atenção para a economia brasileira.
Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços se torna ainda mais essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco, debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) e fundos de investimento com gestão ativa em renda fixa são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Apesar de estarem sofrendo diante de expectativas de juros mais altos adiante, os FIIs podem ser aliados do investidor em um cenário cauteloso de alta de preços, por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!