Resumo
O destaque internacional dessa semana foi a divulgação da inflação ao consumidor (CPI) referente ao mês de maio, que registrou alta de 5% no acumulado em doze meses. A despeito da surpresa, agentes de mercado reagiram bem aos dados. A avaliação de que o choque inflacionário possui caráter temporário defendida pelo FED parece ganhar força, tendo como principal argumento a existência de ineficiências geradas pela pandemia que seriam corrigidas (ou ao menos reduzidas) no decorrer do ano.
Na China, o crescimento das exportações indica recuperação global da demanda. Na Zona do Euro, o destaque ficou para a reunião do Banco Central Europeu, que manteve as taxas de juros inalteradas e reiteraram a manutenção do programa de recompra de ativos até, no mínimo, maio de 2022.
No Brasil, a semana foi marcada pela descompressão de ativos, e contou com uma série de indicadores referentes aos meses de abril e maio -- que indicaram continuidade da recuperação da atividade econômica de um lado, e inflação pressionada de outro. No cenário político econômico, destaque para a discussão sobre a extensão do auxílio emergencial, que deve ter o anúncio detalhado na semana que vem. Sobre a reforma tributária, o Ministério da Economia tem concentrado esforços para criação do CBS, imposto que unificaria PIS e Cofins, mas com potencial alíquota diferenciada para serviços. A MP da capitalização da Eletrobrás deverá sofrer alterações no Senado e discussões sobre mudanças nas regras eleitorais começam a ser discutidas na Câmara.
O principal destaque da semana que vem será a política monetária, com reunião de Comitês de Política Monetária do Banco Central nos EUA (FOMC) e no Brasil (COPOM). Teremos também no Brasil a divulgação do índice de atividade econômica do Banco Central (IBC Br) referente a abril e da segunda prévia do IGP-M de maio.
Atualizações Covid-19
No cenário internacional, destaque para a discussão dos líderes do G7 (sete principais economias do mundo) sobre o aumento do fornecimento de vacinas para países em desenvolvimento e menos desenvolvidos. Enquanto isso, no Reino Unido, cresce a preocupação sobre a variante de origem indiana e os impactos na flexibilização total das medidas de restrição de mobilidade.
No Brasil, tivemos a autorização da Anvisa para uso da Pfizer em maiores de 12 anos, a exemplo do que já tinha sido aprovado na Europa e nos Estados Unidos. O governo afirmou que estuda a contratação de mais 100 milhões de doses de vacinas da Moderna, que seriam entregues apenas no último trimestre desse ano, e a Pfizer estuda a oferta de 100 milhões de doses ao Brasil em 2022. Tivemos também a antecipação de 3 milhões doses da Janssen para este mês.
Quanto aos números da pandemia, tivemos nova piora na média móvel de óbitos, partindo de 1.687 ao dia para 1.804 após os 2.504 registros divulgados pelo Ministério da Saúde, maior crescimento diário na métrica desde março. O número de casos se mantém em torno de 58 mil ao dia na média móvel semanal. A aplicação de vacinas tem se acelerado com a chegada de novas doses aos municípios e mudança nos critérios de vacinação. A média móvel de aplicações subiu para 853 mil ao dia. São 77,2 milhões de doses aplicadas no país, das quais 53,6 milhões são primeiras doses e 23,6 milhões (11.2% da população), segundas doses.
Cenário Internacional
Nessa semana, ganhou destaque o anúncio por parte do G7 de acordo para uma tributação comum entre as nações frente a empresas multinacionais. A proposta inicial inclui a criação de um imposto global mínimo de 15% para as grandes multinacionais ao redor do mundo. Além disso, para companhias globais que tenham ao menos 10% de margem de lucro, 20% dos lucros terão seu imposto apurado em países onde são realizadas as transações. O acordo, entretanto, ainda segue sem detalhamento, e deverá seguir no debate global ao longo dos próximos meses/ano.
Ainda na reunião do G7, a ser realizada essa final de semana, líderes globais devem discutir temas como a pandemia da covid-19 e a doação de vacinas, o avanço da economia chinesa, e segurança global.
Em commodities, os preços do petróleo continuam subindo, apoiados por um forte crescimento global. O petróleo WTI está sendo negociado acima de US$ 70,0. A alta dos preços do petróleo alimenta preocupações com a inflação global.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o principal destaque da semana foi a divulgação do indicador de inflação ao consumidor (CPI) referente ao mês de maio. O índice registrou alta de 0,6%, acima de nossa expectativa e do consenso de mercado (ambos em 0,5%), e levando o acumulado em doze meses para 5% - o maior nível desde agosto de 2008. O resultado acima de nossa expectativa reflete tanto a forte recuperação da demanda doméstica quanto restrições na oferta de matérias-primas e mão-de-obra. Por exemplo, os preços de carros e caminhões usados dispararam 7,3% entre abril e maio, respondendo por cerca de um terço da elevação total do índice.
A despeito da surpresa, agentes de mercado reagiram bem aos dados -- bolsas subiram e taxas de juros dos títulos públicos se acomodaram em níveis mais baixos. A avaliação de que o choque inflacionário possui caráter temporário defendida pelo FED parece ganhar força, e tem como principal argumento a existência de ineficiências geradas pela pandemia que seriam corrigidas (ou ao menos reduzidas) no decorrer do ano. Mantemos nossa projeção de arrefecimento da inflação ao longo dos próximos meses, com o IPC encerrando o ano em 3%, e o Título soberano de 10 anos em 1,5%.
Nesse contexto, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, reforçou em pronunciamento nessa semana que um ambiente de taxas de juros um pouco mais altas nos EUA seria “um benefício para a sociedade americana”. Yellen destacou que a inflação e as taxas de juros estão baixas demais há mais de uma década. A trasição, no entanto, pode trazer volatilidade para os mercados.
Já no mercado de trabalho, os novos pedidos de auxílio-desemprego caíram pela sexta semana consecutiva (de 385.000 para 376.000), atingindo o menor nível desde o início da pandemia, em linha com a reabertura da economia. No entanto, vale ressaltar que muitos empregadores vêm relatando dificuldades para preenchimento das vagas abertas – em linha com a tese ilustrada pelo resultado do payroll da semana passada.
No cenário político, a política industrial ganha força nos EUA. O Senado aprovou por larga margem um projeto de lei para investir quase US$ 250 bilhões em manufatura e tecnologia. O projeto autoriza, por exemplo, US$ 190 bilhões em universidades e outras instituições de pesquisa. O objetivo é enfrentar a competição da China, e foi apoiado tanto por democratas quanto republicanos.
Ásia
Na China, as exportações cresceram quase 28% em maio, um pouco mais fracas do que abril (32,3%), mas ainda em um ritmo muito sólido. As exportações fortes do gigante asiático são um sinal de recuperação global. O crescimento das vendas externas foi impulsionado principalmente por produtos não ligados à Covid-19 (como máscaras), revertendo tendência observada até agora no ano, passando a indicar volta no crescimento na exportações de produtos como eletrônicos e eletrodomésticos. Já as importações subiram 51,1%, o ritmo mais rápido desde março de 2010, impulsionado pelos altos preços das commodities.
Em inflação, o índice de preços ao produtor (PPI) variou 9.0% y/y em maio, superando as expectativas e registrando a maior variação interanual desde setembro de 2008 – o movimento aumenta pressão sobre uma atuação mais firme do governo asiático no mercado de commodities. Entretanto, junto ao consumidor, a inflação segue contida e abaixo do objetivo do BC chinês. O CPI registrou alta de 1.3% y/y, abaixo do 1.6% esperado pelo mercado, apesar de aceleração na inflação de serviços.
Enquanto isso, no Japão, a economia encolheu no último trimestre menos do que o esperado e inicialmente relatado, ao registrar queda de 3,9% anualizado em relação ao último trimestre de 2020 (frente estimativa inicial de contração de 5,1%).
Zona do Euro
Na Zona do Euro, o principal destaque da semana foi a reunião do Banco Central Europeu (ECB). A autoridade monetária manteve as taxas de juros inalteradas, reafirmando que devem seguir assim “até que a perspectiva de inflação convirja de forma robusta” para sua meta (taxa ligeiramente inferior a 2,0%). O BCE também reiterou a manutenção de seu programa de compra de ativos até ao menos março de 2022, acelerando seu ritmo. Por fim, o ECB elevou suas projeções de crescimento e inflação para a região. Esperam o PIB crescendo 4,6% em 2021 (previsão anterior: 4,0%) e 4,7% em 2022 (anterior: 4,1%); e inflação em 1,9% e 1,5% nesse e no próximo ano, respectivamente.
A semana contou também com a divulgação do resultado final do PIB do primeiro trimestre, que indicou uma contração muito menor do que o esperado, registrando queda de 0,3% em termos trimestrais e 1,3% em relação ao mesmo período do ano anterior.
No tocante a indicadores mais recentes, vemos a economia europeia se recuperando bem da segunda onda da Covid-19, apesar de dados heterogêneos na região. A produção industrial na Alemanha contraiu -1% em abril, indicando grande impacto da falta de bens intermediários, em mais um sinal de que gargalos maciços de fornecimento estão impedindo a recuperação na maior economia da Europa. Já na França, a produção caiu 0,1% em relação ao mês anterior, enquanto na Itália, a produção saltou muito acima das expectativas, em 1,8% no período.
Enquanto isso, no Brasil
Cenário Político Econômico
A semana começou com discussões sobre os reflexos do arrefecimento do risco fiscal agudo. No mercado de renda fixa, a diferença entre os juros de longo prazo e os juros de curto prazo voltou a cair nas últimas semanas, se aproximando do patamar observado em abril de 2020. O nível de inclinação da curva arrefecia desde o início do processo de normalização da política monetária, mas a redução adicional do spread tem sido levada por uma melhora na percepção de risco fiscal - na esteira de resultados fiscais melhores do que o esperado e perspectivas relativamente mais positivas para o endividamento.
Por outro lado, a discussão sobre a extensão do auxílio emergencial vai na direção de maiores gastos – a despeito do efeito relativamente pequeno no total do endividamento esperado para o ano. Informações. A expectativa é que o anúncio da prorrogação por mais dois ou três meses seja feito até a semana que vem, em valores e tamanho semelhantes ao atual. O custo é de R$ 9 bilhões mensais, e o governo usará R$ 7 bilhões de sobra dos primeiros meses de auxílio, complementados por crédito extraordinário. Ao que tudo indica, o governo deve utilizar as sobras orçamentárias do Bolsa Família (vinda da migração de parte dos beneficiários para o AE) para incrementar o programa após o fim do AE.
Sobre a reforma tributária, informações preliminares apontam para o esforço do Ministério da Economia na criação da CBS (imposto que unificaria PIS e Cofins), agora com alíquota menor ao setor de serviços - a ideia original era de 12% a todos os setores. A medida seria necessária diante da impossibilidade de criação do tributo sobre transações, que, por sua vez, permitiria a desoneração da folha de pagamentos. Em investimentos, mais produtos de renda fixa, como LCI e LCA, seriam tributados no Imposto de Renda, mas o governo unificaria a alíquota em 15%. A reforma deve contar também com elevação da faixa de isenção no IR.
Já no tocando a capitalização da Eletrobrás, a Medida Provisória aprovada na Câmara tende a sofrer mudanças no Senado em relação a contratação de térmicas a gás – a percepção disseminada de que o processo poderia levar a aumento na tarifa da energia tem sido o maior entrave apontado pelos senadores. O Ministério de Minas e Energia rebate a versão e diz que as tarifas podem ser reduzidas em 6,34%. Cabe lembrar que se mudanças forem efetuadas, o texto precisa ser apreciado novamente pela Câmara. O prazo final para que a medida não perca a validade é 22 de junho.
Finalmente, as discussões sobre mudanças nas regras eleitorais para a disputa de 2022 começam a tomar espaço na agenda do Legislativo. Na Câmara, há discussão para alterar o modelo de eleição de deputados, do voto proporcional para o “distritão”, em que seriam eleitos os candidatos mais votados, além do foco nas tratativas sobre a implementação do voto impresso. O avanço na discussão eleitoral toma espaço da estreita janela que existe para a aprovação de temas como a reforma administrativa e tributária.
Indicadores
A semana contou também com uma série de indicadores referentes aos meses de abril e maio, que indicaram continuidade da recuperação da atividade econômica de um lado, e inflação pressionada de outro.
No que tange a atividade econômica, as vendas no varejo (conceito ampliado) cresceram 3,8% entre março e abril, acima das nossas expectativas e do consenso de mercado. A surpresa positiva deveu-se principalmente aos segmentos de "móveis e eletrodomésticos" e "outros artigos de uso pessoal e doméstico", puxados tanto pela flexibilização de restrições de mobilidade, quanto pela nova rodada de auxílio emergencial, e à retomada da confiança de consumidores.
Já o setor de serviços registrou recuperação crescimento no faturamento real de 0,7% em abril frente a março. A flexibilização das restrições de mobilidade ao longo do mês respondeu por grande parte dessa melhora, com destaque para performance dos serviços prestados às famílias, que compensou parte da contração aguda registrada em março (-28,0%). Notamos também a contribuição da nova rodada de pagamento do auxílio emergencial para as famílias mais vulneráveis à pandemia (retorno das transferências em abril) e da recuperação relativamente rápida da confiança do consumidor.
Acreditamos que tanto as vendas no varejo quanto o setor de serviços deve seguir em trajetória de recuperação em maio, na esteira da retomada da mobilidade, da confiança e dos impulsos de renda via auxílio emergencial e adiantamento de benefícios.
Em inflação, o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) registrou alta de 3,40% em maio, acumulando avanço de 36,53% em 12 meses. A inflação ao produtor continua sustentando os resultados em elevação. Chama atenção o avanço de produtos industrializados (+4,62%), também visto no IGP-M, que deve pressionar a inflação ao consumidor nos próximos meses.
Enquanto isso, a inflação ao consumidor medida pelo IPCA registrou alta de 0,83% em maio, acima da nossa estimativa e da mediana das expectativas de mercado (em 0,73% e 0,71%) – levando o acumulado em doze meses para 8,06%. Os núcleos da inflação, que excluem preços mais voláteis, seguiram bastante pressionados, atingindo 4,25% no período, bem acima da meta de inflação do BC (3,75%). As próximas leituras do IPCA tendem a desacelerar, principalmente em função da acomodação da tarifa de energia elétrica e da estabilização dos preços dos combustíveis. Embora um pouco acima de nossas expectativas, o resultado do IPCA de maio são consistentes com nossa projeção de 6,2% para 2021.
O que esperar?
O principal destaque da semana que vem será a política monetária, com reunião de Comitês de Política Monetária do Banco Central nos EUA (FOMC), no Brasil (COPOM), além de decisões de juros também na China e no Japão.
No cenário internacional, destaque também para a divulgação de indicadores de atividade e inflação, com produção industrial e indicadores de inflação na Zona do Euro (CPI) e EUA (PPI), além de desemprego, varejo e indústria na China. No Brasil, a semana contará também com o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC Br) referente a abril e da segunda prévia do IGP-M de maio.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!