Em meio à crise, as águas turbulentas dos mercados financeiros trazem muitas incertezas aos investidores. Diante de perdas expressivas para a maioria dos fundos multimercados – em alguns casos, a maior queda já tida pelos produtos – é natural surgir diversos questionamentos:
“Quais são as perspectivas dos gestores? Como estão posicionados?“
“Os fundos podem cair ainda mais?“
“Em quanto tempo os fundos vão recuperar as perdas?“
“O que devo fazer neste momento: resgatar, aguardar ou investir ainda mais?“
Diante de tanta imprevisibilidade, não podemos garantir a certeza da maioria das respostas – nem os próprios gestores – mas temos conversado intensamente (mesmo de home office) com os profissionais da gestão de fundos, a fim de trazer a maior quantidade de informação e o embasamento para que melhores decisões sejam tomadas pelo investidor.
Entre os gestores com quem temos conversado, estão aqueles dos fundos de estratégia Macro, a mais comum entre os multimercados. A seguir, trazemos um panorama para os fundos dessa categoria.
Relembrando… o que houve com os fundos Macro?
“Um cisne negro é um evento imprevisível que está além do que é normalmente esperado para uma situação e que tem potencialmente consequências severas.”
(Investopedia)
Para muitos gestores, a crise atual é considerada um cisne negro. Diferentemente de outras crises passadas, em que a deterioração dos mercados se deu em um período relativamente prolongado, o que vimos nos meses de fevereiro e março foi uma queda extremamente abrupta dos ativos de risco ao redor do planeta.
A maioria dos gestores não previu as proporções que a propagação do coronavírus tomaria no mundo e as medidas subsequentes de paralisação das economias globais (lockdown), que levaram a um sentimento de pânico generalizado.
O trabalho do gestor Macro é de tomar decisões de investimento baseadas em cenários macroeconômicos e previsões sobre as direções das classes de ativos. A crise atual criou uma verdadeira neblina diante da visão dos gestores, e os horizontes de investimento tiveram de ser encurtados. Esse processo, na ponta, intensificou a queda de preços dos ativos de risco. O movimento expressivo de venda dos ativos e desmontagem de posições retirou parte da funcionalidade dos mercados.
No início do ano, a maioria do gestores apresentava um cenário otimista para a economia brasileira, e a posição praticamente consensual para capturar ganhos com esse quadro positivo era a exposição comprada em ações. No ano, a Bolsa foi fortemente penalizada, e as perdas dos fundos foram mais representativas nesse mercado, no geral.
E agora, o que esperam os gestores e como estão posicionados?
O desligamento das economias ao redor do planeta tem sérios impactos de curto prazo nos dados de atividade. Segundo os gestores, devemos ter variação negativa para o PIB em 2020, uma recessão, possivelmente os piores dados desde a Segunda Guerra Mundial.
Em contrapartida, do lado positivo, temos visto os bancos centrais no mundo todo usando suas “armas de fogo”, com a implementação de diversos estímulos monetários, além da atuação dos governos com estímulos fiscais. Tais medidas ajudam a conter os danos à saúde financeira das empresas e o risco de falência, o que levaria a consequências ainda mais sérias na economia.
Se comparado ao início do ano, o cenário de fato piorou muito, mas segundo grande parte dos gestores, os preços atuais dos ativos já incorporam condições bastante deterioradas de mercado. Nesse ambiente, as posições mais comuns atualmente nas carteiras dos fundos são as que se beneficiam da queda dos juros no Brasil (via posições no mercado futuro de taxas prefixadas ou via NTN-Bs), além de vermos posições levemente compradas em bolsas (majoritariamente Ibovespa, mas também alguns com posições em bolsa americana).
No mercado de ações especificamente, vale destacar o caso do emblemático fundo Verde, gerido por Luis Stuhlberger, que veio aumentando gradativamente a posição comprada em bolsa durante a crise e hoje se encontra na maior exposição comprada desde 2010 (quase 50% do PL entre ações brasileiras e americanas), projetando uma recuperação desse mercado tanto nos EUA quanto no Brasil.
No mercado de moedas, devido à grande falta de visibilidade, muitos gestores não estão posicionados no momento, mas temos visto a compra do dólar contra o real ser usada como proteção para a aposta a favor da queda de juros no Brasil (se as taxas de juros futuros voltarem a subir, é provável que o dólar também suba, o que protegeria as carteiras).
Os fundos multimercados podem cair ainda mais?
Retorno dos fundos multimercados de estratégia Macro da Plataforma XP. Data-base: 23/03/2020 (ordenados pelo retorno em 2020).
A tabela acima resume os retornos das estratégias Macro da Plataforma da XP, ordenadas pelo retorno no ano. Como mencionamos anteriormente, a maioria dos fundos já acumula as maiores quedas históricas desde seus respectivos inícios. Nas condições atuais de mercado, a volatilidade dos ativos está extremamente elevada, e os gestores esperam que esse nível elevado se mantenha no curto prazo.
É possível que os fundos caiam ainda mais? Sim, é perfeitamente possível. Inevitavelmente, a alta volatilidade, no curto prazo, pode continuar levando os fundos tanto a dias de perdas como a dias de fortes ganhos. Por outro lado, o que vale ressaltar é que o nível de preços dos ativos está muito mais assimétrico para uma recuperação do que estava há 1 ou 2 meses, indicando um cenário favorável para o médio/longo prazo.
Além disso, vale destacar que os gestores em geral tiveram a utilização de risco de seus fundos reduzida, seja de forma ativa ou pelos mecanismos de desmontagem forçada das posições (stop loss). Essa postura mais cautelosa entre a maioria dos gestores deve levar a perdas menos significativas caso o cenário se deteriore ainda mais, mas permitir que os mesmos voltem a aumentar as posições a preços ainda mais atrativos, dado o espaço no “orçamento de risco” que possuem.
Tivemos conversas com alguns dos maiores gestores de fundos Macro nos últimos dias – confira nos links abaixo um resumo de cada encontro.
Em quanto tempo os fundos vão recuperar as perdas?
O processo de redução de risco dos fundos, naturalmente, leva a uma recuperação mais lenta do retorno. Enquanto a volatilidade dos ativos estiver muito elevada, é de se esperar que os fundos não montem grandes posições para capturar ganhos com os movimentos dos ativos.
Por outro lado, os fundos ainda estão posicionados e muito atentos ao desenrolar dos mercados – os cenários projetados pelos gestores são atualizados diariamente. Hoje, muitos gestores já veem grandes oportunidades, como no mercado de juros locais ou na própria bolsa, nos preços atuais.
À medida que a volatilidade dos ativos seja reduzida, esperamos que os gestores retomem gradativamente a utilização maior do risco dos fundos. O processo pode demorar meses, mas é muito incerto – o importante é que o investidor mantenha um horizonte de investimento alinhado com os horizontes de fundos multimercados, tipicamente entre 24 e 36 meses. Ou seja: pensar no longo prazo nunca foi tão importante.
O que fazer neste momento?
Manter a calma neste momento de falta de conforto e previsibilidade é fundamental para não se tomar decisões precipitadas. É importante refletir sobre qual é o seu perfil de investidor – seja conservador, moderado ou agressivo – para se evitar frustrações causadas pelas oscilações dos fundos e as perdas potencias no curto prazo.
Conforme seu perfil, recomendamos seguir os percentuais de investimento por classe de ativo definidos pelo nosso time de Alocação, nas carteiras recomendadas da XP. É possível que, na sua carteira atual, o percentual investido em multimercados ou em fundos de ações esteja maior do que o recomendado – sendo indicado reduzir essa exposição – ou, pelo contrário, pode ser que você esteja investido em menor proporção do que o recomendado, de forma que agora pode ser o momento aumentar essa posição.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!