XP Expert

Zeina Latif: Selo de qualidade

Pelos sinais emitidos pelo Banco Central, está chegando a hora de iniciar uma flexibilização na política monetária. O Copom não precisa esperar a inflação chegar mais perto da meta para dar início ao corte de juros. Fosse um BC sem reputação, talvez fosse necessário aguardar, afinal a inflação está próxima de 9%, acima do teto […]

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

Pelos sinais emitidos pelo Banco Central, está chegando a hora de iniciar uma flexibilização na política monetária.

O Copom não precisa esperar a inflação chegar mais perto da meta para dar início ao corte de juros. Fosse um BC sem reputação, talvez fosse necessário aguardar, afinal a inflação está próxima de 9%, acima do teto de 6,5%. Não é o caso. As expectativas inflacionárias dos analistas e as embutidas nos preços de ativos reduziram de forma satisfatória (para 12 meses adiante, estão em 5,16% e 5,87%, respectivamente, ante 6,9% e 9% no início do ano), indicando a confiança no compromisso e na capacidade do BC de entregar inflação na meta.

Quanto à capacidade de entrega, o que se discute não é a qualificação técnica dos membros do Copom, que é inquestionável, mas a possibilidade real de estar em curso uma mudança do regime fiscal que aumente o poder da política monetária. No quadro anterior, havia o temor de uma espiral inflacionária de origem fiscal que o BC não conseguiria evitar. Isso mudou.

Sabemos que a política monetária tem baixa eficácia no Brasil – exigindo taxas de juros elevadas – em função de fatores como a elevada segmentação do mercado de crédito (metade do crédito bancário tem taxas subsidiadas, o que compromete o canal de crédito da política monetária) e a indexação formal e informal ainda presente na economia. Um exemplo desse último ponto é o mercado de trabalho. Mesmo com taxas de desemprego recordes, os salários dos segmentos sindicalizados não recuam em termos reais. Além de ser ruim para a inflação, aumenta o desemprego.

Além disso, a estrutura produtiva fragilizada pelo chamado custo-Brasil significa uma oferta agregada menos flexível, o que torna a economia mais vulnerável a choques inflacionários. Por exemplo, a legislação causa tamanho custo trabalhista na comparação mundial e insegurança jurídica que, diante de um aumento de demanda, o empresário pode preferir elevar seus preços finais a contratar mais mão-de-obra e aumentar a oferta de bens e serviços.

Apesar de todas essas questões, que parecem tornar os cortes de juros sempre arriscados no Brasil, há possivelmente um espaço para isso agora. A taxa real de juros (taxa de juros descontada a expectativa inflacionária) está subindo, em função da queda das expectativas inflacionárias, enquanto o quadro econômico é ainda muito grave: o crédito secou e não há sinais de retomada; a saúde financeira das empresas é preocupante, o que significa risco não desprezível de quebra de empresas; e o desemprego poderá subir bastante, pois muitas empresas ainda estão cortando custos e ajustando o quadro de empregados, principalmente médias e pequenas empresas.

Não estão descartadas novas leituras negativas do PIB trimestral. O ciclo de ajuste do setor real não está completo e há o efeito da política monetária restritiva ainda se materializando, enquanto a economia mundial desacelera, influenciado a dinâmica econômica do país.

Pode até ser que ocorra um aumento marginal do investimento, uma vez que houve queda muito expressiva e algumas empresas buscam compensar a depreciação de suas máquinas e equipamentos. Ciclo de investimento já é outra conversa. Não há espaço para isso.

Se o fundo do poço pode não ser sólido o suficiente, o que dirá a volta do crescimento. O BC esperar um pouco mais para cortar os juros, de forma a acelerar a convergência da inflação à meta, talvez não seja a decisão mais sábia no momento. Seria prudente o BC considerar o todo (equilíbrio geral, no jargão dos economistas), e não apenas a parte que lhe cabe (equilíbrio parcial), pois o primeiro afeta o segundo. Um quadro econômico mais frágil do que o esperado pode significar perda de confiança dos agentes econômicos, um ambiente político difícil e mais destruição de crescimento potencial, com contração da oferta. Com tudo isso, o poder da política monetária de controlar a inflação seria afetado, apesar de todas as boas intenções.

A agenda fiscal não parece um constrangimento ao BC no momento. Passado o impeachment, o governo se volta novamente para a agenda econômica. Procuram aumentar o diálogo com o Congresso e com a sociedade, e parecem mais atentos a eventos que possam atrapalhar a credibilidade do ajuste fiscal. Parecem ter aprendido a lição com os desdobramentos do ajuste do funcionalismo e o acordo frouxo da dívida dos estados. Quem ficou de fora, agora reclama.

Pensando os próximos meses, é possível afirmar que é mais garantida a aprovação de reformas fiscais do que a retomada efetiva da economia.

O início do ciclo de corte de juros, em condições adequadas, poderá ter efeito simbólico importante, além do impacto usual na economia que contribui para a volta cíclica do crescimento. Seria o selo de qualidade do BC para política econômica e de que a agenda fiscal está bem encaminhada. Um BC que aguarda a aprovação de reformas para iniciar a flexibilização monetária pode acabar alimentando o ceticismo dos agentes econômicos. Ora, se nem a autoridade monetária confia no ajuste fiscal, por que os agentes econômicos confiariam.

O movimento do BC poderá ser importante sinal para investidores estrangeiros voltarem a olhar as oportunidades no Brasil, para o mercado de crédito iniciar sua normalização e para empresários repensarem planos de demissão, produção e investimento. Um impulso extra para a volta da confiança, ingrediente essencial para a retomada da atividade econômica.

Claro que isso só é válido porque é um BC com credibilidade. Um BC zeloso de sua missão, mas atento aos sinais da economia.

26 de Setembro de 2016

Fonte: Artigo replicado do Estadão

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este relatório foi preparado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos”) e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º na Resolução CVM 20/2021. Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas e análises políticas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra/venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra/venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. A XP Investimentos não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor. O responsável pela elaboração deste relatório certifica que as opiniões expressas nele refletem, de forma precisa, única e exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autônoma, inclusive em relação a XP Investimentos. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida a sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710. Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor acessar o nosso site: www.xpi.com.br.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.