No dia 27 de maio de 2025, a Braskem S.A. (“Braskem” ou “Companhia”) teve seus ratings em escala global rebaixados de 'BB+' para 'BB' tanto pela Fitch Ratings quanto pela S&P Global. A perspectiva da Fitch é 'Estável', enquanto a da S&P Global é 'Negativa'. Os ratings em escala local permanecem inalterados em 'AAA(bra)' e 'brAAA', respectivamente, com as mesmas perspectivas da escala global.
S&P Global e Fitch concordam em...
Rating Global | Rebaixaram de 'BB+' para 'BB' |
Motivo Principal | Setor petroquímico com margens pressionadas, excesso de oferta e demanda fraca |
Alavancagem | Projeção de dívida/EBITDA próxima de 6x em 2025, com queda gradual até 2026 |
Medidas da empresa | Reconhecem esforços da Braskem para preservar caixa, cortar custos e racionalizar ativos |
Alagoas | Destaque para riscos adicionais do caso Alagoas |
Liquidez | Enfatizam boa liquidez, perfil da dívida alongado e acesso a crédito |
S&P Global e Fitch divergem em...
Aspecto | S&P Global | Fitch |
---|---|---|
Perspectiva do rating | Negativa – risco de novo rebaixamento | Estável – manutenção da nota no curto prazo |
Projeções de recuperação | Mais cautelosa quanto à melhora nos spreads e rentabilidade | Mais construtiva, espera recuperação gradual até 2028 |
Mudança de controle | Caso o fundo de Nelson Tanure resolva aderir aos acordos já existentes entre os acionistas com a Novonor, a mudança de controle seria neutra em termos de crédito | Não incluiu os impactos potenciais da venda da participação da Novonor nos ratings |
Visão da Fitch Ratings
A Fitch rebaixou os ratings de default do emissor (IDRs) da Braskem em moeda local e estrangeira de 'BB+' para 'BB', mantendo a perspectiva 'Estável'. A decisão reflete a expectativa de que o atual ciclo de baixa no setor petroquímico será mais prolongado do que o inicialmente previsto, com margens deprimidas e uma recuperação significativa apenas a partir de 2028.
A agência destaca que fatores como o aumento da autossuficiência da China, choques de oferta de polietileno nos Estados Unidos e mudanças estruturais nas refinarias europeias têm pressionado negativamente os spreads petroquímicos globais.
Além disso, a alavancagem financeira da Braskem permanece elevada, com projeções de alavancagem líquida (ex-Braskem Idesa) em torno de 6,0x em 2025 e 5,0x em 2026, melhorando gradualmente para 3,5x em 2027 após a implementação de iniciativas de preservação de caixa e aumento do EBITDA, como priorização dos investimentos, redução de custos e outras.
A Fitch também considera os riscos adicionais relacionados ao evento geológico em Alagoas, que ainda pode gerar impactos financeiros e reputacionais relevantes.
Apesar desses desafios, a manutenção da perspectiva 'Estável' reflete a expectativa de que a empresa conseguirá preservar liquidez e implementar medidas de mitigação de caixa ao longo do período.
A Fitch não incluiu os impactos potenciais da venda da participação da Novonor nos ratings da Braskem.
Cenários da Fitch Ratings
Uma elevação no rating poderia ser considerado se houver:
- Diminuição da dívida líquida/EBITDA para menos de 3,0x, em média, ao longo do ciclo (ex-Braskem Idesa);
- Fluxo de caixa positivo ao longo do ciclo (ex-Alagoas).
Um rebaixamento no rating poderia ser considerado se houver:
- Dívida líquida/EBITDA acima de 4,5x (ex-Braskem Idesa), em média, ao longo do ciclo;
- Fluxo de caixa negativo, de forma sustentada (ex-Alagoas);
- Cobertura de juros abaixo de 1,0x ao longo do período;
- Desembolsos adicionais significativos para o evento geológico de Alagoas; e
- Suporte financeiro material para Braskem Idesa.
Visão da S&P Global
A S&P Global rebaixou o rating global da Braskem de ‘BB+’ para ‘BB’, mantendo a perspectiva 'Negativa'. O rating em escala nacional permaneceu inalterado ('brAAA/Estável'). A decisão reflete a visão da agência de uma deterioração significativa nos fundamentos financeiros da companhia, impulsionada por:
- (i) Alavancagem elevada, com projeção de dívida líquida/EBITDA próxima de 6x até o final de 2025;
- (ii) Desempenho operacional fraco, com margens pressionadas por spreads petroquímicos historicamente baixos;
- (iii) Ambiente setorial desafiador, marcado por excesso de oferta global e demanda ainda em recuperação; e
- (iv) Riscos adicionais relacionados ao passivo contingente do evento geológico em Alagoas, que podem pressionar ainda mais a liquidez.
A agência também destacou que, mesmo com medidas de contenção de custos e tarifas de importação mais altas no Brasil, a geração de caixa da Braskem deve permanecer limitada, com fluxo de caixa operacional representando apenas cerca de 7% da dívida total até o fim de 2025.
De acordo com a S&P Global, algumas incertezas pairam sobre o setor petroquímico, como o debate no Congresso sobre a REIQ (política pública de incentivo à Indústria Química no Brasil) e PRESIQ (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química), que visa aumentar a competitividade do setor no Brasil por meio do aumento do benefício fiscal aos competidores brasileiros, como a Braskem.
No âmbito do controle da companhia, a agência julga que, caso o fundo Petroquímica Verde Fundo de Investimento em Participações, cujo dono é Nelson Tanure, resolva aderir aos acordos já existentes entre os acionistas sobre direitos, benefícios, passivos e obrigações com a Novonor, a mudança de controle seria neutra em termos de crédito.
Cenários da S&P Global
Um rebaixamento no rating poderia ocorrer caso:
- Os spreads de petroquímicos sigam pressionados e reduzam a margem EBITDA para abaixo de 9% nos próximos anos;
- Uma possível queima de caixa acima do esperado reduzir a liquidez da Companhia; e
- A Companhia provisionar valores adicionais relevantes para o evento geológico ocorrido em Alagoas (não é o cenário base da agência).
Uma elevação na perspectiva para 'Estável' poderia ocorrer caso:
- As medidas antidumping forem aprovadas e aplicadas aos concorrentes americanos e canadenses da Braskem, o que aumentaria o seu volume e preço de venda;
- Seja realizado um aumento no REIQ, o que reduziria os custos da Braskem;
- Spreads de petroquímicos fiquem acima do esperado pela agência; e
- A Companhia conseguir ganhos de eficiência por meio de redução de custos maiores que os esperados pela S&P Global.
Análise Research XP: 1T25
Queima de caixa e aumento da dívida líquida. A dívida líquida da Companhia foi de USD6,6 bilhões no final do 1T25, um aumento de USD398 milhões A/A. A alavancagem em dólares, medida por Dívida Líquida/EBITDA recorrente, aumentou em relação ao último trimestre para 7,92x (7,4x no 4T24), mas caiu A/A (8,6x no 1T24).
Em reais, a alavancagem foi de 6,3x no 1T25 (vs. 6,9x no 1T24). Caso considerássemos os passivos relacionados ao evento geológico de Alagoas no cálculo da dívida, o índice teria sido de 7,2x (vs. 8,2x no 1T24).
Apesar do maior EBITDA, a Braskem queimou caixa no 1T25 devido ao menor fluxo de caixa operacional em função do capital de giro negativo (principalmente por conta de estoques) e do capex ainda elevado.
Ressalta-se que a posição de caixa permanece robusta, sendo suficiente para cobrir a dívida de curto prazo em quase sete vezes. Essa liquidez robusta mitiga a elevada alavancagem.
A Braskem não possui covenants financeiros.
Melhores spreads no 1T25. Como prevíamos, os spreads petroquímicos internacionais deram um impulso significativo aos resultados da Braskem no 1T25. Os spreads de resinas no Brasil aumentaram +5% t/t devido aos spreads de PE-nafta nos EUA (+15% t/t), mas parcialmente compensados por PVC Par e PP Ásia. Os spreads de nafta dos principais produtos químicos também aumentaram (+6% em relação ao trimestre anterior). O spread médio dos EUA e da Europa diminuiu um pouco (-3% em relação ao trimestre anterior). Por fim, no México, o spread de PE-etano aumentou em +4% no trimestre.
Taxas de utilização crescem no trimestre. No Brasil, a taxa média de utilização aumentou 4 p.p. para 74% no 1T25. A taxa de utilização de PE Verde aumentou 10 p.p. em relação ao trimestre anterior, após uma parada não programada na planta do Rio Grande do Sul no 4T24. A taxa de utilização dos EUA e Europa também aumentou no trimestre (+13 p.p.). Já no México, a taxa de utilização média aumentou 2 p.p. em relação ao trimestre anterior.

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