Resumo
Nos Estados Unidos, o Presidente do Federal Reserve (banco central local) afirmou que a inflação deve subir nos próximos meses - como reflexo da elevação das tarifas de importações - e que não há pressa em reduzir as taxas de juros.
Sobre a guerra comercial, o Secretário de Comércio dos Estados Unidos sinalizou entendimento com a China, o que foi confirmado pelo governo asiático. Além disso, a autoridade disse que a Casa Branca deve chegar a acordos com outros dez países em breve.
No Brasil, o Congresso derrubou a elevação da alíquota do IOF, aumentando os desafios para a execução orçamentária.
O Copom divulgou a ata da última reunião de política monetária. O Comitê reforçou a mensagem de que os juros devem ficar elevados por período bastante prolongado.
Em relação aos indicadores, destaque para o IPCA-15 de junho abaixo do esperado (novo sinal de alívio da inflação corrente) e o mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego ao redor de 6% e crescimento contínuo dos salários reais.
Gráfico da Semana
Veja na seção “IPCA-15 de junho mostra desaceleração da inflação”.

Cenário Internacional
Presidente do Fed afirma que não há pressa para cortar a taxa de juros
O Presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, prestou depoimento perante o Congresso. Segundo ele, o banco central projeta aumento da inflação nos próximos meses, em meio à elevação das tarifas de importação, afirmando que não há pressa para reduzir as taxas de juros enquanto isso. Powell reforçou que o mercado de trabalho continua sólido e que a autoridade monetária está bem-posicionada para esperar novos sinais da conjuntura econômica antes de considerar mudanças nos juros. Na semana passada, os membros do Fed votaram, unanimemente, pela manutenção da taxa de referência no intervalo entre 4,25% e 4,50%, e não forneceram qualquer indicação sobre cortes no curto prazo. Prevemos duas reduções de 0,25 p.p. até o final deste ano.
A inflação medida pelo deflator das despesas de consumo pessoal (PCE Deflator, em inglês) – índice com maior peso nas decisões de política monetária – veio em linha com as expectativas em maio, ao registrar alta de 0,1% em comparação a abril e 2,3% no acumulado em 12 meses.
Israel e Irã concordam com cessar-fogo
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o acordo de cessar-fogo entre Israel e Irã “está indo bem”. Durante coletiva de imprensa na cúpula da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Trump disse também que os Estados Unidos não permitirão que o Irã tenha bomba atômica. Com a desescalada das tensões no Oriente Médio, o preço do barril de petróleo (Brent) recuou cerca de 13,50% desde o início da semana, atingindo US$ 66,50.
Estados Unidos avançam em acordos comerciais
O Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, afirmou que o país finalizou um entendimento com a China, informação confirmada pelo governo asiático. Ele ainda divulgou que a Casa Branca deve chegar a acordos com outros dez países em breve. Além disso, o Tesouro americano chegou a um acordo com aliados do G7 para excluir as empresas locais de alguns impostos pagos em outros países, em troca da remoção do chamado “imposto da vingança” contido no projeto de lei One Big Beautiful Bill. Tal iniciativa permitiria ao governo federal tributar empresas com proprietários estrangeiros e investidores de países que cobram alíquotas “injustas” às empresas americanas.
Sondagem econômica da Zona do Euro segue em patamar expansionista
O PMI Composto da Zona do Euro – sondagem empresarial que visa a mensuração do nível de atividade nos setores de serviços e industrial – permaneceu em 50,2 pontos entre maio e junho, levemente abaixo das expectativas (50,5). Valores acima de 50 pontos indicam expansão na atividade. O componente de novas encomendas recuou, pressionado pela menor demanda externa. Em relação ao componente de preços, os custos de insumos desaceleraram pelo quarto mês seguido.
Enquanto isso, no Brasil...
Ata do Copom reforça sinalização de juros estáveis por “período bastante prolongado”
O Copom divulgou a ata da sua última reunião de política monetária. O Comitê argumentou que a atividade econômica e a inflação estão em processo de moderação, mas ainda em níveis desafiadores. Dessa forma, a política monetária precisa permanecer “significativamente contracionista (...) por período bastante prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta”. De fato, o documento trouxe diversos elementos que reforçam a visão de que a atividade econômica está desacelerando gradualmente, partindo, no entanto, de um patamar ainda aquecido. A inflação, por sua vez, vem mostrando melhora, mas segue acima da meta.
Em nossa avaliação, o Copom entende que sua estratégia de conduzir um “ciclo rápido e firme de elevação de juros” vem funcionando. Agora, é o momento de “observar os efeitos do ciclo implementado”. A propósito, a indicação de juros restritivos por “período bastante prolongado” foi utilizada cinco vezes ao longo da ata. A comunicação se mostrou mais focada em evitar que o mercado passe a precificar cortes de juros do que propriamente em sugerir a possibilidade de novas altas.
Assim, consideramos a ata do Copom consistente com o nosso cenário de taxa Selic em 15,00% até o 2º trimestre de 2026. Prevemos o início de um ciclo de flexibilização monetária em abril, com a taxa básica de juros chegando a 12,50% (após cinco cortes de 0,50 p.p.). No entanto, a materialização deste cenário dependerá, em grande medida, da evolução do ambiente global e das perspectivas para a política econômica doméstica em 2027 – que permanecem muito incertas devido ao calendário eleitoral.
Congresso derruba alta do IOF
O Congresso Nacional suspendeu os efeitos dos decretos presidenciais que aumentavam as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Com isso, voltam a vigorar as alíquotas aplicadas antes da mudança, o que representa uma perda de receita de cerca de R$ 10 bilhões para este ano e R$ 20 bilhões para o próximo. O resultado obriga o governo a ampliar os cortes discricionários de gastos ou recorrer a receitas primárias alternativas, incluindo leilões de petróleo de áreas não contratadas. Para mais detalhes, leia nosso relatório “IOF derrubado: o que esperar a seguir?”
IPCA-15 de junho mostra alívio na inflação de curto prazo
O IPCA-15 de junho avançou 0,26% M/M, levemente abaixo das expectativas (XP e consenso Bloomberg: 0,30%). A variação acumulada em 12 meses recuou de 5,40% em maio para 5,27% em junho. As surpresas baixistas se concentraram em serviços, especialmente passagens aéreas, condomínio e aluguéis.
No geral, a abertura do IPCA-15 de junho apresentou alívio disseminado nos preços – portanto, mais uma leitura benigna para a inflação brasileira. O resultado adiciona viés de baixa à nossa projeção para o IPCA de 2025 (atualmente em 5,5%). Para o IPCA cheio de junho, nossa estimativa caiu de 0,22% para 0,17%.
Mercado de trabalho continua aquecido
Conforme divulgado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a taxa de desemprego no Brasil caiu para 6,2% no trimestre móvel encerrado em maio, ante 6,6% no trimestre móvel encerrado em abril. O resultado veio ligeiramente abaixo das expectativas (XP e mercado: 6,3%). Corrigido pela inflação, o rendimento médio habitual do trabalho avançou 0,4% M/M em maio, atingindo R$ 3.460 por mês. O indicador apresentou alta de 3,1% A/A e 4,0% na variação acumulada em 12 meses.
Destacamos o avanço persistente dos salários reais, o que deve manter a pressão sobre o custo unitário do trabalho. Essa dinâmica reforça nosso cenário-base de atividade doméstica resiliente e inflação de serviços elevada no curto prazo (apesar deste grupo do IPCA ter surpreendido para baixo nos últimos meses). Projetamos expansão de 2,5% para o PIB de 2025, acima do consenso de mercado (2,2% segundo o Boletim Focus do Banco Central). Para a taxa de desemprego, prevemos 6,5% no final de 2025 e 6,6% na média anual.
Arrecadação federal bate recorde histórico para o mês de maio
Arrecadação de maio alcançou R$ 230 bilhões em maio e R$ 2,75 trilhões em 12 meses. Apesar do resultado positivo, a arrecadação está desacelerando, especialmente o PIS/Cofins. O resultado primário do governo central, por sua vez, registrou um déficit de R$ 40,6 bilhões em maio e acumula um superávit de R$ 17,9 bilhões.
Na nossa avaliação, estimamos que a arrecadação vai continuar perdendo força, em linha com uma desaceleração econômica, queda da inflação e apreciação do câmbio, alcançando R$ 2,85 trilhões em 2025, não sendo suficiente para atingir o limite inferior da meta do resultado primário, que é de déficit de R$ 31,9 bilhões, que dependerá de receitas extraordinárias. Estimamos um déficit de R$ 69 bilhões (0,5% do PIB) neste ano.
Déficit externo surpreende negativamente em maio
O saldo em transações correntes do Brasil registrou déficit de US$ 2,9 bilhões em maio de 2025. No acumulado em 12 meses até maio, o déficit somou US$ 69,4 bilhões (3,26% do PIB), ante US$ 69,0 bilhões (3,24% do PIB) em abril. Do lado negativo, a conta de serviços registrou déficit de US$ 4,7 bilhões e a renda primária apresentou déficit de US$ 5,2 bilhões. Do lado positivo, a balança comercial foi superavitária em US$ 6,6 bilhões, conforme esperávamos, e o Investimento Direto no País registrou ingresso líquido de US$ 3,7 bilhões.
A recente dinâmica das contas externas tem gerado preocupações sobre sua sustentabilidade. Dito isso, nosso cenário base não prevê deterioração contínua das contas externas. Projetamos estabilização do déficit em transações correntes em torno de 3,0% do PIB em 2025. Para mais detalhes, veja nosso relatório especial “Déficit em conta corrente não deve apresentar deterioração adicional”.
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Destaques da próxima semana
No cenário internacional, a agenda econômica terá como destaque a divulgação de dados de emprego nos Estados Unidos, com ênfase no relatório Payroll de junho. Na Zona do Euro, a leitura preliminar do CPI de junho será o principal indicador da semana. Além disso, os índices PMI da indústria e de serviços das principais economias do mundo serão publicados – PMI é uma sondagem empresarial que visa a mensuração do nível de atividade nos setores da economia.
No Brasil, destaque para indicadores de atividade econômica. O IBGE publicará a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) referente a maio. Estimamos contração na comparação com abril, após quatro aumentos consecutivos. Já o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgará o CAGED, que deve mostrar desaceleração suave na geração de ocupações formais no mês passado. Além disso, o Banco Central apresentará as estatísticas do setor público consolidado de maio, enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) publicará a balança comercial de junho.


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