Resumo
No cenário internacional, os dados de inflação nos Estados Unidos apoiam corte de juros em dezembro; por outro lado, reforçam a expectativa de que o estágio final da desinflação será desafiador. Enquanto isso, o governo da China sinalizou “aumento vigoroso do consumo” como prioridade para 2025, em meio à fraqueza da demanda doméstica, riscos de deflação e ameaças de aumento de tarifas comerciais durante a administração Trump.
O Banco Central Europeu reduziu os juros pela quarta vez no atual ciclo de cortes que, adiante, poderá ser mais intenso se a atividade econômica enfraquecer mais do que o esperado. Além disso, na França, o governo nomeou um novo Primeiro-Ministro.
No Brasil, o Copom aumentou a taxa Selic em 1 p.p. (para 12,25%) em meio ao cenário de inflação mais adverso, e sinalizou altas de mesma magnitude nas próximas duas reuniões de política monetária. Assim, elevamos nossa projeção de taxa Selic terminal, de 14,25% para 15,00%;
No lado fiscal, o pacote de gastos tem relatores definidos, mas sua aprovação ainda este ano é incerta. Ademais, o Senado aprovou o principal projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária do consumo. A estimativa de alíquota de referência suba para 28,55%.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Dados de inflação nos EUA apoiam corte de juros em dezembro, mas cautela será necessária em 2025
Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor (CPI) avançou 0,3% em novembro, em linha com as expectativas. A inflação acumulada em doze meses aumentou de 2,6% para 2,75%, principalmente devido a efeitos-base desfavoráveis. O núcleo da inflação – que exclui itens de alimentos e energia – também subiu 0,3% no mês, superando as expectativas, e está em 3,3% em termos anuais, ainda bem acima da meta de 2%. Por sua vez, o índice de preços ao produtor (PPI) subiu 0,4% entre outubro e novembro, a maior taxa de variação desde fevereiro de 2023, o que gera preocupações acerca da convergência da inflação à meta.
Embora os dados de inflação de novembro apoiem um corte de juros de 0,25 p.p. na reunião de política monetária da próxima semana (18), eles reforçam nosso cenário de que o estágio final do processo de desinflação nos Estados Unidos será desafiador, diminuindo o espaço para cortes adicionais de juros ao longo de 2025.
Governo chinês anuncia novos estímulos na tentativa de reanimar a economia
Na China, o índice de preços ao consumidor mostrou elevação de apenas 0,2% no acumulado em 12 meses até novembro, o menor patamar em cinco meses. Enquanto isso, o índice de preços ao produtor recuou pelo 26º mês consecutivo (-2,5% em termos anuais). Esses dados sugerem riscos adicionais de deflação no país e, aliados aos números fracos da balança comercial de novembro, alimentaram preocupações sobre a saúde da economia do gigante asiático, especialmente em meio à fraca demanda doméstica e às ameaças de aumento das tarifas comerciais durante a administração de Donald Trump.
Em uma tentativa de reanimar a economia e diante da ameaça de uma nova guerra comercial, o governo da China sinalizou que adotará uma política monetária “moderadamente frouxa” em 2025, intensificará os incentivos fiscais e fará do “aumento vigoroso do consumo” uma prioridade. Sem grandes detalhes, as autoridades se comprometeram a aumentar a meta de déficit fiscal e a emissão de títulos especiais de longo prazo do Tesouro – que são fontes importantes para investimentos em infraestrutura e outros gastos públicos –, além de reduzir os juros e a exigência de depósitos compulsórios dos bancos.
No geral, os dados econômicos continuam fracos. Projetamos menor crescimento para o PIB chinês em 2025 (4,5%).
Banco Central Europeu reduz taxas de juros pela quarta vez no atual ciclo de afrouxamento
O Banco Central Europeu (BCE) cortou suas taxas de juros de referência em 0,25 p.p.. Por exemplo, a taxa de depósito recuou de 3,25% para 3,00%. A decisão desta semana representou a quarta redução de juros no atual ciclo de flexibilização monetária. Em um contexto de inflação próxima à meta de 2% e projeções de crescimento mais fraco na zona do euro, o BCE anunciou sua intenção de suavizar gradualmente a política monetária restritiva que vinha adotando. A Presidente da instituição, Christine Lagarde, afirmou - durante coletiva de imprensa pós-reunião - que a economia “perde impulso”, referindo-se à contração do setor industrial e ao crescimento frágil do setor de serviços. Além disso, a economia europeia está ameaçada pela introdução de tarifas de até 20% sobre todas as importações dos EUA.
A nosso ver, o cenário da zona do euro é consistente com cortes de juros graduais. Vemos espaço para redução adicional de 1,0 p.p. ao longo de 2025. No entanto, cortes de juros podem ocorrer com maior intensidade caso a atividade econômica enfraqueça mais do que o esperado.
Governo da França nomeia novo Primeiro-Ministro
Emmanuel Macron, Presidente da França, nomeou François Bayrou como o novo Primeiro-Ministro, substituindo Michel Barnier, destituído na semana passada em um “voto de desconfiança”. Bayrou é um político de centro, alinhado a Macron, que também pertence a essa vertente política. O novo Premiê assume o cargo em meio a instabilidades políticas no país, com destaque à divisão no Parlamento. A primeira tarefa de Bayrou será formar um governo capaz de trabalhar em conjunto com o Parlamento para aprovar o orçamento de 2025.
Conflito na Síria se intensifica
Na Síria, uma coalizão liderada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) tomou o controle de Damasco, resultando na queda do Presidente Bashar al-Assad, que buscou asilo em Moscou. Isso marcou o fim de mais de 50 anos de domínio da família Assad no país. Mohammad Al-Bashir foi nomeado Primeiro-Ministro interino da Síria. As novas autoridades enfrentam o desafio de estabilizar o país e projetar uma imagem de normalidade após a queda de Assad.
Como tentativa de evitar que armamentos avançados caiam nas mãos de grupos rebeldes e proteger suas fronteiras, Israel intensificou suas operações militares na Síria, realizando ataques aéreos e avançando em território além da “zona-tampão” (área neutra que separa duas entidades geográficas) monitorada pela ONU.
Enquanto isso, no Brasil...
Copom enxerga cenário mais adverso e aumenta taxa Selic em 1,0 p.p....
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou a taxa Selic em 1,00 p.p., para 12,25%, conforme esperávamos. O banco central adotou um tom duro (hawkish, no jargão econômico), não apenas porque parte do mercado esperava um aumento de 0,75 p.p., mas também porque o Comitê sinalizou altas de mesma magnitude nas próximas duas reuniões caso cenário esperado se confirme. O comunicado pós-decisão trouxe que “o ambiente externo permanece desafiador” e que riscos inflacionários domésticos se materializaram. Assim, o Comitê concluiu que “o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior”, com os riscos para a inflação ainda inclinados para cima.
A mensagem mais dura da autoridade sugere taxas de juros ainda mais elevadas. Portanto, projetamos agora dois aumentos adicionais de 1,00 p.p. (em janeiro e março), seguidos de um aumento final de 0,75 p.p. em maio, levando a taxa Selic a 15,00%.
Para detalhes, leia nosso relatório “Projetamos taxa Selic de 15,00% após comunicado duro do Copom”.
... e dados econômicos confirmam a necessidade de uma política monetária mais contracionista
Dados econômicos recentes corroboram a decisão de juros mais elevados. O IPCA registrou alta mensal de 0,39% em novembro, pressionado sobretudo pelos preços de alimentos e serviços. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 4,87% – ou seja, acima do limite superior da banda de tolerância que contém a meta (4,5%). Os determinantes de inflação apontam para pressões adicionais adiante, com destaque à depreciação cambial, expectativas desancoradas e atividade econômica aquecida.
Neste sentido, as receitas do setor de serviços e as vendas no varejo cresceram acima do esperado em outubro. A demanda doméstica segue resiliente e a maioria dos componentes do PIB estão em trajetória de alta. Não há sinais de desaceleração da atividade, ao menos por ora.
Prevemos desaceleração da atividade econômica ao longo de 2025, em linha com a política monetária mais contracionista, o menor impulso fiscal e o fim da capacidade ociosa nos fatores de produção.
Para detalhes sobre a inflação de novembro, leia nosso relatório “IPCA: Inflação segue em alta e reforça expectativas de elevação da Selic em 2025”.
Novos Diretores do Banco Central são confirmados
O Senado aprovou as três indicações para a Diretoria do Banco Central. Nilton David Schneider foi confirmado para a Diretoria de Política Monetária, atualmente ocupada pelo futuro presidente da instituição, Gabriel Galípolo. O cargo é responsável por gerenciar a implementação dos instrumentos de política monetária e cambial. Izabela Moreira Correa foi aprovada para a Diretoria de Supervisão de Relacionamento, Cidadania e Conduta, substituindo Carolina de Assis Barros. Por fim, Gilneu Astolfi Vivan ocupará a Diretoria de Regulação, assumindo o lugar de Otávio Ribeiro Damaso, que atuava na área de regulação prudencial e financeira.
Os novos Diretores assumirão os cargos em janeiro e poderão participar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária, nos dias 28 e 29.
Pacote fiscal tem relatores definidos, mas aprovação ainda este ano é incerta
A Câmara dos Deputados nomeou os relatores dos projetos de lei e da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que compõem o pacote de gastos. O deputado Átila Lira (PP-PI) foi designado para relatar o projeto que inclui “gatilhos” no arcabouço fiscal, enquanto o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL) ficará responsável pela proposta que altera a política do salário-mínimo e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outros. Moses Rodrigues (União-CE) foi definido como relator da PEC, que inclui, entre outras medidas, o endurecimento da legislação contra os supersalários e restrições para acesso ao abono salarial.
Segundo o time de Análise Política da XP, embora o Poder Executivo tenha a intenção de aprovar as três medidas ainda este ano, o avanço da PEC é visto com cautela devido ao alto quórum exigido. Para os projetos de lei, a aprovação antes do recesso legislativo é considerada mais provável, mas poderá incluir ajustes, como um alívio nas restrições para acesso ao BPC. Entre as dificuldades para o avanço do pacote, destaca-se o afastamento do presidente Lula das rotinas de Brasília por questões de saúde.
Estimamos que as medidas anunciadas pelo governo totalizem R$ 43 bilhões em contenção de despesas até 2026, abaixo dos cálculos oficiais de R$ 70 bilhões. Para detalhes, leia nosso relatório “Ajuste gradual. Será suficiente? Nossa análise inicial sobre o pacote fiscal”.
Regulamentação da reforma tributária é aprovada pelo Senado; projeto vai à Câmara dos Deputados
O Senado aprovou o principal projeto de lei complementar (PLP 68/2024) que regulamenta a reforma tributária sobre o consumo. O texto, que retornará para nova análise da Câmara dos Deputados, foi significativamente modificado, o que deve resultar em elevação da estimativa para a alíquota padrão de referência do novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA), composto pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e pelo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). A proposta original da Câmara previa uma alíquota de referência de 27,97%. Com as alterações aprovadas pelo Senado, essa estimativa aumentou para pelo menos 28,55%, conforme números preliminares apresentados pelo relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM).
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O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, destaque para a reunião de política monetária do banco central dos Estados Unidos (Fed), para a qual é amplamente esperada uma redução de 0,25 p.p. na taxa básica de juros (4ª-feira). Ainda sobre a economia americana, os analistas de mercado acompanharão a inflação ao consumidor de novembro, medida pelo deflator PCE (6ª-feira), e a terceira leitura do PIB do 3º trimestre (5ª-feira). A inflação ao consumidor da zona do euro também será publicada na próxima semana (4ª-feira).
No Brasil, destaque para a divulgação de documentos de política monetária: Ata do Copom (3ª-feira) e Relatório Trimestral de Inflação (5ª-feira). A tramitação das medidas do pacote de gastos no Congresso também estará sob os holofotes.
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