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Economia em Destaque: Alta de juros no Brasil e pausa no ciclo de cortes dos EUA

Seu resumo semanal de economia no Brasil e no mundo

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Resumo

Donald Trump manteve o discurso de aumento nas tarifas de importação, tendo como alvos o Canadá, o México, a China, a Colômbia e os países do Brics.

O PIB dos EUA avançou 2,8% em 2024, enquanto a inflação encerrou o ano passado em 2,6%. Em resposta à solidez da atividade e estabilização da inflação acima da meta, o banco central (Fed) decidiu pausar o ciclo de cortes de juros.

O Banco Central Europeu, por sua vez, reduziu os juros em 0,25 p.p., e tenta ponderar entre a reaceleração da inflação e o baixo crescimento econômico na zona do euro.

 No Brasil, o Copom aumentou a taxa Selic em 1,0 p.p., para 13,25%, e manteve sinalização de outra alta da mesma magnitude para março. Para além disso, o Comitê deixou as portas abertas. Prevemos redução no ritmo de alta de juros em maio, em linha com nosso cenário de desaceleração econômica.

Do lado fiscal, o governo cumpriu a meta formal de resultado primário de 2024, embora as contas continuem deficitárias. Na atividade, a criação de empregos enfraqueceu em dezembro, mas a taxa de desemprego permanece em níveis baixos e os salários reais continuam em trajetória de alta.

Gráfico da Semana

Cenário Internacional

Governo Trump mantém ameaças de aumento de tarifas

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manteve o discurso de elevar tarifas de importação em sua segunda semana de governo. A Colômbia foi um alvo, após o país recusar voos com deportados devido ao tratamento que os imigrantes estavam recebendo. No entanto, houve acordo entre os países e as tarifas não foram aplicadas. Ademais, o governo americano sinalizou tarifas de 25% ao México e Canadá – dois dos maiores parceiros comerciais – e de 10% à China, com início em 1º de fevereiro, como forma de atacar a entrada de imigrantes ilegais e de carregamentos de fentanil para os Estados Unidos. Os países do Brics também foram ameaçados: tarifas de 100% em caso de prosseguimento à criação de uma moeda própria como substituição do dólar no comércio exterior.

Atividade ainda sólida e inflação acima da meta nos Estados Unidos...

O PIB cresceu 2,3% no 4º trimestre (termos anualizados e com ajuste sazonal), após alta de 3,1% no trimestre anterior. Na abertura, destaque para a expansão do consumo das famílias (4,2%) – o componente representa cerca de dois terços do PIB dos Estados Unidos. O consumo do governo também se destacou (3,2%). Por outro lado, o investimento privado registrou queda de 5,6% e o comércio exterior mostrou importações e exportações cedendo 0,8%. Desse modo, o PIB avançou 2,8% em 2024, ritmo próximo ao visto em 2023 (2,9%).

No campo da inflação, o deflator PCE – índice de preços favorito do Fed, banco central americano – subiu 0,3% em dezembro, em linha com as expectativas. Com isso, a inflação encerrou 2024 em 2,6%, acima da meta de 2%.  A atividade sólida e algumas políticas de Donald Trump trazem riscos altistas para o processo de desinflação e corroboram a decisão do Fed de não alterar os juros de referência (ver abaixo).

... como resposta, pausa no ciclo de corte de juros

Em resposta à atividade em níveis sólidos, taxa de desemprego em patamar baixo e estabilização do processo de desinflação acima da meta, o Fed manteve a taxa de juros de referência no intervalo entre 4,25% e 4,50%, em linha com as expectativas. O comunicado pós-reunião trouxe que a inflação permanece elevada, mas removeu o trecho que destacava progresso em direção à meta de 2%. Isso reforça a postura cautelosa da autoridade monetária recentemente. Ademais, na coletiva de imprensa, o Presidente da autoridade, Jerome Powell, disse que não há pressa em reduzir a taxa de juros novamente até que os dados de inflação e emprego tornem isso apropriado.

Logo, atribuímos viés de alta à nossa projeção de dois cortes adicionais de 0,25 p.p. este ano. Reconhecemos que há riscos crescentes do Fed optar por deixar os juros estáveis ao longo de 2025.

Banco Central Europeu mantém processo de flexibilização monetária

O Banco Central Europeu (BCE) reduziu suas taxas básicas de juros em 0,25 p.p.. Desse modo, a taxa de depósito atingiu 2,75% ao ano – trata-se da quinta queda consecutiva de juros na zona do euro. O BCE está tentando ponderar entre a reaceleração da inflação e o baixo crescimento econômico na região. De fato, a presidente da instituição, Christine Lagarde, reforçou preocupações com a atividade econômica local.

Empresa chinesa DeepSeek gera dúvidas sobre a liderança dos EUA na Inteligência Artificial

No início da semana, as bolsas americanas reagiram fortemente às notícias relacionadas aos avanços da startup chinesa DeepSeek no campo da Inteligência Artificial (IA). A companhia parece ter desempenho similar ao do ChatGPT, da OpenAI, porém com custos consideravelmente mais baixos e maior eficiência operacional. Isso acende um sinal de alerta quanto ao atual modelo de investimento em IA.

Para detalhes, leia “Sob o olhar da estratégia: Como a DeepSeek abalou o universo da Inteligência Artificial?”.

No Brasil...

Banco Central eleva a taxa Selic para 13,25%

No Brasil, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou a taxa Selic em 1,0 p.p., para 13,25%, conforme esperado. A projeção de inflação do Comitê para o horizonte relevante de política monetária (3º trimestre de 2026) continua significativamente acima da meta. Além disso, o Copom manteve a sinalização de aumento de mesma magnitude na próxima reunião, em março, mas não trouxe orientação explícita para a reunião de maio. Essa flexibilidade permitirá à autoridade reduzir o ritmo de alta de juros, caso a economia desacelere nos próximos meses (como prevemos).

Acreditamos que a decisão desta semana, assim como os indicadores econômicos recentes, são compatíveis com o nosso cenário de que a taxa Selic atingirá 15,50% em junho, após aumentos de 1,00-0,75-0,50 p.p. nas próximas três reuniões do Copom.

Para detalhes, leia nosso relatório “Comunicado do Copom: Mais flexibilidade para maio”.

Arrecadação federal de 2024 é a maior da série; governo atinge meta formal em 2024

O governo cumpriu a meta formal de resultado primário.  O saldo do governo central foi deficitário em R$ 43 bilhões no ano passado (-0,4% do PIB), ante R$ 228,5 bilhões em 2023 (-2,1% do PIB). A combinação da atividade econômica forte, de receitas extraordinárias e da antecipação de gastos favoreceu o resultado primário de 2024. Por exemplo, a arrecadação federal atingiu R$ 2.652,7 bilhões em 2024 – aumento de 9,6% acima da inflação. Foi o maior nível em termos anuais, refletindo esforços do governo e do cenário econômico que favoreceu a expansão da base tributária.

Para 2025, esperamos menor dependência de receitas não recorrentes. O governo terá maior facilidade em atingir as metas de saldo primário dada a atividade econômica ainda forte (embora desacelerando), a continuidade do crescimento das receitas na esteira do aumento da inflação e ao maior espaço para ajustes nas despesas devido à aprovação do pacote de redução de gastos. A arrecadação federal ainda deve apresentar crescimento, mas em menor grau. Projetamos R$ 2.870,0 bilhões neste ano, (alta de 2,1% em termos reais).  

Taxa de desemprego permanece em níveis historicamente baixos

A taxa de desemprego atingiu 6,6% em 2024, o nível mais baixo da série anual iniciada em 2012. As condições do mercado de trabalho continuam sólidas. Por um lado, o emprego total tem perdido dinamismo gradualmente – por exemplo, o saldo de empregos com carteira assinada recuou fortemente entre novembro e dezembro (de 120 mil para 25 mil). Este movimento pode refletir, em parte, a escassez de mão de obra em alguns setores. Por outro lado, os salários reais continuam em trajetória de alta, exercendo pressão sobre a inflação.

Essa dinâmica corrobora nosso cenário base de desaceleração gradual da atividade doméstica e aumento da inflação de serviços no curto prazo. Projetamos crescimento de 2,0% para o PIB de 2025, após expansão de 3,6% em 2024.

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O que esperar da semana que vem

No cenário internacional, destaque para os dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos, especialmente o relatório Nonfarm Payroll. Além disso, PMIs, sondagem com empresários sobre as condições econômicas, serão publicados nas principais economias do mundo, como Estados Unidos, China, Zona do Euro e Japão.

No Brasil, o destaque da próxima semana será a ata do Copom, para a qual o mercado aguarda detalhes sobre a última decisão de juros e as alterações realizadas no balanço de riscos para a inflação. A agenda ainda contará com a divulgação da produção industrial de dezembro (PIM-PF) – a expectativa é de terceira queda consecutiva na comparação mensal. Além disso, serão divulgados o IGP-DI e a balança comercial referentes a janeiro.

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