O Banco Central, em mais uma reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom), pôs fim, após quase seis anos, ao ciclo de baixa da taxa Selic. Em decisão anunciada na tarde desta quarta-feira, os juros básicos brasileiros foram de 2,00% para 2,75% ao ano, subindo pela primeira vez desde julho de 2015, quando a taxa estava em 14,25% ao ano.
Assista à Live sobre o Copom com as análises dos nossos especialistas
e leia a opinião do economista-chefe da XP sobre a reunião
Com a atividade econômica arrefecida por conta da pandemia e dos seus efeitos prolongados, principalmente pela piora na taxa de ocupação de leitos nos hospitais pelo Brasil e pela morosidade na vacinação de forma geral, mais estímulos econômicos virão por aí, confirmados pela aprovação da PEC Emergencial no Congresso Nacional.

Considerando esse cenário de altos gastos públicos, que acabam causando uma alta na inflação, confirmaram-se as expectativas do mercado sobre o aumento na taxa Selic. Além disso, com o aumento de incertezas políticas no Brasil e com a contínua alta no preço de commodities, as expectativas tanto da nossa equipe de Economia quanto do mercado em geral é de que o BC continue esse ciclo de alta em um ritmo mais acelerado do que o previsto inicialmente.
Segundo as projeções atualizadas pela equipe de Economia da XP, comandada pelo economista-chefe Caio Megale, ao longo do ano mais cinco altas devem acontecer, fechando o ano com a taxa Selic em 5,0%.
Mas o que isso implica para as ações brasileiras? A resposta varia muito de cada setor, mas, de forma geral, quanto mais baixo forem os juros brasileiros mais as companhias são beneficiadas pela migração de investidores para a Bolsa, a fim de buscar rentabilidades maiores.
No entanto, a alta da Selic beneficia algumas das empresas listadas que cobrimos diariamente, mostrando-se mais um fator oportuno para os investidores brasileiros. Além disso, de que forma a decisão do Banco Central impacta nos ganhos relacionados aos dividendos? Será que ainda vale a pena investir com esse foco? Preparamos um relatório para explicar todas essas questões.
Selic em alta: quais ações se beneficiam?
Neste cenário de subida de juros, há alguns setores ganhadores na Bolsa. Pensando nisso, montamos uma carteira de ações que podem se beneficiar dessa alta. A princípio, os seguintes setores são automaticamente influenciados positivamente por uma elevação nos juros:
Setor financeiro: Bancos e Seguradoras

Os Bancos são diretamente beneficiados por uma elevação da taxa Selic devido à diferença entre o custo de captação e os juros cobrados dos clientes, diretamente atrelado ao spread bancário.
Com uma alta na taxa básica de juros, bancos tendem a aplicar uma taxa maior em empréstimos, porém o reajuste nos custos de captação é mais lento. Em outras palavras, a diferença entre o que os bancos recebem e pagam fica maior.
Além da receita operacional que vem da venda de seguros, as Seguradoras têm como outra fonte relevante de receita as aplicações feitas no mercado financeiro. Como uma grande parte dessas aplicações são em renda fixa com rendimentos atrelados à Selic, uma alta na taxa básica de juros leva a maiores retornos sobre o capital investido.
Empresas importadoras

Com a alta na Selic, o dólar tende a cair, o que beneficia empresas importadoras. Esse movimento acontece pela diferença dos juros entre o Brasil e outros países.
Os juros mais altos por aqui atraem investidores estrangeiros em busca de rentabilidade, o que leva à maior entrada de dólares na nossa economia e, como resultado, o real se aprecia. Além disso, empresas logísticas portuárias se beneficiam da armazenagem da produtos importados enquanto estes permanecem no porto.
Com isso em mente, fizemos um estudo quantitativo de ações da Bolsa olhando para relação entre os retornos de preço e a alta de juros no passado. Também analisamos cada ação que teve correlação positiva com uma perspectiva fundamentalista, entendendo a dinâmica de cada empresa quanto a sua fonte de receita, dívida, entre outros fatores, para assim, filtrar as relações espúrias, isto é, movimentos de alta no preço que provavelmente não foram relacionados com uma subida de juros.
Abaixo, confira no detalhe as empresas que se beneficiam da alta na Taxa Selic:
Ações que podem ser impactadas negativamente
Por outro lado, empresas que podem ser impactadas negativamente por juros mais baixos são principalmente as que têm maior endividamento. Setores que operam com capital intensivo e que precisam financiar seus projetos, tendem a ver a sua dívida aumentar ainda mais com a alta da Selic. Além disso, a subida na taxa de juros tende a desestimular o consumo.
Portanto, empresas de setores como varejo, elétrica e locação de veículos tendem a ser as mais afetadas pela subida de juros.
Nossa visão: continuamos construtivos em relação à Bolsa
Para a Bolsa, vários investidores nos perguntam se a alta da taxa de juros impactará a trajetória do Ibovespa e, principalmente, se afetará o fluxo de renda fixa para ações.
Achamos que não, pois os juros reais (juros nominais subtraído da inflação) devem continuar próximos de zero. Levando em consideração que a nossa expectativa de inflação é em 4,9% e da Selic em 5,0% para final de 2021, taxas reais continuarão muito baixas, prevendo ainda um baixo retorno real para investidores em renda fixa.
Além disso, conforme mencionamos no Raio XP de fevereiro, analisando ciclos de alta de juros no passado, o Ibovespa apresentou movimentos tanto de recuperação quanto de queda. Ou seja, não há uma relação clara e direta entre o Ibovespa e a taxa de juros. Nosso estudo também mostrou que, na média, para cada +1% na taxa Selic, o Ibovespa caiu apenas -0,07%. Portanto, a taxa Selic não é a única – ou a mais importante – determinante dos rumos para o índice.
Com a vacinação contra a covid-19 e eventual recuperação da economia, ainda há espaço para a Bolsa subir, principalmente os nomes que foram severamente impactados pela pandemia. E para os que buscam continuar a crescer seu patrimônio, investir em ações vai continuar sendo a opção mais atrativa.
Ações pagadoras de dividendos ainda superam taxa de juros; saiba quais são elas
Apesar da alta na taxa Selic, de 2% para 2,75% ao ano, as ações conhecidas por distribuir bons e recorrentes dividendos ainda superam a taxa básica de juros. E por que isso é importante?
Investir em ações com foco em dividendos neste cenário é uma grande oportunidade porque os investidores possuem uma “garantia” de retorno porque as companhias têm a obrigatoriedade, por lei, de remanejar pelo menos 25% seus proventos para os acionistas.
Então, além de ganhar com os dividendos, que são anunciados pelas companhias antecipadamente, é possível ter rentabilidade com o desempenho das ações. Ou seja, além da possibilidade de lucro, o investidor conta também com uma rentabilidade adicional na forma de dividendos pagos de forma recorrente, variando de empresa para empresa.
Apesar de as projeções colocarem a Selic em um patamar de 5% até o fim deste ano, os rendimentos de dividendos ainda estão acima da taxa de juros para algumas empresas.
Dessa forma, listamos as 30 ações da nossa cobertura que podem pagar um dividend yield (rendimento dos dividendos) acima dos 3% ao ano em relação à taxa Selic. Confira:
Entenda melhor as 10 maiores pagadoras de dividendos da nossa cobertura:
Copel (CPLE6) – Compra
Setor de atuação: Elétrico
A companhia divulgou uma nova e robusta política de dividendos em janeiro de 2021. De acordo com a nova política as propostas de dividendos regulares serão calculadas conforme os critérios: (i) alavancagem abaixo de 1,5x = 65% do Lucro Líquido Ajustado, (ii) alavancagem entre 1,5x e 2,7x = 50% do Lucro Líquido Ajustado e (iii) alavancagem acima de 2,7x = 25% do Lucro Líquido Ajustado. Com isso, estimamos um dividend yield de 11,1% em 2021-22 para CPLE6. Mantemos nossa recomendação de Compra nas ações da Copel, com um preço-alvo de R$ 7,5/ação (destacamos que a companhia realizou uma destrobramento de ações na proporção 1:10 em 12 de março de 2021).
Engie (EGIE3) – Neutro
Setor de atuação: Geração de energia elétrica
A Engie Brasil se destaca por sua capacidade diferenciada de se proteger de efeitos hidrológicos adversos, somada a sua diversificação de portifólio com a entrada nos setores de transmissão de energia e transporte de gás. Acreditamos que a companhia deverá manter uma prática de distribuição de 100% do Lucro Líquido aos acionistas em 2021, assim como ocorreu em 2020. Estimamos um dividend yield de 9,7% em 2021. Temos recomendação neutra em EGIE3 com preço-alvo de R$ 44/ação.
Banco do Brasil (BBAS3) – Compra
Setor de atuação: Financeiro
O banco combina: i) preço atrativo, pela sua carteira de crédito defendida e pela soma das partes atraente; e ii) uma frente digital competitiva. Desta forma, acreditamos que haja poucas avenidas de crescimento de valor ao banco, tornando a distribuição de dividendos uma alternativa atrativa. Devido ao limite de distribuição de dividendos imposto pelo Banco Central em 2020, estimamos um payout de 50% em 2021 e vemos um dividend yield de 8,6%. Temos recomendação de Compra para Banco do Brasil e preço-alvo de R$ 43/ação.
Vale (VALE3) – Compra
Setor de atuação: Mineração
Seguimos otimistas com Vale, considerando um cenário de demanda saudável de minério de ferro na China, após incentivos do governo, e um cenário mais desafiador para a oferta. Acreditamos que um cenário de aumento de produção de aço em 2021 na China deva intensificar a demanda pela commodity, apesar de reconhecermos que um eventual aumento nas restrições às siderúrgicas chinesas possa impactar os preços do minério e, consequentemente, a performance das ações. Esperamos um retorno com dividendos mínimo de 7,1% em 2021, considerando um preço de minério de ferro médio em US$135/t (vs. US$166/t atualmente). Nós estimamos os dividendos aplicando a política retomada recentemente pela companhia: 30% da diferença entre o EBITDA e os investimentos em manutenção. Em termos de valuation, vemos as ações em patamares atrativos, negociando a 2,1x (vs. média do setor em 5.5x), abaixo de sua média histórica. Reiteramos nossa recomendação de Compra para a Vale, com preço-alvo de R$122/ação.
AES Tietê (TIET11) – Compra
Setor de atuação: Geração de energia elétrica
A AES Tietê usualmente apresenta lucros consistentes, embora possa haver um certo grau de volatilidade dependendo da incidência de chuvas. Em 2020 a companhia apresentou um payout de 88% que se traduz em um dividend yield de 5,4% no ano, o que reforça nossa visão de que a AES Tietê é uma das nossas preferidas como pagadora de dividendos. Estimamos um dividend yield de 7,0% em 2021-22 para as ações. Temos recomendação de compra em TIET11 com preço-alvo de R$ 18/ação.
BB Seguridade (BBSE3) – Compra
Setor de atuação: Seguros
Esperamos que a seguradora se beneficie principalmente de: i) crescimento de prêmios impulsionado pela retomada da atividade econômica; e ii) da capacidade de distribuição pelas agências do Banco do Brasil. Desta forma, dada a baixa necessidade de capital, a BB Corretora apresenta margens altas impulsionando os retornos da companhia. Portanto, vemos um dividend yield de 6,9% para 2021 e temos recomendação de Compra para a BB Seguridade com preço-alvo de R$ 35/ação.
Cemig (CMIG4) – Neutro
Setor de atuação: Elétrico
A política de dividendos do estatuto da CEMIG prevê a distribuição de 50% do lucro da empresa aos acionistas. Adicionalmente, as ações preferenciais da companhia (CMIG4) tem preferência no recebimento de proventos com dividendo de, pelo menos, 10% do seu valor nominal de R$ 5 por ação ou de 3% do valor do patrimônio líquido das ações. Estimamos um dividend yield de 6,7% em 2021. Mantemos nossa recomendação Neutra para as ações, com preço-alvo de R$ 11/ação.
CESP (CESP6) – Compra
Setor de atuação: Geração de energia elétrica
A companhia vem reforçando sua sólida geração de caixa nos últimos trimestres. Com isso, acreditamos que a companhia deve continuar a distribuir pelo menos o dividendo mínimo de R$1,85/ação previsto pelo seu estatuto. Em 2020 a companhia atingiu uma distribuição de 49% sobre o lucro líquido, reforçando a nossa visão de que a CESP é uma das nossas preferidas como pagadora de dividendos. Estimamos um dividend yield de 6,7% entre 2021 e 2022. Reiteramos nossa recomendação de Compra na CESP, com um preço-alvo de R$ 36/ação.
Santander (SANB11) – Neutro
Setor de Atuação: Financeiro
Apesar de o Santander ser o banco com menor diversificação de receita entre os incumbentes, apresenta uma combinação de: i) alta exposição ao crédito de varejo; e ii) níveis de inadimplência relativamente abaixo da média. Acreditamos que, enquanto não haja boas oportunidades para o banco empregar grandes quantidades de capital incremental com taxas de retorno altas, a distribuição de dividendos pode ser uma alternativa atrativa. Devido ao limite de distribuição de dividendos imposto pelo Banco Central em 2020, estimamos um payout de 75% em 2021 e vemos um dividend yield de 6,3%.
Itaú (ITUB4) – Neutro
Setor de atuação: Financeiro
O banco combina: i) um investimento de qualidade, com boa gestão e governança que se traduzem em menor beta; e ii) um payout historicamente acima da média do setor. Acreditamos que, enquanto não haja boas oportunidades para o banco empregar grandes quantidades de capital incremental com taxas de retorno altas, a distribuição de dividendos pode ser uma alternativa atrativa. Devido ao limite de distribuição de dividendos imposto pelo Banco Central em 2020, estimamos um payout de 65% em 2021 e vemos um dividend yield de 6,2%. Temos recomendação Neutra para Itaú e preço-alvo de R$ 29/ação.
Entenda mais sobre os dividendos:
O que são dividendos?
Dividendos são uma parte do lucro de uma determinada empresa que é distribuído aos seus acionistas.
De acordo com a Lei das S.A., as empresas de capital aberto têm que distribuir no mínimo 25% dos seus lucros a acionistas.
Tal lucro também pode ser distribuído na forma de Juros Sobre Capital Próprio (JCP). Esta é uma forma diferente de distribuir os lucros de uma empresa entre os seus acionistas.
Qual é a diferença entre dividendos e Juros sobre Capital Próprio?
O JCP é tributado em 15% pela Receita Federal na data do depósito, enquanto dividendos são isentos de tributação.
Como funciona a distribuição de dividendos?
Primeiro, o Conselho de Administração da companhia verifica se a empresa obteve lucro ao longo do exercício para distribuir uma parte aos acionistas.
Em afirmativo, a empresa deve deliberar sobre os dividendos a distribuir, e informar publicamente os valores e datas de pagamento.
A periodicidade de pagamento de dividendos varia de empresa para empresa, podendo ser mensal, trimestral ou anual.
O que é dividend yield?
O cálculo do dividend yield é feito com base na divisão do valor esperado em dividendos pelo preço das ações.
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