XP Expert

Zeina Latif: Olhar para o longo prazo

Este primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro tem peculiaridades quando comparado ao de presidentes anteriores. Por um lado, ele herdou um quadro macroeconômico mais estável, por outro, há uma sociedade que deseja mais crescimento econômico, sem saber que reformas serão necessárias para isso. A experiência mostra que nem sempre presidentes reformistas são valorizados pela […]

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no X
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail
Onde Investir em 2025 banner

Este primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro tem peculiaridades quando comparado ao de presidentes anteriores. Por um lado, ele herdou um quadro macroeconômico mais estável, por outro, há uma sociedade que deseja mais crescimento econômico, sem saber que reformas serão necessárias para isso. A experiência mostra que nem sempre presidentes reformistas são valorizados pela sociedade.

Bolsonaro herdou de Michel Temer um quadro macroeconômico estável, com inflação baixa e sem artificialismos como tarifas públicas defasadas ou taxa de câmbio sobrevalorizada. Afasta-se, assim, a necessidade de guinadas na política econômica. Além disso, com Temer, o debate sobre políticas públicas evoluiu. Os que defendiam não ser necessária a reforma da Previdência ou mudaram de ideia ou já não têm a mesma influência sobre a classe política. Isso facilita o trabalho do time econômico, que não precisará pregar no deserto. Um cenário em que reforma alguma da Previdência é aprovada é improvável.

Mas tudo tem o outro lado, no caso, os anseios da sociedade, que estão focados no curto prazo e mudam ao longo do tempo. Com inflação baixa, agora a sociedade espera aceleração do crescimento e queda do desemprego. A sociedade, porém, não compreende que a inflação baixa depende da aprovação da reforma da Previdência. Só se enxerga o fardo, e não o benefício. A sociedade não aceita retrocessos no ambiente econômico e, pelo contrário, espera avanços. E a volta do crescimento também dependerá de mais reformas.

O descompasso entre a percepção da sociedade e a política econômica costuma dar dor de cabeça aos governantes.

FHC assumiu o governo em 1995 sob os holofotes do Plano Real. Apesar do árduo caminho para sua consolidação, pela fragilidade das contas externas e das finanças públicas, além do difícil ajuste dos bancos à inflação baixa, o sentimento da sociedade era de alívio com a queda da inflação. No segundo mandato, FHC conduziu reformas essenciais para garantir a sustentação da inflação baixa e construir o alicerce para o crescimento. Para a sociedade, no entanto, o segundo mandato não foi bom, afinal, a inflação já estava baixa. A sociedade queria avanços, mais crescimento, que foi mais lento e com aumento do desemprego. Como resultado, FHC não conseguiu eleger seu sucessor, apesar das importantes reformas.

Depois da tumultuada campanha eleitoral que jogou a taxa de inflação para o pico de 17% em maio de 2003, Lula tinha diante de si o desafio de conquistar a confiança dos agentes econômicos, o que compreendeu rapidamente. Deu continuidade e consolidou a política econômica de FHC. Os frutos vieram rapidamente. A inflação fechou em 9% em 2003. O segundo mandato, porém, teve retrocessos. Foi marcado por estímulo excessivo e artificial à economia. O que começou como uma resposta à crise global se tornou estratégia para eleger Dilma. Para a sociedade, no entanto, o segundo mandato de Lula foi melhor do que o primeiro, pois o crescimento foi maior.

Dilma seguiu um caminho equivocado. Mas a sociedade só começou a desconfiar que havia algo errado em 2013.

Este primeiro ano de Bolsonaro poderá definir, em boa medida, o restante do mandato presidencial. Uma reforma da Previdência ambiciosa, nos moldes certamente pretendidos por Paulo Guedes, vai gerar mais reduções da taxa de juros estrutural e abrirá espaço para mais reformas na sequência, como a tributária.

O esforço agora poderá reduzir a popularidade do presidente no curto prazo, mas valerá a pena adiante. Com foco, Bolsonaro terá tempo de colher os frutos, o que não ocorreu com Temer.

A sociedade olha o curto prazo, algo compreensível em um país com baixo capital humano e com 60% da população vivendo com até um salário mínimo. O olhar do presidente, porém, precisa ser para o longo prazo, com a busca de reformas estruturantes, nem sempre compreendidas pela sociedade e correndo o risco de não ser reconhecido. O cenário alternativo, porém, é pior.

24 de Janeiro de 2019

Fonte: Artigo replicado do Estadão

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este relatório foi preparado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos”) e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º na Resolução CVM 20/2021. Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas e análises políticas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra/venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra/venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. A XP Investimentos não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor. O responsável pela elaboração deste relatório certifica que as opiniões expressas nele refletem, de forma precisa, única e exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autônoma, inclusive em relação a XP Investimentos. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida a sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710. Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor acessar o nosso site: www.xpi.com.br.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.