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Maior endividamento familiar e incertezas permanecem no radar de riscos do sistema financeiro

Com o uso das informações dos balanços dos principais bancos privados brasileiros e dados do Banco Central, trazemos uma atualização do mercado de crédito no país.

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  • O SFN é fortemente concentrado em cinco bancos. Por este motivo, seus balanços costumam indicar o que esperar para o sistema financeiro como um todo e a provisão é um bom preditivo de inadimplência.
  • O atraso e a inadimplência do SFN continuam em patamares mínimos históricos, o que pode parecer contra intuitivo, porém continuam sendo ajudados pelas medidas de auxílio no contexto da pandemia.
  • Da mesma forma que observamos uma baixa inadimplência no sistema financeiro, podemos notar esse mesmo comportamento nos grandes bancos.
  • Houve estabilidade no indicador de inadimplência para pequenas e médias empresas (PMEs) nos últimos dois trimestres.
  • No 4º trimestre de 2021, começou-se a observar leve aumento nos indicadores de inadimplência de pessoa física.
    • Comprometimento de renda das famílias e nível de endividamento: Ambos os indicadores estão em alto patamar (28% e 51%, respectivamente) e com trajetória crescente, muito em função da queda da renda como um todo.
  • Para 2022 temos incertezas relevantes domésticas e externas que podem afetar a economia brasileira e que merecem atenção, como a inflação e cenário fiscal.

Cenário econômico

O ano de 2021 foi marcado pela inflação persistente e elevação das preocupações fiscais, na esteira das medidas tomadas para mitigar os impactos da covid-19 sobre a economia brasileira. Começamos 2022 ainda com reflexos destes movimentos, que são somados às incertezas em torno de um ano eleitoral, inflação global elevada e renda da população comprimida.

Segundo nossos economistas da XP, em linha com as indicações do Banco Central após a última reunião do Copom (que levou a Selic a 10,75% ao ano), as expectativas para a inflação pioraram e o comitê está revelando a preferência por um ajuste de juros mais antecipado. Projetamos IPCA de 5,2% em 2022 e de 3,25% em 2023. Como resultado, esperamos taxa Selic em 12,75% no final do ciclo de ajuste monetário, em junho de 2022, reduzindo para 12,25% em dezembro e 8,0% em 2023.

É importante, diante deste cenário, entendermos a situação atual e esperada para o sistema financeiro nacional, principalmente em relação ao endividamento de empresas e famílias e seus desdobramentos. Este é o objetivo do presente relatório.

Sistema Financeiro Nacional

Conforme divulgamos anteriormente em nosso relatório de acompanhamento, trazemos nova atualização do relatório trimestral de acompanhamento os dados do Sistema Financeiro Nacional relacionado a crédito e inadimplência em conjunto com alguns dados dos balanços dos grandes bancos relacionados a crédito, inadimplência e PDD (Provisão para Devedores Duvidosos). Abordamos também alguns aspectos do relatório de estabilidade financeira do Banco Central do Brasil (Bacen), divulgado semestralmente (última atualização em outubro de 2021).

PDD e Inadimplência do SFN

O sistema financeiro brasileiro é bastante concentrado, com os cinco maiores bancos correspondendo por mais de 70% do crédito concedido. Historicamente, observamos que os bancos privados como Itaú, Bradesco e Santander costumam efetuar uma provisão prospectiva, baseada em modelos estatísticos e análises históricas do comportamento dos clientes e na estrutura das operações de crédito.

É possível ver esse comportamento no gráfico abaixo, em que o pico do índice de provisão/carteira na crise passada ocorreu no início de 2017 e para os bancos públicos ocorreu quase dois anos depois.

Para o período atual, temos uma importante informação ao analisar esse mesmo gráfico, pois no ano de 2020 os bancos privados efetuaram uma provisão considerável, muito em função da expectativa de aumento de perdas devido à pandemia. Não tivemos mudança relevante nesses indicadores no 4º trimestre de 2021, porém vale continuar acompanhando a evolução, principalmente para avaliarmos se haverá elevação na provisão dos bancos públicos nos próximos períodos.

Entretanto, uma dúvida que pode surgir é se tivemos de fato essa inadimplência projetada pelos bancos privados. Nos gráficos a seguir, temos o histórico do SFN para atrasos de 15 a 90 dias, que são mais voláteis, mas importante preditivo, além do atraso acima de 90 dias.

Observamos que o atraso e a inadimplência continuam em patamares mínimos históricos, o que pode parecer contra intuitivo. Entretanto, vale lembrar das medidas emergenciais que foram adotadas pelo governo e Banco Central. Destaque para a repactuação das parcelas, além do auxílio emergencial e linhas de crédito para pequenas e médias empresas, que ajudaram a mitigar os impactos negativos da crise.

PDD e Inadimplência dos grandes bancos

Dada essa concentração e pelo fato de os bancos privados serem bons preditores, iremos analisar alguns indicadores publicados nos relatórios do Itaú, Bradesco e Santander, além de incluir o Banco do Brasil, dada sua grande representatividade no mercado.

Em linha com que vimos anteriormente, é possível observar um aumento de provisão dos grandes bancos privados relativos à carteira em 2020. Em 2021, a expectativa de redução desta medida foi confirmada, retornando a patamares próximos a 2018 e 2019.

Através do guidance fornecido para 2022 e com os dados de 2021, podemos reforçar esta visão, apesar das incertezas relacionadas à inflação, à atividade econômica desaquecida e o risco fiscal em 2022 e além.

*Itaú: indicadores referentes à operação do Brasil, sem considerar unidades externas.

Da mesma forma que observamos uma baixa inadimplência no sistema financeiro, podemos notar esse mesmo comportamento nos grandes bancos. Vale salientar que cada banco fornece uma abertura diferente em relação à inadimplência.

Um ponto para acompanhar é o aumento de inadimplência para pequenas e médias empresas (PMEs) nos dados do Itaú e Bradesco no início de 2021, que esses bancos fornecem nos relatórios de divulgação. No entanto, houve estabilidade desse indicador nos últimos dois trimestres.

Em relação às grandes empresas, pode existir alguma volatilidade em relação a poucos casos específicos, como vimos no Itaú, e mesmo assim não representar uma mudança de tendência. No 4º trimestre começou a apontar um leve aumento nos indicadores de inadimplência de pessoa física e vamos explorar mais esses indicadores ao longo desse relatório.

Evolução do crédito e inadimplência PJ

O saldo de crédito para pessoa jurídica evoluiu de forma considerável ao longo de 2020. Apesar dos programas governamentais para pequenas e médias empresas, o destaque de evolução do saldo foi por conta do capital de giro para as maiores companhias.

Em 2021, vimos desaceleração no crescimento do crédito PJ, de 11% no ano. Para efeitos de comparação, em 2020 foi observado um incremento acima de 25% no saldo de crédito PJ, atingindo R$325 bilhões.

A inadimplência para grandes e médias empresas continua controlada e em baixos níveis históricos. Para micro e pequenas empresas, apesar de o nível de inadimplência estar historicamente baixo, já é possível observar uma tendência de retomada nos indicadores de atraso nesses segmentos, principalmente em pequenas empresas.

Definição: Micro: Fat. anual até R$360 mil | Pequena: Fat. até R$4,8MM | Média: Fat. Até R$300MM | Grande: Fat. Acima de R$300MM
Fonte: Banco Central

Evolução do crédito e inadimplência PF e endividamento das famílias

Após evolução do saldo de crédito para pessoa física com menor intensidade em 2020 (pouco acima de 10%), vimos em 2021 continuidade no crescimento de crédito no sistema financeiro, superior a 15% no ano, que vem sendo puxado pelo crescimento de quase 21% no crédito para pessoas físicas, ao passo em que para PJs temos incremento de 11% nesse ano.

Um ponto relevante de atenção é em relação ao alto patamar de comprometimento de renda das famílias, assim como o aumento do nível de endividamento. Ambos os indicadores estão em alto patamar e com trajetória crescente, muito em função da queda da renda como um todo.

É possível observar no gráfico 16 que o nível de comprometimento de renda das famílias está no maior patamar dos últimos 15 anos e em trajetória crescente. Da mesma maneira, o endividamento das famílias tem crescido de maneira relevante, tendo atingido 51% em outubro de 2021 (último dado disponível). Já a massa salarial não tem evoluído na mesma velocidade, o que torna importante o acompanhamento desses indicadores.

Uma informação nova que trazemos neste relatório está no gráfico 18, onde podemos visualizar uma maior contribuição para esse recente crescimento de crédito PF em linhas clean (sem garantias), como cartão de crédito e crédito sem consignação, representando quase o dobro de crescimento observado em 2018 e 2019.

Como estamos em um contexto de alta inflação, maior comprometimento de renda e elevado nível de endividamento, essas linhas, naturalmente mais propensas a não pagamento, podem começar a apresentar uma piora na inadimplência.

Conclusões

Não temos mudanças relevantes desde o último relatório divulgado em 9 de novembro de 2021. O Sistema financeiro está capitalizado e com boa liquidez.

As provisões realizadas pelos grandes bancos ao longo de 2020 devem ser suficientes para continuar acomodando um aumento de inadimplência, que ainda não foi observado em 2021. No entanto, este crescimento pode começar a aparecer em 2022.

O crédito no SFN cresceu acima de 15% pelo 2º ano consecutivo, mas nesse último ano o destaque se deu no incremento para PFs (+21%), em especial em linhas sem garantia e crédito rural.

Para 2022 temos incertezas relevantes domésticas e externas que podem afetar a economia brasileira e que merecem atenção, destaque para a situação fiscal brasileira, inflação e ritmo da alta de juros global, sem deixar de acompanhar economia internacional e pandemia. Por estes motivos, é importante continuar monitorando a evolução dos principais indicadores dos bancos e, consequentemente, do SFN.

Fontes

Banco Central
Itaú
Santander
Bradesco
Banco do Brasil

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