Resumo
Nos Estados Unidos, os indicadores de emprego mostram alguma moderação na margem e sancionam continuidade no ciclo de cortes de juros pelo Fed em dezembro. Na China, indicadores antecedentes de atividade econômica mostram avanço.
Após 25 anos de discussão, a União Europeia e o Mercosul firmaram acordo de livre comércio, que deverá zerar cerca de 90% de impostos nas transações. Durante a semana, destaque também para eventos de instabilidade política na França e na Coreia do Sul.
No Brasil, a taxa de câmbio se estabiliza em patamar depreciado, ao passo que as expectativas de inflação seguem se distanciando da meta. Em nosso relatório mensal, revisamos nossa projeção para a Selic terminal de 13,50% para 14,25%, com alta de 1,00 pp. no próximo Copom. Em Brasília, o governo enviou ao Congresso os projetos relacionados ao pacote de controle de despesas anunciado na última semana.
Nos indicadores, o PIB do 3º trimestre avançou 4,1% ante o 3º trimestre de 2023. Além disso, a produção industrial caiu em outubro, mas não alterou nossa visão benigna no curto prazo. Por fim, o resultado primário de outubro deixou o governo central mais próximo da meta fiscal.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Dados de emprego nos Estados Unidos reforçam a probabilidade de corte nos juros em dezembro...
Em novembro, foram criados 227 mil empregos nos Estados Unidos, em linha com as expectativas. Ademais, a taxa de desemprego subiu de 4,05% para 4,15%, acima da expectativa de 4,10%. Os dados sugerem um mercado de trabalho ainda robusto, mas com sinais de moderação. Com relação aos salários, ainda há pressão sobre os preços, embora de forma mais moderada.
Os mercados estavam divididos sobre a possibilidade de um corte ou não na próxima reunião de política monetária do Fed, banco central dos Estados Unidos. No entanto, os dados de emprego foram vistos como indicativo de que o Fed deve se sentir mais confortável para cortar juros na reunião deste mês: a probabilidade de corte em dezembro subiu para 90%. Para a decisão, a autoridade ainda estará atenta ao dado de inflação ao consumidor divulgado na próxima semana.
... mas diretores do Fed afirmam que ciclo de cortes adiante será gradual
Os discursos dos membros do Fed reforçaram a mensagem de que o ciclo de flexibilização monetária será conduzido de forma mais gradual. O presidente da autoridade, Jerome Powell, destacou que a economia continua forte, com o mercado de trabalho sólido e menores riscos de desaceleração. Contudo, a inflação está “um pouco acima do esperado”, o que justifica a maior cautela na condução da política monetária. Christopher Waller, um dos membros mais influentes do Comitê, afirmou que tende a apoiar um corte de juros em dezembro, mas estaria aberto a uma pausa caso os próximos indicadores mostrem que as projeções de desaceleração na inflação estão equivocadas.
De forma geral, a comunicação dos diretores do Fed aponta para uma postura mais cautelosa e flexível. Desse modo, novos cortes devem ocorrer, mas o ritmo e a extensão do ciclo permanecem em discussão. Mantemos nossa expectativa de um corte em dezembro e uma pausa em janeiro. Acreditamos que o Fed seguirá com cortes graduais ao longo de 2024, encerrando o ano com a taxa básica em torno de 3,5%.
União Europeia e Mercosul anunciam acordo de livre comércio
Após 25 anos de negociações, a União Europeia (UE) e o Mercosul concretizaram o acordo de livre comércio. Com o acordo, cerca de 90% das importações provenientes da UE terão os impostos zerados ou reduzidos. O bloco econômico representou 19% de nossas importações em 2023, e o acordo pode levar a redução nos preços desses bens, especialmente em relação àqueles não produzidos no Brasil – como azeite e vinho – além de produtos da indústria automobilística.
França enfrenta grave instabilidade política
A crise política na França se intensificou após o primeiro-ministro, Michel Barnier, ser destituído em um “voto de desconfiança” (o primeiro desde 1962), apenas três meses após sua nomeação pelo presidente Emmanuel Macron. A decisão ocorreu após Barnier tentar aprovar o Orçamento de 2025 sem debate, o que intensificou a crise política na França, após nenhuma coalizão ter obtido maioria no Parlamento nas eleições antecipadas.
Tal instabilidade se arrasta desde junho, quando Macron antecipou as eleições legislativas, originalmente previstas para 2027, em resposta à vitória da extrema-direita nas eleições para o Parlamento Europeu.
Esse cenário é preocupante para toda a União Europeia, uma vez que as duas maiores economias do bloco (Alemanha e França) apresentam fragilidades políticas. Além disso, é importante pontuar que o déficit orçamentário francês está além do limite permitido pela União Europeia e a trajetória da dívida pública preocupa.
Parlamento sul-coreano revoga decreto de lei marcial
O presidente da Coreia do Sul, Yong-Soo Kyo, declarou lei marcial, que suspende temporariamente as leis civis e os direitos constitucionais. Apesar do país estar em uma democracia estável, o argumento de Kyo foi de que o Parlamento, de maioria opositora, estaria sabotando seu governo.
O Parlamento sul-coreano revogou o decreto menos de 24 horas após a declaração. O país agora enfrenta protestos nas ruas e pedidos de impeachment contra o presidente.
Confiança empresarial melhora na China
Na China, o PMI Composto, uma sondagem com gerentes de compras de empresas sobre a saúde da economia e negócios, subiu de 51,9 pontos em outubro para 52,3 pontos em novembro, a leitura mais alta desde junho. A marca de 50 pontos separa expansão de contração. Foi o 13º mês consecutivo de crescimento na atividade do setor privado, com uma aceleração na atividade industrial compensando a leve desaceleração no setor de serviços. Ademais, a confiança empresarial melhorou, alcançando seu ponto mais forte desde abril, em meio a um aumento generalizado nos níveis de otimismo.
Os dados mostram uma reação positiva aos estímulos fiscais e monetários dos últimos meses do governo chinês. Para frente, será importante monitorar as medidas de restrição comercial que o novo governo Trump adotará sobre o país, e seus eventuais impactos sobre a taxa de câmbio e a atividade doméstica.
Enquanto isso, no Brasil...
Expectativas de inflação desancorando e atividade econômica robusta deve preocupar Banco Central...
A tarefa do Banco Central do Brasil está se tornando mais desafiadora. A inflação corrente e as expectativas de inflação continuam subindo, impulsionadas pela reduzida capacidade ociosa na economia, pela depreciação cambial e pelo aumento dos preços de alimentos. Por exemplo, o boletim Focus desta semana trouxe piora adicional do IPCA esperado para 2024 (de 4,63% para 4,71%), 2025 (de 4,34% para 4,40%) e 2026 (de 3,78% para 3,81).
A atividade doméstica também segue firme. O PIB expandiu 0,9% no 3º trimestre deste ano. Apesar de representar uma desaceleração frente à primeira metade do ano, o crescimento no período refletiu uma economia ainda robusta, puxada pelo consumo das famílias e por investimentos. Esperamos acomodação da demanda interna adiante – projetamos que o PIB crescerá 3,5% em 2024, 2,0% em 2025 e 1,2% em 2026 –, mas não será o suficiente para que a inflação se aproxime de 3% ao longo de 2026.
...com isso, esperamos duas altas de 1,0 p.p. nas reuniões do Copom em dezembro e janeiro
Diante do cenário exposto, acreditamos que a resposta da política monetária tem que ser (ainda) mais firme para controlar as expectativas. Acreditamos que o Comitê de Política Monetária (Copom) intensificará novamente o ritmo de ajuste monetário, para 1,00 p.p. em dezembro. Ademais, elevamos nossa projeção para a taxa Selic terminal, de 13,25% para 14,25% em maio. Vemos alguma flexibilização a partir do final de 2025: antecipamos um arrefecimento da demanda interna ao longo do próximo ano, e a inflação lentamente retornando ao intervalo da meta em 2026/2027, o que permitiria ao Copom deixar a política monetária menos restritiva.
Também revisamos nossa projeção para a taxa de câmbio para o final de 2024, de 5,70 para 6,00 reais por dólar. A nosso ver, a moeda tende a se consolidar em patamar mais depreciado. Logo, prevemos 5,85 para 2025 e 6,00 para 2026. No fiscal, a atividade econômica e inflação mais altas ajudam o governo a atingir a meta de resultado primário em 2024 e a ficar próximo à meta em 2025, mas a dívida pública deve continuar em trajetória ascendente.
Para detalhes, leia nosso relatório “Brasil Macro Mensal: Expectativas desancorando em meio a riscos fiscais e economia aquecida”.
Pacote de gastos é enviado ao Congresso
Nesta semana, o governo enviou ao Congresso um Projeto de Lei, um Projeto de Lei Complementar e uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que contêm as propostas do pacote de corte de gastos anunciado na semana passada – à exceção do projeto com as novas regras do sistema de seguridade dos militares, que ainda não foi enviado. A Câmara dos Deputados aprovou a urgência para votação dos dois projetos de lei que integram o pacote. Já a PEC será apensada (ou seja, anexada) a outro projeto de emenda constitucional, de forma a ser apreciada diretamente no plenário da Casa.
O governo, no entanto, deve enfrentar desafios para ter as medidas aprovadas até o final do ano legislativo, em 22 de dezembro. Segundo os jornais, há insatisfações em torno do conteúdo das medidas – como a alteração no Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Calculamos que as medidas anunciadas pelo governo totalizem R$ 43 bilhões em contenção de despesas até 2026, abaixo das estimativas oficiais de R$ 70 bilhões. Para detalhes, leia nosso relatório “Ajuste gradual. Será suficiente? Nossa análise inicial sobre o pacote fiscal”.
Resultado de outubro deixa governo central mais próximo da meta de resultado primário
O resultado primário do governo central registrou um superávit de R$ 40,8 bilhões em outubro, em linha com as expectativas. A receita líquida aumentou 10,9% em comparação com o mesmo mês ano passado, enquanto os gastos totais caíram 0,7% - ambos em termos reais. Ressaltamos que a receita tributária continua a acelerar, refletindo os ganhos com as medidas de aumento de receita, mas, acima de tudo, os efeitos de uma atividade mais forte, inflação mais alta e uma taxa de câmbio mais depreciada. Por ora, mantemos nossa previsão de déficit de R$ 28,3 bilhões (0,3% do PIB) para 2024, excluindo os efeitos do auxílio ao estado do Rio Grande do Sul e outras exceções;
Ligeira queda da produção industrial em outubro não altera nossa visão positiva no curto prazo
A produção industrial recuou 0,2% entre setembro e outubro, abaixo das expectativas. No entanto, a abertura setorial foi positiva. Por exemplo, 19 das 25 atividades industriais avançaram na comparação mensal. Além disso, as categorias de bens de capital e bens de consumo duráveis continuaram em trajetória de crescimento sólido. O aumento expressivo da demanda doméstica vem impulsionando a indústria desde o final de 2023. O setor crescerá cerca de 3% em 2024.
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O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, a China divulgará os dados de inflação ao consumidor e ao produtor na 2ª-feira, além de resultados do comércio exterior na 3ª-feira. Nos EUA, os dados de inflação ao consumidor serão conhecidos na 4ª-feira, e a inflação ao produtor na 5ª-feira – todos referentes a novembro. Na 5ª feira, o mercado aguarda a decisão de política monetária na zona do euro pelo BCE.
No Brasil, o destaque da próxima semana será a decisão de política monetária pelo Copom na 4ª-feira – esperamos que o comitê entregue alta de 1,00 pp. na taxa Selic para fazer frente ao cenário adverso para taxa de câmbio e inflação. Na 3ª-feira, o IBGE divulgará o IPCA de novembro – projetamos aceleração em serviços e alimentação, ao passo que energia elétrica contribuirá para deflação em monitorados. Em relação à atividade econômica, o IBGE publicará a Pesquisa Mensal de Serviços na 4ª-feira e a Pesquisa Mensal do Comércio na 5ª-feira, enquanto o BCB tornará a público o IBC-BR na 6ª-feira – os indicadores são relativos a outubro. Por fim, os nomes indicados pelo governo à diretoria do BCB serão sabatinados na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado na 3ª-feira. Veja abaixo as nossas projeções.
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