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Temporada de resultados no mundo: A superioridade das FAAMGs

Estamos chegando ao fim da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2020, globalmente. Nos EUA, vimos uma contração de lucros média de 10%, enquanto na Europa, a redução foi de 30%. Até o momento, mais de 80% das empresas do S&P 500 (principal índice acionário dos EUA) já reportaram os seus resultados do 1T20. […]

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Estamos chegando ao fim da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2020, globalmente. Nos EUA, vimos uma contração de lucros média de 10%, enquanto na Europa, a redução foi de 30%.

Até o momento, mais de 80% das empresas do S&P 500 (principal índice acionário dos EUA) já reportaram os seus resultados do 1T20. Em média, os resultados vieram em linha com as expectativas, que já haviam sido reduzidas devido aos impactos do coronavírus.

A semana passada foi, sem dúvida, a mais importante da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2020 nos EUA, com divulgação de resultados das FAAMGs: Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, e Google (Alphabet), que têm demonstrado desempenho superior ao restante do mercado.

Gráfico demonstrando que com divulgação de resultados das FAAMGs: Facebook, Apple, Amazon, Microsoft, e Google (Alphabet), têm demonstrado desempenho superior ao restante do mercado.
Fonte: BBG, XP Investimentos

E por que tão relevante? Estruturalmente, a nossa vida passou a ser dirigida pelas gigantes da tecnologia, as FAAMGs, que passaram a concentrar 20% do valor de mercado do principal índice da bolsa americana, o S&P 500.

Em termos de concentração em tão poucos nomes, é um recorde histórico, que não foi visto nem mesmo na Bolha Ponto Com dos anos 2000. A grande diferença é que hoje essas empresas têm saúde financeira e alto nível de geração de lucros.

Eventos, shows, academias, entrevistas e um excesso de outras coisas migraram para as transmissões ao vivo do Instagram (Facebook) e do YouTube (Alphabet).

Enquanto 30 milhões de americanos requisitaram seguro desemprego desde março, a Amazon contratou 175 mil funcionários e passou a entregar bens essenciais e não essenciais.

Microsoft mencionou “impactos mínimos” do COVID-19 em suas operações, após maior queda da década nas estimativas de lucros do S&P 500. Evento histórico marca a primeira vez em que as palavras “coronavírus” e “impacto mínimo” foram utilizadas na mesma frase.

O tempo que ficamos nas telas dos celulares da Apple, antes utilizado para medir nossa solidão e isolamento, agora mede se estamos interagindo com amigos e familiares.

Até mesmo o Google superou as expectativas de receitas com propaganda. “Serviços são mais necessários do que nunca”, disse o CEO.

E quando falamos em gigantes:

O valor de mercado da Microsoft, de US$ 1,3tri, equivale a soma de 1 Goldman Sachs, 1 McDonald’s, 1 JP Morgan, 1 Starbucks, 1 ExxonMobil, 2 Snapchats, 3 Delta Airlines, 3 Boeings, 4 Fords, 5 Twitters e 50 Macy’s.


Saiba como ter exposição a Bolsa Americana:


Veja um resumo dos principais resultados até o momento, nos EUA, na Europa e na Ásia:

Alphabet (positivo): por que a reação do mercado logo após a divulgação dos resultados foi uma alta da ação de 8%? A empresa está sentindo os efeitos da crise mas não foi tão negativo quanto esperado.

Faturamento cresceu 14% ano contra ano, em linha com o consenso, puxado por sólido desempenho do YouTube (+33%) e Google Cloud (+52%). Receitas com publicidade foram menos afetadas que as expectativas, e inovação continua garantindo crescimento em outros segmentos. Margem de lucro, no entanto, caiu 10%, apesar do plano de controle de custos.

A empresa também aumentou nível de recompras para US$ 8,5bi em ações durante o trimestre, assegurando retorno de capital ao acionista. Em suma, resultado surpreende no lado positivo e aponta para uma superior capacidade das empresas do Vale do Silício de absorverem os impactos econômicos da crise.

Facebook (positivo): a resposta do mercado após a divulgação de resultados foi uma alta da ação de 10% no after-market; são ~US$ 50bi de fluxo para o ativo, o equivalente a um Itaú.

O faturamento com propagandas veio 17% maior que o ano passado, alcançando US$ 17,4bi, enquanto custos e despesas vieram apenas 1% maiores, resultando em lucro 100% maior no ano contra ano.

Lembrando que veio de base baixa (low comps); se desconsiderarmos o efeito dos US$ 3bi de multa no 1T19, teríamos contração de lucro de 20%. A margem foi prejudicada pelo aumento de despesas com vendas, marketing, pesquisa e desenvolvimento, que agora representam 39% das receitas (antes, 32%).

A empresa registrou 1,7 bi de usuários diários e 2,6bi de usuários ativos por mês, cada um gerando uma receita média de US$ 7 no 1T20, 9% maior que no ano passado.

Microsoft (positivo): movimento do mercado após a divulgação de resultado foi uma alta de 2% no after-market.

Dois anos em dois meses” é a descrição da CEO para o último trimestre, que registrou faturamento e lucro líquido 15% e 23% maiores ano contra ano, superando as estimativas do consenso em 3,5% e 9%, respectivamente. Destaque para o segmento de computação comercial na nuvem (Office 365, Azure, LinkedIn e Dynamics) com vendas 39% maiores.

O posicionamento estratégico da companhia ao ofertar Teams, Azure e Virtual Desktop permitiu que clientes e negócios operassem à distância e registrou aumento no tráfego de dados.

A escalabilidade da empresa também é um diferencial que cria alavancagem operacional; enquanto a receita de serviços cresceu de US$ 15bi para US$ 19bi (+27%), o custo deste serviço cresceu apenas 13% e as despesas com vendas, marketing e administrativas apenas 9%.

Apple (leitura mista): ações cairam 2% após divulgação dos resultados. Positivo no 1T, mas viés negativo para o 2T. Números do primeiro trimestre foram sólidos, mas a cautela predomina no curto prazo à medida que a companhia retirou o guidance para o segundo trimestre devido à baixa visibilidade em meio a pandemia.

Manutenção da política de recompra de ações (US$ 18,6bi no trimestre) e aumento do pagamento de dividendos são sinalizações positivas e demonstram retorno de valor para o investidor.

Faturamento ano contra ano com iPhones e iPads caiu 7% e 10%, respectivamente, superando as expectativas do consenso. O número de assinantes pagos da AppStore alcançou 515 milhões, adicionando 35 milhões no trimestre, e compensando resultados ruins com produtos.

O segundo trimestre será desafiador para a empresa, mas a tese de investimento de longo prazo não foi afetada. A sólida posição de caixa (num mundo mais endividado), o lançamento do iPhone 5G, o aumento das receitas com serviços, e os investimentos em inovação, mantém a Apple num patamar de forte competitividade e rentabilidade.

Amazon (leitura mista): caiu 8% no dia após o resultado. Por quê? Resultado forte, mas sacrificou lucros voluntariamente. Faturamento acelerou para 26% de crescimento, impulsionado pelo aumento na demanda e capacidade de execução em tempos de crise, principalmente nas lojas online.

No entanto, a companhia sacrificou lucratividade com aumentos de salário e equipamentos de segurança, sinalizando piora no 2T, quando deverá gastar US$ 4bi em custos relacionados ao COVID-19.

De um lado, a marca Amazon pode se fortalecer com a causa social e marketing positivo gerado pelos aumentos de salários e proteções adicionais com segurança do empregado durante a pandemia. Porém, o acionista exige rentabilidade e, dado o atual valuation já elevado, poderia servir de estopim para venda. De fato, as ações caíram 8% na sexta-feira.

Netflix: resultado espetacular, mas boa parte já estava no preço. Além de bater recorde histórico ao adicionar ~16 milhões de novos usuários (alcançando ~180 milhões de assinantes), a cia será pouco prejudicada pelo fechamento global de estúdios, visto que as temporadas são gravadas por completo antes da estreia. Despesas com marketing e filmagens vieram menores, fazendo a companhia gerar US$ 160 milhões de caixa no trimestre, contra queima de US$ 460 milhões no mesmo período de 2019.

Disney: Leitura mista. Ação caiu 2,6% no after-market após a divulgação do resultado. A queda de 93% no lucro era amplamente esperada e já pesava no preço da ação que vinha em queda de 30% no ano.

Do lado positivo, o número de assinantes do Disney+, ESPN+ e Hulu totalizou 95 milhões em abril, 4x maior que no primeiro trimestre de 2019 (Netflix tem 183 milhões). A receita deste segmento já representa 22% do faturamento da companhia, contra 7% no ano passado.

Disneylândia em Shanghai deve reabrir parcialmente a partir de 11/05 com controle de densidade e medição de temperatura. Governo Chinês limitou operação à 30% da capacidade, 24 mil pessoas. Será essencial observar o desempenho desta reabertura para termos visibilidade do futuro dos outros parques.

No lado negativo, demitiram 100 mil funcionários, tiveram impacto operacional de US$ 1,4 bi e cancelaram pagamento de US$ 1,6bi de dividendos. Fecharam parques e lojas, suspenderam cruzeiros, atrasaram peças teatrais e lançamentos de filmes, sentiram a quebra na cadeia logística e tiveram a programação esportiva suspensa.

Tesla (+8% after-mkt): Positivo. É a primeira vez na história que a empresa registra lucro (padrão GAAP) positivo em um primeiro trimestre, que é normalmente o trimestre mais fraco. Foi o melhor 1T em termos de produção e entregas, com 88 mil automóveis estregues, em linha com o esperado, com faturamento 32% maior contra o ano passado. Estrategicamente, continuam a migrar dos modelos S e X para os modelos 3 e Y, que são mais baratos, mas mais lucrativos.

A superioridade tecnológica continua em expansão; automóveis da Tesla percorrem 210km a mais que o melhor dos veículos eletrônicos dos concorrentes, o piloto automático agora reconhece a luz de semáforos e o motorista terá acesso à gravação de todas as câmeras frontais, laterais e traseiras.

Twitter: Negativo. Desde o resultado na quinta-feira, as ações caíram 11%, apesar de crescimento recorde de 14 milhões de usuários diários, alcançando 166 milhões. Ao contrário do que se imaginava, a receita com propaganda foi negativamente impactada, com queda de 27% entre 11/03 e 31/03, preocupando o investidor quanto aos resultados dos próximos trimestres e o posicionamento da empresa que continua aumentando salários (+42%) e contratações.

Activision Blizzard: Positivo. Ação subiu 5% no after-market após a divulgação do resultado, que superou expectativas de lucro em 53%. Enquanto outras formas de entretenimento como esportes, cinemas e parques de diversão estão fechados, mais pessoas se voltam para os games.

Número de downloads do jogo Call of Duty: Warzone alcançou 60 milhões e usuários mensais ativos alcançaram 102 milhões. Valores foram acelerados devido a quarentena que aumentou em 62% o tráfego de dados com jogos. Companhia revisou positivamente o guidance de receita de 2020, para US$ 6,9bi.

Electronic Arts: Leitura mista. Receitas vieram 15% acima do consenso devido ao forte desempenho das vendas digitais e franquias. Acelerado pelo isolamento social, o jogo NFL 20 registrou recorde de engajamento e Apex Legends fechou o ano como o jogo grátis mais baixado. No entanto, a ação caiu 4% no after-market, demonstrando preocupação do investidor quanto aos atrasos nos lançamentos de outros títulos (como haviamos alertado) e do console Xbox Série X.

AMD: Negativo. Lucro 2% maior que a expectativa, mas redução de guidance de crescimento para 20% a 30% em 2020. Faturamento veio puxado pelo forte desempenho de vendas de chips gráficos e de computação (+73% ano contra ano) e impactado negativamente pela menor demanda de chips de bancos de dados (-21% ano contra ano). A ação sobe mais de 90% nos últimos 12 meses e a demanda por chips de bancos de dados deverá vir maior com mais pessoas trabalhando de casa via Zoom e consumindo mais jogos eletrônicos.

Spotify (+12% no dia): Muito positivo. Crescimento de 31% de assinantes premium, totalizando 130 milhões, e superando expectativas de lucro (menor prejuízo) em 60%. Número de usuários se manteve amplamente constante, com exceção de países mais impactados como Itália e Espanha que viram redução.

Intel apresentou crescimento de 23% do faturamento ano contra ano, afetado positivamente por computação em nuvem, que aumentou demanda em 53% em relação ao ano passado. Suspenderam recompra de ações e emitiram US$ 10bi de dívida para garantir liquidez durante a crise.

Ferrari (+5% no dia): Positivo. Mercado abriu reagindo mal aos resultados e caiu ~3%, mas logo se recuperou. O faturamento de € 930bi veio 2% abaixo das expectativas de consenso, negativamente afetado por vendas de motores e setor comercial da marca. Vendas de automóveis e peças vieram acima do esperado (+7% contra ano passado), demonstrando resiliência da marca e faturamento atrelado à oferta, mesmo em tempos de crise.

Hermès se destaca no setor de luxo, dado que o consumo de seus artigos é definido pela oferta e não pela demanda (similar à Ferrari). A empresa francesa reportou queda de apenas 7% no faturamento, acima das expectativas do mercado, com outras companhias de luxo anunciando de -10% a -30%. Como em 2008, a companhia conta com o posicionamento privilegiado da marca para mitigar os danos da crise.

McDonald’s: Neutro. A empresa retirou o guidance de curto e longo prazos devido às incertezas da pandemia e suspendeu recompra de ações. As ações caem 3% desde o resultado na quinta-feira. Globalmente, 75% das lojas estão abertas e com operações adaptadas, principalmente com Drive-Thru, entregas e retirada em local. Faturamento caiu 6% e deve piorar no 2º trimestre, mas apesar dos impactos de curto prazo, a pandemia pode trazer consequências positivas para a marca, considerando que deve consolidar um vácuo de demanda com a saída de pequenos restaurantes com menos estrutura, principalmente em países emergentes.

Starbucks: Negativo. Lucros caíram 27% contra o ano passado. Apenas 50% das lojas estão abertas no momento e deverão ser 90% até o início de junho. Faturamento dos lojistas que mantiveram operações caiu 25% no mês de abril, indicando que a marca é tão dependente das rotinas de trabalho quanto seus concorrentes. Na China, por exemplo, 98% das lojas estão abertas mas o desempenho de abril foi 35% pior que em 2019.

Pepsi: Neutro. Lucro 4% acima das expectativas. Faturamento orgânico cresceu 8%, acima do consenso, ainda que prejudicado pelo dólar forte. Companhia retirou maior parte do guidance para 2020 mas reiterou pagamento de dividendos e recompra de ações, totalizando US$ 7,5bi.

Heineken anunciou queda de 2% no volume de cervejas, refletindo o impacto inicial das medidas de isolamento. Surpreendentemente, a venda da cerveja Heineken (20% do faturamento da cia.) cresceu 5%; no Brasil, a cifra foi 50% maior.

Domino’s anuncia faturamento global 6% maior, com lucro 30% maior que o esperado, completando o 105º trimestre consecutivo de crescimento de “vendas nas mesmas lojas”. 90% das 17 mil lojas da companhia se mantem operacional.

Beyond Meat: Positivo: Ação subiu 5% no after-market, após anúncio de crescimento de 140% no faturamento. Empresa vê aumento de consumo dentro de casa, mas alerta que fechamento de restaurantes fez a receita cair em março, e por isso a companhia retirou o guidance do ano.

Tyson Foods (-7,8% no dia): Negativo, refletindo queda de 15% no lucro contra o ano passado em função da redução da produção. A empresa espera menor demanda por carne, com restaurantes parados no curto prazo. Em ato de defesa nacional, Trump impediu que empresas de alimentos parem de funcionar.

Harley-Davidson: Muito positivo. Subiu 15% após o resultado. Diretores sinalizaram estratégia focada na construção da marca e redução de complexidade, buscando estabilidade e lucratividade. Vendas de motocicletas vieram 8% maiores no ano e superaram em 6% as expectativas.

Caterpillar: Levemente negativo. Lucro 5% abaixo da expectativa. Companhia reiterou suspensão do aumento da base salarial e que mantém posição saudável de liquidez, com US$ 18bi acessíveis à medida que ~75% das fábricas permanecem abertas.

Adidas apresentou 95% de queda no lucro líquido, refletindo recompra de estoques na China e piores provisões de recebíveis, contabilizando € 250 milhões de impacto negativo. 70% das lojas globalmente ainda estão fechadas e chineses (25% do faturamento) estão comprando menos sapatos. A companhia alerta para um 2º trimestre ainda pior.

American Express reportou receitas abaixo do guidance, com lucro 60% menor que o esperado pelo consenso, refletindo maiores provisões.

Credit-Suisse: resultado melhor que o esperado e em linha com outros bancos, com lucros impactados por provisões.

AT&T (-23% no ano) divulgou receita 4% menor que as expectativas, refletindo piores vendas de equipamentos e smartphones. Guidance de US$ 20bi de investimento foi retirado, mas continuará em tecnologia 5G. Dados de venda de celulares apontam para um fraco trimestre para a Apple.

Nasdaq: receitas com serviços de mercado vieram 21% maiores, devido aos fortes volumes de transações. Faturamento total cresceu 11% ano contra ano, no entanto lucros vieram aquém do esperado, fazendo a ação cair 1,5%, enquanto S&P 500 subiu 2,2%.

Verizon apresentou receita 1,6% menor ano contra ano, superando as expectativas. Capex continuou forte, em US$ 5,3bi, respeitando o guidance divulgado ainda no ano passado. Resultado neutro, mas a companhia revisou estimativas de lucro para baixo, de +2% para zero.

Huawei desacelera crescimento de faturamento de 39% no 1T19 para 1% em 2020, entregando margem líquida de 7%.

Panasonic cortou expectativa de faturamento em US$ 2,3bi para o final de 2020 (soluções automotivas e industriais devem sofrer maior impacto), que foi compensada parcialmente por venda de ativos e estímulos fiscais.

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