Investimentos em renda fixa continuam a avançar no Brasil

Já não é mais novidade que o cenário para investimentos em renda fixa continua a avançar no Brasil. Afinal, a taxa básica de juros (Selic) subiu de 2% no começo de 2021 para os atuais 13,75% em apenas um ano e meio. Além disso, as expectativas para os juros no futuro também subiram, deixando os rendimentos de renda fixa naturalmente mais atraentes.

Frente a este cenário, é muito comum nos perguntarmos sobre o comportamento dos investidores pessoa física. Ou seja, se de fato há uma relação entre o panorama que se desenhou e o volume investido na renda fixa. A partir de estudo recente elaborado pela B3, é possível tirar algumas conclusões e uma delas é que investimentos em renda fixa continuam a avançar.

Para efeitos do estudo, os investimentos em Títulos Públicos Federais (via Tesouro Direto ou mercado secundário) não são considerados nos números de renda fixa. A B3 inclui em seus números consolidados de renda fixa as seguintes aplicações: aplicações automáticas, CDB, RDB, LC, LCI, LCA, CRA, CRI, debêntures, NC, LH e COE. Para nossas análises (XP) de títulos específicos, consideramos apenas algumas destas (CDB, LCI, LCA, CRA, CRI e debêntures), conforme explicitado.

Mais (e menores) investidores; maior volume

De acordo com o estudo “Uma análise da evolução dos investidores na B3”, com dados do segundo trimestre de 2022 (2T22), o número de investidores em renda fixa subiu 27% em relação ao 2T21 e 37% em comparação com 2020.

É interessante também observar o saldo mediano dos investimentos, que apresentou tendência de queda nos últimos dois anos. Isto pode ser indicativo de que mais pessoas buscam investir, mesmo com valores iniciais menores. Reflete também o movimento de democratização do mercado, com redução nos valores mínimos de investimento em determinados títulos de renda fixa.

Os principais produtos de renda fixa analisados tiveram crescimento de pelo menos 40% entre 2020 e junho de 2022. O maior salto foi visto em aplicações em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que subiu 159%. O número de investidores que escolheram aplicar em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) também evoluiu consideravelmente: +98,5%.

O número de investidores em títulos de crédito privado cresceu mais de 80%, ao passo em que títulos bancários cresceram quase 50%. Vemos os números como positivos, porém há ainda grande diferença em termos de volume investido em cada um dos tipos de títulos, como veremos mais adiante.

O volume continua aumentando: boa notícia!

O valor total investido em renda fixa saltou de R$ 898 bilhões para R$ 1,3 trilhão em um ano – ultrapassando, portanto, o saldo em poupança (R$ 1,0 trilhão em junho de 2022; R$ 992 bilhões em agosto).

Considerando a taxa Selic em 13,75%, a aplicação em caderneta de poupança se torna cada vez menos atraente em relação a outros investimentos, uma vez que possui rendimento de apenas 70% da Selic + TR (taxa referencial).

Diversificação cresceu – mas pode melhorar

Desde 2020, houve melhora na diversificação da carteira dos investidores. O percentual de pessoas que aplicavam em apenas uma classe de ativos (por exemplo, só renda fixa) caiu de 83% para 81% em junho de 2022. Mais 15% diversificam entre renda fixa, ações e Tesouro Direto – volume maior do que no ano anterior.

Vale lembrar que é sempre importante consultar seu perfil de investidor(a) para realizar a melhor alocação e diversificação.

Apesar da evolução nos últimos anos, ainda há um longo caminho a percorrer em direção à diversificação. Do total de investidores pessoas físicas na B3, que atingiu 4,1 milhões de pessoas em junho, 64% possuem apenas títulos de renda fixa (sem considerar Tesouro Direto).

Para acompanhar a evolução do Tesouro Direto, acesse nosso relatório Tudo sobre renda fixa no mês (e o que esperar).

Em relação à diversificação entre ativos de renda fixa, houve leve queda na concentração em títulos bancários (CDBs, LCIs e LCAs), com aumento em crédito privado (debêntures, CRIs e CRAs). O movimento, em nossa visão, é positivo. No entanto, a diferença permanece muito relevante.

A adequação ao perfil de investidor(a) deve ser sempre observada, mas acreditamos que haja espaço para melhor aproveitamento dos investimentos em crédito privado – mercado crescente e cada vez mais desenvolvido no Brasil – visando melhores rentabilidades para as carteiras.

A tendência é positiva, mas ainda temos que avançar

Conforme apresentado, o estudo da B3 sobre investimentos realizados por pessoas físicas (base junho de 2022) demonstra que há tendência gradual de avanço: houve aumento no número de investidores (+27%) e no volume em custódia (+48%) em renda fixa em comparação com junho de 2021, mesmo após anos relativamente complexos no âmbito econômico.

Outra indicação positiva foi a redução na aplicação mediana, que pode ser interpretada como resultado da maior democratização de investimentos, atraindo pessoas com valores menores de aporte.

A diversificação tem melhorado, mas ainda há muita concentração em classes únicas de ativos. Na renda fixa, o investimento em títulos bancários ainda representa a grande maioria, embora haja movimento de elevação de aplicações em crédito privado.

Em nossa visão, o maior acesso à educação financeira aliado aos esforços em democratizar o acesso aos investimentos às pessoas físicas no Brasil devem contribuir para a contínua evolução do mercado financeiro no Brasil.

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