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Sob o olhar da estratégia: A posse de Donald Trump

Confira os primeiros atos e o que esperar

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Desde a vitória de Donald Trump em 5 de novembro de 2024, o mercado tem reagido em antecipação às medidas esperadas no governo Republicano. A posse de Trump dá o tom para o ano de 2025, marcando o final de período de intensas especulações e início de um novo ciclo político nos EUA, que deverá ser pontuado por uma mudança de rumos na política externa e econômica.

O Trump Trade

Desde a vitória de Trump nas eleições presidenciais americanas, os temas ligados ao Trump Trade têm ganhado destaque em termos de performance. Ao longo da campanha eleitoral, o Republicano sinalizou que rumos adotaria para a política econômica, o que permitiu aos mercados se posicionar à medida que as chances de vitória de Trump aumentavam.

Apontamos anteriormente que, sob um governo de Donald Trump, as temáticas que mais ganhariam força seriam:

  • Desregulação: Os setores financeiro e de serviços de saúde são os principais beneficiários da temática de desregulação, que está sendo uma forte bandeira defendida pelo partido Republicano;
  • Cortes de Tributos: A associação de Trump a cortes de tributos gerou uma grande expectativa no mercado, beneficiando especialmente as menores empresas (Small Caps) na bolsa americana;
  • "Drill, baby, drill": O incentivo à extração de petróleo e gás natural pelo processo de fracking tende a beneficiar os serviços de óleo e gás, mesmo que a ampliação da oferta possa ser negativa para preços das commodities;
  • Reindustrialização: Temos o setor industrial doméstico como beneficiário mais óbvio para a reindustrialização da América e, para além dos subsídios, esse plano inclui a imposição de tarifas, que possui como principal risco a inflação.

Da eleição à posse

Reação positiva em novembro: Após a confirmação da vitória de Trump, os mercados globais tiveram uma reação positiva. As taxas das treasuries, que tinham disparado em antecipação ao pleito arrefeceram, o que impulsionou mercados de equities. No mês, vimos índices menos concentrados em Big Techs, como os índices S&P Equal Weight, Russell 2000, focado em Small Caps e Dow Jones Dividends, terem performance superiores aos índices S&P 500 e Nasdaq 100, que possuem peso maior para as gigantes de tecnologia em sua composição. Adicionalmente, Trump deu sinalizações mais moderadas ao anunciar membros de seu gabinete, notadamente os nomes de Scott Bessent para a secretaria do Tesouro e Howard Lutnick para a secretaria de Comércio.

Alta das taxas em dezembro: Passado o rali inicial da vitória de Trump, os mercados adotaram cautela maior ao longo de dezembro, reagindo duramente às falas de Trump a respeito de tarifas e com aumento de temores na frente fiscal. Adicionalmente, sinalizações mais duras do Federal Reserve na última reunião do ano do comitê de política monetária contribuíram para a disparada das taxas das treasuries longas, fortalecimento do dólar e queda nas bolsas ao redor do mundo.

Antecipação à posse em janeiro: No início do ano, o aumento das especulações acerca das primeiras medidas tomadas por Trump e incerteza quanto à severidade das tarifas prometidas pelo novo governo provocaram volatilidade. Elementos como dados mais fortes de emprego, que chegaram a levar as taxas das treasuries mais longas para perto da marca de 5%, assim como o início da temporada de resultados do 4T24, contribuíram para o ambiente volátil.

Discurso de posse

Durante seu discurso inaugural, que durou aproximadamente 30 minutos, Donald Trump prometeu uma nova “era de ouro” para os Estados Unidos da América, retomando pontos centrais de sua plataforma eleitoral. Destacamos:

  • Imigração: Ponto de partida de seu discurso de posse, Trump anunciou a declaração de emergência nacional na fronteira sul dos EUA e o relançamento da política “Protocolo de Proteção ao Migrante” conhecida como Remain in Mexico, que exige que os imigrantes que procurando asilo esperem no México durante os procedimentos judiciais nos EUA. O ministro das Relações Exteriores do México comentou que essa medida seria uma decisão unilateral, e não implicaria obrigações para o governo mexicano. A promessa de deportações em massa também foi pautada, e levanta preocupações entre economistas e empresários, que temem impacto negativo no mercado de trabalho americano, com potencial efeito inflacionário (Trump, apesar disso, enfatizou seu compromisso com o controle à inflação).
  • Tarifas: Política comercial e tarifas foram enfatizadas no discurso de posse, mantendo em alta o tema que já foi um dos carros-chefes da campanha eleitoral. Trump destacou alterações na política comercial dos EUA como uma das principais prioridades em seu governo, destacando seu interesse em usar tarifas para ampliar a arrecadação dos EUA e estimular a indústria nacional, chegando a indicar a criação de um “serviço de receitas externas” (external revenue service) em sua administração. Tarifas representam um risco inflacionário para os EUA, uma vez que sua imposição acarreta elevação do nível de preço de bens importados, com efeitos que se acumulam ao longo das cadeias produtivas. O processo de reindustrialização americano, parte de iniciativas de reshoring e que seriam alternativas para importações, vem com o potencial efeito de aumento de custos de mão de obra, pressionando a inflação pelo canal dos salários.
  • "Drill, baby, drill!": O slogan da campanha republicana de 2008 segue em uso, agora por Donald Trump para promover a extração de petróleo e gás natural pelo processo de fracking nos EUA. O presidente indicou sua intenção em reabastecer as reservas estratégicas de petróleo dos EUA e exportar para todo o mundo.
  • Veículos elétricos e agenda ambiental: Além do discurso de incentivo à exploração de energia fóssil, Trump anunciou a saída dos EUA dos acordos de Paris, sua intenção de acabar com o “Green New Deal” e o abandono das metas de eletrificação da frota de automóveis americana para “salvar a indústria de automóveis nacional”.
  • Canal do Panamá: Outro ponto de destaque do discurso inaugural foram as falas de Trump a respeito do Canal do Panamá. O presidente voltou a ameaçar retomar o controle do tráfego local, citando o custo histórico que os EUA tiveram com a obra, assim como seu uso atual para “beneficiar a China”. José Raúl Mulino, presidente panamenho, rejeitou as ameaças de Trump, indicando que é uma afronta à soberania do país. Insistência de Trump no tema deve ser recebida negativamente por outros líderes globais.

Decretos Assinados

Como parte final da sua agenda de empossamento, Donald Trump assinou o primeiro lote de decretos diante de uma multidão na Capital One Arena em Washington D.C., revertendo políticas de Biden, restabelecendo ações de seu primeiro mandato e dando início à sua agenda como 47º presidente dos EUA. Destacamos:

  • Rescisões: A primeira ação do presidente Trump foi assinar a rescisão de 78 ações executivas, ordens executivas, memorandos presidenciais e outras diretrizes do governo Biden, tratando de assuntos diversos;
  • Congelamento regulatório: Até que o novo governo e administração estejam totalmente estabelecidos, Trump implementou um congelamento regulatório, que impede a emissão novas diretrizes normativas por burocratas;
  • Congelamento de contratações: Também até que o novo presidente tenha controle total do governo e da administração, foi implementado um congelamento de contratações federais, com exceções para militares e algumas outras categorias;
  • Trabalho presencial: Foi definida a exigência de que os trabalhadores federais retornem ao trabalho presencial em tempo integral;
  • Custo de vida: Foi emitida uma orientação a todos os departamentos e agências federais para lidar com a crise de aumento do custo de vida que afetou as famílias americanas, após Trump declarar o combate à inflação como uma de suas prioridades;
  • Acordo Climático de Paris: Trump está retirando os EUA do Acordo Climático de Paris e informando, por meio de uma carta oficial, as Nações Unidas sobre essa decisão. Na mesma linha, Trump também anunciou a saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS);
  • Emergência energética nacional: Em linha com seu discurso de posse, Trump declarou emergência energética para estimular o aumento da produção de energia em todo o país (notadamente, energia fóssil). Trump identifica a disparada na inflação nos anos recentes como produto de gastos governamentais excessivos e escalada dos preços da energia;
  • Liberdade de expressão: Trump assinou ordem executiva para “acabar com a censura governamental” em plataformas digitais, ecoando mudança de rumos recente da Meta Platforms realizada em antecipação ao novo governo. A presença ostensiva de CEOs de Big Techs na posse chamou a atenção;
  • Adiamento da suspensão do TikTok: Após um dia de suspensão do aplicativo nos EUA, Trump anunciou que irá adiar por 75 dias ações do governo sobre a decisão de banir a rede social dos EUA;
  • DOGE: O Departamento de Eficiência Governamental ganhou uma estrutura formal, como grupo consultivo, ainda com o objetivo de "desmantelar a burocracia governamental, cortar regulamentações excessivas, cortar gastos desnecessários e reestruturar agências federais". No mesmo dia, Vivek Ramaswamy anunciou sua saída da co-gestão do órgão para focar em campanha eleitoral ao governo de Ohio.

O que esperar para os próximos 100 dias

Durante o discurso oficial e os decretos assinados, Donald Trump deixou de fora assuntos para os quais existiam grande expectativa e foram centrais em sua campanha. Com isso, para os próximos 100 dias, o mercado aguarda sinalizações a respeito de temas como:

  1. Desregulação: Apesar de suspender a emissão de novas normativas, Trump ainda não anunciou formalmente nenhuma iniciativa diretamente ligada à desregulação, tema sempre presente ao longo de sua campanha e um dos principais motivos por trás de nossa visão positiva para o setor financeiro. Adicionalmente, o tema é visto como positivo para o setor de serviços de saúde (principalmente seguradoras) e criptos, estas últimas não tendo sequer sido mencionadas ao longo da cerimônia de posse;
  2. Corte de tributos: logo antes de assinar os primeiros decretos, Trump chegou a mencionar a possibilidade de isentar as gorjetas de impostos, mas nenhuma medida de corte de tributos foi anunciada. A temática é particularmente benéfica para as Small Caps, e gera grande expectativa no mercado. Além disso, o mercado ainda espera renovação dos cortes de tributos realizados no primeiro governo Trump;
  3. Tarifas: Mesmo indicando que a questão das tarifas é uma das principais prioridades de seu governo, Trump não anunciou nenhuma medida em seu primeiro dia de mandato nem trouxe grandes informações adicionais de como pretende prosseguir, chegando apenas a declarar que vê tarifas sobre Canadá e México como “algo ao redor de 25%”. Com isso, por ter sido uma das pautas mais comentadas antes e após sua vitória, podemos esperar que o governo divulgue informações adicionais ao longo dos próximos meses.

Desde outubro, temos posicionado as carteiras de ações globais para o Trump Trade. Confira os nomes recomendados:

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