Como investir em agosto
“O momento é transformacional. As reformas avançam, os juros testam novas mínimas. As carteiras precisam ser repensadas e otimizadas.”
Julho foi um mês de avanços importantes e o cenário transformacional começa a se materializar no Brasil. A Reforma da Previdência foi votada no primeiro turno na Câmara logo antes do recesso do Congresso, com economia próxima a R$900bi, o que foi bem recebido.
Não menos importante, o Banco Central anunciou corte de 0,50% nos juros, para 6% ao ano, dando início a um novo ciclo de cortes e uma nova mínima histórica. Vemos a Selic (taxa básica de juros) em 5% até o fim do ano. Em meio a este ambiente, a projeção do juro real para o próximo atingiu a mínima histórica, ficando abaixo de 2%. Juros baixos vieram para ficar, e isso muda tudo.
A Previdência será retomada nesse mês com votação no segundo turno da Câmara, seguindo para o Senado. Enquanto isso, a discussão em relação à agenda após a Previdência ganhou corpo, com destaque para uma Reforma Tributária e agendas micro, como liberação do FGTS. O tema deve ganhar protagonismo, pois, se bem executada, a agenda traz novos horizontes ao Brasil.
Neste cenário, a exposição a risco nas carteiras deve aumentar gradualmente, tema que exploramos na próxima página. Destacamos Bolsa como o melhor ativo no momento, mas uma carteira eficiente deve ser diversificada, passando por outras classes de ativos, como renda fixa e multimercados que comentaremos adiante, sempre respeitando o perfil de cada investidor.
Nos últimos meses, o mercado passou a debater de forma intensa o tema juros mais baixos por mais tempo não só no Brasil, mas no mundo. Após um ano de altas nos juros americanos em 2018, o Banco Central americano (FED) mudou a retórica e reduziu as taxas de juros do país em 0,25% no mês de julho. O cenário é benéfico para mercados emergentes, categoria na qual o Brasil se insere.
Do lado negativo, as negociações comerciais entre os EUA e China foram destaque recente, com tensões elevadas. Inclusive, o presidente dos EUA anunciou no primeiro dia de agosto tarifas sobre produtos importados chineses, seguido por retaliação da China, levando a forte queda nos mercados no começo deste mês. O cenário adiciona volatilidade, aumentando o risco de desaceleração do crescimento global.
Entretanto, a nossa expectativa é de que as tensões diminuam, a medida que uma guerra comercial não é benéfica para nenhuma das partes. Além disso, a desaceleração global pode levar a um corte mais forte de juros nos EUA e no mundo, abrindo mais espaço no Brasil também, o que ajuda a amenizar a volatilidade.
Em resumo, com ambiente reformista no Brasil, juros em queda e uma expectativa de que atividade deve começar a acelerar, o otimismo ganha força, apesar de um cenário internacional mais incerto.
Juros baixos e o impacto nos investimentos
Esperamos juros mais baixos por mais tempo do que a maioria imagina. Na nossa visão, esse é um dos mais importantes paradigmas sendo quebrados no Brasil, com fortes reflexos na economia e nos investimentos.
O Juro Real (juros menos inflação) mede de fato quanto o investimento está rendendo e atingiu a mínima histórica na projeção para fim do ano, chegando a um patamar inferior a 2%. Nossa expectativa é que vá para patamares ainda inferiores ao longo do próximo ano.
Países desenvolvidos passaram por esse processo nos últimos 30-40 anos. Isso muda a forma como o dinheiro é alocado. Projetos que antes não faziam sentido, passam a ser priorizados. O dinheiro que está parado no CDI vai ter que circular. A forma como os brasileiros investem vai mudar.
O que isso muda na prática?
Em um cenário no qual os juros eram 14,25% recentemente, obter retornos com baixo risco era relativamente simples. Isso já não é mais uma realidade.
O investidor conseguia, até recentemente, obter o famoso “1% ao mês” sem ter que incorrer em nenhum dos três tipos de risco: mercado, crédito e liquidez.
O tesouro-Selic, por exemplo, rende a taxa básica de juros e não tem oscilação de preço, com o menor risco de crédito do Brasil, pois é garantido pelo governo, e sem risco de liquidez, podendo ser resgatado diariamente. Enquanto que em 2015-16 ele rendia 14,25% ao ano menos imposto, hoje rende 6,0% menos imposto, com perspectiva de ir para 5%.
Nesse contexto, para obter retornos mais atrativos o investidor vai ter que gradualmente aprender a conviver com mais risco dentro das três grandes categorias:
•O risco de mercado vai ter que ser incorrido – a maioria dos ativos mudam de preço diariamente;
•A exposição a risco de crédito vai ter que ser aumentado – investindo em títulos de empresas (ou fundos expostos a elas) que tenham menor segurança relativa ao governo por exemplo.
•A liquidez da carteira vai diminuir – aplicando parte da carteira em títulos de renda fixa com vencimentos mais longos e fundos com prazo de resgate maior.
As carteiras precisam ser repensadas e otimizadas para refletir este cenário.
Renda Fixa
Com os juros na mínima histórica no Brasil, o mercado de crédito teve uma melhora significativa, levando a uma compressão das taxas de emissão de dívida privada. O juro que o investidor recebe hoje é menor quando comparado ao histórico. O investidor terá que gradualmente se acostumar a buscar por créditos de risco relativo maior quando comparado ao histórico – sempre ajustando a exposição ao seu perfil.
No caso de emissões bancárias, há exemplos de bancos médios e novos entrantes que emitiram CDBs a taxas atraentes, acima de 100% do CDI. Também existem emissões bancárias indexadas à inflação, que protegem o poder de compra, e prefixadas, diversificando a indexação à taxa de juros. Vale lembrar que esses títulos são cobertos pelo FGC para aplicações de até R$250 mil, o que diminui o risco associado.
No caso de títulos de crédito privado, há boas oportunidades nas emissões isentas de imposto de renda para pessoa física, como CRIs e CRAs, que podem oferecer boa rentabilidade líquida.
Já em relação aos fundos de crédito privado, há opções com resgate em um dia útil ou até mesmo com resgate em 360 dias após solicitação. Dentre esses, há possibilidade de aplicação a partir de 500 reais.
Em resumo, o investidor deve buscar rentabilidade através de ativos de duração mais longa e taxas mais altas, ajustado ao seu perfil. Nesse cenário, diversificar a carteira é cada vez mais importante.
Por último, relembramos que dentro desse cenário, é importante manter a parcela de reserva de emergência em ativos ou fundos de renda fixa que possibilitem um resgate em um curtíssimo prazo e estejam majoritariamente expostos à variação da Selic ou CDI. Consideramos a parcela de emergência como sendo o equivalente a seis meses de custo de vida.
É importante destacar que maiores retornos significam riscos maiores, por isso é essencial sempre conhecer a companhia para a qual está emprestando seu dinheiro e decidir se o retorno oferecido compensa o risco. Na nossa plataforma trazemos todas as informações a respeito das emissões para te ajudar a entender os produtos e seus riscos.
Para Agosto, seguindo o racional de aumentar a exposição a risco por conta de um ambiente otimista no Brasil, diminuímos o percentual de pós fixado do perfil moderado em 5% e em 2,5% no perfil agressivo, sugerindo realocação em renda variável. Veja a seguir porque estamos otimistas com a Bolsa brasileira.
Bolsa
Em julho, o índice Ibovespa chegou a atingir níveis recordes de 106 mil pontos, mas recuou fechando em 102 mil por conta de tensões no cenário internacional, com alta de 0,84% no mês. O mercado aguarda a votação da Previdência no segundo turno da Câmara, esperada para as primeiras semanas de agosto. A agenda após a Previdência começa a ganhar corpo, o que pode trazer novos horizontes para o Ibovespa. Todos os sinais são positivos. Seguimos vendo a Bolsa como o melhor veículo para se investir no Brasil.
O cenário para a Bolsa é transformacional. O avanço da Previdência, junto às iniciativas microeconômicas, como o FGTS, devem impulsionar o crescimento das empresas, acelerando os lucros. Além disso, juros mais baixos possui múltiplos reflexos: (1) os lucros também são impulsionados, com despesas financeiras menores, (2) novas oportunidades são exploradas em busca de maiores retornos, com a Bolsa sendo o grande destaque – a alocação para Bolsa ainda continua baixa em 7,3% dos fundos e deve crescer adiante e (3) o ambiente leva a menor percepção de risco, o que é positivo para o valor das empresas na Bolsa.
Todas as empresas, em maior ou menor grau, se beneficiam da queda do juros. Os primeiros claros beneficiários são empresas do setor de consumo, como varejo, construtoras e aluguéis de carros. Os setores de infraestrutura, como elétricas e concessões, também são destaque, haja visto que os retornos de novos projetos podem ser elevados por uso de endividamento com juros menores. Finalmente, empresas com endividamento elevado em todos os setores terão menos gastos com juros, e podem fazer novas emissões em condições melhores.
Estimamos que o índice Ibovespa atinja 115 mil pontos no final do ano, e 140 mil no final de 2020. Neste mês o time de análise de ações da XP aumentou a exposição aos nomes domésticos e posicionaram as Top 10 Ações XP nos seguintes temas:
(1) SELIC baixa por mais tempo do que está precificado (RENT, ENBR e CPLE) – vimos uma queda expressiva da curva de juros no último mês, mas ainda tem mais espaço e não foi totalmente refletido nas ações da Bolsa;
(2) Crescimento acelerando (BBDC e PCAR) – acreditamos que esse tema deve começar a ganhar tração ao longo dos próximos meses;
(3) Nomes de qualidade (LREN, RENT, IRBR e AZUL) – eles protegem a carteira no curto prazo, mas também buscamos opções que se beneficiam da retomada econômica adiante;
(4) Cíclicos globais descontados (PETR e JBSS) – mas de forma seletiva, dadas as incertezas globais ainda elevadas
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