Resumo
Nos Estados Unidos, o destaque ficou para os dados referentes ao mercado de trabalho, que reforçaram as preocupações sobre a oferta de mão de obra no país. Com dados de atividade indicando robustez em serviços e indústria, o debate sobre redução de estímulos no FED ganha força entre membros do FOMC. Enquanto isso, Biden apresentou para os republicanos uma proposta menor para seu pacote de infraestrutura.
Já na China, os PMIs seguem indicando forte crescimento econômico, enquanto na Zona do Euro a semana contou com divulgações apontando para recuperação relativamente sólida, mas não sem volatilidades, e preços ao produtor em altas recordes – na linha com o observado no resto do mundo
No Brasil, o PIB referente ao primeiro trimestre registrou crescimento de 1,2%, enquanto as contas públicas de abril reforçaram o quadro positivo observado desde o início do ano. Em vista deste cenário mais positivo, revisamos as nossas projeções para a economia doméstica no ano.
Para a semana que vem, destaque para inflação nos EUA, reunião do Banco Central Europeu, atividade de abril no setor de varejo e serviços no Brasil, além de dados de inflação com a divulgação do IPCA de maio.
Atualizações Covid-19
No cenário internacional, a vacina de origem chinesa Coronavac foi aprovada para uso emergencial em adultos pela OMS, o que deve facilitar o trânsito global dos brasileiros que receberam o imunizante.
Já no Brasil, o governo federal fechou acordo de transferência de tecnologia para que a Fiocruz produza IFA nacionalmente; a previsão é que as primeiras doses feitas com insumo nacional sejam entregues apenas em outubro. Ainda essa semana, o governo do estado de São Paulo anunciou que todos os adultos serão vacinados até o dia 31 de outubro.
Quanto ao número de contágio, após seis altas consecutivas, a média móvel de óbitos recuou para 65,9 mil, valor ainda bastante elevado, mas ainda bastante abaixo do pico registrado ao final de março, acima dos 77 mil. Por outro lado, as internações no estado de São Paulo continuam a subir. O número de pacientes internados em UTI retorna ao patamar do final de abril, mas 16% abaixo do pior momento em abril. A taxa de ocupação de leitos, considerada a média móvel divulgada pelo estado, está em 81,6%. Na capital, a taxa está em 84,1%.
Cenário internacional
Commodities
Os preços do petróleo atingiram o nível mais alto desde outubro de 2018, após a avaliação otimista da OPEP sobre a demanda e com a menor perspectiva de um retorno rápido do Irã o mercado. Esta manhã, o WTI estava sendo negociado a mais de 68 dólares por barril e o Brent acima de 71 dólares por barril. O aumento dos preços do petróleo é combustível para as preocupações inflacionárias globais.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o destaque da semana ficou para o mercado de trabalho, que reforçaram as preocupações sobre a oferta de mão de obra no país. Enquanto os novos pedidos de auxílio desemprego retomaram o nível pré pandemia (de 385 mil) e os resultados de criação de empregos privados ficaram acima das expectativas, o resultado do payroll veio abaixo do consenso de mercado, com a criação de 599 mil novos postos de trabalho frente expectativa de 700 mil – apesar de queda na taxa de desemprego (para 5,8% ante 5,9% esperado), impulsionado pela queda na força de trabalho. O resultado sugere que a demanda por trabalhadores tem crescido mais rápido do que a oferta, especialmente para posições de menor remuneração e qualificação.
Tivemos também a divulgação dos índices de gerente de compras (PMIs) de serviços e manufatura referentes a maio. Ambos indicaram crescimento robusto, com o indicador composto alcançando o maior nível da série histórica iniciada em 2009. O resultado reflete o crescente otimismo em relação à economia, em meio ao avanço da vacinação contra o coronavírus e normalização da atividade.
Em meio a esse contexto, cresce o debate entre membros do FED sobre o início da redução de estímulos. James Bullard, presidente do FED St. Louis (membro não votante até 2022), destacou sua visão de que as condições no mercado de trabalho já começam a indicar rigidez. Já para o presidente do FED da Filadélfia, a discussão deve começar, mas a redução deve ser feita e maneira gradual e com cautela, à medida que a economia se recupera. Nesse sentido, a recuperação do mercado de trabalho será chave para os próximos passos do FED – dado o destaque para o mandato dual da autoridade monetária nos EUA.
Ainda em política monetária, o Fed anunciou a venda de suas posições em títulos corporativos e ETFs – ativos adquiridos por meio da Secondary Market Corporate Credit Facility para prover liquidez ao mercado e evitar a elevação de custos a empresas no início da crise pandêmica.
Em política, Biden apresentou aos republicanos uma proposta menor para seu pacote de infraestrutura, de USD 1 trilhão, que seria financiada por um imposto mínimo de 15% sobre corporações altamente lucrativas, no lugar do aumento do imposto de renda para pessoa jurídica de 21% a 28%. A flexibilização é um sinal positivo para o ambiente parlamentar, no entanto, a resistência republicana a aumentos tributários deve dificultar um entendimento e, devido ao apertado calendário para um acordo, consideramos que o cenário mais provável ainda é do avanço da medida sem apoio bipartidário.
Ásia
Na China, o destaque da semana ficou para a divulgação dos Índices de Gerente de Compras (PMIs) de maio, que seguem indicando uma robusta recuperação econômica no país. Embora o indicador referente à produção industrial tenha caído um pouco acima do esperado em abril para 51,0, o PMI de serviços subiu de 54,9 para 55,2. Deste modo, o índice PMI composto aumentou de 53,8 para 54,2. As medidas de aperto do governo, a desaceleração das exportações e o aumento de custos das matérias primas estão afetando a produção industrial. Por outro lado, a recuperação do consumo segue acelerando.
Ainda no gigante asiático, o Banco Central chinês (PBoC) aumentou de 5% para 7% o montante de reservas em moeda estrangeira que emprestadores precisam manter, reduzindo a oferta de outras moedas no país diante da apreciação do Yuan.
Enquanto isso, no Japão, dados de atividade de abril vieram abaixo do esperado, com produção industrial avançando 2.5% m/m (est. 3.9%) e vendas no varejo caindo 4.5% m/m (est. -1.7%).
Zona do Euro
Na Zona do Euro, a semana contou com divulgações de inflação e atividade, que apontam para uma recuperação relativamente sólida, mas que não evitará volatilidades, e preços ao produtor em altas recordes – na linha com o observado no resto do mundo.
A inflação nos 19 países que compartilham o euro acelerou para 2% em maio de 1,6% em abril, impulsionada pelos custos de energia, ficando acima da meta do BCE de “abaixo, mas perto de 2%”. Na mesma linha, o indicador de preços ao produtor (PPI) cresceu 7.6% y/y em abril, registrando a maior variação desde 2008. Não obstante, o Banco Central Europeu (EBC) já deixou claro que esse não é o tipo de inflação que está procurando depois de quase uma década sem atingir sua meta, de modo que a política continuará frouxa nos próximos anos.
Em atividade, as vendas no varejo da região registraram queda de 3,3% em abril (m/m), abaixo do consenso de mercado. O cenário foi similar para o mês na Alemanha, com queda também além do esperado nas vendas do varejo. Por outro lado, a produção manufatureira da zona do euro expandiu-se em um ritmo recorde em maio, de acordo com a leitura final do PMI da IHS Markit, que atingiu a leitura mais alta desde 1997. A pesquisa sugeriu que o crescimento teria sido ainda mais rápido não fossem os gargalos de abastecimento e o aumento nos custos de insumos. Na mesma linha, o PMI de serviços avançou para 55,2 no mês, com destaque para Espanha e Itália.
Enquanto isso, no Brasil
No Brasil, o principal destaque da semana foi a divulgação do PIB referente ao primeiro trimestre deste ano – que registrou crescimento de 1,2% em relação ao quarto trimestre de 2019 (1,0% a/a), em linha com nossa estimativa e acima do consenso de mercado.
Os resultados confirmaram a maior resiliência da economia doméstica no período recente, apesar do agravamento da pandemia em meados de fevereiro e da interrupção das medidas de estímulo do governo no final de 2020 (especialmente do auxílio emergencial). Entendemos que impacto do fim do estímulo fiscal (“abismo fiscal”) foi mitigado pelo aumento de poupança circunstancial e preventiva de famílias ao longo do ano passado, diante da elevada incerteza e as próprias restrições de mobilidade. Além disso, a forte alta dos preços internacionais das commodities e a melhor adaptação de empresas e famílias ao cenário pandêmico também podem ter contribuído para o bom desempenho do PIB.
Também tivemos a divulgação do resultado primário governo geral de abril, que reforçou o quadro positivo observado desde o início do ano, marcado por receitas robustas e despesas abaixo do patamar histórico. Diante também da finalização do imbróglio orçamentário, entendemos que o risco fiscal agudo arrefeceu-se no último mês – conforme detalhado aqui. Desta forma, revisamos as projeções para o déficit primário de 2021 para 2.3% do PIB (ante 3.2%) e da relação dívida bruta/PIB para 82.2% (antes 87%). Só o deflator do PIB deve reduzir a relação em 8.9 p.p., ante queda total de 6.6 p.p.
O quadro mais favorável em atividade e nas contas públicas também levou a uma revisão mais ampla de nosso cenário para a economia doméstica no ano. Projetamos agora o crescimento do PIB de 2021 em 5,2%, e a inflação anual medida pelo IPCA em 6,2%, após atingir 8,7% em agosto. A melhora da percepção de risco fiscal de curto prazo também elevou nossa projeção para a taxa de câmbio no final de 2021, de 5,3 para 5,1 reais por dólar. Nesse contexto, não acreditamos mais em um ajuste parcial das condições monetárias em 2021. Projetamos que a taxa Selic atingirá seu nível neutro de 6,5% até o final deste ano.
A semana também contou com dados de produção industrial de abril (PIM), que contraiu 1,3% no período, surpreendendo negativamente tanto nossa expectativa (-0,4%) quanto o consenso de mercado (-0,1%). Em nossa avaliação, o setor industrial retomará crescimento nos próximos meses, embora a um ritmo gradual. Por outro lado, problemas na cadeia de suprimentos da indústria (novamente, destaque para o setor automotivo) permanecem como principal risco a ser monitorado nos próximos meses.
Finalmente, foi destaque também longo da semana o risco de racionamento de energia e água, causado pela pior temporada de chuvas em 91 anos. A maioria dos especialistas acredita que a oferta potencial hoje é suficiente para evitar um racionamento amplo, como ocorreu em 2001. Mesmo assim, racionamentos pontuais, em horários de pico, parecem possíveis. De qualquer forma, com a ativação das plantas térmicos, os custos com energia aumentarão nos próximos meses. O estabelecimento de bandeira tarifária “vermelha 2” para o consumidor em junho, anunciada no final da semana passada, aponta nesta direção.
Cenário Político Econômico
Nessa semana, o Congresso aprovou cinco projetos de lei que recompõem despesas obrigatórias e remanejam recursos do Orçamento de 2021, encerrando o impasse sobre a matéria que se arrastava desde sua aprovação, no final de março. Algumas demandas dos parlamentares, no entanto, continuam descobertas, e o governo consentiu com a derrubada de onze vetos – entre eles o que amplia o recebimento de cota dupla do auxílio emergencial de 2020 e o trecho do Orçamento que amplia recursos para policiais e bombeiros do DF.
Foram destaque também participações na CPI da Pandemia no Congresso, manifestações contra o Presidente Bolsonaro, e a decisão do Exército sobre a participação do ex-Ministro Eduardo Pazuello em ato político. Mais detalhes no material em XP Política.
O que esperar?
No cenário internacional, a semana contará com dados de inflação ao consumidor nos EUA (CPI) referentes a maio, além de reunião do Banco Central Europeu e inflação e dados do setor externo na China.
Já no Brasil, destaque para resultado referente à atividade de abril para o setor de varejo e serviços, além de dados de inflação com a divulgação do IPCA de maio.
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