Resumo
No cenário internacional, a semana foi marcada pelos índices de inflação ao consumidor nos Estados Unidos e na Europa. Na China, destaque para a desaceleração da atividade e a necessidade de injeção de liquidez com riscos advindos da crise da incorporadora Evergrande.
No Brasil, a questão orçamentária segue em pauta. Na semana, indicadores de atividade vieram mais positivos e autoridades deram declarações que ajudaram a ancorar expectativas sobre juros e inflação. Revisamos nosso cenário e projeções, em relatório que pode ser conferido aqui.
Para a semana que vem, as reuniões dos comitês de política monetária no Brasil e nos EUA ocupam o centro da pauta econômica. No que diz respeito a indicadores domésticos, destaque para a inflação, com o IPCA-15 e a prévia do IGP-M, ambos referentes a setembro.
Atualizações da Covid-19
Em nota técnica, o Ministério da Saúde revisou a recomendação de vacinação em adolescentes de 12 a 17 anos, passando a recomendar imunização apenas para adolescentes que tenham deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade. O Brasil começa agora a aplicar dose de reforço em idosos e pessoas imunossuprimidas.
A média móvel de óbitos apresentou alta em relação à semana passada, de 466 por dia para 581, enquanto o número de novos casos apresentou queda, de 18.343 para 15.731. Apesar da elevação pontual no número de óbitos, o país tem demonstrado claros sinais de avanço no combate ao coronavírus conforme avança na campanha de vacinação.
66,4% da população brasileira já estão vacinados com ao menos a primeira dose e 36,8% já tomaram 2 doses ou dose única da vacina. O Brasil se distancia do mundo em pesquisas realizadas sobre hesitação vacinal, apresentando resultados melhores.
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Cenário Internacional
Estados Unidos
O destaque da semana nos EUA foi a inflação ao consumidor (CPI), que apresentou queda expressiva (0,3% m/m) e se acomodou dentro das expectativas (consenso: 0,4; XP: 0,3%). Indicadores de atividade econômica de agosto também vieram mais positivos, exibindo recuperação após os receios gerados pela disseminação da variante Delta.
Inflação e mercado de trabalho são os principais temas acompanhados pelo Fed, que deve anunciar em breve o cronograma do tapering (redução das compras de ativos). Nossa expectativa é de que o FOMC (Comitê de Política Monetária do Fed) delineie o plano de tapering na reunião de novembro e inicie o processo em dezembro. Acreditamos que o banco central americano irá anunciar redução de US$ 15 bilhões por mês, implicando em um processo de retirada gradual de estímulos ao longo de oito meses. Continuamos pensando que a elevação de juros ocorrerá apenas em 2023, provavelmente durante o segundo trimestre do ano. Além disso, acreditamos que política monetária dos EUA encontrará neutralidade em 1,75-2,00%, e não em 2,50%, como o Fed espera atualmente.
No campo político, permanece o risco de atraso da agenda econômica do Presidente Joe Biden no Congresso por falta de acordo dentro do próprio Partido Democrata.
Europa
Na Zona do Euro, o índice de preços ao consumidor (CPI) de agosto ficou em 0,4%, o que representou elevação de 3,0% em 12 meses (ante 2,2% em julho), maior patamar desde 2011. No Reino Unido, por sua vez, o CPI em 12 meses saltou para 3,2% em agosto, ficando bem acima da meta do Banco da Inglaterra (BoE), de 2,0%. Os agentes de mercado irão monitorar de perto as próximas divulgações de dados de inflação nessas regiões, tendo em vista a surpresa altista recente.
China
Na Ásia, emerge como destaque o risco de crédito da incorporadora chinesa Evergrande, que pode contaminar os mercados globais uma vez que a empresa é emissora de dívidas que somam mais de USD 300 bilhões. Como reação, o Banco Popular da China (PBoC) injetou 90 bilhões de yuans (cerca de USD 13,9 bilhões) no mercado financeiro no curto prazo para conter os ânimos dos agentes.
Além disso, a economia da China tem demonstrado sinais de enfraquecimento após a imposição de medidas rigorosas pelo governo para conter um surto generalizado de Covid-19, que acabou por reduzir os gastos dos consumidores e viagens durante o pico das férias de verão, refletindo em números fracos em agosto. Vários economistas esperam que o PBoC corte a taxa de depósito compulsório para os bancos (mais uma vez) nos próximos meses, após redução surpreendente em julho.
O nível de atividade econômica chinesa tem forte relação com os preços das commodities, e durante esta semana os mercados reagiram significativamente. O preço internacional do minério de ferro apresentou quedas expressivas e atingiu o nível mais baixo deste ano, já que as restrições à produção na China e o caso Evergrande pesam sobre a demanda.
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Enquanto isso, no Brasil…
Brasil Macro Mensal
Nesta semana, publicamos nosso relatório Brasil Macro Mensal, destacando a deterioração das expectativas sobre a economia do Brasil, que pressiona a taxa Selic e reduz o crescimento no ano que vem. Neste cenário, elevamos nossas projeções de Selic, taxa de câmbio e inflação, e reduzimos a projeção de crescimento do PIB. Confira mais detalhes aqui.
Ambiente político e cenário econômico
No Brasil, os destaques seguem nas discussões orçamentárias. Possíveis soluções para o pagamento de ordens judiciais (precatórios) continuam em pauta. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, os representantes legais do governo sinalizaram ser mais favoráveis à retirada dos precatórios do teto de gastos, ao invés de postergar pagamentos como propõe a equipe econômica. A discussão é fundamental para abrir espaço no orçamento de 2022 e atender demandas políticas, como o aumento do programa Bolsa Família (instituição do Auxílio Brasil) e emendas parlamentares (parcela do orçamento público controlada pelos parlamentares).
Ademais, o projeto de lei que estende os benefícios de incentivos fiscais sobre a folha de pagamento a setores selecionados foi aprovado em comissão da Câmara dos Deputados. Se a lei for aprovada no Congresso, aumentará as despesas obrigatórias em R$ 6 bilhões no próximo ano, pressionando ainda mais o teto de gastos. A imprensa diz que o Presidente da República vetaria o projeto, mas ainda há incertezas em torno desta decisão.
Com o intuito de cobrir as despesas com o novo programa Bolsa Família (Auxílio Brasil) até o final deste ano, a Presidência soltou um decreto que eleva a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre as operações de crédito para pessoas físicas e jurídicas. Segundo o governo, a mudança vigorará entre a próxima segunda-feira (20/09) e 31 de dezembro, e permitirá arrecadação adicional de R$ 2,14 bilhões no período. A instituição do Auxílio Brasil acarretará acréscimo na despesa obrigatória de R$ 1,62 bilhão neste ano, também conforme nota do Ministério da Economia. Para 2022, por sua vez, a intenção é financiar o programa de transferências de renda com a tributação sobre lucros e dividendos, proposta que tramita no Senado e enfrenta muitas resistências. Soltamos hoje uma nota a respeito do tema, que pode ser acessada aqui.
Nesta semana, a fala de Roberto Campos Neto foi destaque e impactou expectativas de juros futuros e inflação. O presidente do BCB disse que elevará a taxa Selic até onde for preciso para promover o controle da inflação, mas que ‘não mudará o plano de voo da política monetária’. Boa parte do mercado interpretou a fala como uma reiteração do último Copom, que explicitamente defendeu aumento de 1 p.p. na taxa Selic na reunião da semana que vem. Nossa expectativa é de alta de 1 p.p. na próxima reunião e encerramento do ciclo de aperto monetário com a taxa básica de juros a 8,50% na primeira reunião de 2022 (em fevereiro).
Indicadores
IBC-Br
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,6% entre junho e julho, acima do consenso de mercado e da nossa estimativa (0,35% e 0,30%, respectivamente). Na comparação com julho de 2020, a proxy mensal do PIB cresceu 5,5% (consenso de mercado: 5,0%; projeção XP: 4,9%). O resultado é consistente com nossa projeção de crescimento do PIB de 0,8% no terceiro trimestre (ante o segundo trimestre) e 5,3% em 2021. Nossa estimativa atualizada para o crescimento do PIB em 2022 é de 1,3%.
Serviços
O setor de serviços continua em rota de recuperação. O IBGE publicou, nesta semana, a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), que mais uma vez exibiu resultados positivos para as atividades mais sensíveis à reabertura da economia e aumento da mobilidade nas ruas. Segundo a pesquisa, o faturamento real do setor de serviços cresceu 1,1% em julho, a quarta elevação mensal consecutiva (houve crescimento acumulado de quase 6% desde abril, mês em que as restrições sanitárias para combate ao contágio da Covid-19 começaram a ser flexibilizadas).
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O que esperar para a semana que vem?
O principal destaque da semana que vem no cenário internacional será a reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Além disso, haverá divulgação dos índices de gerentes de compras (PMI) nos países desenvolvidos, estoques de petróleo nos EUA e outras decisões de taxas básicas de juros, como na China e no Japão.
No Brasil, a atenção fica concentrada no anúncio da taxa Selic (reunião do Copom) na quarta-feira. O IPCA-15 e a prévia do IGP-M de setembro também serão divulgados. No campo político, esperamos ver a repercussão do anúncio de aumento do IOF tanto na tramitação do Auxílio Brasil quanto no TCU, que irá avaliar a medida enquanto solução para a questão fiscal gerada pelo aumento do valor do programa de transferências de renda.
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