- Nos dias 3 e 4 de agosto, ocorrerá a próxima reunião do Copom.
- Vemos dois cenários como mais prováveis: i) elevação de 100bps (cenário-base); e ii) elevação de 75bps. Em ambos, o tom hawkish (leia o glossário ao final), mais duro, seria mantido.
- Caso o cenário-base se concretize, esperamos perda de inclinação na curva de juros, favorecendo títulos de longo prazo para ganhos de capital.
- No cenário alternativo, esperamos que títulos longos passem a pagar prêmios mais elevados e que apresentem desvalorizaçao.
- A expectativa de Selic terminal para 2021 permanece em 6,75%, com duas altas de 100bps (agosto e setembro) e uma de 75bps em novembro.
Na próxima semana, nos dias 3 e 4 de agosto, ocorrerá a quinta reunião do Copom em 2021. Para a decisão, a grande maioria do mercado, incluindo os economistas da XP, aguarda um aumento de 100bps (1 ponto percentual), o que elevaria a Selic a 5,25%.
Existem ferramentas no mercado que precificam essas expectativas dos agentes. Como exemplo, no dia 29/07, as "apostas" nas Digitais de Copom se davam como segue:
Expectativa | Probabilidade |
---|---|
Elevação para 5,25% (+100bps) | ~75% |
Elevação para 5,0% (+75bps) | ~15% |
Ou seja, havia uma probabilidade, na visão do mercado, de cerca de 75% de que a Selic fosse elevada em 100bps na próxima reunião do Copom, em linha com nossas expectativas. No entanto, vale mencionar que a probabilidade de elevação em 100bps subiu de 37% no dia 22/07 para 60% no dia seguinte (23), apontando para incertezas recentes em relação ao resultado.
Além de precisarmos acompanhar qual será a decisão do Copom em relação à elevação da taxa Selic, é necessário nos atentarmos ao comunicado sobre os planos do BC para próximos passos da política monetária, que guiarão as expectativas para os juros nos próximos meses.
Com base nisso, o que o Copom dirá desta vez? Acreditamos que sejam dois os cenários mais prováveis:
Cenário 1 - +100bps
Elevação de 1 ponto percentual, para 5,25%, com comunicação de aceleração no ritmo de alta de juros. Sob este cenário, mantemos nossa visão de Selic terminal em 6,75% em 2021.
Em nossa visão, o "Cenário 1” levaria potencialmente a uma perda de inclinação na curva de juros, uma vez que as apostas para a decisão da próxima reunião, em setembro, se elevariam, em resposta ao tom de aceleração no ritmo de alta de juros em 2021. Acreditamos que isto signifique nova alta de 100bps na próxima reunião e, com isso, a necessidade de elevações maiores nos juros à frente seria reduzida, levando as expectativas para o longo prazo a cederem.
Quais ativos vão melhor neste cenário?
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: desvalorização
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: valorização
Em caso de concretização do "Cenário 1", os investimentos prefixados e indexados à inflação de prazos mais longos apresentariam valorização neste primeiro momento, com redução nas taxas dos títulos. Para quem já detém este tipo de ativo, poderia ser uma oportunidade de ganhos de capital.
Para o curto prazo, com a elevação esperada dos juros, os títulos se desvalorizariam. Para quem busca alocação em títulos de curto prazo com estes indexadores, poderia representar uma boa oportunidade, uma vez que passariam a pagar remunerações mais elevadas e preços mais baixos.
Enxergamos o cenário atual como positivo para alocação nos títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, uma vez que a expectativa para a taxa Selic é de elevação em qualquer um dos cenários apresentados.
Cenário 2 - +75 bps
Elevação da taxa Selic em 0,75 ponto percentual, para 5%. Em relação ao comunicado, seguiria a mesma linha da decisão anterior, hawkish, porém sem endurecimento do discurso, indicando que faria ajustes mais duros à frente em caso de necessidade.
Acreditamos que caso o "Cenário 2” se concretize, a curva de juros ganhará inclinação. Isso aconteceria porque as taxas de curto prazo se ajustariam à decisão realizada, reduzindo, uma vez que a maioria dos agentes atualmente espera ajuste mais forte do que 75bps. Além disso, enxergamos que uma comunicação mais branda do que a do cenário-base não traria alívio às preocupações em torno do risco fiscal, que teve piora na última semana, o que também elevaria as expectativas de juros mais longos.
Com esses ajustes de expectativa de curto prazo, para refletir juros que, na visão do mercado, seriam insuficientes para reduzir os riscos, atuais e futuros, percebidos no Brasil (como por exemplo a inflação), os juros de prazos mais longos passariam a incorporar esta necessidade de alta, se elevando. Ou seja, juros curtos caem e juros longos sobem, levando ao ganho de inclinação na curva de juros.
Vale comentar que, caso a decisão seja de elevação em 75bps, porém com comunicado mais duro, em linha com o "Cenário 1", esperamos que a reação do mercado seja também semelhante ao cenário-base, de perda de inclinação na curva. Ou seja, o comunicado é mais relevante do que a decisão em si neste momento.
Quais ativos vão melhor neste cenário?
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos curtos: valorização
Títulos prefixados e indexados à inflação de prazos longos: desvalorização
Em caso de concretização deste cenário, os títulos prefixados e indexados ao IPCA de prazos mais curtos apresentariam valorização, o que resultaria em possibilidade de ganhos de capital para quem já tivesse os títulos e decidisse vendê-los antes do vencimento, para capturar esta possível oportunidade.
Neste cenário, com a elevação dos prêmios (taxas) de longo prazo, os títulos de prazos mais longos se desvalorizariam no mercado secundário. Ou seja, quem buscasse por esses títulos a partir desse movimento, conseguiria rentabilidades mais interessantes para prazos mais longos, a preços mais baixos em relação ao período pré-Copom.
Para os títulos pós-fixados, que acompanham a taxa de juros, nossa visão não se altera neste cenário em relação ao "Cenário 1". A diferença é de que, em caso de elevações menores nas taxas de juros, os ativos apresentariam rentabilidades relativamente inferiores neste ano como reflexo da política monetária.
Exemplos de investimentos
Curto prazo (Pré e IPCA+): títulos com vencimento nos próximos 12 meses. No caso de títulos públicos, há as LTNs com vencimento em outubro de 2021, janeiro de 2022 e abril de 2022. Estes títulos são prefixados, porém não estão disponíveis no Tesouro Direto, necessitando, portanto, de um intermediário para a compra.
Longo Prazo (Pré e IPCA+): Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2031 e Tesouro IPCA+ 2026, que está em nossa carteira recomendada para o mês de junho.
Há também títulos bancários e de crédito privado atrelados ao IPCA ou prefixados e que podem apresentar comportamento semelhante aos citados para títulos públicos.
Pós-fixados: Tesouro Selic 2024, Tesouro Selic 2027, além de LFTs negociadas no mercado secundário. Vale notar, no entanto, que estes títulos podem sofrer oscilações. Para reduzir o risco de variações antes do vencimento, procure títulos de prazos mais curtos.
O que pode acontecer de diferente?
Tudo o que apresentamos aqui leva como base apenas a reunião do Copom dos dias 4 e 5 de agosto, sua decisão e posterior comunicado. No entanto, devemos ter em mente que, além de os cenários analisados serem apenas expectativas (ainda que com base em observações anteriores), outras forças agem no mercado diariamente que muitas vezes fogem do radar.
Como exemplo, podemos citar movimentos nos mercados externos que podem ter efeito sobre a percepção de risco local (como por exemplo aumento das taxas dos títulos soberanos norte-americanos, as Treasuries) ou até mesmo acontecimentos no cenário político-econômico nacional que podem exaltar ou acalmar os ânimos dos agentes para além do que for decidido na reunião, assim como piora na percepção do risco fiscal.
Tendo isso em mente, é importante sempre acompanhar as principais movimentações e análises de mercado para ajudar na melhor tomada de decisão, além de sempre considerar seu perfil de investidor(a) para melhor estratégia de composição de carteira.
Gostou? Tem alguma sugestão? Não deixe de avaliar e deixar seus comentários!
Glossário
Entendendo os termos sobre as condutas do Banco Central
Dovish: A origem vem da palavra dove, pomba em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central mais confiante de que o cenário de inflação não será um problema, e, portanto, pendente a adotar uma política monetária expansionista ou menos restritiva para estimular a economia.
Hawkish: A origem vem da palavra hawk, falcão em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central preocupada com os riscos inflacionários, e, portanto, pendente a adotar uma postura monetária mais dura, com subidas mais fortes na taxa de juros, ainda que isso possa prejudicar o emprego e a atividade no curto prazo.
Veja mais
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!