1. FOMC: Fed mantem taxa de juros americana inalterada - Banco central americano reitera postura de “esperar para ver”
2. Saúde: Pressão alta no setor - Setor é impactado por corte de repasses federais e possíveis atrasos de aprovações pelo FDA
3. AI na China: Notícias mistas para o setor - Taiwan impõe restrições contra empresas chinesas e Alibaba busca expandir suas operações de AI
4. Corporate Stablecoins: Um novo capítulo na digitalização de pagamentos - Senado americano aprova primeira legislação federal para stablecoins
5. Meta: Anúncios no Whatsapp - Meta busca expandir receita via publicidade

1. FOMC: Fed mantem taxa de juros americana inalterada
O Federal Reserve – Fed, banco central dos EUA – manteve a sua taxa básica de juros em 4,5% na reunião dessa semana e reforçou a postura atual de “esperar para ver”, dando poucas indicações de que irá promover alguma alteração na política monetária antes de sinais de piora material nos dados de inflação e atividade econômica.
A decisão do comitê (conhecido como FOMC) foi unânime, e em linha com as expectativas do mercado. Após a divulgação do comunicado, Jerome Powell, presidente do Fed, participou de uma coletiva de imprensa para dar mais detalhes sobre a decisão de política monetária, em tom que pode ser considerado levemente hawkish (mais duro). Powell reiterou que o comitê considera a taxa dos Fed Funds “apropriada” para o momento atual da economia americana, sem a necessidade de ajustes imediatos. Powell absteve-se de comentar sobre críticas de Donald Trump sobre a atuação do Fed.
A queda na confiança e expectativas (referidos comumente como soft data) ocorrida imediatamente após o Liberation Day já se aparece suavizada nos dados mais recentes, e não se traduziu em piora material de dados de atividade, emprego e inflação (hard data), que seguem resilientes com impulso proveniente do consumo e efeito da antecipação da formação de estoques ao longo do primeiro trimestre. Nesse cenário de continuada incerteza sobre o rumo da política econômica do governo e efeito das tarifas ao longo dos próximos meses, a autoridade monetária não parece querer se adiantar na tomada de decisões. O destaque dessa reunião, no entanto, foi a divulgação do SEP (summary of economic projections), compilado de projeções econômicas do comitê de política monetária: para 2025, a quantidade de cortes permaneceu inalterada, mas foi reduzida para 2026 e 2027. Ainda para 2025, a projeção de inflação foi revisada pra cima em 2025 (de 2,7% pra 3%) e a expectativa de crescimento do PIB foi reduzida (de 1,7% pra 1,4%).

A reação do mercado imediatamente após a decisão e conferência foi pouco expressiva: em um primeiro momento, a reação foi positiva refletindo a manutenção da expectativa de dois cortes de 25 bps até o final de 2025 no SEP, porém falar mais duras de Powell reverteram esse movimento. Os juros das Treasuries de 2 e 10 anos encerraram a semana em queda de -5 bps.

2. Saúde: Pressão alta no setor
Nos Estados Unidos, o setor de saúde enfrenta pressões que são tanto estruturais quanto governamentais. Na semana, o setor apresentou uma performance inferior ao índice de referência do mercado americano durante a semana (ETF XLV caiu -2,6%, enquanto o S&P 500 apresentou queda de -0,2%), pressionado pelo contexto de cortes orçamentários, revisão e atrasos na regulação e queda na demanda. A narrativa dominante permanece centrada na incerteza quanto aos rumos fiscais dos EUA e na lentidão de aprovações da FDA (Food and Drugs Administraton, regulador), criando um ambiente difícil para companhias do setor, especialmente aquelas com pipelines dependentes de decisões públicas ou contratos acadêmicos.
Diante da necessidade de promover ajuste fiscal, o setor foi fortemente impactado por corte de repasses federais para pesquisas em saúde, que caíram para o menor nível em dez anos. Universidades têm usado seus próprios recursos para manter projetos, mas já enfrentam dificuldades. Uma decisão judicial recente considerou ilegais os bloqueios de verbas, o que pode aliviar parte da pressão, embora o cenário ainda seja incerto. Empresas como Thermo Fisher, 10x Genomics e Illumina já apontaram desaceleração nas pesquisas acadêmicas e revisaram suas projeções em cenário de maior cautela, embora sem implicar diretamente causalidade. A preocupação é que esses cortes prejudiquem tanto a inovação quanto o avanço da ciência básica.
Também chamou atenção o atraso da FDA na aprovação de um novo remédio da KalVista, por falta de equipe e excesso de trabalho. Apesar de prometer cumprir os prazos de aprovação ao longo do ano, o episódio gerou receio de novos atrasos, especialmente após os cortes de pessoal na agência. Enquanto isso, as grandes farmacêuticas seguem investindo em vacinas e tratamentos com maior potencial de receita. O cenário atual, marcado por restrições orçamentárias e lentidão regulatória, pode representar um desafio importante para o setor no segundo semestre, principalmente para empresas menores e com pesquisas em estágio inicial. Além disso, RFK Jr, que está à frente do departamento de Saúde e Serviços Humanos americano, já sinalizou que pretende reformar completamente o comitê responsável pela aprovação de vacinas, aumentando a incerteza regulatória no setor.
Mantemos nossa perspectiva negativa para o setor de saúde nos EUA, apoiada nos grandes riscos regulatórios e tarifários para o setor. Imposições governamentais de diminuição de preços de medicamentos nos EUA podem gerar forte contração de margem das companhias, prejudicando o crescimento robusto que têm apresentado e correndo o risco de uma contração de múltiplos no curto prazo.

3. AI na China: Notícias mistas para o setor
O cenário da inteligência artificial na China ganhou novos capítulos relevantes nesta semana, com obstáculos externos e avanços estratégicos internos. De um lado, a pressão geopolítica voltou a escalar, com restrições de exportação da parte de Taiwan às chinesas Huawei e SMIC, empresas-chave no esforço do país em desenvolver chips de AI. Do outro, a Alibaba intensificou sua ofensiva internacional, mesmo diante de um ambiente regulatório e diplomático desafiador.
No centro das tensões, Taiwan anunciou a inclusão de Huawei e SMIC em sua lista de entidades restritas, medida que limita o acesso das duas empresas a tecnologias essenciais para construção de fábricas de chips de AI. A decisão, motivada por preocupações de segurança nacional, atinge duramente os planos chineses de avançar rumo à independência tecnológica, em especial após o lançamento do chip de 7 nanômetros desenvolvido internamente no ano passado. A medida representa também mais um episódio do crescente atrito entre Taipei e Pequim, em um momento em que a relação bilateral se deteriora rapidamente.
Na ponta oposta, a chinesa Alibaba tem buscado expandir suas operações de AI em mercados internacionais. A empresa anunciou a abertura de um segundo data center na Coreia do Sul, fortalecendo sua infraestrutura regional. Além disso, lançou novos modelos de linguagem Qwen3 adaptados à arquitetura MLX da Apple, ampliando sua presença global. Outra frente foi a parceria com a sueca Bambuser, levando soluções de live video shopping ao mercado chinês por meio da Alibaba Cloud. A ofensiva reafirma o papel da empresa como vetor central da estratégia chinesa de escalar AI com foco em nuvem, consumo e autonomia tecnológica.
Por fim, após as notícias, o ETF de empresas de tecnologia chinesas (Ticker: KWEB) teve queda de -2,1%, devido principalmente às restrições impostas por Taiwan, e Alibaba encerrou a semana próxima da estabilidade, com alta de apenas +0,1%.

4. Corporate Stablecoins: Um novo capítulo na digitalização de pagamentos
A emissão de stablecoins por empresas entrou de vez no radar de investidores e reguladores, e reacendeu o debate sobre o papel das Big Techs e do varejo na nova era dos pagamentos digitais. Diferentemente de moedas digitais de bancos centrais, esses tokens são emitidos por companhias privadas e tem seu valor atrelado ao dólar, resolvendo a dificuldade enfrentada por criptomoedas em serem amplamente aceitas como meio de pagamento devido à sua volatilidade elevada. O movimento tem como objetivo reduzir custos com elevadas taxas de processamento (especialmente para cartões), acelerar pagamentos e, sobretudo, construir novas infraestruturas fora das redes tradicionais.
Na última semana, um artigo do WSJ revelou que gigantes como Amazon e Walmart vêm discutindo internamente a possibilidade de lançar suas próprias stablecoins nos EUA. A notícia impulsionou ações de empresas de cripto e provocou forte reação negativa nos papéis das operadoras de cartão, com Visa e Mastercard caindo mais de 4% na sexta-feira. Uber, Apple e Airbnb também estariam explorando soluções similares, indicando que o movimento pode ganhar escala diante de aumento de clareza regulatória.
Este momento pode estar próximo: o Senado americano aprovou na terça-feira (17/06) o GENIUS Act, primeira legislação federal para stablecoins. O texto estabelece exigências como 100% de lastro em ativos líquidos, auditorias mensais e regras contra lavagem de dinheiro. Ainda que a tramitação na Câmara deva levar tempo, a aprovação no Senado representa um divisor de águas, abrindo espaço para o reconhecimento legal do uso de stablecoins por bancos, fintechs e, agora, empresas de varejo e tecnologia, o que deve acelerar o desenvolvimento de novas soluções.
Buscando não ficar para trás nesse movimento de revolução no sistema de pagamentos, os grandes bancos americanos já começaram a reagir. O JPMorgan lançou o JPMD, um token que funciona de forma semelhante a uma stablecoin, mas ancorado à infraestrutura bancária tradicional. O Deutsche Bank e o Santander também estudam emissões próprias. A corrida pelos pagamentos instantâneos e pelas receitas associadas à tokenização se intensifica, e a Meta, que lançou o Novi e recuou, agora observa de fora. Como ponto de semelhança, todos os movimentos reforçam a tese de que a disputa pelo futuro do sistema financeiro já começou.
Por fim, vale destacar que a pauta de desregulação do setor financeiro voltou a ganhar força com o avanço da agenda republicana. A combinação do corte de exigências regulatórias para bancos tradicionais e a definição de um marco legal para criptomoedas é a materialização das expectativas de um “Trump trade” que pode beneficiar o setor. Com isso, mantemos uma perspectiva positiva, especialmente para grandes bancos, que devem se beneficiar tanto da nova infraestrutura de pagamentos quanto de possíveis flexibilizações regulatórias. Dessa forma, o ETF do setor financeiro (Ticker: XLF) apresentou alta de +0,8% na semana, em comparação com o índice S&P 500 que teve performance negativa de -0,2%.

5. Meta: Anúncios no Whatsapp
Após anos de especulação, a Meta anunciou oficialmente a chegada de anúncios ao WhatsApp, marcando uma mudança significativa no aplicativo que até então era livre de publicidade. Os anúncios aparecerão apenas na aba “Atualizações”, separando o conteúdo promocional das conversas privadas. A medida, apresentada durante o evento Cannes Lions, reforça a ambição de Mark Zuckerberg de transformar o WhatsApp em um novo pilar de receita para a companhia, e acontece mais de uma década após a aquisição do app por US$ 19 bilhões em 2014.
Com mais de 3 bilhões de usuários mensais no mundo e cerca de 1,5 bilhão acessando a aba “Atualizações” diariamente, o WhatsApp representa uma enorme oportunidade de monetização para a Meta. Atualmente, anúncios que direcionam usuários para conversas com empresas no app já geram receita, potencial que é agora ampliado com anúncios internos. Dado o sucesso publicitário de Facebook e Instagram, a expectativa é que o WhatsApp contribua para consolidar ainda mais a liderança da Meta em publicidade digital.
Apesar da novidade, a empresa afirma que a privacidade dos usuários será preservada: as mensagens, chamadas e grupos seguirão criptografados de ponta a ponta. Os anúncios não serão personalizados com base nas conversas, mas sim em informações básicas como localização, idioma e interação com canais. Essa separação foi pensada para evitar restrições legais e manter a proposta original de segurança e simplicidade que sempre guiou o aplicativo.
O movimento ocorre em um momento de pressão crescente por novas fontes de receita. Com a maior parte do faturamento da Meta ainda vindo de publicidade (US$ 160 bilhões em 2025), a monetização do WhatsApp é vista como uma nova fronteira. Além disso, a empresa começa a testar modelos de assinatura para canais e segue reforçando sua posição em defesa da criptografia, mirando um equilíbrio entre rentabilidade e confiança do usuário.
Apesar das notícias positivas, que possivelmente levarão à Meta (Ticker: META) um aumento de receita nos próximos trimestre, as ações da companhia encerraram a semana estável, acima do S&P 500 (Ticker: SPY), que apresentou queda de -0,2%.


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