1. Economia Americana: Inflação segue preocupando? - Após acordo preliminar, tarifas entre EUA e China voltam para nível do Liberation Day
2. Qualcomm: Aposta bilionária em infraestrutura de AI - Empresa anuncia compra da Alphawave com prêmio de 96%
3. WWDC: Apple mais uma vez inova no design e decepciona em AI - Entre os principais destaques estão reformulação da Siri, parceria com OpenAI e liquid glass
4. Warner Bros. Discovery: As partes valem mais que o todo - Companhia por trás da HBO anuncia cisão
5. Oracle: Ações e capex nas nuvens - Após bater expectativas, empresa anuncia guidance e investimentos altos

1. Economia Americana: Inflação segue preocupando?
Novamente, a semana foi marcada por especulações sobre tarifas, diante das expectativas ao redor das negociações entre Estados Unidos e China: conversas ocorridas em Londres após de um período de aparente estagnação provocaram otimismo nos mercados no início da semana, até que Donald Trump anunciou que o acordo preliminar para retomar a trégua tarifária firmada em maio prevê tarifas de 55% dos EUA sobre produtos chineses (uma volta ao nível do Liberation Day), enquanto a China mantém tarifas de 10% em resposta. As contrapartidas incluem a retomada das exportações de terras raras da China para os EUA, assim como a permissão para que estudantes chineses permaneçam nas universidades americanas. Apesar do acordo preliminar marcar uma desescalada nas tensões entre os países o tom otimista, detalhes seguem nebulosos, e a alta no nível de tarifas é danosa para o comércio, além de representar risco para a inflação americana. Trump ainda indicou estar aberto à extensão da pausa global para as tarifas “recíprocas” que excedem 10%.

Apesar das pressões tarifárias e das incertezas em torno da política comercial, os dados econômicos recentes sugerem que a inflação nos EUA segue sob controle: o índice de preços ao consumidor (CPI) veio abaixo das expectativas e avançou apenas 0,1% m/m em maio, acelerando marginalmente de 2,3% para 2,4% a/a. Já o PPI, que mede os preços ao produtor, teve comportamento semelhante, com alta de 0,1% m/m. Adicionalmente, o índice de sentimento e as expectativas de inflação da Universidade de Michigan apresentaram melhora sensível, porém partindo de uma base ruim e ainda pinta um quadro de preocupação quanto aos impactos da política econômica.
Ao final da semana, a escalada nas tensões entre Israel e Irã assumiram protagonismo na narrativa dos mercados, provocando disparada no preço do petróleo (o Brent chegou a subir 10%). A perspectiva de um novo choque energético como o de 2022, no entanto, parece controlada diante da capacidade ociosa da OPEP (cerca de 6 milhões de barris por dia), que funciona como âncora importante.
A curva de juros fechou diante dos acontecimentos da semana: a taxa das Treasuries de 2 e 10 anos subindo -9 bps e -10 bps, respectivamente. O mercado segue esperando cerca de dois cortes de 25 bps na taxa dos Fed Funds até o final de 2025, porém nenhum para a reunião da próxima semana.

2. Qualcomm: Aposta bilionária em infraestrutura de AI
A Qualcomm (Ticker: QCOM) anunciou a aquisição da britânica Alphawave (Ticker: AWE) por US$ 2,4 bilhões, em um movimento estratégico para reforçar sua atuação no mercado de data centers com foco em inteligência artificial. A oferta, feita em dinheiro, corresponde a um prêmio de 96% em relação ao preço das ações da Alphawave no fim de março, e foi acompanhada por duas propostas alternativas de troca de ações. A transação, prevista para ser concluída no primeiro trimestre de 2026, marca mais uma baixa importante para a Bolsa de Londres (ticker: LSEG), que segue perdendo empresas que preferem ser listadas nas bolsas americanas.
Fundada no Canadá e listada em Londres em 2011, a Alphawave vinha enfrentando dificuldades no mercado, com valuation deprimido e incertezas regulatórias, inclusive relacionadas às tarifas do governo Trump. A companhia é especializada em tecnologias de conectividade de alta velocidade para data centers, redes 5G e veículos autônomos. A transação representa menos da metade do valor de mercado atingido pela Alphawave em seu IPO, e ocorre após a empresa encerrar sua participação na joint venture WiseWave, na China, ponto visto como positivo para facilitar a aprovação regulatória.
Para a Qualcomm, o negócio é mais um passo em direção à diversificação de receitas, reduzindo sua dependência do mercado de smartphones e acelerando sua inserção na corrida por infraestrutura de IA. A companhia tem buscado ampliar sua presença em PCs e servidores, especialmente após a Apple substituir seus chips em iPhones por soluções internas. Segundo o CEO da Qualcomm, o brasileiro Cristiano Amon, a aquisição adiciona tecnologias complementares à arquitetura da empresa, fortalecendo o portfólio em áreas de alto crescimento.A resposta do mercado foi bem positiva: ao longo da semana, as ações da Qualcomm subiram +3,7% e as da Alphawave dispararam mais de +19,9% com o anúncio. A recomendação unânime do conselho da Alphawave aos acionistas para aceitar a proposta sugere uma transação sem grandes obstáculos. Para a Qualcomm, trata-se de uma aposta calculada em avanços no segmento de inteligência artificial.

3. WWDC: Apple mais uma vez inova no design e decepciona em AI
A Apple realizou nesta semana sua aguardada conferência anual de desenvolvedores, a WWDC 2025, marcando o início oficial da sua estratégia de AI generativa, batizada “Apple Intelligence”, com demos ao vivo e a confirmação da implementação inicial nos EUA. Após a apresentação da Apple Intelligence no ano passado, o evento foi considerado um marco porque, pela primeira vez, a empresa apresentou um pacote coeso de recursos nativos da AI integrados diretamente aos sistemas operacionais (incluindo iOS 18, iPadOS e macOS Sequoia). Embora o foco inicial esteja nos sistemas atuais, a companhia já sinalizou que futuras atualizações, como o esperado iOS 26, devem ampliar ainda mais essa integração.
A companhia apresentou três principais novidades:
- Reformulação da assistente virtual Siri: A assistente virtual ganhará nova interface, maior capacidade de processamento de linguagem natural e será integrada com ferramentas de AI generativa. Com isso, a Siri poderá executar ações mais complexas dentro dos aplicativos nativos, respondendo comandos contextuais como “encontre o arquivo que o João me mandou na semana passada” ou “resuma este e-mail”. A novidade é um passo na tentativa da Apple de reduzir sua defasagem diante de concorrentes como Google e Microsoft nesse campo, mas ainda foi avaliada como pouco satisfatória para o mercado.
- Parceria com a OpenAI: Permitirá aos usuários utilizarem o ChatGPT diretamente nos dispositivos Apple, sem necessidade de criação de conta. O acesso será gratuito, com opção de login para quem já assina o plano Plus do ChatGPT. A integração será usada como uma espécie de “fallback”, ou seja, a Siri tentará resolver os pedidos internamente e, caso necessário, recorrerá ao ChatGPT. O movimento mostra que a Apple está adotando uma postura pragmática em se aliar a players consolidados enquanto prepara sua própria tecnologia, buscando não aprofundar sua desvantagem competitiva em relação aos outros competidores;
Apresentação do novo design do iPhone com “liquid glass” (vidro líquido): A tecnologia promete maior resistência e acabamento mais uniforme, com bordas ultrafinas e transição visual contínua entre o vidro e a estrutura metálica. Ainda que o foco tenha sido o software, a Apple utilizou a novidade estética para reforçar sua estratégia de diferenciação de produto, algo relevante no contexto de um clico de upgrade mais lendo e competição crescente.
Apesar de ainda correr atrás das concorrentes no campo da inteligência artificial, entendemos que a Apple adota cautela deliberada ao priorizar a qualidade e estabilidade dos produtos em detrimento de uma adoção acelerada, e aposta que sua base de usuários prefere seguir com os produtos da companhia, mesmo que com menos recursos de AI, a migrar para um sistema operacional ao qual não estão habituados. A companhia evita lançamentos apressados e insiste em testes em escala antes de incorporar novas tecnologias ao seu ecossistema. Essa abordagem pode ter suas vantagens quando tratamos de reputação da marca, porém representam um risco para o nível de preços das ações, uma vez que o mercado espera avanços mais robustos no tema. Como resultado, as ações da Apple recuaram 3,7% na semana, refletindo o ceticismo dos investidores diante do ritmo mais lento em comparação a rivais como Google e Microsoft.

4. Warner Bros. Discovery: As partes valem mais que o todo
No início da semana, a Warner Bros. Discovery (Ticker: WBD) anunciou a cisão da companhia, fazendo com que as ações chegassem a subir +12% no dia, embora tenham devolvido os ganhos e terminando a semana com alta mais moderada, de +2,1%. Durante a divulgação de resultados do 1T25, a companhia já havia indicado essa possibilidade, e o mercado se antecipou provocando alta nas ações, ou seja, parte do benefício da cisão já havia sido precificado.
Da separação, que deve ser completada em meados de 2026, surgirão duas empresas a partir dos segmentos já existentes:
- Streaming & Studios: companhia que irá abarcar Warner Bros. Television, Warner Bros. Motion Picture Group, DC Studios, HBO, o streaming HBO Max, assim como o catálogo dessas marcas, e manterá David Zaslav como CEO;
- Global Networks: incluirá redes de entretenimento, esportes e notícias ao redor do mundo, incluindo marcas como CNN, TNT Sports e Discovery, assim como os serviços digitais Discovery+ (streaming) e Bleacher Report (B/R), e terá Gunnar Wiedenfels (atual CFO da WBD) como CEO.
Em maio, a WBD foi destaque de performance na carteira Top Ações Globais XP, ao apresentar alta de +18,3% diante da expectativa da cisão, mesmo reportando surpresas negativas nos resultados do 1T25. Com isso, reduzimos nossa posição na companhia, embolsando parte do lucro de 34% que a ação, que integra a carteira desde seu início, acumula desde junho de 2024.

5. Oracle: Ações e capex nas nuvens
Após divulgação de resultados, as ações da Oracle subiram mais de 13%, atingindo nova máxima histórica, após a companhia sinalizar um crescimento mais forte para os próximos anos. A receita trimestral foi de US$ 15,9 bilhões, superando o consenso de US$ 15,59 bilhões em 2,0%, com lucro por ação de US$ 1,70, superando as estimativas em 3,4%. Porém, o que realmente chamou atenção foi o guidance: a CEO Safra Catz afirmou que a receita da companhia deve chegar a US$ 67 bilhões em 2026, representando crescimento de 16% A/A, impulsionada principalmente pela demanda por soluções em nuvem voltadas à inteligência artificial.

O segmento de infraestrutura na nuvem, cuja receita cresceu 52% no trimestre, deve acelerar para mais de 70% no próximo ano fiscal. Essa divisão tem sido o motor da nova fase de crescimento da Oracle, alimentada por contratos com players como Temu, G42 e Cleveland Clinic. A empresa também é uma das parceiras do projeto Stargate da OpenAI, mesmo sem desenvolver seus próprios modelos de AI. Para dar suporte a esse crescimento, os investimentos em data centers serão substanciais: o capex deve ultrapassar US$ 25 bilhões no novo exercício, mais que triplicando o nível de dois anos atrás.
O backlog da companhia também surpreendeu: o total de obrigações de performance remanescentes (métrica que mede quanto de receita uma companhia deve obter a partir de contratos existentes) subiu 41% e deve dobrar em 2026, de acordo com a própria Oracle. Esse nível de crescimento já supera, em termos absolutos, a expectativa para nomes como Microsoft. Apesar das preocupações com margens pressionadas por maiores investimentos, o mercado tem dado um voto de confiança à tese de crescimento. A companhia negocia ao redor de 25-26x preço/lucro, nível de valuation em linha com sua média histórica, a Oracle se destaca como uma aposta sólida no ecossistema de AI corporativa, menos exposta às tensões geopolíticas e bem posicionada no segmento de dados empresariais.

Principais eventos da semana
Todas as atenções na próxima semana se voltam para a decisão de política monetária nos EUA, na quarta-feira (18): além do comunicado do FOMC e da coletiva de imprensa do presidente do Fed, Jerome Powell, nessa reunião será divulgado o Summary of Economic Projections (SEP), que deve fornecer pistas adicionais sobre as expectativas dos dirigentes do banco central sobre os rumos da economia americana. O mercado não espera um ajuste na taxa dos Fed Funds nessa reunião. Adicionalmente, na terça-feira (17) serão divulgados os índices de preços de importação, produção industrial, estoques e o índice de confiança nas construtoras, dados particularmente importantes no contexto da política comercial agressiva, de tarifas elevadas. Em paralelo, o BOJ deve manter sua taxa de juros inalterada, mas com possível menção à alta dos juros longos. Na frente corporativa, os balanços da Lennar (segunda), Jabil (terça) e Accenture, Darden, Kroger e CarMax (sexta) ajudarão a medir o pulso de setores chave como construção, tecnologia e varejo alimentar.

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