1. Economia Americana: Dados de emprego, fiscal e payroll - Notícias sobre tarifas têm caráter misto, enquanto números de emprego reforçam sinais de enfraquecimento
2. Musk x Trump: Comportamento das ações da Tesla é efeito colateral - Após discussão entre ex-aliados, ações da Tesla caem mais de 14%
3. Fechamento da temporada de resultados: Beat & Lower - Lucros surpreendem positivamente, mas guidances acionam sinal de alerta
4. Wells Fargo: Limite de ativos retirado - Decisão permite que a instituição volte a entrar em um caminho de expansão, semana é de notícias positivas para o Setor Financeiro
5. Constellation Energy: Meta fecha acordo com a companhia - Energia nuclear como alternativa para suprir demanda energética da nova era da AI

1. Economia americana: dados de emprego, fiscal e tarifas
Por mais uma semana, o comportamento dos mercados foi fortemente influenciado pela retórica de tarifas. No início da semana, o mercado foi dominado pela narrativa do TACO (Trump Always Chickens Out, ou em tradução livre, Trump sempre dá para trás), baseada no padrão de comportamento do presidente americano em relação à implementação de sua política comercial. O acrônimo, cunhado por Robert Armstrong, colunista do Financial Times, ganhou notoriedade após ser mencionado em coletiva de imprensa e deu origem ao termo “TACO Trade”, que seria um movimento de reversão à média dos mercados após volatilidade provocada por anúncios do presidente americano.
As notícias relacionadas a tarifas foram mistas: Trump assinou nova ordem executiva dobrando as tarifas sobre as importações de aço e alumínio, de 25% para 50%, que passaram a valer a partir da quarta-feira (4). A medida foi justificada como necessária para preservar a indústria siderúrgica dos Estados Unidos. Já a relação com a China teve sinais de avanços: Trump e o presidente chinês Xi Jinping realizaram uma ligação considerada “positiva”, com o compromisso mútuo de retomar, nos próximos dias, as negociações comerciais e tarifárias, o que trouxe certo alívio para os mercados e aumento do apetite a risco.
O mercado de trabalho foi o principal destaque da semana o campo dos dados econômicos. O relatório da ADP apontou a criação de apenas 37 mil vagas no setor privado, resultado muito abaixo da expectativa de 111 mil e o pior desde março de 2023. Já o payroll superou o consenso ao registrar 139 mil novos postos de trabalho, mas com revisões negativas que retiraram 95 mil vagas dos meses anteriores. A taxa de desemprego se manteve em 4,2%, sugerindo uma moderação gradual no mercado de trabalho. Os números reforçam os sinais de enfraquecimento na dinâmica de contratações no setor privado, em linha com os recentes anúncios de cortes em grandes empresas, como Disney e Microsoft, mas ainda não sugerem necessidade de ajuste tempestivo na taxa dos Fed Funds por parte do Federal Reserve.
Trazendo sinais sobre a saúde do consumidor americano, os resultados das varejistas de desconto, ou Dollar Stores, (Dollar General, Dollar Tree e Five Below) deram sinais de que segue em curso a tendência de trade down, que se refere ao movimento de escolha de alternativas de mais acessíveis. Os números dessas companhias vieram acima das expectativas e contrastaram com os de outras grandes varejistas, como Walmart e Target, que sinalizaram que os repasses de preços ao consumidor podem começar a se intensificar já no fim de abril.

2. Musk x Trump: Comportamento das ações da Tesla é efeito colateral
A relação entre Donald Trump e Elon Musk se deteriorou publicamente nesta semana, após o CEO da Tesla e homem mais rico do mundo criticar duramente a “One Big Beautiful Bill”, projeto de lei orçamentária do presidente. A troca de farpas tomou conta das redes sociais, com Trump se dizendo decepcionado e Musk acusando o ex-aliado de ingratidão. O embate escancarou o rompimento da aliança que se consolidou ao longo da campanha eleitoral de 2024, gerando repercussões políticas e afetando diretamente os mercados.

A One Big Beautiful Bill (nome oficial do projeto de lei aprovado na Câmara) inclui a renovação dos cortes de impostos de 2017, compensada em parte por corte de gastos e em parte pela arrecadação ligada às tarifas. Essa parcela da compensação, porém, está em risco diante da judicialização da validade das tarifas recíprocas.
Desde a eleição de Donald Trump, as ações da Tesla se valorizaram significativamente, impulsionadas pela expectativa de que a proximidade entre Musk e o presidente fosse ser benéfica para a companhia, diante de promessas de desregulação e incentivos à produção doméstica. No entanto, com o rompimento público entre os dois, a escalada tarifária e o adiamento de medidas que beneficiariam a empresa, a Tesla perdeu sua vantagem competitiva. Na quinta-feira, os papéis da companhia caíram -14,3%, maior queda diária de sua história, o que correspondeu a uma perda de mais de US$ 150 bilhões em valor de mercado.
Elon Musk havia deixado recentemente seu cargo à frente do DOGE após onda de críticas para se dedicar integralmente à Tesla, onde segue como CEO. No entanto, os desdobramentos da crise com Trump indicam que o desafio será ainda maior. A empresa já enfrenta dificuldades operacionais na Europa e lida com o impacto negativo do recall dos Cybertrucks e tarifas, o que pressiona ainda mais sua recuperação.
Além disso, planos pessoais de Musk, como o IPO da Starlink, podem ser afetados. A Tesla também corre o risco de perder subsídios e créditos fiscais dos quais ainda depende, sobretudo após declarações do próprio Musk minimizando sua importância. Apesar das ambições de reposicionar a companhia como uma líder em inteligência artificial, a Tesla segue fortemente dependente da venda de veículos elétricos, e essa transição parece agora mais distante.

3. Fechamento da temporada de resultados: Beat & Lower
A temporada de resultados do 1º trimestre de 2025 foi forte, com surpresa positiva no lucro por ação (LPA) provocada pelas expectativas baixas e consumo ainda resiliente, porém influenciado por antecipação do efeito negativo da política comercial de Trump.
No início da temporada, o mercado estimava que o LPA do S&P 500 seria de US$ 59,90 para o 1º trimestre de 2025. Conforme as empresas foram reportando seus resultados, os números reais foram substituindo as estimativas e o LPA do trimestre encerrou em US$ 63,29 – 5,7% acima.
Assim como na última temporada, e como antecipamos em nossa prévia, o alto grau de incerteza provocou uma revisão baixista nas estimativas para o 2T25, para o qual agora se espera LPA de US$ 62,56; -3,9% abaixo do estimado no início da temporada do 1T25 (US$ 65,12). Atribuímos esse efeito a guidances mais conservadores, gerados pela dificuldade das empresas de projetar cenários para os próximos trimestre.

Nesse cenário, identificamos os três melhores e três piores setores do S&P 500 em termos de perspectivas pós resultados: na ponta positiva temos o setor financeiro (ETF XLF), de utilidades públicas (XLU) e tecnologia (XLK); e na negativa temos os setores de saúde (XLV), materiais básicos (XLB) e bens de consumo (XLP).

Para entender melhor sobre nossas perspectivas e como foi a temporada de resultados do 1T25, acesse:
4. Wells Fargo: Limite de ativos retirado
Após sete anos de restrições, o Federal Reserve retirou o limite de ativos imposto ao Wells Fargo, marcando uma vitória significativa para o CEO Charlie Scharf. A medida, que impedia o banco de exceder US$ 2 trilhões em ativos, foi removida após o Fed concluir que o Wells Fargo atendeu a todas as exigências do acordo de 2018. A decisão destrava o caminho para que a instituição volte a entrar em um caminho de expansão de sua atuação, adotando agora planos de crescimento deliberado e aumento da rentabilidade. A notícia gerou uma forte reação inicial no mercado, com as ações saltando mais de 10% no pós-mercado, embora tenham encerrado o pregão seguinte em alta mais modesta.
O teto de ativos foi a resposta mais dura já aplicada a um grande banco americano, fruto de uma série de escândalos envolvendo contas falsas, práticas abusivas e falhas segurança. Imposto em fevereiro de 2018, o limite congelou o tamanho do Wells Fargo até que melhorias substanciais fossem feitas em sua estrutura de gestão de riscos e supervisão do conselho. A punição acabou custando cerca de US$ 39 bilhões em lucros potenciais perdidos, segundo estimativas da Bloomberg. Desde então, o banco passou por uma transformação significativa, incluindo venda de diversos ativos, redução de operações e a entrada de uma nova equipe executiva sob o comando de Scharf.
O Fed destacou que a remoção do teto se deu após extensas avaliações internas e externas, reconhecendo avanços substanciais na governança corporativa e nos controles internos do banco. A decisão pode sinalizar um ambiente regulatório mais construtivo para o setor financeiro, especialmente sob a nova direção do comitê de supervisão e regulação do Fed (que agora fica sob o comando de Michelle Bowman) e cenário político atual. Outros bancos com histórico regulatório problemático podem enxergar o caso como um precedente de que há um caminho de saída.
Em seu primeiro discurso à frente da diretoria de regulação do Fed, Bowman apresentou um conjunto abrangente de reformas destinadas a flexibilizar a supervisão bancária e os requerimentos de capital, em postura mais tempestiva que o mercado antecipava. As regulações do setor foram consideravelmente endurecidas pelo Dodd-Franck Act de 2010, em resposta à crise de 2008.
Com isso, mantemos nossa perspectiva positiva para o setor financeiro, que tem se mostrado resiliente em períodos de alta incerteza e volatilidade, além da possível continuidade de desregulações no setor. Ao final da semana, as ações do Wells Fargo (Ticker: WFC) subiram +2,1%, enquanto o setor financeiro avançou +0,6%, acumulando alta de +6,1% no ano.

5. Constellation Energy: Meta fecha acordo com a companhia
A Meta Platforms fechou um acordo inédito com a Constellation Energy para a compra de energia nuclear por 20 anos, com início previsto para 2027. O contrato prevê a aquisição de 1,1 gigawatts da planta Clinton Clean Energy Center, no estado de Illinois, o equivalente à produção total do reator da usina. A parceria não abastecerá diretamente os data centers da companhia, mas permitirá à Meta compensar emissões em outras fontes e manter sua meta de operar com 100% de energia limpa. O acordo também assegura a renovação do licenciamento da usina, que corria risco de ser desativada com o vencimento dos subsídios de emissão zero.
A decisão da Meta marca sua primeira incursão oficial no uso de energia nuclear, alinhando-se a uma tendência mais ampla entre as Big Techs. Microsoft e Google já haviam firmado acordos semelhantes com a Constellation, enquanto Amazon investiu em pequenos reatores modulares (SMRs) e adquiriu um campus de data center alimentado por energia nuclear. Os movimentos têm relação com o aumento expressivo na demanda elétrica impulsionado pela inteligência artificial, um fenômeno que levou o próprio presidente Trump a declarar uma emergência energética no dia de sua posse, e mais recentemente assinar ordens executivas para acelerar a expansão nuclear no país.
O acordo com a Meta reforça o papel estratégico da energia nuclear como alternativa viável para suprir a explosiva demanda energética da nova era da AI. Além de garantir a continuidade de operação da planta Clinton, o contrato pode abrir caminho para investimentos em novos reatores modulares no local. Para a indústria nuclear, a parceria é um importante endosso do mercado, com potencial de atrair mais capital e destravar a renovação de licenciamentos. Já para a Meta, a medida consolida seu posicionamento como líder em sustentabilidade energética, uma vantagem competitiva crucial no cenário de endurecimento regulatório e pressão pública por compromissos ambientais sólidos.
Mantemos uma visão construtiva para a Constellation Energy (Ticker: CEG), que chegou a subir mais de 12% no pré-mercado após o anúncio, mas devolveu parte dos ganhos ao longo do pregão. Com isso, as ações encerraram a semana em queda de -2,4%, ao contrário da Meta (Ticker: META), que avançou +7,8%. O movimento também impulsionou o setor de energia nuclear como um todo (Ticker: URA), que acumulou valorização de +5,1% no período.


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