Retornos esperados para os portfólios nos próximos 5 anos
Desde 29 de junho, quando soltamos nossa última edição mensal deste relatório, os mercados mantiveram-se otimistas, ainda que as preocupações em relação à retomada da economia pós coronavírus continuem. O Ibovespa foi destaque, subindo 12%, com a bolsa americana, medida pelo S&P 500 subindo 8%. O Real também foi destaque, se apreciando cerca de 6% contra o Dólar.
Apesar dessas altas, as revisões feitas por analistas de ações ao redor do mundo resultaram em elevações tímidas dos lucros esperados para o ano que vem. Por isso, não revisamos nossas expectativas de crescimento de lucros para os próximos 5 anos e, consequentemente, passamos a esperar menores retornos da parcela de ações.
No Brasil ficamos positivamente surpresos com o novo impulso de Congresso e Governo em dar novo fôlego à Reforma Tributária, além de outras reformas e privatizações. Por causa disso, reduzimos a probabilidade atribuída ao Cenário Negativo, de 20-25% para 15-20%.
No relatório passado detalhamos nossas expectativas para a bolsa dos Estados Unidos. Este mês falaremos um pouco mais das perspectivas para a bolsa brasileira.
Qual o retorno esperado da bolsa brasileira?
Para estimar o retorno esperado para o Ibovespa nos próximos 5 anos, fazemos o mesmo exercício que para qualquer outra bolsa, levando em conta três fatores: os dividendos a serem recebidos, o crescimento agregado dos lucros e a relação entre preço e lucro. Aqui estamos focados em prazos mais longos, você pode ler aqui as perspectivas para o Ibovespa nos próximos meses feitas pelo time de ações da XP.
Vale reafirmar que seria um processo hercúleo se tivéssemos que fazer tudo isso sozinhos, mas felizmente há dados suficientes em provedores de informação para nos ajudar. Antes de começar, ressaltamos que é difícil fazer previsões, em especial sobre o futuro. Sabemos que nossas contas não são perfeitas, por isso as revisamos todos os meses.
Dividendos
3,7% ao ano é o consenso de mercado acerca de quanto em dividendos as companhias brasileiras distribuirão em média nos próximos 2 anos.
Dividendos são os fluxos de caixa que os investidores recebem. Normalmente são fruto de quão maduro é um setor da economia, ou seja, negócios seguros de baixo crescimento pagam muitos dividendos enquanto setores inovadores, que precisam investir para crescer pagam pouco.
Dessa forma, o número se altera pouco ao longo do tempo. Ainda assim, em 2020 ele deve ficar abaixo de 2,5% para a bolsa brasileira devido à pandemia, voltando ao normal ano que vem. Assumimos que a taxa ao longo dos próximos 2 anos se repetirá pelos 3 subsequentes.
Crescimento dos lucros
Há muita incerteza no momento atual devido ao coronavírus. Os lucros correntes das empresas tendem a ser muito baixos, dobrando até o fim do ano que vem.
Aqui as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas, e o passado não é uma referência tão boa do prognóstico futuro. Passamos então a contar também com as estimativas publicadas por analistas de renda variável em bancos e corretoras.
Se os analistas estiverem corretos, o lucro por ação deve subir muito nos próximos 2 anos, cerca de 100%, o que dificulta as análises. Nossa expectativa é que nos próximos 5 anos o lucro por ação da bolsa brasileira cresça perto de 12% ao ano.
Como comparar os 2 números? Bem: para que tanto nós quanto os analistas estejamos corretos, entre 2023 e 2025 essa medida deveria se contrair 1% ao ano. Dado que não enxergamos uma recessão à frente, nossas premissas se provam bem conservadoras, e provavelmente serão revisadas para cima nos próximos meses.
Optamos por não fazer isso agora porque as expectativas dos analistas do mercado para o ano que vem ainda não estão sendo revisadas para cima.
Preço / Lucro
O mercado está de olho nos resultados do ano que vem, com lucros muito deprimidos no curto prazo. O que torna a comparação difícil.
A relação entre o preço de uma ação e o lucro por ação é o componente final. Ela mostra quanto o mercado pagará por nossas ações ao final do período de análise, o que depende de quão estáveis são os lucros da bolsa e da taxa de juros.
Atualmente a bolsa brasileira parece cara por essa métrica, mas novamente nossa bússola está semi-quebrada por causa da pandemia. No longo prazo, esperamos que essa relação ceda um pouco, se estabilizando em torno de 14 vezes.
A geração de alfa
Desde seu início, no ano passado, o Selection Ações FIC FIA superou o Ibovespa em mais de 10% ao ano.
Em complemento a isso, pensamos também em quanto de excesso de retorno é possível adicionar através da gestão ativa de uma carteira de ações. Como nos outros itens, preferimos ser conservadores, e assumimos 1,5% ao ano, patamar modesto pelo histórico do Selection Ações FIC FIA.
Tipicamente a capacidade de geração de resultados de gestores de renda variável aumenta nos períodos de maiores incertezas e quando há setores da economia crescendo em ritmos muito diferentes, que é o nosso caso agora.
Vale a pena estar investido!
Somando tudo isso, esperamos um retorno próximo de 10% ao ano para o investidor, comparado a uma inflação de 3% e um CDI de 4% ao ano. Enfatizamos que nosso risco é para cima, ou seja, à medida que passarem as nuvens negras da pandemia, e pudermos enxergar o futuro com maior clareza, esse retorno deve se provar maior.
É importante lembrar de que o seu percentual de bolsa deve estar adequado ao seu perfil: use nossas carteiras como referência. E se você não está atualmente posicionado, construa sua posição ao longo de alguns meses.
Prêmios de crédito
Os fundos de crédito continuaram obtendo bons resultados ao de junho, com fechamentos dos prêmios, de debêntures, em especial na parcela de inflação.
O spread de crédito para a classe de Pós-Fixados com base no índice IDA-DI, divulgado pela ANBIMA e na taxa disponível para papéis bancários na plataforma da XP está hoje em torno de 1,4% ao ano, 0,2% menor do que no relatório passado.
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No espaços de inflação, onde utilizamos o IDA IPCA Infraestrutura para estimar o prêmio de crédito, estamos em 1,4% ao ano acima da NTN-B de mesmo duration, sem alterações desde nossa última revisão.
Como os ativos são isentos, esse prêmio de crédito sobe para mais de 2,5% ao ano quando a comparação é feita líquida de IR.
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Cenário neutro
Entendemos que ainda há um ambiente pró-reformas no Brasil, que tende a fazer com que as engrenagens da economia deslizem com mais facilidade, trazendo crescimento e mais eficiência.
No entanto, estamos longe de um ambiente político harmônico: o executivo federal e o congresso têm um diálogo truncado e existe muita resistência à agenda de reformas por grupos organizados e influentes.
A bolsa brasileira é a classe com maior retorno potencial em 5 anos, mas recomendamos muita cautela na hora de construir sua posição devido aos acontecimentos recentes. Leia mais aqui.
Cenário pessimista
Ainda que esse não seja nossa visão, não podemos ignorar que, dadas as instabilidades políticas, existe a chance de que piore a relação entre o Executivo e o Congresso. Isso faria com que as Reformas empacassem, com o país falhando em desbloquear um novo ciclo de crescimento.
O baixo crescimento pode abrir os ouvidos da população para políticos populistas, que queiram desfazer reformas como a do Teto de Gastos e talvez até mesmo a Reforma da Previdência.
A Renda Variável Global é nossa principal defesa em um cenário adverso:
Cenário otimista
Mesmo com a articulação truncada, podemos ser surpreendidos pelo alinhamento do Congresso em entregar as reformas, e as privatizações. O crescimento da economia nos próximos anos seria mais forte do que conseguimos agora antecipar, ao mesmo tempo em que a taxa de juros neutra seria mais baixa.
Nesse cenário os lucros das empresas cresceriam mais, e com taxas de juros mais baixas, haveria maiores ganhos nos papéis de renda fixa.
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Principais temas globais
Nossa visão de como os grandes temas globais afetam o Brasil está detalhada no quadro a seguir. Atualmente é difícil enxergar quão rápida será a saída do mundo da recessão criada pela pandemia de coronavírus.
Porém, entendemos que os temas globais visando o longo prazo continuam os mesmos: crescimento baixo, taxas de juros ainda mais comprimidas e aversão a risco mantendo Dólar e outros ativos considerados seguros em patamares valorizados.
Metodologia
O quadro a seguir resume os dados e premissas utilizados para calcular os retornos por classe de ativo.
Notas
Inflação: Para estimar o retorno da classe inflação para o portfólio, utilizamos como referência uma carteira composta por 50% IMA-B e 50% IMA-B5. Para definir o prêmio de crédito, utilizamos o IDA IPCA Infraestrutura. O prêmio de crédito é aplicado em 50% da classe de inflação, fazendo o gross-up dos retornos para refletir a isenção de IR.
Glossário
Publicações anteriores
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