Na abertura da Cúpula de Líderes sobre o Clima nesta quinta-feira (22), evento convocado por Joe Biden para impulsionar a agenda global de combate às mudanças climáticas, os representantes das principais economias desenvolvidas e em desenvolvimento se comprometeram com metas mais ambiciosas em relação à redução da emissão de gases de efeito estufa, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C e cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
Organizado pelo presidente dos Estados Unidos, o objetivo da Cúpula é ser uma preparação para a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP-26, prevista para o período entre 1º a 12 de novembro em Glasgow, na Escócia. No primeiro dia do evento, estavam presentes mais de 40 lideranças mundiais, dentre as quais Xi Jinping (Presidente da China), Vladimir Putin (Presidente da Rússia), Jair Bolsonaro (Presidente do Brasil) e Narendra Modi (primeiro-ministro da Índia), dentre outros.
De forma geral, destacamos três principais mensagens que ficaram do primeiro dia da Cúpula de Líderes sobre o Clima:
(i) há um consenso a cerca da importância da cooperação global para o combate aos efeitos da mudança climática;
(ii) o caminho é longo e o tempo é curto – não será uma trajetória fácil, mas ela é extremamente necessária; e
(iii) Inovação, transformação e regulação são palavras chave nesse processo.
Ao longo deste relatório, destacamos os principais tópicos abordados durante a abertura da Cúpula de Líderes sobre o Clima.

Brasil antecipa para 2050 meta de atingir neutralidade das emissões de gases do efeito estufa
Em discurso na Cúpula do Clima, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o compromisso de atingir a neutralidade climática até 2050, 10 anos antes que a meta anterior, reiterando o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% até 2025 e 43% até 2030 e reafirmou o propósito de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. "Com isso reduziremos em quase 50% nossas emissões até essa data. Essa será uma tarefa complexa, medidas de comando e controle são parte disso.", disse Bolsonaro.
Bolsonaro anunciou também que duplicará os recursos para a fiscalização ambiental e reiterou os termos de carta enviada ao presidente dos Estados Unidos na semana passada, afirmando compromisso com a agenda ambiental de forma genérica.
O presidente destacou ainda os investimentos em energias e combustíveis renováveis feito pelo Brasil, assim como a sustentabilidade da agricultura brasileira e reiterou disposição de cooperar com a comunidade internacional na pauta. Ele disse que, diante dos obstáculos financeiros, "é fundamental contar com a colaboração de países, entidades e empresas que queriam contribuir para a solução destes problemas".
"Estamos abertos à cooperação internacional.", disse Bolsonaro, que destacou a adoção dos artigos 5º e 6º do Acordo de Paris, da qual o Brasil é signatário, que envolvem a adoção de medidas de ajuda voluntária para conservar e fortalecer os reservatórios de gases de efeito estufa, como a floresta Amazônica, e de medidas para mitigação para fins de cumprimento das contribuições nacionalmente determinadas.
De forma geral, destacamos os três pontos principais da fala de Bolsonaro:
1. Afirmou que o governo federal duplicará recursos para fiscalização ambiental;
2. Disse também que o Brasil deve antecipar a meta de neutralidade de carbono de 2060 para 2050. Pelo Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a fazer isso até 2060; e
3. Fez compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030.
Com os holofotes internacionais voltados para a agenda ambiental do Brasil, tema que afeta (i) o progresso do acordo entre o Mercosul e União Europeia; (ii) o acesso do país à OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico); e (iii) gera tensões com líderes mundiais, a participação do presidente da República no evento é considerada altamente relevante. Sem grandes surpresas, a exposição não deve alterar o cenário político.

EUA reiteram meta de reduzir em 50% emissões de carbono até 2030
Na abertura de sua Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente norte americano Joe Biden disse que esta é uma década decisiva, e afirmou a importância da cooperação entre os países no combate às mudanças climáticas - "nenhuma nação pode resolver [isso] sozinha".
Biden, anfitrião do evento, conforme esperado pelos mercados internacionais nos últimos dias, reiterou o compromisso dos Estados Unidos de reduzir em 50%, em relação aos níveis de 2005, as emissões de carbono até 2030, e alcançar a neutralidade até 2050. À título de referência, a meta anterior firmada pelo então presidente Barack Obama no âmbito do Acordo de Paris previa uma redução de 26% a 28% até 2025.
Por fim, Biden reiterou o investimento em projetos de tecnologia limpa, destacando-o inclusive como um dos principais pilares para geração de emprego nos próximos anos, além de buscar, com metas mais ambiciosas, convencer outras nações a seguirem pelo mesmo caminho, o que, na visão de Biden, é fundamental para que o aumento das emissões seja restrito a 1,5 grau Celsius, como é reivindicado pelo Acordo de Paris.
Vale mencionar que os Estados Unidos deixaram de ser signatários do Acordo de Paris durante o governo de Donald Trump, com Joe Biden retornando ao pacto no primeiro de seu governo.

Xi Jinping promete controlar uso do carvão, maior poluente do mundo
O presidente da China, Xi Jinping, destacou a importância do desenvolvimento sustentável e da importância dos países desenvolvidos ajudar as economias em desenvolvimento a acelerar esse processo de transição para o desenvolvimento de uma economia verde e de baixo carbono, defendendo o maior multilateralismo no combate à emergência climática e o respeito ao Acordo de Paris.
O presidente chinês destacou a colaboração com os Estados Unidos para avançar na agenda ambiental e de governança. Xi Jinping afirmou a intenção de atingir a meta de atingir a neutralidade das emissões até 2060, antecipando as medidas estabelecidas para redução de CO2 antes de 2030. “Proteger o meio ambiente é proteger a produtividade,” disse Jinping.
Entre as medidas que estão sendo adotadas pela China para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, o presidente chinês destacou o investimento em projetos de geração de energia renovável e prometeu limitar o aumento do uso de carvão nos próximos 45 anos.

Líderes europeus reiteram metas estabelecidas pelo novo acordo do “Green Deal”
Os países da União Europeia, por sua vez, reiteraram o compromisso de reduzir em pelo menos 55% das emissões de gases do efeito estufa até 2030 e o objetivo de atingir a neutralidade de emissões até 2050. Essas metas foram anunciadas em acordo feito na véspera da reunião da Cúpula de Líderes sobre o Clima, que ainda precisa da aprovação formal dos Parlamentos e dos governos nacionais.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson, reiterou a meta de cortar as emissões de carbono em 78% até 2035, em comparação com os níveis de 1990, e alcançar a neutralidade como parte de uma proposta de legislação anunciada em 20 de abril. Além disso, Johnson reforçou, como os demais, a importância dos países atuarem em conjunto para atingir essas metas ambiciosas, que inclui também a redução do desmatamento.
Já primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, destacou que o país reduziu em 40% suas emissões em relação a 1990, comentando que 46% da geração de energia do país vêm de fontes renováveis. Além disso, Merkel afirma que será importante aproveitar a recuperação da economia após a pandemia para investir em inovação e energia limpa.
O presidente da França, Emmanuel Macron, destacou o avanço nas metas do que chamou de “Green Deal” europeu e destacou a importância de se investir em energia limpa e energia solar, que vão estar no centro dessa transformação. Nesse quesito, ele destacou o papel fundamental do sistema financeiro no financiamento desses projetos, afirmando que os líderes mundiais são responsáveis por defender a transformação no sistema financeiro, a fim de torná-lo mais verde. Indo além, Macron afirmou que o banco central americano, Federal Reserve, se juntou nessa discussão com a Europa. “Temos trabalhado imensamente com fundos soberanos e de investimento no uso de metodologia e mudança do sistema financeiro mundial para ir além no que diz respeito à regulação em nível internacional". Por fim, Macron afirmou que agir em prol do clima significa regular em nível internacional. “Se não definirmos um preço para o carbono, não haverá transição”, disse.

Líderes de outras potenciais, como Japão e Rússia, destacaram a importância da cooperação global
Também discursaram no evento líderes de outras potencias, como Japão e Rússia, com o principal destaque sendo a importância de uma cooperação global para o combate aos efeitos da mudança climática.
O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, reiterou a meta de reduzir as emissões de carbono em 46% até 2030, comparado com 2013, e reiterou a meta de zerá-las até 2050. Para alcançar tais metas, o primeiro-ministro destacou a cooperação com os Estados Unidos na liderança dos esforços para promover a descarbonização e afirmou que o Japão disponibilizou financiamento público de 1,3 trilhão de ienes (~US$ 11.8 bilhões) e contribuição de US$ 3 bilhões para o Green Climate Fund.
Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou que 45% da geração de energia do país vem de fontes limpas, com baixa emissão de carbono, como energia nuclear, e destacou o compromisso do país em modernizar a eficiência energética para também passar a capturar carbono. Nesse tópico, Putin anunciou que o país tem um projeto para negociação de crédito carbono que vai garantir o país zerar as emissões até 2050.
Na América do Sul, destaque para o discurso do presidente da Argentina, Alberto Fernandez, que destacou que o país pretende aumentar a contribuição na redução de gases do efeito estufa em 27% na COP 2026 e pretende garantir que 30% da matriz energética seja de fonte renovável. Fernandez ainda comentou sobre os planos de aumentar os investimentos para exportar hidrogênio e combater o desmatamento ilegal, transformando-o em crime por meio de uma nova lei para proteger as florestas. No final de sua fala, o presidente argentino destacou que esses investimentos exigem recursos financeiros e que é necessário a disponibilidade de empréstimos mais baratos de bancos multilaterais para ações com foco em meio ambiente.
Por fim, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, destacou que os países em desenvolvimento costumam sofrer mais com os efeitos devastadores das mudanças climáticas, especialmente nos eventos naturais. Nas palavras de Ramaphosa, “As economias desenvolvidas têm a responsabilidade de apoiar as economias em desenvolvimento para que possam mitigar e se adaptar às mudanças climáticas. Um progresso significativo pode ser alcançado quando todos nós estamos em um compromisso conjunto”.

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