XP Expert

Zeina Latif: Não há atalhos

A economia ganha tração, aumentando as chances de o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano acelerar (estimamos 2,1%). No entanto, a redução da taxa de desemprego será provavelmente lenta, pois há fatores preocupantes que limitam o aumento do emprego.

Compartilhar:

  • Compartilhar no Facebook
  • Compartilhar no Twitter
  • Compartilhar no Whatsapp
  • Compartilhar no LinkedIn
  • Compartilhar via E-mail

A economia ganha tração, aumentando as chances de o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano acelerar (estimamos 2,1%). No entanto, a redução da taxa de desemprego será provavelmente lenta, pois há fatores preocupantes que limitam o aumento do emprego.

Primeiro, aparentemente, as empresas ainda têm um contingente relevante de empregados que são subutilizados. A razão entre a produção de bens e serviços e o pessoal ocupado está em patamares muito abaixo daqueles do pré-crise, sugerindo haver espaço para aumento do PIB sem abrir muitas vagas de trabalho.

Segundo, o baixo crescimento do PIB favorece particularmente as grandes empresas, que são mais produtivas e utilizam crescentemente tecnologias poupadoras de mão de obra para se manterem competitivas.

Terceiro, a taxa de desemprego estrutural (reflete fatores como a qualidade da mão de obra e a rigidez e as fricções no mercado de trabalho) provavelmente elevou-se nos últimos anos, por conta da crise prolongada. Indivíduos que estão desocupados há muito tempo (40% há mais de um ano) e jovens que não conseguem emprego na idade esperada têm sua empregabilidade reduzida pela falta de treinamento. Como se não bastasse, muitos talentos emigram do País. Não são incomuns relatos de empresários sobre as dificuldades para contratar mão de obra qualificada, mesmo com o elevado desemprego. 

O economista-sênior da XP Investimentos, Marcos Ross, estima que a taxa de desemprego estrutural está em torno de 10,5%, ante 7% registrada em 2012, não tão abaixo da taxa de desemprego corrente de 12%. Vale registrar que, se assim for, a ociosidade do fator trabalho não estaria tão elevada quanto se imagina, o que significa que o Banco Central teria de reavaliar os níveis inéditos de taxa de juros mais cedo do que se imagina.

O quadro é particularmente difícil para indivíduos entre 18 e 24 anos, cuja taxa de desemprego está em 26%. Na experiência mundial, o desemprego nesse grupo é mais elevado, não só porque a entrada no mercado de trabalho esbarra na falta de referências anteriores, mas também porque os jovens são naturalmente mais inquietos. O que mais preocupa, na verdade, é a elevada e crescente parcela dos que nem trabalham, nem estudam. São os jovens “nem-nem”. Em 2018, eles representavam 24% dos indivíduos entre 15 e 29 anos, ante 13,9% em 2014.

É bem-vinda a preocupação do governo com os jovens de baixa renda. Propõe-se reduzir, por dois anos, a carga tributária sobre o primeiro emprego com carteira com remuneração de até 1,5 salário mínimo.

Não convém, porém, esperar grandes resultados na geração de empregos formais, pelas limitações da medida e pelas consequências do baixo crescimento discutidas acima.

Os jovens menos qualificados estão tão mal preparados para o mercado de trabalho, que o custo da mão de obra seria ainda elevado à luz da baixa produtividade ou capacidade de entrega desse trabalhador.

Além disso, o salário necessário para atrair o jovem de baixa qualificação para o mercado de trabalho (salário de reserva) é provavelmente superior ao oferecido pelo empregador, como sugerido na experiência internacional. Esse comportamento difere daquele do trabalhador mais qualificado, que valoriza muito estar empregado, por reconhecer o risco de ficar defasado, e aceita receber salário inferior ao almejado. Para piorar, no Brasil, a elevada informalidade e as atividades ilícitas provavelmente aumentam o salário de reserva dos jovens de baixa renda.

Para compatibilizar os pontos acima, que afetam a demanda e a oferta de trabalho dos jovens com baixa qualificação – o salário que a empresa está disposta a pagar é inferior ao que faria o jovem de baixa renda querer trabalhar –, seria necessário flexibilizar ainda mais as regras do mercado de trabalho e (urgentemente) melhorar a educação pública, para reduzir o desemprego estrutural no País. 

Jovens mais preparados são mais produtivos e têm maiores chances de não se tornarem “nem-nem”, sem emprego e sem estudo. Os Ministérios da Educação e da Economia precisam caminhar juntos.

14 de novembro de 2019

Fonte: artigo replicado do Estadão.

XPInc CTA

Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!

XP Expert

Avaliação

O quão foi útil este conteúdo pra você?


Newsletter
Newsletter

Gostaria de receber nossos conteúdos por e-mail?

Cadastre-se e receba grátis nossos relatórios e recomendações de investimentos

Disclaimer:

Este relatório foi preparado pela XP Investimentos CCTVM S.A. (“XP Investimentos”) e não deve ser considerado um relatório de análise para os fins do artigo 1º na Resolução CVM 20/2021. Este relatório tem como objetivo único fornecer informações macroeconômicas e análises políticas, e não constitui e nem deve ser interpretado como sendo uma oferta de compra/venda ou como uma solicitação de uma oferta de compra/venda de qualquer instrumento financeiro, ou de participação em uma determinada estratégia de negócios em qualquer jurisdição. As informações contidas neste relatório foram consideradas razoáveis na data em que ele foi divulgado e foram obtidas de fontes públicas consideradas confiáveis. A XP Investimentos não dá nenhuma segurança ou garantia, seja de forma expressa ou implícita, sobre a integridade, confiabilidade ou exatidão dessas informações. Este relatório também não tem a intenção de ser uma relação completa ou resumida dos mercados ou desdobramentos nele abordados. As opiniões, estimativas e projeções expressas neste relatório refletem a opinião atual do responsável pelo conteúdo deste relatório na data de sua divulgação e estão, portanto, sujeitas a alterações sem aviso prévio. A XP Investimentos não tem obrigação de atualizar, modificar ou alterar este relatório e de informar o leitor. O responsável pela elaboração deste relatório certifica que as opiniões expressas nele refletem, de forma precisa, única e exclusiva, suas visões e opiniões pessoais, e foram produzidas de forma independente e autônoma, inclusive em relação a XP Investimentos. Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da XP Investimentos, incluindo agentes autônomos da XP e clientes da XP, podendo também ser divulgado no site da XP. Fica proibida a sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da XP Investimentos. A XP Investimentos não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações divulgadas e se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste material ou seu conteúdo. A Ouvidoria da XP Investimentos tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800 722 3710. Para maiores informações sobre produtos, tabelas de custos operacionais e política de cobrança, favor acessar o nosso site: www.xpi.com.br.

A XP Investimentos CCTVM S/A, inscrita sob o CNPJ: 02.332.886/0001-04, é uma instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.Toda comunicação através de rede mundial de computadores está sujeita a interrupções ou atrasos, podendo impedir ou prejudicar o envio de ordens ou a recepção de informações atualizadas. A XP Investimentos exime-se de responsabilidade por danos sofridos por seus clientes, por força de falha de serviços disponibilizados por terceiros. A XP Investimentos CCTVM S/A é instituição autorizada a funcionar pelo Banco Central do Brasil.


Este site usa cookies e dados pessoais de acordo com a nossa Política de Cookies (gerencie suas preferências de cookies) e a nossa Política de Privacidade.