Resumo
No Brasil, a semana teve escalada de riscos políticos, com manifestações governistas, declarações polêmicas e ameaça de greve dos caminhoneiros. Além disso, o IPCA surpreendeu negativamente em agosto, acumulando alta de 9,68% em 12 meses.
Para a semana que vem, os destaques da agenda internacional serão dados de inflação e atividade nos EUA e na Europa. No calendário doméstico, destaque aos resultados do setor de serviços (PMS) e da proxy mensal do PIB (IBC-Br) referentes a julho.
Atualizações Covid-19
No Brasil, a média móvel de 7 dias de novos diagnósticos caiu novamente no comparativo semanal, de 22,7 mil para 17,7 mil, ou queda de 22%. O número de óbitos também apresentou queda, de 664 por dia na semana passada para 467, queda de 27,4%. Os números mais positivos refletem avanços na vacinação, que atingiu 64,3% da população com pelo menos a primeira dose e 32,6% da população com as duas doses ou dose única. O ritmo de aplicação de doses por dia, entretanto, diminuiu de 1,6 mi para 1,3 mi.
Cenário Internacional
Estados Unidos
No cenário político, seguem tensões dentro do partido democrata acerca do tamanho do Plano das Famílias Americanas. O projeto é uma das mais importantes bandeiras de estímulo fiscal do governo de Joe Biden, junto com o Pacote de Infraestrutura, para o qual temos uma perspectiva positiva quanto à sua aprovação.
A controvérsia em relação ao orçamento a ser despendido com o Plano vem em meio a declarações da secretária do Tesouro, Janet Yellen, que afirmou que o governo americano pode ultrapassar seu limite de endividamento em outubro. Ultrapassar esse limite gera risco de shutdown, ou paralização dos órgãos públicos dos EUA quando não há acordo no Congresso sobre o financiamento dos entes públicos.
Na seara diplomática, a conversa telefônica entre os presidentes dos Estados Unidos e da China, Joe Biden e XI Jin Ping, representou o primeiro contato direto entre os líderes desde fevereiro. Segundo a Casa Branca, Biden utilizou a oportunidade para manifestar frustração sobre falta de cooperação em áreas como segurança cibernética, apesar das crescentes tensões entre os países.
Europa
O destaque da semana foi a manutenção das taxas de juros pelo Banco Central Europeu (BCE), além do estabelecimento de um ritmo moderadamente menos intenso de compras de ativos dentro do programa de emergência da pandemia (PEPP). A presidente do BCE, Christine Lagarde, deixou claro em entrevista coletiva que a decisão não foi uma redução dos estímulos, mas sim uma recalibração. O BCE reconhece que a inflação subiu, mas não vê aumentos salariais significativos - o que poderia levar a efeitos secundários do choque inflacionário. Lagarde acrescentou que a autoridade monetária discutirá o PEPP de forma abrangente na reunião de dezembro.
Outro destaque tem sido a resiliência da economia, mesmo diante do espalhamento da variante delta do Coronavirus. O PIB da zona do euro cresceu mais do que o inicialmente previsto no segundo trimestre do ano, com o consumo se recuperando fortemente após dois trimestres de contração.
Um dos pilares da retomada na economia é o setor manufatureiro. A produção industrial de julho veio melhor do que o esperado no Reino Unido e na Itália. Na França, ficou um pouco abaixo do consenso, mas ainda apresentou crescimento sólido de 0,3% no comparativo mensal. O setor manufatureiro foi menos afetado por medidas de restrição relacionadas à pandemia que os setores de serviços e vendas no varejo.
Ásia
A economia do Japão cresceu mais rápido do que o inicialmente estimado no segundo trimestre, com destaque para gastos de capital sólidos, embora o ressurgimento da Covid-19 esteja minando o consumo do setor de serviços e obscurecendo perspectivas. Ainda assim, a recuperação econômica do Japão permanece frágil devido à vacinação lenta do COVID-19 e à medida que as restrições à pandemia prejudicam a atividade do setor privado.
Na China, o destaque foi a publicação de dados de inflação referentes a agosto, que trouxeram sinais mistos. O índice de preços ao consumidor (CPI) mostrou elevação de 0,8% em relação a agosto de 2020 (abaixo do consenso de mercado de 1% e da variação registrada em julho, também de 1%), enquanto o índice de preços ao produtor (PPI) teve forte elevação de 9,5% ante o mesmo período do ano passado (o consenso esperava variação de 9%, a mesma taxa observada em julho). Também foram divulgados dados de setor externo, e a balança comercial de agosto ficou acima do esperado.
Enquanto isso, no Brasil...
Cenário político econômico
A semana foi de alta volatilidade nos ativos brasileiros, por conta de maiores riscos políticos, após as manifestações de 7 de setembro, feriado do Dia da Independência. Durante discursos, o presidente Bolsonaro criticou a decisão de ministros do Supremo Tributal Federal (STF), elevando a tensão entre os poderes constitucionais.
Após os discursos o presidente da Câmara, Arthur Lira, pediu por respeito à Constituição e a independência dos três poderes do país (Legislativo, Judiciário e Executivo). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, cancelou as sessões do restante da semana em função do tensionamento do clima político.
Por fim, o presidente do STF, Luiz Fux, fez um pronunciamento em crítica ao discurso do presidente dizendo que o “desprezo às decisões judiciais” representa um "atentado à democracia e configura crime de responsabilidade a ser analisado pelo Congresso Nacional".
A dinâmica dos mercados melhorou após a sinalização do presidente na quinta feira, reforçando a importância da harmonia entre poderes.
Inflação segue surpreendendo para cima
O índice de preços ao consumidor IPCA subiu 0,87% em agosto, acima da nossa estimativa (0,65%) e da mediana das expectativas de mercado (0,71%). O principal desvio em relação ao projetado foi nos preços de combustíveis (0,08 pp), e os demais 0,14 pp da surpresa ficaram difusos entre os itens do IPCA. O resultado sugere que as pressões inflacionárias estão se espalhando. Revisamos nossa projeção para o IPCA de 2021 de 7,7% para 8,4%.
A piora da dinâmica da inflação pressiona a política monetária, o que leva os mercados a discutir a possibilidade de aceleração do ritmo de alta da Selic pelo Banco Central para acima de 1pp por reunião. Os mercados futuros já estão precificando a Selic em dois dígitos ao final do ciclo de alta.
O aumento da inflação também eleva preocupações com o risco fiscal, uma vez que significa mais gastos públicos futuros. Além disso, a elevação da Selic para levar a inflação para a meta também significa mais gastos com o serviço da dívida pública. O cenário fiscal já conturbado com questões relativas ao orçamento de 2022, como o gasto mais alto com precatórios fica mais em evidência. Para endereçar o tema, escrevemos um relatório que pode ser acessado aqui.
Consumo robusto
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de julho surpreendeu com expansão do número ampliado da ordem de 1,1%, contra queda de 2,1% no mês anterior. A melhora foi reflexo da melhora na mobilidade, estímulos fiscais do governo e melhora nos níveis de emprego. Por outro lado, a alta persistente da inflação e deterioração nas condições financeiras indicam caminho mais difícil pela frente. Nossa expectativa é de crescimento modesto pelos próximos meses, com expansão de 7,3% na PMC ampliada (contra -1,4% em 2020) e 1,5% em 2022. Para o IBC-Br, proxy mensal do PIB do BC, esperamos crescimento de 0,3% em julho, e para o PIB do 3º trimestre esperamos crescimento de 0,7% trimestre contra trimestre e 5,1% no comparativo anual.
O que esperar para semana que vem?
Para semana que vem, os destaques internacionais serão dados de atividade e inflação nos EUA e na Europa. No campo político americano, a discussão do Plano das Famílias Americanas no Congresso deve seguir.
No Brasil, o foco deve continuar sobre a evolução do cenário político, e suas repercussões nas votações no Congresso. Em particular, importante ficar de olho das discussões sobre o orçamento para 2022. Entre os indicadores econômicos, desataque para o IBC-Br, proxy mensal do PIB do Banco Central e Pesquisa Mensal de Serviços.
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