Resumo
No cenário internacional, o Fed (banco central dos Estados Unidos) reduziu sua taxa básica de juros em 0,25 p.p., conforme amplamente esperado. A comunicação pós-decisão, no entanto, sugeriu cautela adiante, devido à atividade aquecida e inflação persistentemente acima da meta. Os bancos centrais do Japão e do Reino Unido também se reuniram durante a semana, mas optaram pela manutenção das taxas de juros.
No Brasil, o Banco Central divulgou a ata do Copom e o Relatório Trimestral de Inflação. Ambos os documentos mantiveram o tom duro do comunicado pós-decisão de juros da última semana, reiterando o cenário de altas de 1,00 p.p. nas próximas duas reuniões de política monetária. A comunicação recente do Copom é condizente com o nosso cenário de taxa Selic a 15,00% em maio de 2025.
A semana foi marcada por novas intervenções do Banco Central no mercado cambial. A autoridade injetou quase 28 bilhões de dólares desde 12/dez. A taxa de câmbio atingiu nesta semana a máxima histórica em termos nominais.
Por fim, o Congresso aprovou o pacote fiscal que visa à contenção de gastos. Estimamos economia de aproximadamente R$ 43 bilhões entre 2025 e 2026.
Gráfico da Semana
Cenário internacional
Fed reduz taxa de juros conforme o esperado, mas sugere cautela adiante
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) reduziu sua taxa básica de juros em 0,25 p.p., para o intervalo entre 4,25% e 4,50%. O Fed já cortou os juros de referência em 1,0 p.p. desde o início do atual ciclo. A decisão não foi unânime, pois um membro da Diretoria votou pela manutenção das taxas. O comunicado pós-decisão sugeriu uma postura mais cautelosa adiante, e prepara o terreno para uma pausa na reunião de janeiro. O mercado espera atualmente uma taxa terminal mais alta em relação à nossa projeção de 3,5%. Na coletiva de imprensa após a reunião, o Presidente Jerome Powell reiterou que o banco central não tem pressa para reduzir os juros. A autoridade acredita que a política monetária está significativamente mais próxima do ponto neutro e que os juros precisam continuar restritivos para o cumprimento da meta de inflação de 2%.
De fato, a atividade econômica continua sólida e a inflação dos EUA permanece acima da meta. Por exemplo, o PIB cresceu 3,1% no 3º trimestre em comparação ao 2º trimestre de 2024 (dados dessazonalizados e anualizados), segundo a última estimativa divulgada nesta semana – a estimava anterior apontava para ganho de 2,8%. O consumo das famílias subiu 3,7% no período, o ritmo de crescimento mais forte desde o 1º trimestre de 2023. Divulgado hoje, o núcleo do PCE – deflator das despesas de consumo pessoal, a medida de inflação preferida do Fed – desacelerou de 2,9% para 2,8% entre outubro e novembro (variação acumulada em doze meses), ainda acima da meta de 2,0%.
Reforçamos nosso cenário de que haverá uma pausa no ciclo de cortes em janeiro. Os riscos em torno da nossa projeção para a taxa de juros terminal (3,5% até o final de 2025) estão inclinados para cima.
Taxas de juros estáveis no Japão e no Reino Unido
O Banco do Japão (BoJ, pela sigla em inglês) deixou sua principal taxa de juros inalterada em 0,25% pela terceira vez consecutiva, enquanto aguarda a dissipação de incertezas no exterior e mais sinais de recuperação da economia doméstica. O Presidente da instituição, Kazuo Ueda, afirmou na entrevista pós-reunião que é necessário ver mais ímpeto da atividade econômica para reagirem. Adicionalmente, a autoridade reiterou que a condução da política monetária tem sido gradual porque a inflação vem subindo moderadamente.
O Banco da Inglaterra (BoE) manteve sua taxa de juros de referência em 4,75%, conforme amplamente esperado. Três membros do Comitê de Política Monetária votaram pela redução de juros, enquanto seis votaram a favor da manutenção. Analistas de mercado esperavam apenas um voto pelo corte. No comunicação pós-decisão, o BoE afirmou que o recente aumento na inflação do Reino Unido (para 2,6%) veio ligeiramente acima do previsto, acrescentando que a inflação de serviços permanece elevada. Os mercados agora esperam cerca de 0,50 p.p. de redução de juros em 2025, contra aproximadamente 0,70 p.p. antes da decisão de política monetária.
Enquanto isso, no Brasil...
Copom reforça a necessidade de uma política monetária mais restritiva
O Banco Central do Brasil (BCB) publicou, nesta semana, importantes documentos de política monetária. Na terça-feira, a instituição divulgou a ata da última reunião do Copom, que elevou a taxa Selic de 11,25% para 12,25%. Em nossa visão, a ata reforçou o comunicado duro (hawkish, no jargão do mercado financeiro) do comunicado pós-decisão da semana anterior, ao fornecer uma avaliação robusta sobre a deterioração do quadro de inflação que justificou a reação mais tempestiva do banco central. A atividade econômica aquecida, a depreciação da taxa de câmbio, a maior inflação corrente e a piora das expectativas inflacionárias foram destacadas no documento. Assim, ao considerar a materialização de vários riscos, o Copom conclui que o cenário requer uma “política monetária ainda mais contracionista”. A comunicação recente do BCB é consistente com o nosso cenário base, em que a taxa Selic atinge 15,00% em maio de 2025 (pico do atual ciclo de aperto monetário). Os riscos permanecem altistas, entretanto, já que incertezas com relação à condução da política fiscal persistem.
O Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado na quinta-feira, trouxe mais detalhes sobre as projeções macroeconômicas do BCB – particularmente da atividade doméstica –, porém nenhuma sinalização adicional de política monetária. As projeções de inflação (IPCA) estão acima da meta em todo o horizonte considerado. Segundo a modelagem do Copom (com base nas informações do Boletim Focus), a inflação atingiria 4,5% no final de 2025, 3,6% no final de 2026 e 3,2% no 2º trimestre de 2027.
Durante a entrevista coletiva de apresentação do RTI, o futuro Presidente do BCB, Gabriel Galípolo, afirmou que “a barra é alta” para fazer qualquer tipo de mudança na sinalização fornecida na última reunião do Copom (aumentos de 1 p.p. na taxa Selic em janeiro e março), e que o banco central tem todas as ferramentas para atingir a meta de inflação.
Intervenção recorde do Banco Central no mercado cambial
Os leilões de dólares já realizados pelo BCB – onze desde 12 de dezembro – totalizaram quase 28 bilhões. Na quinta-feira, por exemplo, a autoridade monetária injetou 8 bilhões no mercado de câmbio à vista, a maior intervenção da história nesta modalidade. A taxa de câmbio encerrou a sessão em R$/US$ 6,12, após atingir o pico nominal histórico de R$/US$ 6,30. A moeda brasileira apresenta depreciação de aproximadamente 25% no ano, o pior desempenho entre os países emergentes.
O atual Presidente do BCB, Roberto Campos Neto, disse que a atuação no mercado cambial ocorre devido à saída atípica de dólares, especialmente referentes a dividendos, que estão acima da média (ou seja, intervenção para contrabalancear o fluxo). Ademais, o próximo Presidente da instituição, Gabriel Galípolo, descartou que haja um ataque especulativo contra o Real.
Congresso aprova pacote de redução de despesas
O Congresso concluiu a votação do pacote de gastos nesta semana. Foram aprovadas uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que muda critérios do Fundeb (Fundo nacional da educação básica), do abono salarial, além de limitar os salários no serviço público; um Projeto de Lei (PL), que altera a regra de correção do salário mínimo, o BPC e a Bolsa Família, entre outros; e um Projeto de Lei Complementar (PLP), que introduz novos gatilhos no arcabouço fiscal em caso de déficit ou de redução das despesas discricionárias.
Avaliamos que o Congresso promoveu uma pequena desidratação do pacote, cujo potencial de economia no próximo biênio caiu de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões. Adicionalmente, vemos que o provável ganho fiscal é insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos.
Orçamento de 2025 será votado após recesso legislativo
O Congresso também aprovou nessa semana o projeto de lei de diretrizes orçamentárias, que define a meta de resultado primário e estabelece as prioridades do orçamento do próximo ano. De particular importância, o Congresso retirou do texto a obrigação de que o governo perseguisse o centro da meta, voltando com a possibilidade de que os contingenciamentos de despesas sejam feitos com base no limite inferior da meta de resultado primário.
Além disso, o também foram aprovados dois projetos de interesse do governo. O primeiro altera a regra de dedução fiscal de perdas com operações de crédito de inadimplentes, o que pode garantir uma receita adicional de R$ 16 bilhões em 2025. Já o segundo introduz uma tributação efetiva mínima sobre empresas, em consonância com as diretrizes estabelecidas pela OCDE, mas não deve ter impacto fiscal no próximo ano.
Finalmente, a discussão e a aprovação do orçamento de 2025 acabaram sendo adiadas para o início do próximo ano. Enquanto o projeto não for aprovado, o governo poderá executar provisoriamente o Orçamento com base nas regras estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.
Clique aqui para receber por e-mail os conteúdos de economia da XP
O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, a semana de Natal não terá indicadores econômicos relevantes.
No Brasil, o destaque da próxima semana será a divulgação do IPCA-15 de dezembro (6ª-feira) – esperamos que o indicador encerre o ano em 4,9%, acima do limite superior do intervalo de tolerância que contém a meta de inflação (4,8%). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) – que trazem as principais estatísticas sobre o mercado de trabalho – também serão divulgados na 6ª-feira. Além disso, o Banco Central divulgará a nota do setor externo na 2ª-feira; a nota do mercado de crédito na 6ª-feira; e as estatísticas do setor público consolidado na 6ª-feira.Todas essas publicações são referentes a novembro. Veja as nossas projeções abaixo.
Se você ainda não tem conta na XP Investimentos, abra a sua!