Primeiramente quero desejar feliz dia dos pais a todos os pais. Como pai de duas meninas, sei o quanto os objetivos das nossas vidas mudam radicalmente após os filhos, e eles passam a ser a maior prioridade (e amor) das nossas vidas. Aprendi com o meu pai a sempre trabalhar duro, que “o dinheiro não aceita desaforo” e que temos que correr atrás dos nossos objetivos por conta própria. Espero passar esses ensinamentos para as minhas meninas. No Sunday XPresso dessa semana, vou debater quais os principais riscos no cenário adiante.
Na semana passada encontrei com alguns investidores institucionais aqui no Brasil. Além das oportunidades à frente, discutimos muito também sobre a série de riscos no cenário adiante. A minha impressão é que o sentimento geral dos investidores em relação ao Brasil se deteriorou visivelmente nas últimas semanas.
Esse mau humor fica evidente quando olhamos a performance de preços dos ativos brasileiros recentemente. O índice Ibovespa recuou quase 7% de quase 131.000 pontos em Junho para 122.810 atualmente, o Dólar voltou a subir acima de R$5,20 em relação ao Real e a curva de juros do CDI segue estressada, precificando a Selic voltando acima de 10% em 2025.
Além disso, o fluxo de investidores estrangeiros na Bolsa voltou a ficar negativo no mês de julho (-R$8,3 bilhões), após vários meses de fluxo positivo, apesar de ter se estabilizado e voltado a ficar ligeiramente positivo em Agosto até agora (+R$1,1 bi). No ano, o fluxo estrangeiro para a Bolsa segue positivo em R$40,8 bilhões, sem considerar o mercado futuro e as ofertas de IPOs.
Principais riscos adiante
Vou elencar os principais riscos no cenário adiante. A ordem não significa necessariamente do maior para o menor risco, e outros riscos relevantes também ficaram de fora da lista.
- Eleições: muitos investidores já se preocupam hoje com o cenário eleitoral de 2022. Mas a preocupação não é necessariamente com o impacto das eleições nos preços doa ativos hoje, até porque os investidores concordam que ainda falta muito tempo até as eleições, que ocorrem no 2o semestre de 2022. Mas sim com as ações do governo Bolsonaro na tentativa de melhorar a avaliação do governo, que se encontra hoje em um patamar baixo. Dessa forma, os investidores se preocupam em uma possível guinada populista daqui até as eleições.
- Fiscal: Associado ao risco acima, o debate em relação à trajetória fiscal adiante segue sendo uma grande preocupação entre os investidores. Apesar dos dados fiscais terem vindo melhores que o esperado recentemente, a dúvida é saber como a “folga” no orçamento será utilizada em 2022, qual será a trajetória dos gastos públicos a partir de 2023, se haverá a manutenção do teto de gastos ou não, entre outras dúvidas. A visão de muitos investidores é que esses riscos estão afetando o custo de capital no Brasil, dado que a curva de juros segue precificando um aperto monetário relevante daqui adiante, o que encarece o custo das dívidas do governo e das empresas, além de gerar um “encurtamento” no perfil das dívidas.
- Inflação e superaquecimento das economias: a inflação segue surpreendendo para cima em 2021, tanto no Brasil como em outros países no mundo, como os EUA. O desarranjo das cadeias de suprimento por conta da pandemia, aliado aos enormes estímulos fiscais e monetários, fizeram com que o balanço de oferta e demanda de muitos produtos se desajustasse muito. Exemplos de falta de produtos estão por toda a parte, desde cimento, madeira e aço para a construção até micro-chips para a produção de carros e computadores. Com isso, a inflação acumulada de 12 meses no Brasil se encontra em 8,35% (IPCA) e +33,83% (IGP-M). O Banco Central se viu obrigado a aumentar o ritmo das altas da taxa Selic para +1,0%, e indicar +1,0% para a próxima reunião do COPOM. Assim, a Selic iria de 5,25% atualmente para 6,25% na próxima reunião, e deve terminar o ano em 7,25% (veja aqui), segundo o nosso time de economia. O grande debate entre os investidores é se essa inflação atual será temporária ou não, e se haverá um risco de superaquecimento das economias, dado o tamanho dos estímulos sendo dados.
- Ciclo das commodities: não é segredo que as commodities estão enfrentando um cenário favorável. Depois de vários anos de baixo crescimento mundial e, consequentemente, de baixos investimentos em aumento de produção, a maior parte commodities se encontra em um cenário muito positivo de balanço de oferta x demanda. Porém, após um grande rali das commodities – o índice CRB de commodities sobe 47% em 12 meses – muitos investidores já começam a se questionar se não passaremos a enfrentar um ciclo de normalização de preços adiante, dado que o crescimento global deve começar a desacelerar no 2o semestre e em 2022.
- Treasuries: a taxa de juros dos títulos americanos (Treasuries) é usada como base na avaliação de muitos outros mercados, como renda fixa, commodities e ações. Após uma forte alta nas taxas no início do ano, onde o mercado precificava uma alta da inflação e aceleração da atividade econômica americana e global, as taxas das Treasuries de 10 anos voltaram a cair nos últimos meses, de 1,75% aa em março para 1,30% atualmente (e próximo de 1,1% há alguns dias atrás). Essa queda pegou muitos investidores de surpresa, que estavam apostando na alta das taxas para se proteger do risco de inflação mais alta. Além disso, essa queda pode começar a indicar que o mercado está menos otimista com o crescimento global adiante, como comentamos no último Raio XP da Bolsa. Esse debate está intenso atualmente, se o mercado de Treasuries está indicando um crescimento menor adiante, e qual o impacto nos preços de commodities e de outros ativos.
- Variante Delta: o rápido aumento no número de casos de COVID-19 no mundo, por conta da variante Delta, tem trazido preocupações com o ritmo da recuperação econômica no 2o semestre, e se há possibilidade de novos fechamentos para tentar conter o avanço do vírus. Países com elevada taxa de imunização, como os EUA e a Inglaterra, estão vendo um forte aumento no número de casos, principalmente entre os mais jovens e não vacinados. Nos EUA, os casos diários positivos já ultrapassam a marca de 100.000, marca mais alta desde fevereiro. A boa notícia é que os dados de hospitalizações e mortes seguem baixos, um sinal claro que as vacinam funcionam e são efetivas.
- Aumento da desigualdade: um outro ponto mencionado por vários investidores é o brutal aumento da desigualdade no Brasil. Enquanto grandes empresas conseguiram crescer durante a crise, a população de baixa renda foi a que mais sofreu com os efeitos da pandemia. O Brasil possui um alto percentual de vulneráveis à pobreza, com 44% da população com renda domiciliar inferior a R$255 por pessoa, e com 134 municípios com 80% da população nessa condição (link). Em 2020, 19 milhões de habitantes no Brasil viviam em situação de fome extrema. Portanto, caso essa situação não seja prioritária aos governos, os efeitos serão bastante deletérios adiante. Além disso, as discussões em relação ao valor do novo Bolsa Família também esbarram nos debates em relação à necessidade de se manter dentro do limite do teto de gastos.
Qual a conclusão?
Em primeiro lugar, investir sempre envolve riscos. Dificilmente teremos um cenário de investimento em que não existam riscos. Caso riscos não existam, ou sejam muito baixos, isso também estará refletido nos preços dos ativos, que provavelmente estarão elevados. Riscos trazem desconto de preço, e descontos trazem oportunidades.
Enquanto é importante sempre monitorarmos os riscos no cenário, isso não quer dizer para evitarmos riscos a qualquer custo. Mesmo investindo no Tesouro Selic também estamos correndo riscos, por exemplo. A taxa Selic hoje em 5,25% ao ano é inferior à inflação acumulada nos últimos 12 meses (8,3%).
Nós mantemos nossa visão construtiva com a Bolsa brasileira, pela sólida história Micro das empresas brasileiras, que estão crescendo seus lucros, com baixo nível de endividamento e com sólidas perspectivas adiante. Até agora, 63% das empresas do Ibovespa já reportaram resultados, e 77% das empresas reportaram resultados em linha (51%) ou acima (26%) das expectativas do consenso de mercado (veja mais no Resumo Semanal).
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