O que você vai encontrar nesse relatório:
2022 foi mais um ano de bastante volatilidade nos mercados globais e que o Brasil surpreendeu em sua grande parte, se descolando dos mercados globais como uma das melhores bolsas do mundo.
Em meio a um cenário macro global bastante desafiador, o Brasil virou o “TINA” dos mercados emergentes, sendo o destino de investidores estrangeiros em busca de ativos baratos e que os protegessem de uma inflação menos transitória do que esperado. O índice Ibovespa chegou a registrar uma alta de +40% em dólares em meio a quedas de 20% a 30% nos mercados globais. Na reta final do ano, grande parte dos ganhos foram devolvidos com o aumento das incertezas fiscais domésticas.
Nesse relatório, fazemos uma retrospectiva dos principais destaques que afetaram o mercado ao longo dos últimos doze meses.
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Nos mercados globais: inflação, juros, recessão
De fato, a palavra do ano de 2022 foi “inflação”. Após o início da vacinação contra a Covid-19 em todo mundo, as atividades econômicas foram retomadas rapidamente. Com isso, a demanda por bens disparou e a oferta, com essas atividades interrompidas pela pandemia, não se recuperou na mesma proporção, refletindo no aumento de preço das commodities. Enquanto em grande parte de 2021 a inflação foi atribuída como “transitória”, em 2022 ficou claro que não era.
Além dos desequilíbrios na oferta e demanda, 2022 viu mais um choque inflacionário: a invasão por parte da Rússia no território ucraniano no mês de fevereiro. O conflito trouxe mais um choque de oferta nas commodities – que já apresentavam preços mais altos pós reabertura econômica -, uma vez que os dois países envolvidos são importantes exportadores de vários tipos de commodities, principalmente energéticas e agrícolas. Essa restrição na oferta culminou numa alta dos preços das commodities, com o barril de petróleo atingindo o valor mais alto dos últimos 14 anos – o Brent chegou ao pico de quase 130 dólares o barril.
O mundo então começou a enfrentar a inflação em níveis recordes. No Brasil, os preços atingiram as altas mais expressivas desde 2015; no Reino Unido e na Alemanha, a inflação registrou a maior alta em quase 30 anos; e, nos EUA, a inflação ao consumidor atingiu seu pico desde 1982.
Para conter a inflação, os bancos centrais globais começaram a apertar suas políticas monetárias. Foi o caso do Brasil, que iniciou seu processo de subida de juros antes dos países desenvolvidos. Em 2021 o país apresentava juros na mínima recorde de 2% e encerrou o ano de 2022 com juros de 13,75%.
Já nos EUA, o Federal Reserve realizou a subida de juros mais rápida da história, levando a taxa de juros americana de 0% - 0,25% a 4,25% - 4,50% e continuou com um tom duro. O presidente Powell sinalizou que serão necessárias mais evidências de que a inflação está arrefecendo para considerar um a interrupção no ciclo de altas.
Daqui pra frente, a palavra “inflação” vai dando espaço para “recessão”. Com juros ainda subindo globalmente, os mercados se preocupam cada vez mais com as principais economias do mundo vendo uma forte desaceleração em 2023.
No cenário doméstico, de Buy Brazil.. para Bye Brazil?
A “Bola da vez” em 2022? Na contramão das grandes economias mundiais, o Brasil iniciou o ano de 2022 sendo uma oportunidade de investimento relativamente atrativa para os investidores estrangeiros.
Com inflação global em alta e persistente, bancos centrais globais subindo os juros, o Brasil passou a ser a “bola da vez”. As ações brasileiras se beneficiaram de uma tríplice combinação de: 1) rotação global de crescimento para valor; 2) forte exposição a commodities e bancos; e 3) múltiplos de entrada muito baixos (Preço por Lucro projetado ao redor das mínimas dos últimos 10 anos).
Com isso, houve uma grande entrada de capital estrangeiro em ativos brasileiros em 2022, que já acumula cerca de R$ 100 bilhões até agora. Esse fluxo foi o que sustentou a alta do Ibovespa no ano, que chegou a subir 16% em reais e quase 40% em dólares no ano; enquanto o Real continua como a melhor moeda do ano com uma valorização de 7,2% contra o dólar.
De volta aos velhos hábitos. As eleições no mês de outubro trouxeram mais destaque para o cenário doméstico e mais volatilidade para o mercado de ações brasileiro do que foi observado nos meses anteriores. No primeiro turno, vimos um cenário muito mais apertado do que as projeções na corrida presidencial, o que foi um resultado melhor do que esperado; e o segundo turno confirmou Lula como o próximo presidente do Brasil. Como reação, vimos a volatilidade do mercado aumentar nas últimas semanas depois de um ano relativamente estável, como mostrado no gráfico abaixo.
Como abordamos no último Raio XP, depois das eleições de outubro, as atenções do mercado se voltaram para a política fiscal do próximo governo em 2023. As questões principais têm sido: 1) qual a composição do novo time econômico, e 2) discussões sobre despesas fora do teto de gastos no ano que vem e a nova âncora fiscal.
Recentemente, os sinais vindos do novo governo têm sido mais negativos, com uma proposta inicial da PEC da Transição com um crescimento de despesas em mais de R$ 200 bilhões. O valor já foi reduzido para cerca de R$ 145 bilhões com um prazo menor do que inicialmente.
Além disso, vários nomes que comporão os ministérios no novo governo já foram anunciados, com destaque ao Fernando Haddad no Ministério da Fazenda. E por fim, a Câmara chegou a aprovar mudança das Lei das Estatais, que envolve a mudança de 36 meses para 1 mês para que um político assumo diretoria de uma estatal. Apesar da proposta ter sido adiada para 2023 – até o momento – essa notícia impactou severamente as empresas estatais como Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3).
Apesar desses sinais iniciais do novo governo, que trouxeram preocupações aos investidores e impactaram os ativos brasileiros, observamos que o fluxo de investidores estrangeiros segue forte na Bolsa brasileira. Em nossa visão, é possível que esse fluxo siga forte em 2023, pois os ativos brasileiros oferecem:
- Valor atrativo: os ativos brasileiros oferecem bastante prêmio ao investidor, seja pelas altas taxas na renda fixa, ou o valuation bastante descontado da Bolsa brasileira;
- Exposição aos setores que o mercado quer comprar: 70% do Ibovespa é composto pelos setores Financeiro (22%), Commodities (38%) e Elétricas e Saneamento (10%), que são setores protegidos em um cenário de inflação e juros altos, além das commodities se beneficiarem da reabertura chinesa;
- Combate à inflação mais avançada: enquanto os bancos centrais de países desenvolvidos seguem na jornada de aumento das taxas de juros para controlar a inflação, o Banco Central do Brasil já conseguiu pausar o ciclo de alta da Selic. Isso traz um certo "conforto" ao investidor global de que a inflação por aqui seguirá mais controlada, além do fato da moeda local não ter uma forte depreciação, na medida em que os juros bem altos no Brasil fazem com que seja caro apostar contra a moeda brasileira; e
- Falta de boas opções no mundo: com a Europa sofrendo com o problema do gás natural e guerra, EUA com riscos de recessão, China ainda enfrentando a incerteza em relação ao Covid, e outros emergentes (Rússia e Turquia) em uma situação muito pior, o Brasil acabou se tornando uma das opções mais atraentes para o investidor global.
Obviamente, tudo isso depende do Brasil seguir os pilares de: controle fiscal, controle da inflação e trajetória da dívida pública. Países como Argentina, Turquia e Venezuela, são exemplos de nações emergentes que "submergiram" por conta do descontrole dessas variáveis, resultando em uma grande derrocada dos seus ativos e da sua economia como consequência.
Como a Bolsa reagiu em 2022?
As altas ao longo do ano não se sustentaram, e o Ibovespa caminha para terminar 2022 com uma leve alta de 1,9%. Ainda assim, em dólares, continua como uma das melhores bolsas do mundo com alta de quase 10% enquanto as bolsas globais caem entre 10% a 30%.
Olhando setorialmente, os melhores setores do ano foram Petróleo & Gás, Financeiro e Utilidades Públicas. Nomes como PetroRio (PRIO3) subiram com preços de commodities em alta ao longo do ano, enquanto Hypera (HYPE3) e Assai (ASAI3) continuaram a mostrar resiliência nos resultados, e Eletrobras (ELET3; ELET6) subiu com a privatização da empresa. Na outra ponta, os setores de Educação, Saúde e Varejo entregaram os piores retornos. Nomes como Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3), e CVC (CVCB3) continuaram a sofrer com alta de juros e deterioração macroeconômica, repetindo o movimento desde 2021.
IPOs: Um ano fraco
Outro fato que se destacou em 2022 foi a falta de IPOs. Depois de um número recorde de IPOs nos EUA e no Brasil em 2021, as ofertas públicas caíram drasticamente.
No Brasil, nenhuma oferta foi realizada nesse ano, depois de 46 IPOs em 2021 movimentando R$ 65 bilhões. Já nos EUA, foram ao redor de 200 IPOs em 2022, uma queda de mais de 80% das mais de 1200 ofertas no ano passado. O ano fraco foi resultado de um ambiente de alta de juros e pressão inflacionária no mundo todo, além de maior volatilidade por conta do cenário fiscal no Brasil.
Com diversas incertezas pra 2023, podemos ver mais um ano difícil pra ofertas públicas no ano que vem.
O valuation barato deverá continuar sustentando o Ibovespa
Na nossa opinião, o Brasil continua com um desempenho superior relativo aos mercados globais em grande parte por conta dos níveis de valuation ainda bastante atrativos.
Atualmente, o Preço/Lucro (P/L) projetado do Ibovespa se encontra em 6,6x, um desconto de 40% em relação à média dos últimos 15 anos em 11,1x. Mesmo quando retiramos as empresas de Commodities, ou somente a Petrobras e Vale, o P/L vai para 9,7x e 8,7x, respectivamente – ambos menores do que suas próprias médias históricas. E quebrando o Ibovespa setorialmente, vemos que todos os setores no Brasil estão com seus múltiplos negociados abaixo ou próximos às médias de longo prazo.
Em relação a Renda Fixa, as ações brasileiras também continuam mais atrativas. O Prêmio de Risco, que compara rendimento de renda variável com as taxas de juros reais, mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros locais. O nível atual de Prêmio de Risco está em 8,8%, superior à média histórica.
O que esperar pra 2023?
Olhando pra 2023, temos uma visão mais cautelosa para ações brasileiras devido aos riscos globais e domésticos.
Lá fora, os riscos de recessão ainda permanecem altos em meio a juros das principais economias em território contracionista, o que pode levar a novas revisões de lucros das empresas para baixo. Os EUA, que encerram o ano com a taxa de juros em 4,5%, devem enfrentar uma leve recessão em 2023. A Europa deve seguir pelo mesmo caminho, com tensões geopolíticas, escassez no fornecimento de gás natural impactando a inflação e os juros em alta para conter o aumento de preços.
Por outro lado, a potencial reabertura econômica da China, com recentes sinais encorajadores de flexibilização da política de zero-Covid, podem ter implicações importantes para os preços de commodities e para a economia global. Não achamos que reabertura econômica será linear, uma vez que já estamos vendo um salto no número de novos casos e aumento de mortes, e deverão levar a mais disrupções na economia e incertezas.
Do ponto de vista global, o Brasil provavelmente continuará sendo destaque. Está longe das tensões geopolíticas, se beneficia dos altos preços das commodities e da reabertura da China, e é uma das economias mais verdes do mundo. Lula, o presidente eleito, tem sido recebido pela maioria dos líderes internacionais.
Porém, domesticamente, a trajetória de política fiscal continua incerta, o que deve manter a volatilidade no mercado em alta.
Nesse cenário, mantemos nossos três temas principais nas carteiras recomendadas: 1) Commodities: que continuam oferecendo uma boa proteção contra inflação e o dólar mais alto; 2) Histórias de crescimento secular: teses de crescimento pouco correlacionadas com o crescimento econômico; e 3) Qualidade a um preço razoável: empresas de qualidade que devem permanecer resilientes em meio a uma perspectiva macro desafiador, negociada a preços ainda atrativos.
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