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Petróleo: Preços do WTI fecham em território negativo pela primeira vez na história: entenda o que aconteceu

Entenda o que fez os preços de petróleo WTI fecharem em território negativo pela primeira vez na história

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Os preços de petróleo do tipo WTI fecharam ontem (20), pela primeira vez em sua história, em território negativo, aos -US$37,6/barril (-306%). Em contrapartida, o petróleo tipo Brent também encerrou o pregão em forte queda de -8,94%, mas aos US$25,57/barril.

Na manhã de hoje, o WTI opera com grande volatilidade e ainda em patamares negativos, aos -US$4/ barril, enquanto o Brent está em forte queda de -17,40%, aos US$21,16/barril.

A forte queda se enquadra em um contexto de fundamentos muito fracos do mercado de petróleo com a queda abrupta da demanda devido à pandemia do coronavírus e as quarentenas em curso. Para ter uma ideia, a Agência Internacional de Energia (tradução livre de International Energy Agency, sigla IEA) estima uma queda de -29 milhões de barris ao dia (mbpd) da demanda pela commodity em abril de 2020 (-29% em relação ao ano anterior), que em muito supera o acordo de cortes da produção da OPEP+ de -9,7 mbpd. Nesse cenário, o grande receio é de que os estoques globais de petróleo atinjam a capacidade máxima de armazenagem.

Porém, a queda específica do contrato do WTI para maio de 2020 é também explicada por fatores técnicos. Tal contrato expira hoje, 21 de abril, e qualquer contrato que não seja encerrado após tal prazo tem que ser liquidado com uma entrega (física) dos barris de petróleo associados para o núcleo logístico de Cushing, no estado americano de Oklahoma, durante o mês de maio. A questão é que a capacidade de armazenamento de petróleo nesta localidade está rapidamente se esgotando, com a Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA) tendo reportado estoques de 55 milhões de barris na semana de 10 de abril, ante uma capacidade estimada de 76 milhões de barris.

O receio é que não haja capacidade disponível no período entre os dias 1º e 31 de maio para que detentores do contrato de WTI de maio de 2020 estoquem seu petróleo. Assim, operadores que ainda detinham tais posições procuraram se desfazer de seus contratos em um ambiente de mercado em que há poucos compradores marginais, criando um choque de liquidez. Na verdade, preços de petróleo em território negativo significam que um operador está disposto a pagar para que outro armazene seus barris de petróleo. Por este motivo há uma grande diferença entre os preços do contrato de maio e de junho de 2020 (com este último fechando ontem aos US$21,44/barril (queda de -9,5%). Nesta manhã, o contrato de junho de 2020 também opera em forte queda de -20,4%, mas no patamar ainda positivo de US$16/barril.

Apesar do movimento de preços ilustrar a deterioração dos mercados globais de petróleo, tal fenômeno possuí dinâmica local, pois depende de fatores logísticos – preços negativos de petróleo também foram observados no Canadá, por exemplo. Já no caso de produtores offshore (que extraem petróleo do fundo do mar), tal pressão é menor devido à disponibilidade de navios-tanques petroleiros como forma de estocagem (por isso a melhor performance relativa dos preços do Brent).

Notícias recentes (Bloomberg) informam que o presidente americano Donald Trump planeja realizar compras de 75 milhões de barris para as Reservas Estratégicas de Petróleo dos EUA (Strategic Petroleum Reserve, sigla SPR) de modo a fornecer algum apoio para a indústria de óleo e gás do país. Entretanto, notamos que segundo os últimos dados da Agência de Informação de Energia dos EUA (EIA), os estoques da SPR se encontram em 635 milhões de barris em comparação à sua capacidade nominal autorizada de 713.5 milhões de barris – indicando um espaço limitado de atuação do governo americano para atuar nesse sentido. Além disso, a realização de tais compras requer autorização do Congresso americano – algo que não foi possível na discussão dos pacotes de estímulo à economia, em março.

Nesse cenário de deterioração global do mercado de petróleo, vemos como praticamente inevitável que ocorram cortes de produção além dos -9,7 mbpd acordados pela OPEP+ para se equilibrar o balanço de oferta e demanda global da commodity. Em muitos casos, produtores serão levados a interromperem seus poços produtores por não haver capacidade física de estocagem de barris de petróleo.

Todavia, após tais fechamentos, o que veremos é um mercado com uma oferta de petróleo estruturalmente menor por mais tempo. O motivo é que parte dos poços de petróleo que tiverem sido fechados podem não retornar à produção por questões geológicas e econômicas. Assim, quanto mais produtores tiverem que fechar seus poços no curto prazo para se evitar um cenário de exaustão da capacidade de armazenagem, mais acelerada será a recuperação de preços de petróleo no médio prazo em um cenário de normalização da demanda – que, por sua vez, dependerá da gradual normalização das atividades com o fim da quarentena.

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