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Inflação – o fantasma assombra novamente

“Inflação, seus olhos no retrato Inflação, minha assombração Inflação, fantasmas no meu quarto Inflação, I want to be alone” Quem se lembra da famosa música do Kid Abelha de 1984 sabe que o refrão não se refere à inflação, mas sim à palavra “Fixação”. Mas percebe-se que “inflação” se encaixaria perfeitamente no refrão acima. O […]

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Inflação, seus olhos no retrato

Inflação, minha assombração

Inflação, fantasmas no meu quarto

Inflação, I want to be alone

Quem se lembra da famosa música do Kid Abelha de 1984 sabe que o refrão não se refere à inflação, mas sim à palavra “Fixação”. Mas percebe-se que “inflação” se encaixaria perfeitamente no refrão acima.

O risco do velho fantasma inflacionário voltar não é mais um risco. A inflação já voltou com força, e não apenas no Brasil, mas em boa parte do mundo também. Por exemplo, o índice PCE – índice monitorado pelo Federal Reserve para a suas tomadas de decisão de juros – nos EUA foi reportado na última sexta-feira. O índice subiu +3,1%, mais de 1 ponto percentual acima meta do FED, que é de 2%. No Brasil, enquanto o índice IPCA já esteja rodando próximo de 7% a.a., o índice IGP-M apresentou alta de 37% em relação à 2020, subindo +4% apenas no mês de Maio. Quais as razões por trás dessa forte alta dos preços?

Fonte: IBGE, FGV, XP Investimentos

Razões para a alta da inflação

1) Expansão fiscal e monetária sem precedentes e coordenadas desde Março de 2020 (mais de US$25 trilhões anunciados, ou 32% do PIB global), por Bancos Centrais e governos ao redor do mundo;

2) Forte recuperação econômica em 2021, dado o sucesso das vacinas e do aumento de demanda gerada pelos estímulos econômicos. O Consenso de mercado espera um crescimento do PIB global de 6% em 2021, após uma queda de -3.3% em 2020;

3) Juros reais ainda em patamares negativos e bastante estimulativos ao redor do mundo (vide gráfico abaixo);

4) Forte alta no preço das commodities, que foi gerada pelas razões anteriores e exacerba a pressão de custos nas empresas, que se veem obrigadas a repassar essa pressão de custos;

5) Desbalanceamento entre oferta e demanda, dado que a pandemia afetou as cadeias de produção no mundo todo, enquanto a demanda voltou a recuperar rapidamente impulsionada pelos estímulos.

Olhando algumas teorias econômicas clássicas sobre a inflação – como o nível dos Juros Reais, a Quantidade de Moeda em Circulação, a Política Fiscal e o nível de Desemprego (curva de Taylor) – vemos que apenas a última (nível de Desemprego) que ainda não se encontra em uma posição de gerar uma forte pressão inflacionária. Todos os outros fatores estão apontando para uma alta da inflação, com as Políticas Fiscais e Monetárias bastante expansionistas ao redor do mundo.

Variação da Base Monetária (M2) no Brasil e nos EUA

Fonte: Bloomberg, XP Investimentos

Nível de juro real nos EUA – título de 10 anos (TIPS) %

Fonte: Bloomberg, XP Investimentos

Impacto transitório?

O grande debate no mundo hoje, incluindo no Brasil, é se essa aceleração da inflação é temporária ou não. Como as cadeias de produção no mundo foram impactadas pela pandemia e a demanda voltou rapidamente com os pacotes de estímulo do governo, a inflação voltou a acelerar rapidamente, pelo descasamento entre oferta e demanda. Dessa forma, os Bancos Centrais têm sustentado a tese que a alta da inflação é transitória. Na medida que a produção acelere e o pico da demanda comece a normalizar, a inflação deve voltar a se normalizar.

O que temos visto no Brasil é que essa normalização da inflação tem demorado mais do que se esperava. A alta recente no preço das commodities e a grave seca no Brasil tem impactado preços da energia elétrica e alimentos. A dúvida é se esse choque inflacionário irá passar a impactar as expectativas dos agentes econômicos, gerando um ambiente inflacionário.

Qual será a resposta dos Bancos Centrais

Caso a inflação não ceda, os Bancos Centrais terão que responder, assim como o BC brasileiro fez quando antecipou o ciclo de alta de juros e aumentou a taxa Selic acima do que o mercado esperava. As opções para o FED e ECB são: 1) indicar que vão reduzir a compra de títulos no mercado, fenômeno também conhecido como tapering the QE (quantitative easing), em inglês, e 2) antecipar o ciclo de alta de juros, que não é esperado antes de 2022-2023 pelo mercado.

Como vimos pela volatilidade dos mercados até agora quando esse assunto inflação e alta de juros ganha força, é bastante possível, e até provável, que o mercado se mantenha volátil em torno desse tema.

Como proteger a sua carteira?

O objetivo dessa coluna não é acertar a visão sobre a inflação correta, se será transitória ou não, e qual será o percurso perseguido pelos BCs. Para isso, veja o relatório mensal do nosso time de economia – BRASIL MACRO MENSAL – Crescimento mais forte, inflação mais pressionada. O objetivo é trazer opções de como proteger a sua carteira contra a alta da inflação, um tema bastante relevante aos investidores.

  1. Renda Variável – como mostramos no último Raio XP da Bolsa, a Bolsa de valores é uma excelente proteção à inflação, com uma performance histórica de IGP-DI +6,3% ao ano desde 1968. Isso porque as empresas que estão na Bolsa são líderes de mercado e conseguem repassar a inflação aos seus preços, subindo assim seus lucros e dividendos.
  2. Renda Fixa – na renda fixa, prefira os títulos atrelados à inflação, como as debentures incentivadas e as NTN-Bs do governo. Títulos pré-fixados tendem a sofrer em momentos de alta da inflação. Já os pós-fixados, apesar de mais seguros, trazem hoje uma rentabilidade real negativa, pois a inflação está bastante superior à taxa Selic.
  3. Commodities – os ativos reais, como as commodities, imóveis e outros, são ótimas opções para proteger a sua carteira contra a alta da inflação. Petróleo, Ouro, prata, soja, milho, cobre, quase todas as commodities estão subindo fortemente nos últimos 12 meses, por conta da recuperação econômica e excesso de liquidez global. O índice CRB Commodities sobe +57% desde Abril-2020.
  4. Fundos Imobiliários – os fundos imobiliários também oferecem uma excelente proteção em relação à inflação. Nos fundos de tijolo, os aluguéis são reajustados (via IGP-M ou IPCA) e os imóveis podem subir de preço também, elevando a cota. Nos fundos de papel, os títulos de dívida que estão no fundo (como os CRIs), costumam pagar o repasse da inflação diretamente nos seus dividendos, tendo um impacto mais imediato. Veja aqui nossa Carteira Recomendada de FIIs.
  5. Investimentos dolarizados – caso a inflação no Brasil siga acima da inflação nos EUA ou na Europa, a nossa moeda continuará a perder valor no médio prazo para o Dólar e o Euro. Assim, manter investimentos em ativos internacionais dolarizados também ajuda a proteger o seu patrimônio contra a alta da inflação.

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