As perspectivas positivas para a dinâmica de preços do setor sucroalcooleiro projetadas no início da safra 2021/22 foram concretizadas: a continuidade da recuperação do consumo de açúcar combinada com a menor produção de açúcar no Brasil mantiveram os preços do adoçante em níveis recordes, enquanto a retomada da demanda por combustíveis e a alta no preço do petróleo (efeito paridade) também sustentaram as cotações do etanol em patamares elevados.
Por outro lado, questões climáticas desfavoráveis reduziram todo esse ganho observado nos preços, já que a safra 2021/22 se encerrou praticamente em outubro, quando muitas das usinas concluíram sua moagem no início da segunda quinzena do mês. A seca que já vem assolando o setor há tempos, assim como as geadas e, em algumas regiões, queimadas, foram fatores decisivos para o desempenho do campo desta safra.
Aponta-se que as usinas com percentual elevado de cana própria apresentaram melhor desempenho, já que a dinâmica de preços atual aumentou o custo cana. Com isso, puderam absorver melhores margens na operação, sem a oneração do aumento deste custo.
Seguimos em etapas
Ao campo, como já citado, os estragos foram grandes. As usinas do Centro Sul foram as mais impactadas do setor, com quebras de safra acima de 20% em algumas regiões. Vale lembrar que em nosso primeiro relatório do ano já sinalizávamos que a quebra apontada inicialmente em 5% seria muito maior ao decorrer da safra, pois as conversas com as usinas já indicavam quebras superiores a 10%.
Produtividade: como consequência do pior desempenho no campo, o índice de produtividade também sofreu quando comparado com as safras 2020/21: a retração do Açúcar Total Recuperável (ATR) foi de 9,5%, segundo a Conab. No Centro Sul, a redução foi superior, chegando em aproximadamente 11%.
Moagem: De acordo com estimativas da Conab, a moagem ficou em 568 milhões de toneladas na safra 2021/22, 13,1% abaixo do realizado na safra passada. O Centro Sul apresentou redução de 14%, para 520 milhões de toneladas. Estima-se que a região será responsável por cerca de 91% da moagem brasileira total na safra.
As margens reduzidas refletiram alguns fatores: i) aumento do “custo cana” (ou seja, custo de produção da cana própria ou custo de aquisição da cana de terceiros), ii) pressão cambial e iii) redução na oferta de fertilizantes, que consequentemente apresentaram ajuste significativo nos preços (praticamente o dobro), iv) inflação, com grande representatividade na composição do custo, v) manutenção de máquinas e equipamentos, vi) aquisição de colheitadeiras e outros.
Para as usinas com um acúmulo de fatores de quebra de safra somado a um percentual elevado de cana de terceiros, os custos consumiram significativamente as margens operacionais. Apesar dos preços de comercialização em alguns casos serem maiores do que em usinas com desempenhos superiores, dada a dificuldade para realizar toda a fixação de preços previamente em razão da falta de bancabilidade, a geração de caixa foi impactada negativamente.
Mix da safra: de acordo com estimativas da consultoria MBAgro, atualizadas no último mês de novembro, a safra do Centro Sul deverá encerrar com 46,1% do seu mix voltado para o açúcar, assim como na temporada anterior, patamar que deve se manter para a safra 2022/23.
Performance e preços de comercialização
Açúcar
O Centro Sul deverá ser responsável por aproximadamente 36 milhões de toneladas de um total de 38,5 milhões de toneladas, ou seja, 92% da produção. A redução quando comparado com a safra passada foi inferior a 3%, isso porque o reflexo da quebra de safra foi fortemente voltado para o etanol.
Com uma gradativa melhora da demanda ao longo do período, o consumo deverá ser ligeiramente maior do que na safra passada. No entanto, será o segundo ano consecutivo de déficit de estoque mundial de açúcar. Dado o conjunto de fatores, os preços saltaram de US 12,6 c/lb (cents por libra-peso) na safra 2019/20 para mais de US 19,0 c/lb na safra atual, atingindo o recorde na temporada de US c 20,42/lb, patamar não observado desde meados da safra 2016/17.
As usinas possuem um percentual superior a 35% fixado para a safra 2022/23 e já vêm realizando fixações para a safra subsequente, garantindo assim preços de venda em patamares elevados.
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Etanol
A produção de etanol do Centro Sul nesta safra ficará aproximadamente 12% menor do que na safra 2020/21, valendo o destaque para o etanol de milho, que teve 27% de aumento passando de 2,6 Mm³ (milhões de metros cúbicos) para 3,3 Mm³. Se excluirmos a produção de etanol de milho, os etanóis de cana deverão apresentar retração de 15,5%, reflexo da quebra de safra, que por ter elevado volume de açúcar previamente fixado, voltou sua quebra ao etanol.
O trabalho das usinas aqui merece destaque, pois o comprometimento de produção e as conversas junto ao Governo garantiram que o percentual de mistura na gasolina fosse mantido mesmo com a redução de produção do etanol – o etanol anidro de cana teve sua produção mantida, uma vez que qualquer redução de percentual na mistura seria muito negativo para o setor. Todavia, o estoque deverá ficar abaixo da safra 2020/21.
Energia
Destaque ao mercado spot, que pode se beneficiar dos preços de comercialização e “escassez” do produto. Muitas das usinas possuem suas vendas de energia atreladas em seu maior volume a contratos. Contudo, de forma a aproveitar o preço, vimos um movimento de antecipação desses contratos, o que ajudou muitas das usinas a equalizarem parte do fluxo de caixa afetado pela redução da produção.
Conclusão safra 2021/22
Podemos classificar como uma safra desafiadora, principalmente no que tange o desempenho do campo. Algumas usinas seguraram o início da moagem, dado a falta de chuva, e monitoraram a colheita ao longo da safra, em busca de melhores condições de extração. Outubro foi o mês em que praticamente todas as usinas da região Centro Sul finalizaram sua moagem. Houve os desafios da gestão de custo e aumento da inflação, que consumiram parte da geração de caixa. Os preços elevados, atrelados aos compromissos das usinas em manter a produção de anidro, fizeram com que outros possíveis fatores não sobrepusessem o desempenho positivo do setor.
Para acompanhar na próxima safra…
Um desafio e tanto depois de muitas intempéries climáticas impactando a última safra. Ainda não se sabe qual será de fato o efeito no campo, uma vez que houve nessa safra uma colheita mais irregular, se assim podemos definir.
Palpites? As previsões apontam para uma moagem entre 530 – 560 milhões de toneladas. Ressalta-se que tudo dependerá dos eventos climáticos que deverão incidir ao longo da próxima safra.
Chuvas? Sim, algumas consultorias já apontam incidência de chuva mais cedo e com bom volume, cobrindo as principais regiões.
Os preços deverão operar ainda em alta, o que historicamente para o setor é um grande feito, uma vez que nunca os preços de açúcar e etanol se mantiveram em patamares elevados por tanto tempo, devendo se sustentar assim até a safra 2023/24. Isso porque teremos a Índia mais voltada para a produção do etanol, dado que deverão desviar parte da produção do açúcar para o combustível, de forma a acelerar seu programa de etanol até 2025. Isto deverá elevar o preço do açúcar globalmente, uma vez que estamos falando de um player importante para o setor. A disputa ganha pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Índia força o país a buscar novas formas de política de preço e subsídio ao produtor.
Preços de açúcar superiores a US 20 c/lb atrelados ao aumento de produção quando comparado com a safra vigente, deverão garantir geração de caixa superior à safra atual.
Contudo, os custos ainda são fatores de atenção, tanto em relação aos insumos quanto à inflação incidida para itens de manutenção, bem como máquinas e equipamentos. Os preços ainda terão fatores como o dólar e petróleo em patamar elevado sustentando o bom momento. Neste cenário de alta de preços e custos, cabe monitorar a gestão de riscos de cada usina.
Adicionalmente, vale destacar que temos ociosidade operacional a ser ocupada pelas usinas, bem como respostas mais positivas dos canaviais para a próxima safra.
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