1. Fed corta juros: Magnitude surpreende economistas, mas não (tanto) o mercado - XP espera mais dois cortes de 25bps em 2024
2. Além do Fed: BoE e BoJ decidem juros e adotam postura cautelosa após dados de inflação - Japão e Reino Unido mantêm suas taxas de juros
3. Petróleo: Segunda semana de alta da commodity impulsiona ações do setor - EUA recompõem reserva de emergência e China aumenta estoques de barris
4. Microsoft: Recompra de ações e novos avanços em IA - Big tech movimenta o mercado com anúncio de buyback e mais investimentos em IA
5. Substituição no comando da Nike: Just Do It - Veterano da empresa volta como CEO


1. Fed corta juros: Magnitude surpreende economistas, mas não (tanto) o mercado
Chegou o grande dia! Pela primeira vez desde 15 de março de 2020, quando cortou emergencialmente os juros para 0%, o Federal Reserve afrouxou as condições monetárias e baixou a sua taxa básica de juros: do intervalo 5,25%-5,50% para 4,75%-5,00%.
O corte, de 50 pontos-base, surpreendeu a grande maioria dos economistas (nós, inclusive!). De acordo com levantamento da Bloomberg, de 113 respondentes apenas 9 esperavam um corte de 50bps, com a ampla maioria (103) esperando um corte de 25bps.
Embora o corte tenha pego os economistas “de surpresa”, o mercado (medido aqui pelos preços dos contratos de juros futuros) sempre deu alguma chance pra o corte de 50, que se acentuou após matérias no Wall Street Journal e Financial Times (como comentamos no item #2 do Top 5 da semana passada). Na quarta-feira, antes do anúncio, o mercado já dava cerca de 70% de chances para o 50 e apenas 30% para o 25.
Para além da decisão da taxa, o Fed também divulgou suas projeções econômicas. Os membros do comitê mostraram uma confiança maior no combate à inflação, com a projeção para 2024 caindo de 2,8% para 2,6% e em 2025 de 2,3% para 2,2%.. As projeções para a taxa de desemprego para 2024, no entanto, subiram de 4% em junho para 4,4% e de 4,2% para 4,4% em 2025. Já em termos de crescimento econômico, as projeções para o PIB caíram levemente de 2,1 para 2% e se mantiveram em 2% para os próximos anos, como no último relatório.

Talvez a grande surpresa da tarde de quarta-feira tenha vindo dos dots, o famoso gráfico dos pontinhos, no qual cada membro do comitê coloca sua projeção de onde acredita que estará a taxa básica de juros ao final de cada ano. Surpreendentemente, apesar da maioria esperar mais 50 pontos base de cortes esse ano ainda (trazendo o intervalo para 4,25% a 4,50%), 7 participantes esperam apenas mais 25bps e 2 não esperam mais corte algum!

Já num dos momentos mais aguardados da semana, a conferência de imprensa pós-decisão, também tivemos um certo grau de surpresa. Jerome Powell parecia feliz com a decisão, mostrando um aspecto tranquilo e confortável, fazendo piadinhas, até. O chairman conseguiu manter o seu tradicional tom dovish e conseguiu passar a mensagem mais dovish sem gerar pânico nos mercados em relação à saúde da economia. Porém destacamos três elementos do seu discurso que destoaram do restante das mensagens e soaram mais hawkish, fazendo as taxas das treasuries mais longas subirem:
- Falou que os juros neutros provavelmente são acima do período antes da pandemia e que não estávamos voltando para o mundo de taxas ultra-baixas;
- Falou que 50bps não deveria ser considerado o novo ritmo de cortes;
- E ainda falou que não estavam declarando vitória sobre a inflação.
Com isso, as taxas de 2 anos das Treasuries subiram 1bp (de 3,58% para 3,59%) na semana, enquanto as de 10 anos abriram +9bps (de 3,65% para 3,74%). Já as probabilidades de cortes para as próximas reuniões do Fed em novembro e dezembro fecham a semana em 1,5 e 3,0, com o mercado esperando mais cortes do que o próprio comitê indicou em seus dots.
Já o nosso time de economia da XP espera, agora, dois cortes de 25bps, embora acreditem que a barra está baixa para que o Fed, ao estar altamente sensível a qualquer enfraquecimento adicional do mercado de trabalho, faça mais um corte “duplo” de 50bps.

2. Além do Fed: BoE e BoJ decidem juros e adotam postura cautelosa após dados de inflação
Apesar de ofuscada pelo corte de juros do Federal Reserve (Fed), tivemos uma semana importante para Japão e Reino Unido, com a divulgação de dados de inflação ao consumidor seguidos de decisões de juros.
No Japão, a inflação continuou a crescer e preocupar, alcançando 3,0% em agosto, acima dos níveis de julho. Mesmo assim, o Banco Central japonês (BoJ) optou por não aumentar as taxas de juros, afirmando que o cenário está mais incerto e que é necessário mais tempo para que uma melhor decisão seja tomada. O BoJ sinalizou, porém, um provável novo aumento de 25bps até o final do ano em meio a expectativas de inflação em um patamar elevado. Por sua vez, o mercado japonês apresentou uma performance positiva, subindo 2,4% durante a semana. Nossa perspectiva para o mercado de ações na região é Neutra, dado que vemos misto entre elementos negativos, como o ciclo de alta de juros do BoJ, e elementos positivos, como um maior crescimento no lucro das empresas, impulsionado pelas reformas corporativas.
Já no Reino Unido, vimos um cenário semelhante, com a decisão de juros de quinta-feira consolidada pelos dados de inflação ao consumidor. Por lá, a inflação se manteve estável em 2,2% e veio em linha com as expectativas do mercado, mas a má notícia ainda é a inflação de serviços, que segue pressionada. Nesse cenário, o Banco Central da Inglaterra (BoE) optou por seguir os passos do Banco Central Europeu na semana passada e manteve sua taxa de juros. Porém, ao contrário do Japão, vemos perspectivas de redução para as próximas reuniões, com o mercado precificando dois cortes de 25bps. até o final do ano. Seguimos positivos com o Reino Unido, e acreditamos que as ações da região estão sendo negociadas com desconto em relação aos seus múltiplos históricos.

3. Petróleo: Segunda semana de alta da commodity impulsiona ações do setor
Em semana marcada pela “surpresa” no corte de juros de 50bps pelo Fed, um setor se destacou na liderança dentre as ações dos EUA: Energia. Com alta de cerca de 3,7% o ETF XLE liderou a tabela de performances e outperformou o S&P 500, que subiu 1,1%.
Do ponto de vista da demanda, dados referentes à recomposição da reserva de emergência dos EUA e ao aumento do estoque de barris pela China indicaram que, com o barril do Brent se aproximando dos US$ 70 dólares, há compradores que, não necessariamente, estão ligados à economia. Além disso, investidores começam a precificar um aumento na demanda, dado que as expectativas de estímulos ao setor imobiliário por parte do governo chinês estão crescendo conforme os dados econômicos do país seguem decepcionando.
Do lado da oferta, a escalada nas tensões no Oriente médio, com a explosão de diversos equipamentos eletrônicos de membros do Hezbollah no Líbano, preocupa o mercado, em especial com relação ao envolvimento do Irã num conflito com Israel. Ao mesmo tempo, os preços dos seguros de navios que passam pelo Mar Vermelho dobraram ao longo de Setembro, com o aumento das preocupações com ataques dos Houthis na região, um outro indicativo do aumento das tensões. Tudo isso num ambiente no qual os especuladores estavam em níveis de pessimismo recorde com o petróleo. Dados das bolsas de futuros dos EUA mostram que hedge funds e outros asset managers têm vendido constantemente contratos futuros de WTI e Brent, chegando a níveis extremos. Na semana, WTI subiu 4,8% e o Brent 4,2%.

4. Microsoft: Recompra de ações e novos avanços em IA
Os movimentos recentes da Microsoft foram um dos principais destaques da semana, com o anúncio de um aumento de 10,6% nos dividendos e uma recompra de ações no valor de US$ 60 bilhões. Embora esse buyback represente menos de 2% do valor de mercado da empresa, o valor é sete vez superior à média do financeiro negociado por dia do papel, utilizando a média dos últimos 12 meses.
O buyback, ou recompra de ações, é uma estratégia em que a empresa adquire suas próprias ações no mercado. Essa prática reduz o número total de papeis disponíveis para os investidores, o que geralmente resulta em uma alta nos preços das ações restantes, já que há menos papéis em circulação. Além disso, pode sinalizar ao mercado que a empresa acredita está subvalorizada, sendo um bom momento para compra e aumentando as expectativas dos investidores.
O impacto positivo no preço das ações foi imediato, com a ação alcançando uma alta de 2,4% logo na abertura do mercado. No entanto, na quarta-feira, os preços já haviam se estabilizado, à medida que o foco do mercado se voltou para outras notícias, como a decisão sobre os juros americanos pelo Federal Reserve. No final da semana, a empresa registrou uma performance positiva de 1,1%.

Outra pauta interessante que gerou comentários sobre a big tech nesta semana foram os anúncios relacionados à Inteligência Artificial (IA). Após a demanda por processamento ligado à IA ter contribuído com 8 pontos percentuais para o crescimento da receita do segmento, conforme discutido em nossa cobertura dos resultados do segundo trimestre, a Microsoft está intensificando seus investimentos nesse setor.
A semana começou com notícias sobre a OpenAI, que realizará uma nova rodada de investimentos com alta demanda e provável participação da Microsoft, que já é a principal investidora da startup avaliada em US$ 150 bilhões. Além disso, foi anunciada a criação de um novo fundo voltado para infraestrutura em IA, em parceria com a BlackRock. Por fim, saiu a notícia de que a Microsoft firmou um acordo para adquirir toda a energia de uma usina nuclear desativada, garantindo eletricidade para seus centros de dados por 20 anos. A usina tem previsão para ser ativada em 2028 e geraria bons retornos operacionais para a big tech, como a utilização de energia limpa nos data centers e a possibilidade de atender à crescente demanda por IA.
Microsoft faz parte da carteira Top Ações Globais XP
5. Substituição no comando da Nike: Just Do It
As ações da Nike tiveram grande destaque nessa última semana após anunciar a troca de CEO com o veterano da empresa Elliott Hill entrando no lugar de John Donahoe, na quinta-feira pós-fechamento de mercado. Hill entrou na Nike em 1988, e foi presidente de Consumo e Mercado antes de sua aposentadoria em 2020.
O mercado reagiu positivamente, com as ações subindo cerca de 7% na sexta-feira. Até o anúncio da quinta-feira, as ações acumulavam perdas de mais de 25% no ano, com quedas nas receitas e perda de market share para outras varejistas. Em comparação, as ações da Adidas sobem 21% no mesmo período, enquanto as da Under Armour caem 10%.
Donahoe chegou à Nike como somente o segundo executivo de fora da empresa a liderar a icônica marca esportiva em toda sua história. Desde sua entrada, implementou um plano de corte de gastos agressivo de US$ 2 bilhões, além de demissões totalizando 2% dos funcionários da empresa. Após uma revisão negativa de receita em dezembro, Donahoe tem ficado na corda bamba, e, em junho, alertou que as receitas para o próximo ano fiscal seriam abaixo da expectativa, o que provocou uma queda de 20% nas ações em um dia.
O anúncio, embora indubitavelmente positivo, não pode ser considerado uma grande surpresa. Falamos recentemente sobre as mudanças organizacionais que têm sido feitas nos últimos meses, com o retorno de antigos executivos (assim como Elliot Hill) e a pressão de investidores com Bill Ackman.
Na semana, as ações subiram 9,5% e reduziram as perdas em 2024 para -20,3%.

Nike faz parte da carteira Top Ações Globais XP

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