Biocombustíveis: explorando oportunidades para o Brasil

Destaques do evento da ABIOVE sobre o ‘Combustível do Futuro’ e o mercado de biodiesel

Na semana passada, participamos do evento organizado pela ABIOVE para discutir o programa “Combustível do Futuro” e as perspectivas para o mercado de biocombustíveis no Brasil. De modo geral, as discussões focaram em como equilibrar políticas ambiciosas com execução prática, além de possíveis desafios. Neste relatório, destacamos as quatro principais mensagens do evento: (i) Brasil como uma potência em biocombustíveis; (ii) o papel da Lei ‘Combustível do Futuro’ na ancoragem da demanda (Figura 01); (iii) o aumento da oferta e demanda de biodiesel; e (iv) SAF como uma solução menos tangível no médio prazo.

Brasil como uma potência em biocombustíveis

O Brasil é o 2° maior produtor de biocombustível do mundo (Figura 02), atrás apenas dos EUA, impulsionado por matérias-primas abundantes e emissões de carbono relativamente baixas. Nos últimos anos, vimos a produção de biocombustível expandir, ao mesmo tempo em que o Brasil cresceu como um dos principais exportadores de alimentos, principalmente frente à expansão da produção vinculada à recuperação de terras e pastagens degradadas. O óleo de soja continua sendo a principal matéria-prima, com um aumento de 56% na produção local entre 2013 e 2024 (Figura 03). À medida que a oferta de biocombustíveis aumenta, a demanda também cresce, impulsionada por um arcabouço regulatório favorável.

O papel da Lei ‘Combustível do Futuro’ na ancoragem da demanda

Sancionado em out/24, o programa foi reconhecido pelos painelistas como uma política fundamental para criar previsibilidade e impulsionar a demanda por meio de mandatos para mistura de biocombustíveis convencionais (etanol e biodiesel) e avançados, como o diesel verde (HVO) e o combustível de aviação sustentável (SAF). Com isso, o programa visa evitar a emissão de 705 milhões de toneladas de CO2eq até 2037. Por outro lado, dois desafios foram destacados: (i) capacidade de fiscalização: a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) opera atualmente com uma força de trabalho menor do que há 20 anos, apesar de atuar com um escopo maior; e (ii) viabilidade técnica: o aumento das taxas de mistura exige adaptações logísticas e operacionais - por exemplo, o biodiesel B100 difere ligeiramente do diesel convencional, exigindo adaptações em toda a cadeia de suprimentos.

Aumento da oferta e demanda de biodiesel

Durante o ciclo 2023/24, a produção de biodiesel no Brasil aumentou 27%, com o óleo de soja representando 74% do total. De forma semelhante, em termos de demanda, entre 2010 e 2020, o consumo de biodiesel cresceu a uma taxa média anual de 1,3%, acelerando para 4,4% entre 2020 e 2023, com o setor de transporte rodoviário permanecendo como o principal destino (78% da demanda total). Além de menores emissões - redução de 80% quando comparado ao diesel fóssil -, o biodiesel também desempenha um papel estratégico na redução da dependência das importações de diesel, que atualmente representam ~25% do consumo total de diesel A. À título de referência, o Brasil possui 58 usinas de biodiesel, a maioria no Sul e no Centro-Oeste. Apesar da crescente demanda, o setor ainda opera abaixo da capacidade, utilizando ~61% de seu potencial, com tal subutilização representando uma oportunidade de expandir o uso para outros setores, como o transporte marítimo.

SAF como uma solução menos tangível no médio prazo

Embora reconhecido como essencial para a descarbonização da aviação, os palestrantes reforçaram que o SAF segue distante de ser escalável, apesar de investimentos do setor privado¹. Na visão deles, como o combustível é responsável por ~40% das despesas operacionais das companhias aéreas, o custo do SAF (3-4x maior do que o do combustível convencional) representa uma barreira significativa para a adoção. Dessa forma, ao tornar obrigatória a mistura de SAF a partir de 2027, o ‘Combustível do Futuro’ poderia aumentar os custos operacionais das empresas - uma mistura de 10% de SAF poderia aumentar os custos de combustível em 35%² -, resultando em preços mais altos de passagens para os consumidores.

¹ex: Petrobras e Acelen; ²de acordo com estimativas das companhias aéreas, supondo que os preços do SAF permaneçam inalterados até então.

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