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Sinais…

Sinais de riscos fiscais começam a aparecer, o que fazer para se proteger?

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O preço de um ativo traz com ele sinais vitais para o bom funcionamento de uma economia. A teoria econômica diz que o sinal dado pelo preço indica que a oferta ou a demanda daquele serviço ou produto deve ser ajustada adiante.

O mercado financeiro também tem um papel muito relevante para o funcionamento das economias, pois os preços dos principais ativos financeiros ajudam a balizar os rumos futuros. Preços como os juros de mercado, a moeda, e as ações negociadas em Bolsas de Valores têm um papel fundamental de sinalizar se a economia daquele país está no caminho de melhora ou de deterioração.

Nesse XPresso, iremos discutir alguns sinais de preço dos ativos brasileiros.

De “Buy Brazil”….

Não é novidade que o Brasil se tornou um grande consenso para investidores globais esse ano. Até ontem, a Bolsa brasileira subia quase 20% em dólares no ano, enquanto as principais Bolsas globais caíam entre 20% a 30%.

Os ativos brasileiros oferecem: 1) exposição aos setores que investidores querem comprar no momento, como bancos e commodities, que se beneficiam de um cenário de inflação alta e juros altos, 2) altas taxas de juros, que ajudam a proteger a moeda a não ter uma grande depreciação e diminui o risco inflacionário, e 3) valor atrativo, dado que o Preço/Lucro da Bolsa segue próximo a 7x, quase 40% de desconto em relação à média histórica.

Além disso, os grandes problemas que outros grandes mercados emergentes passam (China, Rússia, Turquia e outros) fizeram com que os investidores se voltassem ao Brasil como uma opção atrativa de investimento.

Até o início dessa semana, o fluxo de entrada líquida dos estrangeiros já somava perto de R$ 100 bilhões no ano, um recorde. Desde o resultado das eleições, esse fluxo somou quase R$7 bilhões até o dia 8 de novembro.

Dessa forma, os ativos brasileiros tiveram uma sólida performance nos últimos dias, com a moeda se aproximando de R$5,00 e a Bolsa chegando perto dos 120 mil pontos. O forte fluxo dos estrangeiros sinalizou que o mercado estava calmo, e provavelmente esperando um próximo governo pragmático na economia.

…para “Bye Brazil”?

Mas essa percepção mudou. Os sinais transmitidos de Brasília têm vindo na outra direção. O discurso do presidente eleito Lula remete ao passado de forte expansão dos gastos governamentais, possível eliminação do teto de gastos e questionamento da necessidade de equilíbrio fiscal no Brasil.

Além disso, as notícias e os discursos recentes indicam um valor significativo sendo negociado de despesas fiscais fora do teto de gastos em 2023, algo em torno de R$175 bilhões.

Como resultado, os preços dos ativos brasileiros começaram a reagir fortemente. Os sinais de preço que indicavam um mercado “tranquilo” tiveram uma forte guinada.

O índice Ibovespa chegou a cair 4,5% durante o dia, e perdeu quase R$100 bilhões de valor hoje. O dólar, por sua vez, subiu 3,5%, para R$5,38, registrando a pior performance entre as principais moedas no mundo, em um dia de queda histórica no Dólar em relação à outras moedas após um dado fraco de inflação nos EUA. Já os juros futuros (DIs) subiram quase +1% no dia. O contrato para Jan/2025, por exemplo, subiu de 12,02% para 12,93%.

Na Bolsa, a forte queda se deu principalmente nos papéis que desempenharam bem nas últimas semanas e/ou papéis que o investidor estrangeiro tende a gostar. As ações da B3 caíram -12%, Magalu -11%, Hapvida -14%, YDUQS -14%, além de vários outros papéis que tiveram quedas expressivas.

O mercado, via a precificação dos principais ativos financeiros, sinaliza que mais uma aventura fiscal poderá custar caro para o Brasil. Com a moeda se desvalorizando, a inflação tende a subir e isso pode forçar o Banco Central a elevar ainda mais as taxas de juros – como resultado, o poder de compra é corroído.

O que não faltam no Brasil são episódios históricos que mostram que essa política de “gasto é vida” não funciona, e acaba por prejudicar a população de mais baixa renda. Quem vive do salário vê o seu poder de compra corroído pela inflação e um câmbio cada vez mais depreciado, enquanto quem investe consegue manter o seu poder de compra em termos reais. A América Latina tem vizinhos que por estão nessa situação há décadas.

O nosso economista, Tiago Sbardelotto, ressalta que a expansão das despesas no próximo ano impactará significativamente a trajetória da dívida pública. A definição de nova regra fiscal será fundamental para ancorar expectativas sobre sustentabilidade fiscal.

Fonte: XP Research.

E o que fazer para se proteger?

Existem alguns caminhos possíveis adiante, mas dado os destinos muito diferentes em cada um deles, vale a pena se manter defensivo.

Um caminho seria que os sinais de deterioração nos preços de ativos, a dificuldade de se aprovar uma PEC com gastos permanentes muito grandes e o novo Congresso eleito possam trazer de volta a responsabilidade e o pragmatismo fiscal nos próximos anos. O Reino Unido passou por um episódio semelhante recentemente, o que mostra que o mercado já não tolera programas fiscais muito expansionistas em um cenário de inflação em alta em todo mundo.

Um outro caminho seria o Brasil retornar ao modelo econômico de tentar acelerar a economia via despesas do governo, levando a um descontrole da trajetória da dívida pública – que já está entre as maiores dentre os mercados emergentes. Esse cenário irá trazer uma inflação alta e perene, taxas de juros nominais bastante elevadas e uma taxa de câmbio cada vez mais depreciada.

Como se proteger em relação às incertezas futuras? As melhores opções de proteção em cenário de incerteza doméstica são: 1) renda fixa pós-fixada, 2) renda fixa inflação de curta e média duração, 3) investimentos internacionais e dolarizados.

Mas e a Bolsa? A Bolsa tende a sofrer nesses cenários de taxas de juros maiores e elevação do prêmio de risco do país, mas vale lembrar alguns pontos importantes: 1) a Bolsa brasileira já negocia com 40% desconto em relação a sua média histórica, 2) 68% da Bolsa brasileira é composta por setores que não são muito afetados por inflação e câmbio mais altos (financeiro, commodities e setor elétrico), e 3) as empresas do Ibovespa são líderes de mercado, e conseguem repassar para seus preços um cenário de inflação elevada. Portanto, a Bolsa no longo prazo também funciona como uma boa proteção à inflação.

No último Raio-XP, destacamos que, enquanto seguimos vendo a Bolsa brasileira negociando a níveis atrativos de valuation, temos uma visão um pouco mais cautelosa olhando pra 2023. Isso por conta dos riscos de uma recessão global, bem como dúvidas das políticas a serem seguidas no Brasil. Por isso, a seleção de ações bem-feita deverá ser mais importante do que nunca.

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