As últimas 2 semanas trouxeram novamente uma maior volatilidade nos mercados, e principalmente nos ativos brasileiros. Após um aumento nas tensões políticas e da apresentação da proposta da 2ª fase da Reforma Tributária, vimos o Dólar-Real subir novamente, chegando a R$5,30/USD, após alcançar o nível de R$4,90 há apenas 2 semanas atrás.
Essa volatilidade voltou a acender o debate em relação à necessidade do investidor brasileiro de ter sempre ativos internacionais em sua carteira. De preferência, os ativos internacionais não hedgeados – ou seja, expostos à variação do dólar além da variação no preço do ativo – são instrumentos melhores de proteção da sua carteira no médio-longo prazo. Isso porque o Dólar-Real tende a subir em todas as crises, e investir em um ativo com hedge cambial pode diminuir esse efeito de proteção da carteira nesses momentos de mercado mais turbulento.
O que aconteceu nos últimos dias nos mercados lá fora?
Começando com os acontecimentos mais recentes, dos últimos dias, os mercados globais passaram a corrigir nos últimos dias, após um longo período de altas seguidas – o S&P500 acumula uma alta de 15% em apenas 6 meses. Essa queda nas Bolsas foi motivada por uma forte queda nos juros de longo prazo das Treasuries americanas (títulos do Tesouro dos EUA). Essas taxas estavam em 1,7% em Maio, mas essa semana caíram abaixo de 1,30%. A pergunta correta que você deve estar se fazendo é por que juros mais baixos deveriam derrubar as Bolsas? Não deveria ser o contrário?
Em tese sim, mas como tudo no mercado financeiro, o di**o está nos detalhes. A queda abrupta e repentina das taxas de juros longo prazo pode estar trazendo sinais do mercado de Bonds, o maior e mais líquido mercado do mundo, e balizador dos preços de praticamente todas as outras classes de ativos. Esses sinais seriam de investidores voltando a comprar Títulos do governo, o que traz seus juros para baixo, pois podem estar voltando a se preocupar com o cenário de crescimento global perdendo força.
Se esse for mesmo o caso, e o “Mr. Bond Market” estiver correto, as ações sofrem pois são os ativos mais correlacionados com crescimento futuro.
Esse índice abaixo feito pelo Citi de “Surpresas Econômicas” mostra que as surpresas positivas dos dados econômicos vindo melhores do que o esperado já não estão mais ocorrendo como estavam há alguns meses. Isso porque a expectativa do mercado já é muito superior, e essa aceleração do crescimento que estamos vendo no mundo já é esperada – e, portanto, já estaria descontada nos preços atuais dos ativos.
Índice de Surpresas Econômicas nos EUA – Citi
Qual a melhor região global para se investir no momento?
Uma dúvida muito comum entre os investidores é saber qual a melhor região para se investir fora do Brasil. O que não falta atualmente são boas opções de se investir globalmente, entre ETFs (fundos listados em Bolsa), BDRs, mais de 120 fundos internacionais na plataforma da XP, e COEs.
Como vemos no gráfico abaixo, enquanto EUA e Europa tiveram uma sólida performance esse ano, a Ásia ficou para trás em relação a outros mercados, tendo a pior performance entre as Bolsas globais. Isso tem chamado bastante a atenção dos investidores, o porquê a Ásia ficou tão para trás em relação a outras regiões.
Performance das Bolsas globais em 2021
Cada uma dessas regiões merece um relatório próprio, por isso sugiro ler os relatórios da nossa equipe de Internacional (clique aqui). Dito isso, vou resumir brevemente alguns pontos relevantes dessas principais regiões:
- EUA: o mercado americano tem a melhor performance do ano entre as principais regiões do mundo, já que o S&P500 acumula uma alta de 15% até agora, bem acima da média história anual de retornos em torno de 6%. O mercado americano tem se mostrado muito resiliente, mesmo com a rotação que ocorreu para fora do setor de Tecnologia no começo do ano, a surpresa inflacionária e a postura do Fed mais dura recente em relação a uma potencial diminuição dos estímulos monetários. No médio e longo prazo, os EUA continuam sendo uma excelente opção de investimento internacional, dado que representa quase 60% do mercado acionário global e contém as maiores empresas de tecnologia do mundo, que seguirão crescendo lucros ao disruptar outros setores tradicionais. Dois pontos de atenção são essa forte performance já esse ano e o valuation alto. O S&P500 negocia a 20x P/L para 2022, 33% de prêmio vs. a média histórica de 15x. (Conheça o ETF IVVB11)
- Europa: tem a 2ª melhor performance esse ano, subindo 13%. A Europa se beneficia de ter mais exposição aos setores mais “tradicionais”, como bancos, commodities e industriais. Além disso, o ECB deve manter a política monetária frouxa por mais tempo em relação ao Fed, o que dá suporte ao mercado. A sólida expansão do PIB Europeu esperada para 2021 (+4,8%) também ajuda a região. Por último, a Europa negocia com um valuation bem mais baixo que os EUA, com um P/L de 15,5x para 2022, 15% de prêmio vs. a média histórica de 13,5x. (Conheça o ETF EURP11)
- Mercados Emergentes: os mercados emergentes não estão com uma sólida performance esse ano, subindo apenas 1,88%, bem atrás da média global (+11%). Apesar do cenário positivo para os emergentes no começo de 2021, a grande exposição dos índices de Emergentes para a Ásia (~80%) acabaram afetando a performance do índice. Os mercados Emergentes estão negociando com um P/L médio de 13x para 2021, 18% de prêmio em relação à média de 11x. (Para saber mais, leia Por que a próxima década será dos Mercados Emergentes?)
- China: A China tem performado mal em 2021, caindo 1,81% em dólares até Junho. Vemos uma combinação de fatores tendo impactado o mercado Chinês. Em primeiro lugar, o índice de ações da China tem um peso grande no setor Financeiro (23%) e de Tecnologia (16%). A desaceleração do crédito na China também pesou no setor Financeiro. Além disso, a rotação para fora do setor de Tecnologia e as investigações do governo Chinês nessas empresas pesou no setor. Dessa forma, as ações de Tecnologia Chinesas passaram a negociar a um alto desconto em relação as americanas. Isso pode ser uma oportunidade para o investidor que tem um horizonte de longo prazo. O mercado Chinês está negociando hoje a um P/L de 14x para 2021, vs. uma média histórica de 11,5x. (Conheça o ETF XINA11)
- Ásia: na mesma esteira da China, a Ásia também teve uma performance fraca esse ano (+0,5%), sendo a pior região em 2021. Além da rotação para fora de tecnologia, a expectativa de crescimento econômico não tão forte em relação ao mundo e outras regiões também pode estar pesando, além de um forte aumento de casos da COVI-19 recentemente, por conta da variante Delta. No longo prazo, a Ásia segue sendo uma excelente opção de investimento, dado o crescimento econômico, a demografia favorável e aumento da renda da população. (A era da Ásia: por que investir nas economias mais promissoras do mundo?)
Qual o % ideal da carteira em dólares (ou em outras moedas)
Uma outra pergunta que sempre me fazem é qual o percentual indicado da carteira que deveria estar “dolarizado”, ou em outras moedas além do Real. Minha resposta para esse questionamento é: não existe uma receita de bolo e um % ideal que valha para todos.
É importante conhecer o seu perfil de investidor e avaliar com o seu assessor qual o melhor % no seu caso específico. Dito isso: 1) as Carteiras Recomendadas da XP por perfil de investidor têm entre 15-30% de alocação internacional sugerida, e 2) uma conta interessante para você fazer é calcular quanto dos seus gastos anuais são dolarizados – por exemplo em viagens internacionais (quando elas retornarem), em produtos importados, em eletrônicos e outros. Aposto que esse percentual é maior do que você imagina.
Por exemplo, caso você conclua que tem 20 a 30% dos seus custos anuais diretamente ligados ao dólar, você deveria ter esse mesmo % alocado em ativos internacionais dolarizados. Dessa forma, seu patrimônio estará mais protegido no longo prazo, e você pode ser menos “torcedor do Dólar”. Digo sempre que o brasileiro adora viajar, mas fica sempre torcendo pro dólar cair, para que a viagem não custe mais caro do que o imaginado!
Em suma, o investidor brasileiro ainda tem 2% ou menos de alocação em ativos internacionais, um percentual ínfimo e que seguirá crescendo fortemente nos próximos meses, e anos. O Brasil é um mercado pequeno, representando cerca de 1% do valor das ações globais e 2% do PIB global. Ou seja, investir seus recursos apenas no Brasil é perder 98-99% das oportunidades que existem lá fora.
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