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Bolsa americana: oportunidade de compra?

Após um início de ano turbulento, já é hora de se voltar a investir na Bolsa americana, ou ainda é cedo? Discutimos se é hora de comprar ações americanas no Sunday XPresso,

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Volatilidade: Qualidade do que sofre constantes mudanças; característica do que é volátil, do que não é firme, daquilo que muda constantemente ou se vaporiza.

Esperávamos um ano de 2022 com maior volatilidade em nosso relatório “Onde Investir 2022”. Pelo começo de ano que tivemos até aqui, dá para se afirmar que a expectativa está sendo seguida à risca. O índice S&P500 da Bolsa americana cai mais de -6% e o Nasdaq cai -11%. Já o Bitcoin cai -16% no ano, e acumula quase -40% de queda desde o pico. A Bolsa brasileira, por enquanto, segue indo em outra direção, e já sobe +9% no ano, como descrevemos em detalhe no “Raio-XP da Bolsa”.

Mas o que está acontecendo com a Bolsa americana?

Após um início de ano turbulento, já é hora de se voltar a investir por lá, ou seria melhor esperar?

Em primeiro lugar, sempre temos que colocar as coisas em perspectivas, e não olhar os retornos apenas pelo prisma dos anos do calendário. Quando olhamos em um horizonte mais longo de tempo, a Bolsa americana teve uma performance bastante superior à qualquer outra Bolsa do mundo nos últimos anos.

Performance dos principais índices nos últimos 2, 5 e 10 anos

Performance dos principais índices na Bolsa americana e outras Bolsas nos últimos 2, 5 e 10 anos.
Fonte: Bloomberg, XP Investimentos

Isso por conta da forte performance das empresas do setor de tecnologia, que hoje representam mais de 33% dos índices das Bolsas americanas. Enquanto essas empresas vão seguir sendo disruptivas nos próximos anos, essa grande exposição ao setor vem sendo um problema em 2022.

O início do ciclo de aperto monetário, e a “grande rotação”

No início do ciclo de aperto monetário nos EUA, tivemos a promessa do Federal Reserve de que irá reduzir o tamanho do seu balanço e retirar liquidez dos mercados. Desde o início da pandemia, em março de 2020, o Fed aumentou o seu balanço em +US$4,7 trilhões, de US$4,16 trilhões para US$8,87 trilhões atualmente. Essa enorme quantidade de dinheiro ajudou a manter as taxas de juros baixas no mercado, e também ajudou os preços de ativos a subirem nos últimos 2 anos.

Dessa forma, com a mudança de ciclo nos EUA, as taxas de juros de mercado, medido pelos títulos do governo americano, chamadas Treasuries, tiveram uma forte alta recente. As Treasuries já subiram para os maiores níveis desde o pré-pandemia, e a taxa do título de 10 anos já se aproxima de 2% ao ano.

Esse aumento de juros tem levado a uma “grande rotação”, já que os investidores estão saindo de setores mais sensíveis ao aumento de juros – como o setor de tecnologia – e comprando setores que têm menor impacto, ou que se beneficiam desse aumento – como bancos e commodities.

A Bolsa americana está cara?

 A resposta curta é que sim. A Bolsa americana ainda não se encontra em patamares que podemos considerar “baratos”. O indicador de Preço/Lucro está em 20,2x, ou 30% acima da média histórica, entre 15-16x.

Fonte: Bloomberg, XP Investimentos

Por outro lado, uma das métricas que mais gostamos é de comparar o valuation das bolsas com o nível de juros reais – juros descontados da inflação. Os juros reais de 10 anos nos EUA se mantêm em um baixo nível, de apenas -0,5%, enquanto a Bolsa americana oferece hoje uma rentabilidade esperada de +5,4% ao ano (medido pelo Earnings Yield), como vemos no gráfico abaixo.

Prêmio de risco do S&P500 e juro real de longo prazo – %

Fonte: XP Investimentos

Dessa forma, o indicador que compara a rentabilidade esperada da Bolsa com o nível de juros reais, também conhecido como “Prêmio de Risco” (Equity Risk Premium), se encontra bem em linha com a média histórica. Ou seja, as ações americanas não estão caras quando comparadas ao nível de juros nos EUA.

Prêmio de Risco da Bolsa = diferença entre retornos esperados da Bolsa vs. Renda Fixa

Fonte: XP Investimentos

O que acontece com a Bolsa americana se os níveis de juros reais seguirem subindo?

Fizemos essa sensibilidade. Caso os juros reais de 10 anos nos EUA voltem para 0%, dos -0,5% que apresenta atualmente, a Bolsa americana deveria cair 15% para retornar o “Prêmio de Risco” de volta para a média histórica, e o Preço/Lucro de volta para 17x. Caso os juros reais retornem para +1%, a Bolsa americana deveria corrigir 27%, trazendo a relação de Preço/Lucro de volta para 15x, de 20,2x hoje.

Ou seja, caso os juros nos EUA sigam subindo, a Bolsa americana deveria corrigir mais, para trazer a relação entre a Renda Fixa e a Bolsa de volta aos patamares históricos.

Sólidos resultados, e bom crescimento de lucro esperado para 2022

55% das empresas do S&P500 já reportaram seus resultados referentes ao 4º trimestre de 2021. Até agora, 68% delas surpreendeu positivamente em relação às expectativas de receita e 76% surpreendeu nas expectativas de lucro, com uma média de surpresa positiva de +6%. Esses dados mostram mais uma sólida temporada de resultados das empresas americanas.

Porém, vimos uma série delas tendo reações bastante negativas após guiarem para resultados mais fracos adiante, como no caso da Tesla, Netflix, e a mais impressionante delas, a Meta (dona do Facebook), que caiu -26% em um dia, e bateu o recorde de queda de valor de uma companhia em apenas 1 dia, de US$195 bilhões. Essas fortes reações mostram que o mercado americano segue mais “nervoso” em relação ao futuro.

Para o ano de 2022, o consenso de mercado espera um crescimento de lucros para empresas do S&P500 de +16%, o que consideramos como sólido.

Conclusão: curto prazo volátil, mas o otimismo segue intacto

Seguimos esperando um curto prazo volátil para a Bolsa americana, na medida em que o ciclo monetário se encontra em transição, e uma alta significativa das taxas de juros e retirada dos estímulos monetários é aguardada para esse ano. Dessa forma, caso os juros de mercados sigam em alta, a Bolsa americana poderia vir a sofrer mais, pois ela ainda não se encontra em patamares atrativos de preço, como mostramos.

Dito isso, o nosso otimismo com a Bolsa americana no médio e longo prazo segue intacto. A Bolsa americana retornou em média 10% ao ano em dólares nos últimos 20 anos. Já o gráfico do livro “Ações para o Longo Prazo”, do professor Jeremy Siegel, mostra que desde 1802, a Bolsa americana teve um retorno médio de 6,6% ao ano.

Não só a economia americana segue entre as mais pujantes do mundo, mas as grandes empresas americanas deverão seguir na liderança de muitas tendências que irão mudar o mundo na próxima década, principalmente na área de tecnologia.

Assim, investidores que ainda possuem uma baixa diversificação internacional devem usar esses momentos de fraqueza para aumentar a sua posição nessa classe de ativos.

Fonte: Livro “Ações para o Longo Prazo”, Siegel, Jeremy

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