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O custo do carbono e como as empresas podem se preparar

Nas últimas semanas vimos muitas notícias sobre carbono, incluindo a taxação de produtos importados na União Europeia e a criação do mercado de carbono regulado na China. E uma pergunta que todos devem estar se fazendo nesse momento é: o que isso impacta no Brasil? A precificação de carbono pode ocorrer de duas maneiras: via […]

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Nas últimas semanas vimos muitas notícias sobre carbono, incluindo a taxação de produtos importados na União Europeia e a criação do mercado de carbono regulado na China. E uma pergunta que todos devem estar se fazendo nesse momento é: o que isso impacta no Brasil?

A precificação de carbono pode ocorrer de duas maneiras: via taxação de carbono, em que o governo especifica um preço a ser pago por tonelada de carbono emitida; ou via a criação de mercados de carbono, nos quais os agentes do mercado compram e vendem os direitos de emissão.

A União Europeia anunciou a criação da taxa de carbono sobre produtos importados, que vai afetar dramaticamente o fluxo de mercadorias em todo o mundo. A medida pode ser utilizada como como alavanca para gerar pressão para que os outros países se engajem nessa jornada e além disso, tem a finalidade de proteger as indústrias da competitividade de produtos concorrentes estrangeiros que não tenham o custo de uma fabricação descarbonizada e os mesmo padrões ambientais.

Na prática, a taxa carbono vai funcionar com a compra de crédito de carbono pelos importadores. Com essa iniciativa, cerca de 20% das emissões mundiais estão hoje cobertas e o preço desses papéis será calculado pelo preço da tonelada de carbono na Europa.

E como os preços do carbono são definidos?

As autoridades econômicas calculam o valor do carbono necessário na transição de uma economia de baixo carbono para o efetivo cumprimento das metas do Acordo de Paris. O preço de uma tonelada hoje é por volta de € 52 e a previsão é que, em 2030, isso chegue a € 108, segundo a Bloomberg.

E o que está acontecendo na China?

O mercado regulado Chinês tem o potencial de ser o maior do mundo, até ultrapassando o volume negociado na UE:

Porém, apenas o setor de energia foi incluso no lançamento da iniciativa, o que demonstra uma tentativa limitada do maior poluidor do planeta em reduzir suas emissões de gases estufa na atmosfera, embora Pequim prometa adicionar outras indústrias poluentes, como aço e cimento, nos próximos anos. São em média 2.225 empresas inclusas nesta primeira fase do projeto que correspondem por mais de 40% das emissões. A maior crítica em relação a esse movimento é que, se não houver uma transição para além desses setores, o mercado pode ter um impacto marginal na descarbonização do planeta, ou seja, um impacto mínimo se comparado à regulação sobre os setores mais poluentes, por exemplo.

Outros países também estão avançando nessa direção: nos EUA, senadores mandaram uma proposta de taxar importações de produtos fomentando essa agenda para um impacto com maior abrangência e impacto global; já o Canadá e o Japão estão em fase de planejamento para criar mecanismos dessa agenda.

Existem dois mercados de carbono: o regulado e o voluntário.

Nos mercados regulados, os governos determinam uma meta para setores específicos e para cada player. Sendo assim, cada empresa tem uma meta de emissão de CO2 que, se não for cumprida, essa corporação é obrigada a comprar créditos para compensar esse excedente. Do outro lado, as empresas que emitem menos que o valor estabelecido podem comercializar esse saldo em excesso. Hoje em dia, os maiores mercados regulados de carbono são: Europa, EUA e China. Esse movimento começa pelos países mais ricos do mundo para logo depois cascatear para os países em desenvolvimento, até mesmo pela representatividade destes na emissão de carbono histórica confirme o gráfico abaixo:

E como isso funciona no Brasil?

No nosso país, não temos um mercado regulado, ou seja, não temos nenhuma regulação que obrigue as empresas a diminuírem suas emissões de acordo com o Acordo de Paris. As empresas que utilizam desse mecanismo de compensação aqui buscam um compromisso com as mudanças climáticas voluntariamente, porém, essa compensação não é contabilizada como redução de emissões nas metas nacionais.

Atualmente, com a evolução do desenvolvimento da agenda ESG no Brasil, algumas empresas e alguns gestores já estão incorporando riscos ambientais na gestão de suas carteiras (sendo ainda minoria), assim como o risco de uma possível regulação do mercado de carbono local.

“Acreditamos que, se essa regulação vier a acontecer, ela tende a ser algo gradual, com metas que ficariam mais agressivas ao passar dos anos, dando um período de adaptação ao mercado para que as empresas preparem suas estratégias.”

Existem algumas maneiras das indústrias se preparem para essa nova onda: algumas delas precisam estruturar inventários de carbono para calcular a sua pegada e aprovar budgets para a compensação; já outras podem vir a repassar esse custo ao consumidor final como uma opção.

Como funciona para uma empresa compensar a sua pegada de carbono?

Após o alinhamento da pauta na diretoria, o primeiro passo é contratar uma consultoria especializada para realizar o inventário de carbono e identificar junto com esses especialistas quais as fontes emissoras por escopo (1, 2 ou 3):

Escopo 1 (emissões diretas – emissões originadas dentro dos limites organizacionais definidos)

  • Fugitivas
  • Fixa
  • Móvel
  • Resíduos sólidos
  • Efluentes
  • Agrícola Mudanças do uso

Escopo 2 (emissões indiretas provenientes de eletricidade – Abrange as emissões de GEE provenientes da aquisição de energia elétrica e térmica que é consumida pela empresa)

  • Aquisição de energia elétrica (location-based e market-based)
  • Aquisição de energia térmica (Vapor)

Escopo 3 (outras emissões indiretas – É uma consequência das atividades da empresa, mas ocorrem em fontes que não pertencem ou não são controladas pela mesma)

  • Bens e serviços comprados
  • Resíduos gerados nas operações
  • Viagens a negócios
  • Deslocamento de funcionários
  • Financiamentos

Após o levantamento e identificação dessas fontes e a coleta desses dados, a consultoria seleciona a metodologia mais adequada para o cálculo dessas emissões. Ao final desse processo, a companhia já sabe qual é o tamanho da sua pegada de carbono (em toneladas) e é necessário avaliar de acordo com a estratégia quanto desse total em % a empresa vai compensar.

O budget a ser destinado para essa compra de créditos de carbono vai depender da quantidade a ser compensada multiplicada pelo preço do crédito de carbono no período, mas o que muitas empresas hoje em dia não levam em consideração é justamente essa reserva de recursos para compensação, que acaba se tornando uma linha de custo da empresa, afetando diretamente o lucro líquido. Assim como as empresas, muitos agentes do mercado financeiro não integram esse custo na modelagem e análise, o que os leva a sobre estimar o lucro e consequentemente, o preço desses ativos na bolsa.  

Acompanhar essa agenda é importante

Por fim, percebe-se que ainda existe um longo caminho a ser trilhado no que diz respeito à redução de emissões de carbono, principalmente no mercado brasileiro. O mercado de carbono é parte da solução às mudanças climáticas, mas não será somente a compensação de carbono que vai resolver o problema, e sim um conjunto de ações. Esse será um assunto cada vez mais discutido ao redor do globo e nós precisamos estar atentos ao andamento dos debates atuais, principalmente nessa agenda que está em constante evolução. Assim, poderemos promover, ou incentivar a promoção, de maiores inovações tecnológicas e investimento (público e privado) em soluções que possuem um papel fundamental no combate às mudanças climáticas.

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