Faça dos investimentos a sua voz

Todos os dias nos deparamos com situações que nos incomodam e entristecem profundamente como seres humanos – pessoas morando nas ruas, casos de corrupção, comunidades inteiras sem acesso à estrutura de saneamento básico, florestas em chamas, oceanos poluídos por plástico e milhares de outras. Por séculos, colocamos nos governos a responsabilidade de resolver essas questões, afinal, pagamos tantos impostos justamente para que o Estado cuide do nosso patrimônio nacional e garanta a infraestrutura e os serviços básicos para todos os cidadãos.

Continuamente esperamos que um novo governo finalmente mude as coisas e nos frustramos, damos uma nova chance para um próximo e nos decepcionamos de novo, enquanto os desafios sociais e ambientais ficam cada vez maiores e mais complexos. Até que, em determinado momento, chegarmos no nosso limite – cada um tem o seu, e, uma hora alcançamos a sensação  coletiva de “basta”. Vemos que não dá mais para esperar dos outros, que precisamos fazer por nós mesmos, ou, cada vez mais a vida que queremos ter ou o que vislumbramos como possibilidade para a próxima geração é minado, debaixo dos nosso olhos.

Sem dúvida, a pandemia gerou um desses momentos de grande despertar coletivo, refletido nos mais de 6 bilhões de reais em doações nos últimos 6 meses, por cerca de 500 mil pessoas físicas e jurídicas, segundo o Monitor de Doação da Associação Brasileira de Captadores de Recursos. Também expresso na ação exemplar de empresas que usaram seus mais variados ativos para fazer chegar álcool gel, máscaras, respiradores, e, até mesmo para montar e equipar UTIs e construir hospitais de campanha. Sem contar, as milhões de pessoas que colocaram a mão na massa para ajudar vizinhos, funcionários e familiares.

Investir com consciência, investir com responsabilidade, investir considerando os diversos impactos que seu investimento pode gerar, investir integrando as informações ESG (ambientais, sociais e de governança) é uma forma concreta, possível e poderosa de você sinalizar para todos e para si mesmo como você vê e se posiciona no mundo.

Talvez tudo isso tenha servido para nos relembrar e reforçar do poder de influência e de contribuição que cada um de nós tem. De uma forma menos intensa e concentrada do que observamos na pandemia, nos últimos anos já vínhamos percebendo sinais concretos de como novas preferências de consumo e a pressão de investidores estão influenciando as empresas.

Basta reparar na expansão das ofertas de comidas veganas, vegetarianas e orgânicas nos supermercados, ou, na preocupação cada vez mais com a composição, reuso e descarte das embalagens e produtos variados, ou, nos sites de uso compartilhado de bolsas, sapatos e roupas, e, ou, na busca por consumir localmente, ou ainda, as novidades no mundo das motos, bicicletas e carros elétricos.

O crescimento dos mercados de empresas com produtos e serviços ligados à sustentabilidade e ao consumo consciente, por um lado, reflete o quanto valores, temas e preferências geracionais são capturados pelas empresas e passam a moldar sua oferta. E, por outro lado, é também resultado da cobrança dos investidores para que as empresas tenham melhores práticas sociais, ambientais e de governança, e, da consideração desses fatores na sua decisão de investimento.

Perceba que você pode fazer mais do que imagina pelos temas que você se importa, como pessoa, independentemente da sua formação e patrimônio. Você pode doar seu tempo, conhecimento e talentos. Você pode fazer doações de qualquer valor para apoiar aquelas ONGs que fazem um trabalho sério em uma causa que te move.

Na hora de consumir ou de escolher uma empresa para te prestar algum serviço, você pode escolher aquela que tem valores, posicionamentos, práticas e produtos mais próximos do que você acredita como pessoa e do que considera ser melhor para o mundo e para seu futuro.

Leia mais:

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• Como incorporar o ESG?
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Na hora de investir, não é diferente. Se você vai investir diretamente em ações de empresas,  busque conhecer mais sobre elas. Se para você alguns setores e práticas não são aceitáveis, crie seu próprio filtro de exclusão e opte por não investir mais nas empresas que não estiverem alinhadas com seus critérios. Se você ainda não tem tão claro o que considera inegociável ou tem receio de limitar muito seu leque de opções, você pode buscar em um setor as empresas com melhores práticas.

Se, por exemplo, você quer investir em empresas de varejo, busque aquelas que têm uma preocupação maior com clientes, colaboradores, que são mais diversas e inclusivas, que já têm iniciativas de sustentabilidade, ou, que já estão inovando no seu modelo de negócio para minimizar impactos negativos.

Indo além do mundo de ações, se você quer apoiar setores e oportunidades mais vinculadas a um futuro sustentável, procure por títulos, CRAs, CRIs, debêntures atreladas a projetos verdes ou relacionados com sustentabilidade. Já, se você investe via fundos passivos ou ativos, cobre seu assessor e foque em saber quais empresas são investidas pelo fundo para decidir ficar ou buscar outro veículo.

Alocar parte do seu capital em ações, fundos e produtos financeiros é dar um voto de confiança para determinada empresa, estratégia ou ativo prosperar. Que tipo de postura, que tipo de companhia, quais setores você quer nutrir por meio dos seus investimentos?

Comece a se perguntar o que estão fazendo com seu dinheiro e se aquilo está alinhado com o que você acredita e com sua visão de futuro. Se não estiver, procure por outras opções, peça para seu assessor buscar outras oportunidades mais alinhadas com suas preferências. Da mesma forma que cada investidor tolera determinado nível de risco, cada investidor pode e deve tolerar determinado nível de desalinhamento entre o que quer ver melhorando no mundo e os eventuais impactos que seus investimentos estão criando nesse mesmo planeta.

Como a Malala disse na Expert XP 2020: “acredite na sua voz, ela sempre será poderosa”. Você pode expressar a sua de várias formas, tente por meio dos seus investimentos.          

*Originalmente publicada às segundas-feiras, a coluna saiu nesta terça (08/09) devido ao feriado.

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