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Frigoríficos e os efeitos da Peste Suína Africana em 2020

A Peste Suína Africana impulsionou os resultados dos frigoríficos em 2019, e seus efeitos devem continuar em 2020.

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Os frigoríficos foram o grande destaque de 2019, com ações que subiram em média 88%. Mas o que nos aguarda em 2020?

Em 2019, os frigoríficos tiveram grande destaque na Bolsa. Desde o início do ano até hoje, as ações da JBS valorizaram 110%, seguida por Marfrig com 94% e BRF com 59%. Essa performance foi impulsionada, principalmente, pela proliferação da Peste Suína Africana na China. A peste não só intensificou as exportações globais, como também elevou o preço das proteínas no mundo todo, refletindo nos resultados dessas empresas.

Neste momento, investidores começam a se questionar se os impactos da doença já estão precificados, incentivando a realização dos lucros no curto prazo. Além disso, questiona-se por quanto tempo a China ainda continuaria importando volumes tão vultuosos de proteínas dos demais países. Nós, no entanto, ainda vemos potencial para as ações da JBS, que segue como nosso nome preferido dentre os frigoríficos, seguido pela Marfrig e BRF.

A Peste Suína Africana vai continuar impactando o mercado de proteínas até quando?

Em agosto de 2018, os primeiros casos de Peste Suína Africana (PSA) foram reportados pelo governo chinês. Para evitar a contaminação dos demais porcos, houve aumento do abate, o que ocasionou um aumento da oferta de suínos em um primeiro momento. A partir de 2019, no entanto, como não houve recomposição suficiente do rebanho de suínos, houve forte queda no número de abates, causando uma brusca redução na oferta de suínos.

A China é responsável por metade da produção e do consumo mundial de suínos. Em 2019, o país respondeu por 1/3 das importações globais de suínos. Ela é a segunda maior produtora de frango no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (o Brasil é o terceiro colocado). Além disso, o país Asiático é o quarto maior produtor de carne bovina do mundo, ficando atrás de Estados Unidos, Brasil e União Europeia, mas já é o maior importador global de bife do mundo.

Estimativas conservadoras apontam para uma queda de 25% a 30% da produção de suínos na China em 2019 versus 2018. Como a China produz metade dos porcos do mundo, isso equivale a dizer que 1/8 dos suínos do mundo foram dizimados pela Peste. Isso gerou um aumento de preços de carne suína de mais de 100% na comparação anual no mercado doméstico chinês.

É esperado que tal redução na produção seja sentida pelos próximos três anos: apenas em 2024-2025 haveria normalização da produção chinesa. No entanto, é importante ressaltar que, mesmo em 2025, a produção não voltaria aos patamares históricos. Em 2025, ela ficaria cerca de 10% abaixo do valor registrado em 2018, segundo dados do Rabobank.

Como esperávamos, o impacto da PSA não se limitou apenas à carne suína...

Com a carne suína prejudicada, houve substituição do consumo para carne de frango e carne bovina, além de aumento do consumo de peixe, que já era a proteína mais consumida pelos chineses, seguida de carne suína. Inclusive, tal mudança no perfil de consumo chinês já estava em curso anteriormente: à medida que a renda per capita na China aumenta, o consumo de carnes mais nobres, sobretudo a bovina, se expande. Isso nos ajuda a entender porque as exportações de carne bovina brasileira vem vindo tão fortes. De certa forma, a PSA foi o catalisador que faltava para a aceleração dessa transformação estrutural.

Isso se traduziu diretamente no volume de exportações brasileiras de proteína. No caso do frango, o volume exportado acumulado nos onze primeiros meses de 2019 cresceu 7% versus o ano anterior. No caso da carne bovina, os números são ainda mais positivos: 14% de aumento do volume exportado versus o acumulado de onze meses de 2018.

Houve também diversificação nos países exportadores. No primeiro semestre de 2018, o Brasil era responsável por 86% das importações chinesas de frango; agora, sua participação relativa caiu para 70%. Isso não é necessariamente ruim, dado que os impactos da PSA não se restringem apenas à China. O Brasil poderia, por exemplo, remanejar parte de seu comércio exterior para outros países como Japão e Coreia, que inclusive pagam prêmios maiores pela proteína do que a China.

Seguimos com recomendação de Compra para JBS, BRF e Marfrig

Acreditamos que as ações do setor ainda tem potencial de alta. O que poderia nos fazer mudar de ideia? Existem duas grandes preocupação do mercado: a primeira é quanto à capacidade de produção dos frigoríficos, e a segunda é sobre a sustentabilidade dos preços internacionais.

Quanto à capacidade de produção, o mercado se preocupa sobretudo com o otimismo dos frigoríficos. Diante de uma demanda chinesa tão forte quanto a atual, as empresas poderiam cogitar aumentar sua capacidade de produção para poder exportar cada vez mais. No entanto, uma vez que a oferta chinesa se normalizasse, nós aqui no Brasil acabaríamos com excesso de carne; consequentemente, haveria queda nos preços.

Isso até pode parecer bom pra quem gosta de churrasco, mas seria terrível para os frigoríficos! Para a tranquilidade de todos, no entanto, as empresas já reiteraram que não tem planos de aumentar a capacidade voltada para o mercado externo no médio prazo. Enxergamos isso como positivo porque assim o equilíbrio do mercado não deve ser prejudicado.

Quanto à segunda preocupação, sobre a sustentabilidade dos preços de proteína, seguiremos de olho nos efeitos da Peste Suína Africana sobre os patamares de preços globais de proteína. Acreditamos que para 2020, os efeitos ainda devem ser significativos, com um mercado externo pagando preços bastante atrativos. Daí vermos expansão de receita para as empresas da nossa cobertura em 2020, com normalização de margens após isso.

Por fim, vale ressaltar que para o Brasil de 2020, enxergamos demanda mais aquecida com a economia gradualmente ganhando mais fôlego. Isso se traduz em maior consumo de processados, o que também favorece a expansão da receita dos frigoríficos no ano que vem. Além disso, entendemos que haverá normalização gradual do preço do gado, uma vez que a escalada recente do boi gordo, que alcançou mais de 230 reais por arroba, provou que o consumidor não topa pagar tão caro pela carne.

Em suma: continuamos otimistas quanto ao setor de frigoríficos para 2020. Entendemos as preocupações do mercado quanto à capacidade de produção dos frigoríficos e quanto à sustentabilidade dos preços internacionais. Acompanharemos de perto essa interação entre preços, tanto internacionais quanto domésticos, e custo do gado. No entanto, acreditamos que, para 2020, essa dinâmica se revelará benigna para a empresas do setor, e por isso reiteramos compra para JBS, Marfrig e BRF.

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