Na semana passada realizamos a 2ª edição da XP Agro Conference. As principais conclusões foram (i) apesar da acomodação nos preços das commodities, os futuros seguem acima das médias históricas; (ii) a pressão de custos já foi precificada, então as melhorias recentes são um risco de alta; (iii) a jornada de crescimento dos novos players listados não será adiada; e (iv) as visões mais pessimistas vêm das perspectivas macro e incertezas fiscais, não relacionadas às empresas. No nosso relatório, trazemos os principais pontos discutidos com SLCE3, AGRO3, SMTO3, JALL3, AGXY3, TTEN3, SOJA3 e VITT3, porém com insights captados de outras empresas não listadas.
Painel – Atualização do mercado de commodities
André Dias –Nutrien; Luiz Osório –3Tentos; Guilherme Nastari – Datagro; Raquel Blarin – Infomoney; Leonardo Alencar – XP
Espera-se que o Brasil entregue safras recordes de soja, milho e trigo, apesar dos impactos do La Niña, seguindo uma tendência resiliente e duradoura de adoção de tecnologia pelos agricultores.
A produção também deve aumentar para A&A e proteínas animais, aumentando o superávit de exportação do país, enquanto o mundo permanece em uma perspectiva apertada de oferta e demanda.
A descompressão de custos já está em andamento, levando a melhores margens, embora essa perspectiva positiva não se correlacione com o valuation atual da maioria das empresas listadas. O pessimismo macroeconômico, o medo da recessão e as incertezas fiscais permanecem no centro das atenções.
Painel – Agronegócios, Logística e Trading
Mauro Mendes – Governador do Mato Grosso; João Alberto Abreu – Rumo; Marcelo Lima – Kepler Weber; Paulo Roberto de Souza – Alvean; Pedro Bruno – XP
As principais conclusões foram: (i) leitura positiva dos nomes listados (Rumo e Kepler Weber); (ii) tanto os investimentos públicos quanto os privados requerem ambiente adequado (menos burocracia e menores taxas de juros); (iii) players privados também podem ajudar uns aos outros; e (iv) o Mato Grosso é um modelo a ser seguido (tanto em relação a investimentos públicos quanto privados em infraestrutura).
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Açúcar e Álcool – visão melhor apesar de incertezas macro
São Martinho (SMTO3; Compra; Preço-alvo R$ 43.9/ação)
- Incertezas nublando um momento melhor. Achamos positiva com uma visão ligeiramente otimista de 10% de recuperação da produtividade para 2023/24, elevando a moagem total para mais de 22 milhões de toneladas e ajudando a diluir um CPV nominal estável, juntamente com preços de açúcar surpreendentemente resilientes. No entanto, os investidores estão céticos e preferem esperar que os impostos federais sobre a gasolina sejam restabelecidos, o que deve melhorar a competitividade do etanol e aumentar os preços.
- Planta de etanol de milho em aquecimento. Conforme informado anteriormente pela empresa, sua nova usina de etanol de milho entrará oficialmente em operação em abril, o que aumentará a produção total de etanol em 210 mil m³ e o lucro bruto em ~R$ 240 milhões, nas nossas estimativas. Embora o início ocorra em um ambiente aquém do desejado, com os preços do milho ainda altos (apenas parcialmente compensados pelas vendas de DDG) e o etanol sob pressão, vemos isso como positivo para as margens da São Martinho.
Jalles (JALL3; Compra; Preço-alvo R$ 15.7/ação)
- Seguindo a tendência de A&A com externalidades positivas. Embora as preocupações com o restabelecimento dos impostos federais sobre a gasolina sejam válidas para todos os players A&A, os fluxos de receita da Jalles são menos comoditizados e, portanto, mais resilientes, uma suposição importante, já que as exportações de açúcar orgânico estão se recuperando enquanto o frete internacional cai mais rápido do que o esperado – de níveis pré-pandêmicos de US$ 1,5k/ctr para o maior de todos os tempos de US$ 10k, mas recentemente caíram para US$ 5k e US$ 3,5k alguns dias atrás –, deixando espaço para melhores negociações de preços em novos contratos.
- O rendimento da aquisição e o catch-up em tecnologia podem surpreender. Após uma quase esquecida promessa de IPO de uma aquisição próxima ou inferior a US$ 50 EV/ton, a Jalles surpreendeu o mercado com a compra da usina de etanol de Santa Vitória, aumentando a capacidade de moagem em 2 milhões de toneladas (meta de 2,7 milhões de toneladas) e capturando provavelmente a melhor contrato de leilão de venda de energia de longo prazo no valor recorde de R$ 464/MWh.
Produtores – expectativas positivas com espaço para otimismo
SLC (SLCE3; Compra; Preço-alvo R$ 58.8/ação)
- Melhor relação de troca. Apesar dos preços do milho e da soja se manterem em patamares historicamente elevados, principalmente com a perspectiva de safras recordes no Brasil e talvez até de saturação logística, a SLC segue otimista com o próximo relatório do USDA devido a uma previsão de safra de soja menor na Argentina, o que deve impulsionar os preços e permitir maiores vendas enquanto compra insumos para a próxima temporada, melhorando as já sólidas margens.
- Custos mais altos podem ser parcialmente compensados por melhores produtividades. Após uma recuperação esperada no uso de fertilizantes que, juntamente com preços mais altos, deve aumentar os custos para 2023/24, vemos a SLC atingindo um nível de maturidade mais alto na maior parte de suas terras, o que deve se traduzir em melhores produtividades e pode garantir uma melhor margem EBITDA referência nos próximos anos (~35% vs. referência histórica de 32%), ligeiramente acima do nosso cenário base de ~33%-34%.
BrasilAgro (AGRO3; Neutro; Preço-alvo R$ 31.8/ação)
- O mercado de terras continua atraente. Embora a discussão esteja em andamento, já que o melhor momento das commodities já passou, terras boas e produtivas sempre terão demanda e, a nosso ver, a BrasilAgro pode continuar a reciclar seu banco de terras, principalmente com a disponibilidade de mais pastagens.
- Descompressão de custos e maiores produtividades. Como a BrasilAgro continua a desenvolver seu banco de terrenos, espera-se que os rendimentos médios melhorem no futuro previsível, o que deve levar a melhores margens, em nossa opinião. Com preços mais baixos de fertilizantes e produtos químicos, o custo médio caiu de R$ 5-5,3 mil/ha para R$ 4,2 mil/ha.
Serviços Agrícolas – Jornada de crescimento não será atrasada
3Tentos (TTEN3; Compra; Preço-alvo R$ 16.2/ação)
- Ótima recepção no Mato Grosso. Saudamos o fato de que as lojas recém-inauguradas em MT estão enfrentando uma ótima recepção (~13% da receita de insumos agrícolas em 2022 veio das lojas do MT) e a empresa reiterou o plano de crescimento na região. O mencionado acima reforçou nossa visão de que a TTEN3 será capaz de replicar seu ecossistema agro de sucesso no estado, o que ajudará a fornecer à empresa um forte EBITDA CAGR de ~15% de 2022E-2026E, nas nossas estimativas.
- Sementes e especialidades como impulsionadores do aumento das margens. A empresa já está construindo uma nova câmara fria que também possui uma linha de beneficiamento de sementes no MT. Além disso, aumentar o volume de especialidades também é uma meta e eles não descartam a possibilidade de verticalização neste negócio, embora tenham comentado que isso aconteceria por meio de uma parceria.
AgroGalaxy (AGXY3; Compra; Preço-alvo R$ 16.1/ação)
- Aumento da receita esperado, apesar da queda nos preços dos fertilizantes. A AGXY espera um aumento na receita para 2023 devido a maiores volumes e maturidade das lojas. Além disso, os produtores estão inserindo especialidades no pacote de insumos básicos, o que pode ajudar a aumentar as margens, em nossa visão, representando um risco de alta para nossa projeção de EBITDA e margem EBITDA estável para 2023.
- Atualização das sinergias. Saudamos o fato de a AGXY ter reforçado que os ganhos em estoques devido à eficiência logística podem chegar a cerca de R$ 300-500 milhões nos próximos 3-5 anos. Na visão da empresa, as sinergias podem ser melhor capturadas a partir de janeiro de 2024, quando o novo sistema integrado para as novas lojas estará totalmente implementado.
Vittia (VITT3; Compra; Preço-alvo R$ 18.9/ação)
- Otimismo para 2023. Apesar de o 4T ter sido prejudicado por eleições que adiaram decisões dos produtores, a Vittia está otimista em relação a 2023, pois a queda nos preços dos fertilizantes e a melhora na relação de troca estão fazendo com que os produtores tenham mais espaço no bolso para buscar novas tecnologias como forma de aumentar as produtividades.
- Aquisições ainda em no pipeline. A Companhia reforçou que continua atenta às oportunidades de M&A, privilegiando oportunidades que aumentem as vantagens competitivas da Vittia e complementem seu portfólio. Além disso, reforçou que não vê oportunidades em defensivos biológicos, pois os múltiplos não são atrativos e os alvos potenciais não poderiam complementar seu portfólio. No entanto, a empresa vê oportunidades em fertilizantes foliares.
Boa Safra (SOJA3; Compra; Preço-alvo R$ 17.9/ação)
- Reforçando a estratégia de crescimento. A empresa espera um 4T sólido, reforçando a estratégia de crescimento orgânico de Boa Safra para os próximos anos. A empresa prevê que terminará 2022 com 7,1% de participação de mercado e projeta que chegará a 8,2% até 2023. Além disso, a empresa estuda aumentar a capacidade de sementes em 20% até 2024.
- Atualização em M&A. Como a estratégia de crescimento orgânico está dando frutos, as fusões e aquisições em sementes de soja foram deixadas de lado, embora não totalmente descartadas, pois os alvos potenciais estão exigindo altos múltiplos (podendo chegar até ~10x EV/EBITDA). Na visão da empresa, considerando o nível de múltiplos citado, a melhor alocação de capital é continuar crescendo organicamente.

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