Semanalmente, aos sábados, um novo episódio do Outliers é divulgado nos agregadores de podcasts. Até aí, sem novidades. As boas novas são que os episódios passaram a ser transmitidos também em vídeo no Youtube da XP e que o time de analistas da XP passou a cobrir esses episódios para serem publicados em um relatório, como esse, que se aprofunda mais ainda em informações e detalhes sobre a gestora e/ou sobre o(s) fundo(s) discutido(s) em cada episódio. Nosso objetivo é ir mais fundo para ajudá-lo na análise desses produtos, por isso apresentamos o “Indo a Fundo no Outliers”.
Aproveitaremos a grande qualidade dos assuntos abordados e escolheremos um para analisarmos a fundo. No caso desta versão discorremos com mais detalhes sobre a célula de ações da gestora Ibiuna, e suas três diferentes abordagens no mercado acionário, através dos fundos Ibiuna Equities 30, Ibiuna Long Biased e Ibiuna Long Short.
Conheça a Ibiuna
Fundada em 2010, a Ibiuna Investimentos é uma gestora de recursos independente, que conta com mais de R$29 bilhões sob gestão. Com estratégia em ações, crédito e multimercados macro, ao todo conta com 62 colaboradores, sendo que 41 desses profissionais estão ligados diretamente à gestão dos fundos.
Os sócios fundadores, Mario Torós e Rodrigo Azevedo, são ex-diretores do Banco Central e atualmente lideram a área macro da empresa. A área de crédito da gestora foi fundada em 2020, e já apresentamos no relatório conheça o Ibiuna Credit. A célula de ações, foco deste relatório, é liderada por André Lion, gestor que iniciou sua carreira no mercado financeiro na década de 90 e possui longo histórico na seleção de ações com base em análise fundamentalista, sendo referência em estratégias long & short, que abordaremos com mais detalhes a seguir.
Dentro da célula de ações, existem 3 famílias de fundos: Long Short, que possui viés neutro, Long Biased com viés comprado, mas que também ponde contar com operações vendidas e proteções, e Long Only, estratégia tradicional de ações apenas com posições compradas. Ao todo são 10 pessoas focadas na gestão de ações, onde todo o time olha para as três famílias de fundos, diferenciando as posições de acordo com as regras de alocação de cada estratégia.
Em relação ao processo de investimento, a gestão é estruturada em quatro passos, e começa pela (i) geração de ideias, que leva em consideração situações especificas de cada empresa ou setor; a (ii) análise fundamentalista, olhando para a estrutura da empresa e se atendo as informações disponíveis para determinar o valor justo daquele negócio – nesta etapa é possível definir se a operação a ser realizada será na ponta comprada (long) ou vendida (short); (iii) definição da estratégia de alocação e definição da entrada do caso em cada um dos fundos; e por fim o (iv) monitoramento, com o objetivo de checar se a posição está caminhando como esperado, se já chegou no valor definido, ou se existem novas oportunidades.
Em termos de universo de cobertura, não há restrição de setores, por outro lado, existe um limite de liquidez, em que as ações precisam ter uma média de negociação diária de no mínimo R$5 milhões para entrar na carteira. Em linhas gerais, o objetivo é encontrar assimetrias entre o valor intrínseco das ações e a cotação de mercado. Cada operação realizada possui uma tese de investimento e um preço alvo definido, sendo dois parâmetros decisivos para manutenção ou encerramento da operação. Além disso, a célula de ações não opera cenário macro, por outro lado, é realizada uma análise de sensibilidade, que leva em consideração como o cenário atual pode impactar na precificação dos ativos.
Em relação ao tamanho de posição, apenas a estratégia Long Only – do fundo Ibiuna Equities 30, possui limite de exposição de 15% em cada empresa e de 20% por setor. As outras estratégias, apesar de não possuírem restrições objetivas, no geral, seguem limites semelhantes.
A seguir conheça com mais detalhes as estratégias dos fundos Ibiuna Equities 30, Ibiuna Long Biased e Ibiuna Long Short, e as principais diferenças entre eles.
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Ibiuna Long Short
Neutralizar (ou pelo menos tentar) o risco de mercado da carteira, sem dúvidas não cairia mal nesse cenário de extrema volatilidade. Proteger a carteira com retornos descorrelacionados é um dos objetivos do fundo Ibiuna Long Short, principal estratégia da célula de ações da Ibiuna. A estratégia nasceu da experiência profissional de Andre Lion, que em seus mais de 20 anos de gestão recursos, passou por diversos ciclos econômicos, e pôde observar que mesmo em períodos de alta volatilidade do mercado de ações era possível gerar retorno através de posições relativas entre empresas.
Por mais complexo que pareça de início, valor relativo nada mais é do que a diferença de retorno esperado entre dois ativos. Para explorar esta diferença o gestor fica comprado (long) em uma ação e vendido (short) em outra ação, sendo ambas as ações de setores no mínimo semelhantes. Ao se posicionar desta forma o gestor ganha sempre que a posição comprada se valorizar mais do que a posição vendida ou sempre que a posição vendida se desvalorizar mais que a posição comprada.
Ao olhar a matriz de correlação entre o Ibiuna Long Short com os índices mais representativos do mercado de ações (Ibovespa), da indústria de fundos multimercados (IHFA) e de inflação (IMA-B), é possível notar os benefícios desse tipo de estratégia, tendo seu comportamento pouco vinculado às variações desses mercados ou classes de ativos, com correlações bastante baixas (entre 36 e 45).
Antes de falar sobre retornos da estratégia, é importante saber que André Lion, foi um dos primeiros gestores a operar a estratégia Long Short no Brasil, tendo lançado em 2014 o primeiro fundo dedicado. Na Ibiuna, a estratégia Long Short existe desde 2011, entretanto, a versão espelho (Advisory) disponível na XP foi lançada em abril de 2018.
Desde seu início na plataforma, o fundo entregou um retorno acumulado de 36,62% contra o CDI de 23,61%. No longo prazo, o fundo tem objetivo de entregar retornos entre CDI+5% e CDI+8% ao ano. O fundo Ibiuna Long Short é do tipo neutro, ou seja, a exposição bruta total comprada subtraída da exposição bruta total vendida deve ser zero ou muito próximo disso. O histórico dessa subtração, que tipicamente chamamos net exposure (exposição líquida) pode ser observada no gráfico abaixo pela linha laranja. Já o gross exposure (linha preta) que se trata da exposição bruta (soma das posições vendidas e compradas) vai variar de acordo com o número de oportunidades que o time está enxergando no mercado.
Aqui podemos ver uma queda no gross do fundo, em especial no ano de 2020, por uma redução do tamanho das suas posições. De qualquer forma, essas variações não impactaram o retorno do fundo, que seguiu com retornos consistentes nesse período. Em resumo, mesmo em momentos de grandes incertezas, essa se torna uma alternativa de exposição a ações, com redução expressiva da exposição ao risco de mercado.
Ibiuna Long Biased
Lançado em 2013, se trata de um fundo focado em ações com a estratégia Long Biased, ou seja, o fundo possui posições compradas em ações, mas também poderá realizar proteções de portfólio colocando posições vendidas. A estratégia tem como benchmark o IMA-B e objetiva superar esse índice no longo prazo.
Desde seu início o fundo entregou um retorno de 221,95% contra o IMA-B que variou 144,79% para o mesmo período. Analisando o excesso de retorno anualizado desde o seu início, ou seja, o quanto ele gerou de retorno acima do seu benchmark ao longo dos anos, encontramos uma média de IMA-B+3,03%. O fundo está aberto e é dedicado ao público em geral, tendo aplicação mínima de R$ 5.000,00 – com previsão de redução nos próximos meses, de acordo com a própria gestora Ibiuna.
Ibiuna Equities 30
Para falar sobre a estratégia Long Only da Ibiuna, é importante reforçar a importância de se ter uma gestão ativa na carteira. Quando falamos de mercado acionário, realizar uma análise bem fundamentada e com foco no valor justo das ações terá impacto diretamente na valorização de cota de longo prazo. Originalmente a estratégia Long Only da Ibiuna foi lançada em 2011, entretanto, o fundo Ibiuna Equities 30 disponível na plataforma foi estruturado 6 anos depois, em 2017.
Para falar da performance da estratégia, pegamos dois períodos diferentes, do início de 2021 até hoje, e um recorte de performance neste ano de 2022, confira a seguir:
A começar pelo fato de que o fundo conseguiu se manter positivo (2,65%) na primeira janela, vemos tanto o benchmark do fundo (IBX), quanto o Ibovespa, fecharem o período no negativo (-6,22% e -7,29%, respectivamente). Além disso, quando fazemos um recorte para a performance nesse ano de 2022, vemos que o fundo segue mantendo sua performance superior aos principais índices do mercado, entregando 10,89% contra 5,58% do IBX e 5,27% do Ibovespa. Vale pontuar que o fundo tem como benchmark o IBX – também conhecido como Índice Brasil, que representa o desempenho médio das cotações de ativos com maior negociabilidade e representatividade do mercado de ações brasileiro.
Diversificação para todos os objetivos
Entender as principais diferenças entre as estratégias Long Short, Long Biased e Long Only, poderá auxiliar o investidor a escolher qual ou quais fundos se adequam melhor às suas necessidades e objetivos de alocação. Se olharmos para os números de retorno, volatilidade e máxima queda (drawdown) nos úlitmos 12 meses, percebemos que estratégia diferentes geram resultados diferentes em termos de nível de risco e retorno.
Em resumo, ao menos no último ano, as operações em valor relativo do fundo Ibiuna Long Short resultam em menor volatilidade, mantendo o retorno acima de 2 dígitos. Por outro lado, ter altos níveis de exposição comprada no cenário atual, impactou na cota do Ibiuna Long Biased e Ibiuna Equities 30 – movimento natural dado o atual cenário do mercado de ações.
Para demonstrar na prática os diferenciais das estratégias nas carteiras de cada fundo, podemos comparar o net, ou seja, a exposição líquida de cada uma. É possível perceber que nos fundos Ibiuna Long Short e Ibiuna Equities 30, não existem variações consideráveis no Net, o primeiro, tende a manter seu Net próximo a zero, por ser um fundo Long Short neutro, e o segundo mantém sua exposição líquida próxima a 100%, por ser um fundo Long Only. Por outro lado, as maiores variações são perceptíveis na estratégia Long Biased, que possui flexibilidade para aumentar ou diminuir essa exposição de acordo com as incertezas do mercado.
A redução significativa do net exposure (exposição líquida) de julho de 2021 até o momento vale destaque, já que demonstra uma postura mais cautelosa em relação ao cenário, que gerou resultados, pois pode ser percebida na ótima performance do fundo nos últimos 12 meses (+7,1% contra -10,8% do Ibovespa).
O melhor momento para estar comprado
É sabido que os investidores vêm reduzindo exposição ao mercado acionário ao passo que o patamar da taxa de juros volta a se elevar, entretanto, é importante reforçar que a existência de estratégias e fundos com uma gestão ativa e especializada, que ajudam o investidor a navegar em cenários de maior volatilidade.
Dessa forma, é muito importante que o investidor tenha ciência da importância da diversificação, e que mesmo a estratégia 100% comprada, como o fundo Ibiuna Equities 30, tem seu papel dentro do portfólio, visto que a carteira desses fundos é montada para o longo prazo, com um processo de seleção bem estruturado e que leva em consideração a sensibilidade do atual cenário na precificação de cada ativo. Além do mais, a alocação em ações é recomendada para longo prazo, sendo a volatilidade uma boa aliada para alavancar os retornos.
A respeito do cenário atual e possíveis impactos nos resultados das estratégias, André Lion, em sua participação no podcast Outliers reforça que se faz necessário um amadurecimento de mercado para precificar o valor justo de cada ativo. A falta de previsibilidade, adiamento de investimentos produtivos e alteração na percepção de risco de mercado também foram fatores levantados pelo gestor. O episódio completo pode ser conferido logo abaixo.
Por fim, reforçamos a importância de se ter um portfólio alinhado aos objetivos de cada investidor, onde todas as classes possuem um papel relevante na alocação. Além disso,, nossas carteiras recomendadas segmentam as recomendações de acordo com as políticas de investimentos, muito em linha com a tolerância a riscos que cada investidor possui, além de levar em consideração o horizonte de investimento na alocação de ativos de riscos.