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Entenda o cenário de inflação em junho e saiba o que esperar

Mensalmente, um conteúdo que te explica o que aconteceu com os principais indicadores econômicos

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O que vemos agora? No mundo: cenário de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos persiste. No Brasil: desemprego baixo e renda em alta impulsionam economia, mas piora do risco fiscal e cenário externo colocam inflação sob risco, e Selic deve parar de cair. 

Projeções macroeconômicas são importantes para todo investidor, porque ajudam a nos prepararmos para o que vem adiante. Ou seja, não ser pego de “calças curtas”, especialmente em momentos desafiadores para os investimentos.  

Isso não significa que você saberá “o dia exato em que o dólar vai cair ou subir”. Pois isso, infelizmente, será praticamente impossível. Mas quer dizer que você entenderá melhor as tendências da economia e poderá pensar em como adaptar seus investimentos (ou manter tudo como está, se for o caso), pensando no seu perfil e objetivos. 

Com isso em mente, detalhamos abaixo nossas principais projeções para este ano e o próximo. Abaixo, te contamos o porquê de tudo isso, e como investir nesse cenário.  

Inflação deve seguir comportada, mas riscos adiante exigem cautela

Como contamos em detalhes aqui, o IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor) registrou alta de 0,46% em maio. Após encerrar o ano de 2023 dentro do intervalo de tolerância da meta do Banco Central, o indicador voltou a subir, após meses de queda, no acumulado em doze meses, com elevação de 3,93% até abril (frente a 3,69% em abril, 3,93% em março, e 4,63% no número fechado do ano passado).

O resultado de maio veio acima das expectativas da maior parte dos analistas, com a surpresa vindo principalmente nos preços mais voláteis, como passagem aérea (que avançou no mês 5,91%) e energia elétrica, que mostrou avanço devido ao reajuste anual de parte das distribuidoras, seguindo o calendário da Aneel. Além disso, a alta no mês refletiu os primeiros impactos da tragédia climática no RS, e reacendeu a luz amarela para preços no setor de serviços – que tinham acalmado nas últimas divulgações.

O impacto da tragédia recente no Rio Grande do Sul também merece destaque. A principal contribuição para a alta da inflação no RS veio, conforme esperado, dos preços de alimentos, especialmente da categoria “in natura” (frutas e legumes), além de leite e derivados, frango e produtos relacionados ao trigo (como massas e pães). Para se ter uma ideia da magnitude, enquanto a inflação de “alimentação no domicílio” foi de 0,66% no Brasil todo, a variação vista no Rio Grande do Sul foi de 3,64% – isso considerando apenas no mês de maio.

A região responde por 70% da produção de arroz do país, além de ser um dos principais produtores de soja e proteínas, incluindo frango e carne bovina. Assim, os prejuízos causados pelas chuvas devem impactar a oferta desses alimentos, elevando a inflação especialmente regional. Do ponto de vista nacional, entretanto, entendemos que o impacto deve ser mais limitado e se dissipar ao longo dos próximos meses.

Por outro lado, a inflação de serviços reacendeu o sinal amarelo. Para ilustrar, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui preços mais voláteis, como passagens aéreas) subiu de 4,9% em abril para 5,1% em maio na média móvel dos últimos três meses até abril – se afastando da meta de 3,0% do Banco Central.

Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque eles tendem a ser menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); tendo seu movimento mais relacionado ao comportamento dos salários.

O mercado de trabalho aquecido (que comentamos aqui) aumenta o poder de compra das famílias ao impulsionar a demanda por bens e serviços. Portanto, o movimento pressiona a inflação – principalmente de serviços. Essa métrica vem mostrando resistência ao processo de desinflação ao longo de 2024 e está sendo observada de perto pelos economistas.

Além de preços de serviços “teimosos” e um mercado de trabalho aquecido, a recente desvalorização do real também sinaliza cautela para a inflação adiante. A moeda americana saltou de pouco mais de R$ 5,00 no início de abril para R$ 5,40 recentemente – refletindo tanto um cenário externo de dólar fortalecido (por juros altos por mais tempo) quanto o aumento da percepção de risco fiscal por aqui.

Apesar dos riscos, embora o IPCA deva terminar esse ano acima da meta do Banco Central (3,0%), não vemos a inflação acelerando para muito além do patamar de aproximadamente 4,0% no curto prazo. 

Vale lembrar dos efeitos de uma taxa de juros ainda restritiva. Entendemos que o Banco Central deve parar de reduzir a nossa taxa básica de juros, diante de maiores riscos para a alta de preços tanto no cenário doméstico quanto global. Assim, a taxa Selic deve seguir em patamar restritivo pelo menos até o fim desse ano – ainda desaquecendo a economia com o objetivo de conter a alta de preços.

Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 3,7% e em 4,0% em 2025 – ambos acima da meta do Banco Central, mas dentro do intervalo de tolerância.   

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