Cenário Internacional
Essa semana foi mais uma vez marcada por notícias majoritariamente positivas no campo das vacinações contra a covid-19, com vacinação progredido no Brasil e no mundo. Porém, ainda segue a cautela sobre a eficácia de parte das vacinas disponíveis em algumas variações do vírus, como a encontrada na África do Sul, no Reino Unido e no Amazonas, no Brasil.
No cenário econômico internacional, as atenções seguem voltadas para o andamento das discussões sobre o pacote fiscal nos EUA. As negociações seguem no Congresso norte-americano, com destaque para a aprovação em uma comissão da Câmara de um pacote de USD 593,5 bilhões em benefícios à população. Uma grande parte do valor é formado pelos cheques de USD 1.400 do pacote de estímulo. Foram destaque também essa semana as discussões de política monetária nos EUA.
Também foi destaque essa semana a fala do presidente do FED, Jerome Powell, que refirmou sua posição em favor da manutenção de uma política monetária em território estimulativo. Powell enfatizou as preocupações acerca da performance do mercado de trabalho, que estagnou nos últimos meses e segue longe do pleno emprego, especialmente diante do resultado de janeiro, que mostrou forte redução na força de trabalho.
A divulgação do índice de inflação ao consumidor (CPI) reforçou a visão, mostrando inflação em 0,03% em janeiro. Com inflação relativamente estável e hiato do produto que só deve fechar em 2023, uma normalização de política monetária nos EUA segue improvável no curto prazo.
Ainda essa semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da China, Xi Jingping, falaram pela primeira vez desde a transição de poder na Casa Branca. Segundo o governo americano, Biden ressaltou preocupações por “práticas econômicas coercivas e injustas”, violações aos direitos humanos, assim como a nova política em Hong Kong e agressão no estreito de Taiwan. A mídia chinesa destacou que foi discutida a importância de estabelecer uma linha clara e aberta de comunicação entre os governos e que temas domésticos não devem ser parte de política internacional. Em paralelo, o governo Biden anunciou a criação de uma força-tarefa do Pentágono que será responsável por revisar a estratégia dos EUA em relação a China.
Já no cenário político doméstico nos EUA, o julgamento de impeachment contra Donald Trump foi aprovado sobre sua constitucionalidade no Senado. Vale destacar, no entanto, que o placar não é indicativo de um panorama favorável à condenação de Trump. Para que isso ocorra, 17 republicanos teriam que votar a favor do impeachment, algo que consideramos ser altamente improvável. O processo pode ser finalizado em poucos dias e o placar continua favorável para o republicano.
Enquanto isso, na Zona do Euro, o destaque ficou para o cenário político Italiano, onde o ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, conseguiu apoio do Movimento 5 Estrelas, a maior bancada da Câmara do país. Com isso, assegurou amplo apoio para formar governo.
Finalmente, no Reino Unido, a prévia do PIB cresceu 1% no quarto trimestre de 2020, acima do consenso de mercado. A produção industrial, no entanto, cresceu 0,2% em dezembro, abaixo da expectativa de 1%.
Enquanto isso, no Brasil
No cenário doméstico, a semana foi marcada pela divulgação de indicadores de atividade que fecharam o ano de 2020.
A vendas no varejo caíram 6,1% em dezembro (m/m), abaixo das nossas expectativas e do consenso de mercado. A perda de ímpeto no mês pode ser justificada pela antecipação do consumo de bens semiduráveis e duráveis durante a pandemia, além da redução do auxílio emergencial e da pressão inflacionária especialmente sobre alimentos. Para esse ano, acreditamos que apesar de seguir mais fraca do que ao longo de 2020, entendemos que o aumento da “poupança circunstancial” por parte das famílias mais ricas e condições de crédito positivas podem ajudar a preencher parcialmente o fim do auxílio.
Enquanto isso, o setor de serviços ficou praticamente estável em dezembro, contraindo 0,2% (m/m). Apesar das dificuldades de curto prazo, as perspectivas para a recuperação do setor de serviços em 2021 ainda são positivas. O ritmo de vacinação no Brasil tem sido surpreendentemente positivo e, até o momento, temos insumos para a vacinação da maioria das pessoas do grupo de risco. A perspectiva positiva com relação ao ritmo de vacinação corrobora esse cenário mais benigno de retorno à normalidade em 2021.
Já o IBC-Br surpreendeu positivamente no mesmo mês de dezembro, subindo 0,64% na comparação contra novembro e 1,34% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O Banco Central não publica a aberta deste índice, mas creditamos a diferença ao setor agropecuário. Segundo leitura da LSPA de dezembro o Brasil teve uma expansão na safra agrícola. No ano de 2020, o IBC-Br caiu 4,1%, mas cresceu +3,1 no 4T20. Projetamos alta de + 2,3% do PIB no 4T20, encerrando o ano em -4,4%. As diferenças históricas entre as estatísticas do IBGE e do Banco Central divergem especialmente em maior magnitude em períodos de recessão/expansão.
Tivemos também importantes eventos no cenário político- econômico.
A Câmara dos Deputados aprovou o projeto que garante a autonomia formal ao Banco Central do Brasil (BCB). O Projeto de Lei Complementar (PLP) 19/2019 determina que o BCB passará a ter status de “Autarquia de Natureza Especial”, não sendo subordinado a nenhum ministério. Nossa autoridade monetária passa a ter autonomia formal, instituída em lei. A formalização da autonomia tende a reforçar a credibilidade da política monetária, contribuindo para o controle da inflação e para a ancoragem das expectativas.
Ainda no Congresso, foi aprovada na Câmara dos Deputados a nova Lei Cambial, que passa agora para aprovação do Senado. Se aprovada, a lei poderá representar outro avanço positivo, ao estimular a conversibilidade do real – ou seja, que a moeda seja mais facilmente utilizada em transações internacionais dentro e fora do país. A mudança beneficiaria o comércio internacional e facilitaria a abertura de contas em dólar no Brasil.
Finalmente, seguem nos holofotes as discussões políticas para se tentar chegar a um desfecho sobre uma nova rodada de auxílio emergencial.
Depois de cobranças mais explícitas do comando do Congresso, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que devem ser pagas mais parcelas do benefício nesse ano. A expectativa é que sejam concedidas mais quatro parcelas de R$ 250 a partir de março, a 19 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família e mais 11 milhões de informais, com o impacto total de R$ 20 bilhões no ano.
O Ministério da Economia segue em conversa com parlamentares para que os pagamentos do benefício venham acompanhados de medidas de restrição fiscal, a serem incluídas em uma PEC, criando um arcabouço jurídico para dar segurança às despesas, em um modelo semelhante ao Orçamento de Guerra de 2020.
Entretanto, a urgência determinada pelo presidente e pressionada pelo Congresso representa um desafio de aprovar-se, junto com o pagamento, as medidas de austeridade fiscal como contrapartida. Isso porque essas medidas tomam mais tempo de debate e enfrentam resistência do Congresso.
Ainda essa semana, o Congresso instalou a Comissão Mista de Orçamento. O cronograma previsto para a votação da lei orçamentária em plenário vai até o dia 24 de março – o que deve adicionar pressão sobre o governo, já que – até que seja aprovado o Orçamento – há restrições para alguns tipos de despesas, como salários.
O que esperar?
Em meio ao feriado bancário no Brasil, a agenda de indicadores econômicos nacionais estará vazia. As atenções devem continuar voltadas para a possibilidade de uma nova rodada de auxílio emergencial no país. No cenário internacional, o PMI composto e os índices de inflação (CPI e PPI) serão divulgados nas principais economias globais. Também serão divulgados o PIB da Colômbia e a ata da última reunião de política monetária nos Estados Unidos.
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