Resumo
Nos Estados Unidos, o destaque foi para a divulgação do PCE, índice de inflação ao consumidor, que alcançou o maior nível desde 1992, ao registrar alta de 3,6% no acumulado de 12 meses em abril. Apesar do patamar histórico, o FED não deve alterar sua postura na condução da política monetária.
No Brasil, tivemos a divulgação de alguns importantes indicadores em inflação, mercado de trabalho, setor externo e nas contas públicas, além da divulgação da revisão do Plano Anual de Financiamento (PAF) pelo Tesouro Nacional. Tivemos também a divulgação de índices de confiança referentes a maio, que indicam retomada em relação aos meses anteriores, marcados pelo recrudescimento da pandemia.
No cenário político econômico, a semana contou com progresso nas discussões sobre as reformas tributária e administrativa no Congresso. A primeira será analisada em etapas distintas na Câmara e no Senado, enquanto a segunda teve sua admissibilidade aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. Ainda em política, cresce a pressão para mais uma rodada de auxílio emergencial.
Para a semana que vem, no cenário internacional, o destaque da semana ficará para a divulgação da taxa de desemprego referente a maio nos EUA, especialmente após a última surpresa negativa do indicador. No Brasil, o principal destaque será a divulgação do PIB do primeiro trimestre. Em política, discussões devem seguir sobre as reformas no Congresso, CPI da pandemia e possível extensão do auxílio emergencial.
Atualizações Covid-19
Ao longo da semana, o número de casos e internações seguiu em alta, enquanto a média móvel semanal de óbitos percorre trajetória declinante. Pela métrica, são pouco mais de 64 mil casos diários e 1.797 óbitos, número mais baixo registrado desde a primeira quinzena de março e muito abaixo do recorde de 3.124 visto dia 12 de abril. Já a vacinação segue no pior ritmo em dois meses, com uma média de 615 mil doses aplicadas diariamente.
O governo federal afirma ter distribuído 96,5 milhões de doses aos estados, das quais 7 milhões ainda estão em processo de distribuição. Já as secretarias estaduais de saúde, que atualizam os dados mais rapidamente, conjuntamente confirmam a aplicação de 65,6 milhões de vacinas. Ao todo, 44 milhões de brasileiros (20,8% da população) receberam ao menos a primeira dose, enquanto 21,6 milhões concluíram a vacinação com duas doses.
Nos EUA, sob pressão do Congresso, o presidente Joe Biden pediu à comunidade de inteligência americana que "redobrasse" seus esforços para determinar a origem do coronavírus, diante das persistentes dúvidas sobre a possibilidade de que ele seja o resultado de um acidente em laboratório chinês. O democrata pediu que a China colaborasse com esforços internacionais de investigação e adotasse política de transparência.
Cenário Internacional
Estados Unidos
O principal destaque da semana na seara de indicadores foi a divulgação do índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos, medido pelo PCE. O indicador registrou elevação de 0,6% em abril, levando o acumulado em 12 meses para 3,6% - o maior patamar desde 1992. Excluindo os preços mais voláteis como alimentos e energia, o núcleo do indicador avançou 0,7% no período, levemente acima do consenso de mercado (em 0,6%). O indicador também mostrou queda de 13,1% na renda no período, mas que reflete a forte de março fruto do auxílio recebido no mês por boa parte das famílias.
O resultado não deve alterar a postura observada até então por parte do FED, destacando a natureza temporária da pressão recente de preços. Ao longo da semana, dirigentes do FED apontaram para ferramentas disponíveis à autoridade monetária para controlar a inflação. O vice-presidente Richard Clarida destacou que o BC seria capaz de administrar uma superação da inflação sem prejudicar a recuperação econômica do país, enquanto a presidente do Federal Reserve de São Francisco Mary Daly enfatizou que, embora a recuperação até agora seja encorajadora, é “muito cedo” para endurecer a política.
A semana contou também com a divulgação de indicadores de atividade e mercado de trabalho. De maneira geral, estes continuam a revelar uma recuperação sólida, e apontam para a forte demanda por mão de obra. A segunda leitura do PIB do primeiro trimestre cresceu 6,4% trimestre / trimestre (um pouco abaixo de 6,5% na primeira leitura). O principal destaque foi o consumo pessoal, 11,3%. Já no mercado de trabalho, os Pedidos Iniciais de Seguro Desemprego caíram para 406 mil (425 mil esperados; 444 mil anteriores), reforçando o argumento da crescente demanda por trabalhadores. Do lado mais negativo, as Encomendas de Bens Duráveis e o FED de Chicago caíram abaixo do esperado em abril, puxados pelo recuo na produção e restrição de oferta no mercado de trabalho – marca da crise na oferta de insumos.
Em política, as negociações pelo pacote de infraestrutura voltam a esquentar no Congresso americano com a apresentação de uma contraproposta republicana que prevê USD 928 bilhões em gastos em oito anos. O valor se aproxima da mais recente proposta democrata - USD 1,7 trilhão - e amplia chances de acordo entre os partidos. No entanto, o valor terá que ser elevado ainda para que os democratas apoiem a proposta. Conversas devem continuar na próxima semana em ritmo acelerado.
Finalmente, na seara de tributação internacional, o grupo das sete principais economias avançadas (G7) está perto de um acordo sobre a tributação das empresas multinacionais, aumentando e harmonizando a tributação das maiores empresas do mundo.
Zona do Euro
Na Zona do Euro, a semana foi marcada por indicadores antecedentes de maio em território positivo, apontando para recuperação.
Na Alemanha, o PIB do primeiro trimestre caiu levemente mais do que esperado diante da divulgação preliminar, recuando -1,8%. Por outro lado, o sentimento de negócios para empresários alemães melhorou mais do que o esperado em maio, atingindo o maior patamar dos últimos dois anos. De maneira similar, a confiança do consumidor ficou 3 pontos acima do mês anterior em maio na França, enquanto a confiança dos negócios deu um salto para o maior nível em três anos.
Nesse contexto, o índice de confiança econômica da Zona do Euro aumentou para 114,5 em maio, de 110,3 em abril. Os resultados vêm em linha de outros indicadores recentes na sinalização de forte recuperação no país e na região da Zona do Euro já no segundo trimestre.
Enquanto isso, no Brasil
No Brasil, a semana foi marcada pelo cenário político econômico, com o andamento das reformas administrativa e tributária no Congresso, discussões sobre Auxílio Emergencial e Bolsa Família, além de indicadores de inflação, mercado de trabalho e contas públicas.
Indicadores
Em inflação, resultados divulgados na semana reiteram nossa visão de que a inflação ainda deverá sofrer forte pressão nos próximos meses, especialmente nos preços industriais. A inflação ao consumidor medida pelo IPCA-15 surpreendeu para baixo, avançando 0,44% em maio – abaixo da nossa estimativa e da mediana das expectativas de mercado (em 0,54% e 0,55%). Não obstante, a inflação de serviços subjacentes, que exclui itens voláteis, manteve-se em patamar positivo, enquanto os preços de bens industriais subiram bem acima do esperado. Enquanto isso, a inflação medida pelo IGP-M subiu 4,1% em maio, levando o acumulado em 12 meses para 37,0%. O movimento de elevação segue marcado pelo comportamento altista das commodities, com destaque esse mês para minério de ferro, açúcar e milho.
Ainda em inflação, após o pior período de chuvas em 91 anos, o Governo começa a alertar para o risco de racionamento de energia e água. Escrevemos sobre o tema em artigo recente, onde destacamos o risco para perspectivas de atividade e inflação no segundo semestre.
No tocante ao mercado de trabalho, os dados do CAGED mostraram criação líquida ao redor de 120 mil empregos formais em abril, resultado inferior à nossa expectativa e ao consenso de mercado (ambos em 155 mil vagas), como reflexo do agravamento da pandemia e, com isso, aperto das restrições de mobilidade. Já a taxa de desemprego subiu para 14,7% em abril, devido à maior demanda por trabalho. Esperamos uma melhora gradual do mercado de trabalho à frente, especialmente no que tange a geração de empregos formais, em linha com a reabertura econômica e a retomada do Programa Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm). No entanto, considerando que a dinâmica da Covid está se deteriorando novamente, essa melhora deve ficar mais clara apenas a partir do quarto trimestre deste ano.
Do lado positivo, as contas do governo central ficaram mais uma vez no azul no indicador mensal. O resultado primário do governo central registrou superávit de R$ 16,5 bilhões em abril, levando o déficit acumulado em 12 meses a 7,9% do PIB (de 9,5% em março). O desempenho surpreendeu positivamente, ficando R$ 7,1 bilhões acima do consenso. Arrecadação forte e restrição de gastos vem abrindo espaço para resultados fiscais melhores.
Ainda em fiscal, o Tesouro Nacional divulgou a revisão de seu Plano Anual de Financiamento (PAF). O documento teve como principal destaque a elevação de emissões de títulos pós fixados e híbridos (LFTs e NTN-Bs), em detrimento da menor emissão projetada para títulos prefixados (LTNs). O movimento é explicado pelas atuais condições de demanda favoráveis para os títulos, além do objetivo de alongar o prazo médio das emissões e, portanto, da dívida pública.
Já no setor externo, o resultado mensal reforçou a robustez das contas externas no país, com a conta corrente registrando superávit de US$ 5,7 bilhões em abril. Com isso, o déficit acumulado em 12 meses atingiu 0,8% do PIB, menor nível desde março de 2008. O BCB destacou o superávit recorde da balança comercial, que totalizou US$ 9,1 bilhões (US$ 4,3 bilhões acima do valor registrado em abril de 2020). A posição externa do Brasil segue confortável, com expectativa de superávit em conta corrente de 1,5% do PIB e recuperação gradual dos Investimentos Diretos no País (IDP) ao longo de 2021.
Finalmente, também tivemos a divulgação de índices de confiança referentes a maio, que indicam retomada em relação aos meses anteriores, marcados pelo recrudescimento da pandemia. Os índices de confiança do consumidor, construção e indústria apresentaram alta em abril, puxados especialmente pela melhora das expectativas. A percepção da situação atual, contudo, permanece majoritariamente em patamares mais baixos.
Cenário político econômico
A semana contou com progresso nas discussões sobre as reformas tributária e administrativa no Congresso.
Quanto à tributária, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, anunciou um acordo entre Câmara e Senado para a divisão das etapas da reforma e uma “comunhão de esforços” para a aprovação do tema nas duas Casas. A Câmara iniciará as discussões sobre unificação do PIS Cofins, IPI e tributação sobre renda. O Senado tratará de alterações constitucionais – usando como base o relatório da comissão mista, para as PECs 110 e 45, que abrange ICMS e ISS – e do programa de refinanciamento de dívidas.
Já a reforma administrativa teve sua admissibilidade aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A PEC restringe para os futuros servidores a estabilidade no serviço público e cria cinco tipos de vínculos com o Estado, mas mantém para futuras mudanças legislativas alterações de temas como política de remuneração, políticas de progressão e promoção e definição dos cargos típicos de Estado. Em relatório sobre o tema, destacamos que proposta é um importante primeiro passo em direção tanto da priorização e sustentabilidade dos gastos públicos.
Ainda em política, cresce a pressão para mais uma rodada de auxílio emergencial. O governo vê a possibilidade de utilizar R$ 7 bilhões de sobra dos R$ 44 bilhões autorizados pelo Congresso para compor o pagamento de mais uma parcela do programa.
Entendemos que, considerando também a sobra do Bolsa Família, o espaço dentro do orçamento aprovado para o ano poderia chegar a R$ 13.8 bilhões, permitindo a renovação do auxílio por dois meses com alguma restrição nos critérios de acesso. Vale lembrar, entretanto, que o montante não poderia ser utilizado para potenciais aumentos no Bolsa Família ainda esse ano – outra fonte de crescente pressão no Congresso e Planalto.
Finalmente, a Câmara dos Deputados aprovou duas medidas provisórias com riscos fiscais prestes a caducar. A primeira foi a que fixa o valor do salário mínimo – os deputados mantiveram a proposta de R$ 1.100 do Planalto – e a segunda, a que cria critérios para acesso ao Benefício de Prestação Continuada. O texto foi conversado com a equipe econômica: manteve em ¼ do salário mínimo o limite para acesso ao pagamento e estabeleceu condições em que o limite pode ser elevado para ½. As duas medidas seguem ao Senado, onde precisam ser votadas até a próxima terça-feira.
O que esperar?
No cenário internacional, o destaque da semana ficará para a divulgação da taxa de desemprego referente a maio nos EUA, especialmente após a última surpresa negativa do indicador. A semana contará também com a divulgação de PMIs referentes a maio na China, EUA e Zona do Euro, além de indicadores de inflação e varejo na Zona do Euro, e pronunciamentos de dirigentes do FED. Devemos acompanhar também a continuidade das discussões do pacote de infraestrutura no Congresso dos EUA.
No Brasil, o principal destaque será a divulgação do PIB do primeiro trimestre. Diante de fortes indicadores de atividade no início do ano, o resultado deve refletir esta resiliência da atividade - apesar da piora da pandemia e da interrupção de medidas de estímulos governamentais. Nossa projeção para 2021 permanece em 4,1% (publicada no começo de maio), mas com viés de alta. Detalhamos nossa visão aqui. Teremos também a divulgação do resultado primário do governo geral e dívida/PIB, além da produção industrial de abril e vendas de veículos (Fenabrave) referente a maio.
Em política, discussões devem seguir sobre as reformas no Congresso, CPI da pandemia e possível extensão do auxílio emergencial.
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