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Economia em Destaque: PIB do Brasil surpreende positivamente no 1º trimestre

Seu resumo semanal de economia no Brasil e no mundo

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Resumo

No cenário internacional, o imbróglio do teto da dívida americana foi solucionado depois de acordo entre Democratas e Republicanos. Dados de emprego nos EUA mostram força e reiteram cenário de taxas de juros mais altas por mais tempo. Na Europa, destaque para inflação mais baixa do que o esperado, mas ainda vemos necessidade de maior aperto monetário pelo Banco Central Europeu.

Já no Brasil, o destaque da semana foi a divulgação do PIB do 1º trimestre de 2023, que avançou 1,9% na comparação com o 4T22, acima das expectativas do mercado e da XP, explicado principalmente por forte crescimento das atividades agropecuárias (22% t/t). Também tivemos a divulgação da taxa de desemprego de abril surpreendendo para baixo e criação de empregos formais em linha com a expectativa da XP. Na seara fiscal, o resultado do setor público consolidado liga a luz amarela para a dinâmica das contas públicas.

Cenário internacional

Câmara e Senado dos EUA aprovam projeto de lei para acabar com impasse sobre teto da dívida e evitar inadimplência

Nesta semana, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, finalmente chegou a um acordo com o líder Republicano da Câmara dos Deputados, Kevin McCarthy, encerrando um impasse político de semanas sobre o teto da dívida. O acordo trouxe alívio para mercados, que vinham preocupados com a possibilidade (remota) de um “calote” – um cenário que provocaria estresse significativo aos ativos financeiros. O acordo entre as duas partes, já aprovado pela Câmara e pelo Senado, suspende o teto da dívida até 2025, e, em contrapartida, estabelece limites para os gastos do governo nos próximos dois anos, impondo mais restrições à política fiscal dos EUA até pelo menos depois da próxima eleição presidencial (2024).

Mercado de trabalho continua aquecido nos EUA

Indicadores divulgados ao longo da semana continuaram apontando para um mercado de trabalho apertado nos Estados Unidos. O principal relatório de mercado de trabalho do país, o Nonfarm Payroll, registrou um aumento de 339 mil empregos, muito acima das expectativas do mercado de 195 mil. Em contrapartida, a taxa de desemprego aumentou de 3,4% para 3,7% – embora siga em níveis historicamente baixos.

Outros dados, como os pedidos semanais de auxílio-desemprego, ficaram em linha com as expectativas  (232 mil), e apresentaram um aumento na margem nas últimas semanas. Por fim, o relatório JOLTS divulgado na quarta-feira mostrou um aumento inesperado nas vagas de emprego disponíveis, de 9,7 milhões em março para 10,1 milhões em abril, aumentando o excesso de demanda por trabalhadores para em torno de 80%. A resiliência do mercado de trabalho e do crescimento salarial é mais um elemento que pode pressionar o Fed (Banco Central dos EUA) a manter os juros em patamares restritivos por mais tempo.

Dados de inflação mais benignos na Europa, porém o ciclo de aperto monetário deve continuar

O índice de inflação da Zona do Euro (HICP, sigla em inglês) ficou estável em maio em relação ao mês anterior. Com isso, a variação acumulada em doze meses caiu de 7,0% para 6,1%, abaixo das expetativas do mercado (6,3%). O índice dos núcleos (aquele que exclui itens energéticos e agrícolas), registrou alívio de 5,6% para 5,3% na comparação anual. Pela primeira vez desde o começo do atual processo de desinflação, todas as principais categorias contribuíram para a queda da inflação, incluindo serviços, que vinha mostrando pressões mais persistentes.

Os números de maio mostraram as primeiras evidências claras de arrefecimento nas pressões sobre preços na região, o que pode trazer algum alívio para as autoridades monetárias. Mesmo assim, a inflação continua em níveis historicamente elevados, e mais evidências de que ela está convergindo para a meta de 2% serão necessárias antes de uma declaração de vitória. Portanto, em nossa visão, o ciclo de alta de juros deve continuar nas próximas reuniões do Bando Central Europeu.

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Enquanto isso, no Brasil…

PIB cresce acima das expectativas no 1º trimestre, impulsionado pela Agropecuária

O IBGE divulgou, na 5ª-feira (01/06), os resultados do PIB no 1º trimestre de 2023. A economia brasileira cresceu 1,9% em relação ao 4º trimestre de 2022, muito acima das projeções (XP: 1,4%; consenso de mercado: 1,2%). Houve expansão de 4% em comparação ao mesmo trimestre do ano passado. O desempenho mais forte que o esperado decorreu, em grande medida, do salto da Agropecuária. O PIB do setor primário avançou expressivos 22% no 1º trimestre, refletindo sobretudo a expansão acentuada da produção de soja. A propósito, a safra de grãos deve atingir máxima histórica este ano. Estimamos que, não fosse a Agropecuária, o PIB total teria crescido cerca de 1% entre janeiro e março.   

Ainda em relação aos setores, o PIB de Serviços subiu pelo 11º trimestre consecutivo, embora venha perdendo velocidade no período recente. Cinco entre os sete componentes do setor terciário avançaram na comparação trimestral. Destaque para Serviços de Transporte e Armazenagem, que refletiram a alta demanda por serviços logísticos – novamente, contribuição da maior atividade agropecuária. Já o PIB da Indústria recuou – modestamente – pelo segundo trimestre seguido, com sinais mistos entre os seus componentes. Por um lado, a Indústria Extrativa permaneceu em trajetória de recuperação firme, com quatro trimestres consecutivos de elevação. Por outro, a Indústria de Transformação contraiu pela terceira vez seguida, tendência que não deve ser revertida no curto prazo. Segundo dados divulgados na 6ª feira (02/06), a produção industrial brasileira contraiu 0,6% em abril ante março, resultado abaixo das expectativas (XP: -0,3%; consenso de mercado: -0,2%). Destaque para as quedas acentuadas nas categorias de bens de capital (-11,5%) e bens de consumo duráveis (-6,9%), como veículos, eletrodomésticos e produtos eletrônicos. 

Pela ótica da demanda do PIB, a Absorção Doméstica recuou no 1º trimestre de 2023 (-0,5% ante o 4º trimestre de 2022). O Consumo das Famílias avançou em ritmo mais lento do que o esperado, indicando que os gastos pessoais com bens e serviços devem seguir em desaceleração. A Formação Bruta de Capital Fixo sofreu contração pelo segundo trimestre consecutivo, já que as condições monetárias mais apertadas e o maior endividamento das empresas pesam sobre a demanda por bens de investimento.

Em resumo, setores menos sensíveis ao ciclo econômico – Agropecuária e Indústria Extrativa como protagonistas – impulsionaram o PIB no 1º trimestre. Com isso, as projeções de crescimento econômico em 2023 devem ser revisadas para cima. Nossa projeção, atualmente em 1,4%, será ajustada na próxima semana (no tradicional relatório Brasil Macro Mensal).

A atividade doméstica deve desacelerar daqui para frente, como reflexo dos juros elevados e da dissipação do impulso ‘pós-Covid’, porém a um ritmo mais brando do que inicialmente projetado. Além da força do Agro, destacamos a resiliência do mercado de trabalho. Conforme também divulgado nesta semana, indicadores de emprego e renda melhoraram recentemente. Segundo a PNAD Contínua, publicada pelo IBGE na 4ª-feira (31/05), a taxa de desemprego nacional recuou de 8,3% em março para 8,0% em abril (resultados mensais dessazonalizados), a terceira queda mensal. Além disso, a recuperação dos salários reais prossegue. Por exemplo, o rendimento médio do trabalho cresceu 0,6% em abril versus março (expansão de 8,0% versus abril de 2022). O relatório do CAGED, divulgado pelo Ministério do Trabalho também na 4ª-feira, registrou geração líquida de 180 mil ocupações com carteira assinada em abril, em linha com as estimativas. Ou seja, o saldo de emprego permaneceu em níveis elevados, apesar da desaceleração em comparação ao mês anterior (criação de 285 mil vagas).

Dados fiscais continuam mostrando deterioração

O setor público consolidado registrou superávit primário de R$ 20,3 bilhões em abril, muito abaixo de abril de 2022 (superávit de R$ 40,5 bilhões em termos reais). Em 12 meses, o setor público acumula superávit de R$ 56,2 bilhões, ou 0,6% do PIB, queda de quase 0,2 pp. em relação a março. A abertura mostra que o governo central e os governos subnacionais tiveram superávit de R$ 16,9 bilhões e R$ 4,0 bilhões, respectivamente, enquanto as empresas estatais tiveram déficit de R$ 1,7 bilhão. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) atingiu 73,2% do PIB em abril, ante 73,0% em março, enquanto a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) manteve-se estável em 57,2% do PIB. Os resultados de abril mostraram uma deterioração tanto no governo central quanto nos governos regionais. No primeiro, os números refletem a queda na arrecadação, especialmente de royalties e participação especial de petróleo, e os aumentos de despesas com benefícios sociais. Já nos entes subnacionais, os resultados decorrem em grande parte da redução das alíquotas de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações.

Esperamos uma continuidade da deterioração dos resultados fiscais nos próximos meses, especialmente no governo central, devido à desaceleração econômica e ao aumento do salário-mínimo, que afeta mais de um terço das despesas. Estimamos um déficit de R$ 95,1 bilhões (0,9% do PIB) neste ano para o setor público consolidado.

O que esperar da semana que vem

Na seara internacional, teremos uma agenda de indicadores relativamente mais calma. O índice de gerentes de compra (PMI, sigla em inglês) para o setor de serviços será divulgado na Europa e nos Estados Unidos. Na China, a balança comercial e a inflação ao consumidor serão divulgados. Ademais, os índices de inflação ao consumidor serão divulgados nos principais países da América Latina. Todas essas publicações são referentes a maio.

No Brasil, por sua vez, teremos semana encurtada pelo feriado de Corpus Christi. Nos indicadores, protagonismo para o IPCA de maio, para qual a XP e o consenso de mercado esperam avanço mensal de 0,35%, condizente com 4,06% na comparação interanual. É esperado algum arrefecimento nos preços alimentícios na comparação com a prévia mensal (IPCA-15), bem como efeito baixista na dinâmica de preços de combustíveis, após a decisão de corte pela Petrobras em 16 de maio.

Do lado fiscal, o foco da próxima semana continua no Congresso. No Senado, o relator da proposta do novo arcabouço fiscal, senador Omar Aziz (PSD-AM), discute a possibilidade de alterações como a retirada do Fundeb e do Fundo Constitucional do Distrito Federal do limite de despesas e a mudança do artigo que permite a expansão das despesas em 2,5% acima da inflação no próximo ano. Por sua vez, o grupo de trabalho da reforma tributária sobre os impostos indiretos deve apresentar seu relatório. Segundo fontes da imprensa, o novo IVA (imposto sobre valor agregado) será dual, o que garante maior autonomia aos entes subnacionais, terá 4 regimes especiais (combustíveis, setor financeiro, seguros e construção civil) e alíquotas diferenciadas por setores. Além disso, deve eliminar os incentivos fiscais existentes, mas preservar o simples nacional. A expectativa do governo é de que o projeto seja aprovado ainda no primeiro semestre deste ano na Câmara.

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