Resumo
Nos Estados Unidos, o mercado reagiu positivamente aos dados da inflação ao consumidor, que vieram abaixo das expectativas. Além disso, o presidente do banco central, Jerome Powell, reiterou, em discurso, que provavelmente o próximo movimento dos juros será de corte.
No Brasil, a ata do Comitê de Política Monetária trouxe explicações para a decisão dividida na última reunião do banco central. A semana também contou com diversas medidas de apoio federal anunciadas à calamidade no Rio Grande do Sul, que terá impacto fiscal de cerca de R$ 30 bilhões até agora, segundo nossos cálculos. Também relevante, o governo federal promoveu troca no comando da Petrobras, demitindo Jean Paul Prates da estatal.
Cenário internacional
Inflação ao consumidor nos Estados Unidos vem abaixo do esperado, mas serviços seguem resistentes
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% em abril comparado a março. Com isso, a inflação anual cedeu de 3,5% para 3,4%. Por sua vez, o núcleo da inflação – que exclui itens mais voláteis, como combustíveis e alimentos – registrou elevação de 0,3% em abril e 3,6% nos últimos 12 meses (vindo de 3,8%), em linha com as projeções do mercado. Por outro lado e ainda sob dinâmica preocupante, o índice “super core” – que considera o núcleo da inflação de serviços excluindo habitação – apresentou alta de 0,4% no mês e 4,9% em termos anuais, o maior patamar desde abril de 2023.
No geral, a reação dos mercados foi positiva, dado que a inflação mais baixa aumenta a probabilidade de cortes de juros no segundo semestre. Colaborou para esta percepção os resultados mais fracos nas vendas no varejo, que foram divulgados no mesmo dia.
Em nossa visão, apesar desses indicadores positivos, a inflação ao consumidor continua a mostrar rigidez nos preços de serviços, o que deve manter o Fed (banco central dos EUA) com sua atual postura conservadora. Projetamos o primeiro corte de juros em dezembro, embora não descartemos que comece um pouco antes, caso os dados continuem a surpreender para baixo.
Em discurso, Jerome Powell descarta alta de juros
O presidente do banco central dos Estados Unidos (Fed), Jerome Powell, em discurso essa semana, reforçou a mensagem de que o próximo movimento nos juros americanos será de corte. A preocupação com uma nova elevação de juros surgiu no mercado devido às surpresas altistas nas divulgações de dados econômicos (atividade e inflação) em abril. As declarações de Powell e os dados mais recentes – inclusive da inflação ao consumidor esta semana (ver acima) – minimizaram essa possibilidade.
O presidente também comentou sobre a insustentabilidade da trajetória da dívida nos EUA. A política fiscal expansionista dificulta a convergência da inflação para a meta de 2,0% e, portanto, faz com que a política monetária tenha que ser mais restritiva.
Inflação na China segue baixa, enquanto dados de atividade mostram sinais mistos
Na China, a inflação ao consumidor avançou 0,1% em abril, ligeiramente acima das expectativas. A variação acumulada em doze meses subiu para 0,3%, de 0,1% em março. Após enfrentar um período de deflação, esta leitura marcou o terceiro mês consecutivo de inflação ao consumidor, embora continue em níveis bastante baixos. Por outro lado, a inflação ao produtor registrou variação anual de -2,5% em abril, abaixo das expectativas do mercado de uma queda de 2,3%, porém acima do número de março (-2,8%). Isto marcou o 19º mês consecutivo de deflação de custos em meio a incertezas sobre o crescimento chinês, a despeito das medidas de estímulo já realizadas pelo governo.
Com relação aos dados de atividade econômica de abril, a produção industrial avançou 6,7% na comparação anual, bem acima das expectativas de 5,5% de mercado. As vendas no varejo, por sua vez, desaceleraram de 3,1% para 2,3% a/a, enquanto as expectativas eram de 3,7%. Após a divulgação dos dados, o governo chinês anunciou uma tentativa de reforçar o mercado imobiliário, flexibilizando as regras hipotecárias e incentivando os governos locais a comprar casas não vendidas para conversão em habitação a preços acessíveis.
Gráfico da Semana
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Enquanto isso, no Brasil…
Ata do Copom reforça mensagem dura do comunicado pós-reunião
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) trouxe explicações para a decisão dividida – 5 x 4 a favor de um corte de 0,25 p.p. – que reduziu a taxa Selic para 10,50%. Enquanto os diretores que votaram por um corte de 0,25 p.p. argumentam que o cenário não evoluiu conforme esperado desde a última reunião, os demais , apesar de compartilharem a percepção de aumento das incertezas, defenderam que o cenário não mudou o suficiente para justificar o custo reputacional de não seguir a orientação fornecida anteriormente de que o corte seria de 0,50 p.p.
Em nossa visão, a ata reforçou a mensagem dura do comunicado pós-reunião. Nós projetamos dois cortes adicionais de 0,25pp, levando a taxa Selic para 10,00%, patamar que deve permanecer por um bom tempo. O risco, contudo, é de uma taxa terminal maior.
O documento também trouxe sua visão sobre o cenário macroeconômico. Leia o relatório completo “Ata do Copom: Sinalização unânime para frente, apesar da divisão na reunião”.
Ajuda já anunciada ao Rio Grande do Sul pode superar R$ 30 bilhões
O urgente apoio federal à calamidade no Rio Grande do Sul vem sendo construído.
O impacto fiscal das medidas de auxílio anunciadas até agora pelo governo podem passar de R$ 30 bilhões, segundo nossos cálculos. Exemplos de medidas são: (i) suspensão de pagamento e perdão dos juros da dívida do RS, com impacto esperado de R$ 23 bilhões em dois anos, (ii) um voucher para reconstrução, que pode beneficiar cerca de 200 mil famílias com um valor de R$ 5 mil, chegando a um valor estimado de R$ 1 bilhão.
Com as medidas anunciadas até o momento, nossa projeção de déficit primário passou de R$ 67,1 bilhões (0,6% do PIB) para R$ 86,0 bilhões (0,7% do PIB). É importante ressaltar que o valor relacionado ao socorro ao RS não será contabilizado para fins de cumprimento da meta de resultado primário. Atualizaremos nossas estimativas assim que mais informações estiverem disponíveis.
Entenda melhor os impactos da chuvas em nosso relatório “Avaliando o impacto das chuvas no RS para os setores e empresas”.
Governo promove troca no comando da Petrobrás
Foi confirmada a demissão de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras e a indicação de Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff, para substituí-lo. Segundo a imprensa, a visão no governo era de que Prates não dava abertura para que a companhia atendesse demandas do presidente Lula. A expectativa no governo é que o novo comando esteja mais alinhado com o Planalto.
Como a União é acionista majoritária, auxiliares do presidente defendem que as decisões estratégicas da Petrobras sejam compartilhadas com o Executivo em alguma medida. O anúncio foi inesperado e ocorre em um contexto de elevada pressão política. Para maiores detalhes, leia nosso relatório especial “Petrobras: Magda Chambriard será nova presidente; mudança repentina adiciona incerteza“
Setor de serviços desacelera no primeiro trimestre
As receitas reais do setor de serviços aumentaram 0,4% em março ante fevereiro, levemente acima das expectativas. Como resultado, o setor apresentou um ganho de 0,5% no 1º trimestre de 2024 com relação ao 4º trimestre de 2023, com sinais heterogêneos entre as atividades. O significativo aumento da renda real disponível às famílias – cerca de 4,5% no primeiro trimestre de 2024, segundo nossas estimativas – apoiou o consumo pessoal de bens e serviços. No geral, projetamos que o setor de serviços como um todo – considerando a Pesquisa Mensal de Serviços – crescerá 2,6% em 2024, próximo ao avanço de 2,4% registrado em 2023.
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O que esperar da semana que vem
No cenário internacional, a atenção se voltará para a divulgação da ata do banco central do Estados Unidos (Fed) na 4ª-feira, que discorrerá melhor sobre sua decisão de manutenção dos juros no intervalo de 5,25%-5,50% e de reduzir o ritmo de vendas dos títulos do Tesouro (prática chamada de quantitative tightening, ou QT, em inglês). Além disso, diversos diretores do Fed falarão publicamente ao longo da semana. Na China, teremos a decisão de política monetária das principais taxas de juros, chamadas de LPR, de 1 e 5 anos. Dados de inflação no Japão (5ª-feira) e Reino Unido (4ª-feira) também estão no radar do mercado. Por fim, leituras preliminares das sondagens empresariais PMI de maio nos Estados Unidos, Reino Unido e na zona do euro serão divulgadas – o índice PMI é uma sondagem com empresários sobre as condições econômicas e de negócios nos países.
No Brasil, a agenda de indicadores será mais leve. Destaque para os dados de arrecadação federal de abril, cuja data de publicação será divulgada nos próximos dias. Na 6ª-feira, o Banco Central publicará sua nota de setor externo de abril, pela qual conheceremos o saldo em conta corrente e os investimentos estrangeiros no país. Vale manter no radar possíveis novas políticas de auxílio ao Rio Grande do Sul. Veja as nossas projeções abaixo.
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